sexta-feira, 9 de agosto de 2024

POR QUE RIO GRANDE DO SUL TEM MAIOR PERCENTUAL DE ADEPTOS DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA NO BRASIL

Editorial coletado do canal virtual BBC, publicado em 09/08/2024.  



"Por que Rio Grande do Sul tem maior percentual de adeptos de religiões de matriz africana no Brasil

Author, Luiz Antonio Araújo

De Porto Alegre para a BBC News Brasil

Com auxílio de escada e furadeira, quatro homens afixam um painel de quase dois metros de comprimento na parede lateral do prédio nº 2200 da movimentada Avenida Nilo Peçanha, em Porto Alegre.


Na placa, lê-se: “Território Quilombola Kédi. Associação do Quilombo Kédi. Em processo de regularização fundiária pelo Incra nº 54000.104791/2021-16”.


A instalação do marco, em 20 de abril, foi testemunhada por dezenas de moradores e pela reportagem da BBC News Brasil.


Estabelecidas há cerca de um século no local, as cerca de 120 famílias da chamada Vila Kédi ingressaram há três anos com processo de reconhecimento da área como remanescente de quilombo.


Para a comunidade, a placa é duplamente significativa: o edifício, que hoje abriga a sede da associação de moradores, está situado no local exato de um antigo terreiro.

“O terreiro da mãe Eva era um dos pontos de convivência da comunidade”, explica Tânia Rosangela de Jesus Dutra, primeira-secretária da associação.


Descendente dos primeiros ocupantes, a líder comunitária não conheceu a matriarca.


A existência do terreiro, porém, foi atestada em laudo antropológico emitido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


O prédio hoje ocupado pela associação fica ao lado de uma imponente figueira, árvore associada a poderes cósmicos em inúmeros ritos, incluindo os de matriz africana.


A relação entre movimento quilombola e as religiões de matriz africana não é uma exclusividade da Vila Kédi.

O advogado Onir Araújo, que presta assessoria à associação, afirma que, na capital gaúcha, praticamente todas as comunidades quilombolas organizaram-se em torno de terreiros ou abrigam alguma espécie de local de culto afrorreligioso em seu interior.


Segundo Araújo, Porto Alegre tem 11 quilombos urbanos, incluindo o primeiro desse tipo a ser reconhecido no Brasil, o da família Silva, vizinho ao Kédi.


“Nenhuma outra cidade brasileira tem esse número de comunidades”, afirma o advogado.


De acordo com o Censo de 2022, existem 203 localidades quilombolas no Rio Grande do Sul, 16 delas em Porto Alegre.


Em termos quantitativos, porém, os terreiros são muito mais numerosos do que os quilombos na capital.


Um levantamento da Prefeitura feito entre 2006 e 2008 indicou a existência de 1.290 terreiros na primeira década do século em Porto Alegre — número praticamente idêntico ao encontrado em Salvador na mesma época, segundo Ari Pedro Oro, professor de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em artigo intitulado "O atual campo afro-religioso gaúcho", publicado em 2012.


No Estado, haveria cerca de 30 mil terreiros, conforme cálculo de Norton Correa, professor de Antropologia da Universidade Federal do Maranhão.


As marcas das religiões afrobrasileiras no RS

Para muita gente, quando o assunto são as religiões de matriz africana, o Rio Grande do Sul pode não ser o primeiro Estado brasileiro a vir à mente.


Afinal, trata-se da segunda unidade da federação com menor população autodeclarada preta ou parda, com 20%, segundo o Censo de 2022, atrás apenas de Santa Catarina.


Mas uma consulta aos dados dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, pode desfazer essa impressão.


No levantamento de 2010, o Rio Grande do Sul figurou como o Estado com maior percentual de adeptos da umbanda e do candomblé, as duas principais religiões afrobrasileiras, embora não sejam as únicas.


O Estado também foi campeão em números absolutos, de acordo com o Censo de 2010.


Os adeptos destas religiões representavam 1,47% dos gaúchos em 2010 — os dados sobre religião do Censo de 2022 ainda não foram divulgados pelo IBGE.


Isso representava um percentual bem acima do nacional, de 0,3%.


Mas pesquisadores acreditam que, em ambos os casos, os números podem ser ainda mais elevados, porque muitos adeptos tenderiam a se definir como católicos por razões familiares e culturais.


Evidências da afrorreligiosidade (ou, na expressão de Ari Oro, religiosidade afrorriograndense) estão por toda parte.


A maior festa em louvor a um orixá nas Américas não ocorre no Nordeste brasileiro ou no Caribe, mas ao longo dos mais de 200 quilômetros da praia gaúcha do Cassino, a mais extensa do mundo, no município de Rio Grande.


