A Princesa Isabel, assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, desde então muita história foi escrita e várias estórias foram contadas pelos filhos da abolição. Entre tristes contos até as mais lindas lendas exaltando a bravura dos grandes guerreiros, que foram vendidos massacrados e estuprados pela cultura ocidental, temos um rico acervo de contos e folclores, porem nem todos são belos.
Infelizmente a realidade do passado ainda se conflita com a vida contemporânea, não tenho duvidas do sofrimento e do terror que os homens negros passaram, jamais compreenderei o medo e a agonia que passaram... Triste realidade que os antigos aplicaram aos seres humanos. Mas não devemos viver do passado, pois a vida segue e não podemos votar o relógio e liquidar nossas dívidas, por isso, nos resta tentar fazer o melhor daqui para frente.
Bom, foi lembrando-se de uma cantiga de terreiro que comecei a pensar sobre alguns termos que ainda são usados e discutidos nas comunidades e templos de Umbanda. Veja o que eu digo;
Vovó não quer casca de coco no terreiro, Porque faz lembrar os tempos do cativeiro.
Eu acredito que esta cantiga, muito comum nos terreiros de Umbanda traz uma tênue mensagem do sofrimento e da tentativa de esquecer os terrores inimagináveis que estes bravos guerreiros passaram. Então por que ainda existe uma resistência em retirar do tronco os negos que foram escravos?
Olha o xire olha o fogo e o chão.
Olha o xire olha o fogo e o chão.
La, la, la ô olha o nego de cor
La, la, la ô olha o nego chora de dor
E cada lágrima conta uma história,
Uma historia que nego passou.
Olha o xire olha o fogo e o chão.
Olha o xire olha o fogo e o chão.
Entre tantas cantigas que ouvimos nas sessões, sempre elegem o nego como uma entidade humilde e muito forte, uma linha que traduz conhecimento e muita necessidade de nos ensinar a sermos mais atenciosos com a evolução, com o sofrimento e com a busca de novos caminhos, sendo que nada é fácil, nem todos caminhos são floridos como gostaríamos que fosse... Sugerindo que pensemos nos passos que andamos e nas conseguencias dos nossos atos...
O atual religioso que segue a cultura brasileira ainda confunde conceitos como sugerir que a Umbanda é ameríndia, sendo que não encontramos nada dos povos Maias, Astecas, Xeroques, ente outros no culto, desta forma podemos apenas contar com os índios brasileiros e assim mesmo temos que tomar muito cuidado ao afirmar isso, pois os missionários estrangularam a cultura indígena na tentativa de dar alma aos pobres homens... Da mesma forma que fizeram com os negros.
Então se a religião Umbanda é uma miscigenação de vários povos, com certeza não é tão abrangente como dizem, uma inspiração popular que cresce com tanta facilidade que não conseguimos ao certo definir onde começou, mas é um fato claro para qualquer estudioso ou membro da própria religião que goste de estudar terá dificuldade de chegar à metade dos temas que costumam referenciar. Infelizmente acontece com uma frequência audaz e sega, metade das referencias são hipóteses sem embasamento, desde que a própria religião não exige estudo ou intelecto. Mas é claro que para ser médium não há necessidade de retirar diploma, pois eu também chego a ser contra, não acreditando em médiuns preparados por diplomas, numa religião que é viva e tão complexa.
Aproveitando para relembrar um pequeno incidente com uma escola que editou no seu quadro curricular a matéria Biologia do Espírito. Fiquei muito curioso e empolgado com esta matéria que por sinal era inédita, eu imagino que seria como conseguir unir um cabo 1.2 milhões de Volts á uma poça d’água sem ver uma única faísca.
Observem o que o Aurélio fala:
Biologia geral. 1. Estudo dos seres vivos como um todo, sem particularização animal ou vegetal; estudos das leis gerais da vida; estudo das características gerais dos seres vivos.
Nesta tese não existe espaço para Deus, ou a sua existência, então como conseguiram unir a Biologia do espírito? Eu não sei e nem a escola soube me dizer, (risos) o reitor não atende os meus telefonemas até hoje.
Enfim, até quando vão continuar a manter no tronco os nego-veio, a cultura e a própria Umbanda, com dogmas estagnados e arcaicos?
Esta pergunta me assusta muito, sim, chega a me causar um desconforto, pois é o fator dominante na sociedade religiosa e cultural que envolve esta religião. E está se africanizando mais rápido que o próprio candomblé. De uma forma desordenada, misturando nações e trazendo costumes que não são próprios da própria liturgia, como ekejis, ogãs, adaga, yabace e etc... Estes cargos são efetivos do candomblé que necessitam dos iniciados para cada função dentro de um templo. Não cabem na umbanda tais cargos, porque não existe o mecanismo que rege as culturas e templos do candomblé...
Por isso espero que os nego-veio recebam sua carta de alforria e possam ser chamados de Nego (carinhosamente) e não de preto, afinal preto é cor nunca foi raça.
Por Erick Wolff8