É a celebração de Iemanjá, no dia 2 de fevereiro, que atrai um público calculado em 300 mil pessoas, segundo os organizadores.


O peso das religiões de matriz africana transparece na própria linguagem.


Para boa parte dos gaúchos, a expressão “ser de religião” indica adesão a cultos afro.


“Quem é de axé diz que é”, resume um refrão corrente na comunidade afrorreligiosa local.


A compreensão do fenômeno, diz Vitor Queiroz, professor de Antropologia da UFRGS, exige em primeiro lugar um ajuste de contas com a ideia corrente de que o Rio Grande do Sul é um Estado branco.


“Acho curioso quando as pessoas falam que não veem negros em Porto Alegre. Digo: ‘Refaça sua operação ocular. Vá ao centro da cidade e simplesmente olhe”, afirma Queiroz.


Até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em maio, em visita a atingidos pela enchente que assolou o Estado: “Não sabia que tinha tanta gente negra aqui”.


Lula acrescentou que teria ouvido da primeira-dama, Janja Lula da Silva, que os negros “são os mais pobres e moram nos lugares mais arriscados”.


Segundo Queiroz, o mito do Rio Grande branco está relacionado à reprodução do preconceito e ódio racial e religioso, segundo Queiroz.


Em 5 de maio, no auge da enchente, a influenciadora Michele Dias Abreu atribuiu o desastre climático ao fato de o Estado estar entre os que abrigam “maior número de terreiros de macumba (sic)”.


“Deus está descendo com sua ira total”, apregoou a influenciadora no vídeo.


A repercussão negativa da injúria, que teve milhões de visualizações, levou o Ministério Público de Minas Gerais a denunciar Michele por prática e incitação à intolerância religiosa nas redes sociais.


Depois das medidas cautelares, a influenciadora desculpou-se, afirmando que o comentário havia sido “infeliz e desnecessário”.


A desinformação, segundo Queiroz, é produto de estratégias sociais e políticas de branqueamento da população gaúcha adotadas pelas elites gaúchas desde o século 19.


“Os símbolos do Estado são todos afroindígenas. O próprio gaúcho do século 19 é um peão (trabalhador de estância) de pele escura”, ressalta o professor da UFRGS.


O papel dos africanos na história do RS

A pesquisa historiográfica revela que a participação de africanos no povoamento do Rio Grande do Sul até o início do século 19 não se distinguiu do resto do país.


Em trabalho do início dos anos 2000, a historiadora Helen Osório sustentou que, entre 1780 e 1807, o percentual de escravizados de origem africana entre a população local oscilava entre 28% e 36%, patamar similar ao da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro.


A economia do charque (carne de sol), que impulsionou o crescimento da metade sul do Estado até o final do século 19, foi movida a braços e sangue africano, afirma Queiroz.


No Uruguai e na Argentina, onde o charque teve peso igualmente significativo, a presença massiva de escravizados nos saladeros (equivalentes platinos das charqueadas) e estâncias, tão ou mais relevante que a do Rio Grande do Sul, somente nas últimas décadas mereceu maior atenção dos pesquisadores.


Com importância econômica secundária em relação aos centros charqueadores de Pelotas e Rio Grande, os núcleos urbanos mais ao norte concentraram desde o início grandes contingentes de africanos e descendentes.


“Porto Alegre foi fundada no final do século 18 por colonos açorianos e seus escravos. A gente esquece que pelo menos um terço da população da cidade nos primeiros anos era de africanos ou afrodescendentes”, diz Queiroz.


Se o peso demográfico dos negros no Rio Grande do Sul equivale até o início do século 19 ao de outros Estados, o que explica a adesão mais pronunciada de religiões de matriz africana em solo gaúcho?


Por razões de colonização e defesa do território, a Coroa portuguesa e, em seguida, o Império brasileiro promoveram a instalação de colonos — inicialmente alemães, mas também franceses, suíços e italianos — no Rio Grande do Sul.


A procedência dos migrantes obedecia à intenção de, nas palavras da pesquisadora Vania Herédia, “branquear a raça”, ou seja, fortalecer o elemento branco na população brasileira.


Pesquisadores sustentam que a chegada de colonos de fé luterana, sobretudo alemães, contribuiu para estender a liberdade de culto — inclusive das religiões de matriz africana — ao enfraquecer o controle da Igreja católica no âmbito espiritual.


Para Queiroz, mais do que uma relação estanque entre as confissões, existe no Estado um “mercado mágico subterrâneo”, comum também em outros lugares do país.


“Às vezes, a pessoa não é afrorreligiosa e está, por exemplo, com a mãe doente. Tenta isso, tenta aquilo, e alguém diz: ‘Olha, a mãe tal no terreiro tal pode ajudar’. E a pessoa vai lá e encomenda um ebó (oferenda). Essa pessoa é o quê? Ela vai ao terreiro, às vezes escondida”, exemplifica.


Nem sempre as transações ocorrem nas sombras. O exemplo mais notório é o da relação entre o presidente (cargo equivalente a governador na República Velha) Antonio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961) e o príncipe beninense Custódio Joaquim de Almeida, que chegou ao Rio Grande do Sul no final do século 19.


A tradição oral atribui a Custódio o assentamento de ocutás (objetos sagrados associados a orixás) em distintos pontos de Porto Alegre.


O mais famoso é o chamado Bará do Mercado Público, simbolizado por um círculo de pedras no piso do prédio — o local exato do assentamento nunca foi revelado.


Outros estariam sob o próprio Palácio Piratini, sede do governo estadual, a pedido de Borges, na Igreja das Dores, no antigo pelourinho da Rua dos Andradas e até mesmo, segundo Queiroz, em um ponto do leito do Lago Guaíba.


A religião de Custódio, como a dos primeiros africanos em solo gaúcho, conforme Queiroz, era chamada de “nação” e hoje adota a denominação de batuque.


Originária do Golfo da Guiné, tem possível influência de mitos centro-africanos.


Como o candomblé — em relação ao qual é, nas palavras do professor da UFRGS, “um culto diferente de mesma raiz” —, o batuque venera orixás e utiliza o iorubá como língua litúrgica.


Embora seja visto pelos próprios adeptos como tradicional e ancestral, o batuque implantou-se há pouco mais de um século, no final do século 19.


Nos anos 1930, de acordo com Queiroz, surgiram no Rio Grande do Sul os primeiros terreiros de umbanda, poucas décadas depois de seu aparecimento no Rio de Janeiro.


Com elementos mitológicos centro-africanos, a umbanda é comumente definida como a mais brasileira das afrorreligiões.


Finalmente, mais recentemente figura a quimbanda ou linha cruzada, que acrescenta as divindades de Exu e Pombagira ao universo sagrado do batuque e da umbanda.


Na prática cotidiana, os três ramos (chamados localmente de “lados”) são entrelaçados.


“Batuque, umbanda e quimbanda podem coexistir no mesmo espaço. Trocam-se a decoração, o dia da semana, os frequentadores, mas existe convivência”, garante o professor.


Conflitos religiosos

Se as relações entre os “lados” são pacíficas, o convívio com outras confissões registra momentos de aberta hostilidade.


Por duas vezes, em 2003 e 2015, deputados ligados a igrejas evangélicas neopentecostais tentaram sem sucesso aprovar na Assembleia Legislativa projetos que proibiam o sacrifício de animais, prática corrente no batuque e na quimbanda.


No primeiro episódio, o Ministério Público do Estado ingressou com ação direta de inconstitucionalidade contra a decisão dos deputados no Tribunal de Justiça do Estado.


Diante de decisão desfavorável, interpôs recurso extraordinário junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).


Finalmente, em 2019, por unanimidade, a corte suprema decidiu pela constitucionalidade do sacrifício de animais em cerimônias religiosas.


A polêmica estimulou a criação, em 2014, do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul, vinculado à Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos.


A finalidade do órgão, segundo o decreto assinado pelo então governador Tarso Genro (PT), é “desenvolver ações, estudos, propor medidas e políticas públicas voltadas para o conjunto das comunidades do povo de terreiro do Estado, caracterizando-se como um instrumento de reparação civilizatória, na busca da equidade econômica, política e cultural e da eliminação das discriminações”.


Em um episódio mais recente de tensão, o padre Sérgio Belmonte, da paróquia de São Jorge, no bairro Partenon, provocou reação nas redes sociais ao anunciar, em 23 de abril, uma celebração interreligiosa no templo.


A data, consagrada ao santo guerreiro no calendário católico, é festejada também nos cultos afro em louvor a Ogum, orixá da guerra.


Diante da controvérsia provocada pelo anúncio, a paróquia anunciou que o ato interreligioso não se realizaria no interior da igreja.


Ainda assim, depois da missa, quatro homens tentaram impedir a lavagem das escadarias do templo por adeptos de religiões de matriz africana e tiveram de ser contidos pela polícia.


O arcebispo metropolitano de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, lamentou o episódio em entrevista à BBC News Brasil.


“Faz parte da missão própria da Igreja Católica promover, com outros fiéis, de maneira fraterna, respeitosa e convivial, o caminho da busca de Deus ou do divino, como quisermos”, disse o arcebispo.


O caso fornece, na opinião de dom Jaime, “sinais de um radicalismo, de um fundamentalismo que não caracteriza, que não faz parte da sã tradição católica nem faz parte daquilo que a Igreja, sobretudo depois do Concílio Vaticano 2º, tem defendido”.

O arcebispo tinha prometido ao padre Belmonte que estaria presente à missa de 23 de abril, mas foi impedido por uma forte gripe, sendo representado pelo bispo auxiliar, dom Juarez Destro.


Se tivesse comparecido, porém, disse que perguntaria, em primeiro lugar, se as pessoas que se manifestaram participam da vida ordinária da comunidade.


“Se sim, certamente merecem sim nossa orientação, nossa proximidade e, por que não dizer, o respeito. Até porque a Igreja não é feita de pessoas que pensam da mesma forma. Existem diferenças.”


Em polêmicas como a da paróquia São Jorge, observou, encontram-se “não raramente influenciadores digitais que promovem situações delicadas, que não estão participando da vida concreta de uma igreja particular e disseminam suas opiniões através das redes sociais, sem um compromisso de vida comunitária”.


No Quilombo Kédi, a busca dos moradores do reconhecimento de seu direito a ocupar o território se chocou com as pretensões da Igreja.


Erguido no ponto ocupado pelo terreiro de mãe Eva, o prédio da associação ainda ostentava, em abril, acima da placa do quilombo, um letreiro onde se lia “Igreja Santa Edvige, filiada à Paróquia Nossa Senhora Mont’Serrat”. Ao lado, um aviso: “Missas aos sábados às 15:30”.


O espaço foi utilizado por dez anos por catequistas católicos em missão de conversão junto aos moradores — sem sucesso, informa o advogado Onir Araújo.


Fluminense de Niterói e ativista social há 40 anos, o assessor do Quilombo Kédi radicou-se na capital gaúcha há mais de duas décadas, mas não consegue evitar a emoção ao falar da terra adotiva.


“Porto Alegre dorme todas as noites ao som de tambores de matriz africana”, comenta Araújo. “Em todos os bairros, se você apurar bem o ouvido.”


Fonte -  https://www.bbc.com/portuguese/articles/c06kd76587yo

sábado, 20 de julho de 2024

FALANDO SOBRE O BATUQUE DO SUL, NA VISÃO DA SACERDOTISA LYA TAROSH

Nesta postagem coletamos do perfil da sacerdotisa Lya de ode, no Facebook.

Postado em 19/07/2024, acessado em 20/07/2024

"FALANDO SOBRE O BATUQUE DO SUL
Por Lya Tarosh


No Batuque não cultuamos somente Orixás como Ogum, Oyá,Odé, Oxum ...mas também cultuamos Voduns e Inkisis.
Há Nação ( a minha Ijexá ) que cultua os voduns Agué , Sapatá , Avagã , Sogbo , Dã
Já na nação Cabinda por exemplo cultuam Lebá, sendo que este não se dá cabeça de filhos para ele, e sim é apenas cultuado.
As Nações cultuadas no Rio Grande do Sul são Ijexá , Oyó Cabinda , Jeje-ijexá , Jeje-Oyó, e já não existe Nação "pura" , pois todas ao longos dos anos receberam interferência de outra Nação co-irmã.
Os Orixás , Voduns e Inkisis dentro da roda do Batuque são bem independentes ; diferente por exemplo do Candomblé ;
pois nas nossas casas de Batuque não temos cargos de Ekedis , Mãe ou Pai Pequeno, não usamos troca de roupa (vestir o santo).Outra particularidade do Batuque que além de não vestir Santo não podemos entrar em roda de Batuque e dançar para Orixá de calçado ; dançar de calçados é somente em ritos de Axexê.
Nossa feitura para o sacerdócio normalmente é composta de 12 a 16 principais divindades do panteão que são Assentadas , cada qual em sua respectiva vasilha onde é matado um animal quadrúpede para cada um, como leitão , ovelha, carneiro, cabritos, e "calçadas" cada uma também com suas respectivas aves e casal de pombos , para que só assim uma pessoa possa ter casa aberta como Babalorixá ou Iyalorixá e exercer as funções do Batuque , e seguir iniciando outras pessoas; pois no Apronte como Babalorixá ou Iyalorixá recebemos nosso axé de Obé (que normalmente são 3 facas) e nosso jogo de Búzios.
Existem graus de Obrigações que são determinadas pelo Jogo de Búzios e necessidade de cada filho ou filha.
Na minha Nação Ijexá por exemplo podemos abater além de animais quadrúpedes como citei acima , também patos, marrecos, angolistas, igbins, determinados tipos de peixes, pombos, e coelhos.
E não podemos assentar toda uma África de Orixá somente com aves e dizer que a pessoa é um Babalorixá ou Iyalorixá.
A maioria das divindades do panteão iorubá , fon , jejê , que se manifestam em seus filhos de cabeça, dançam freneticamente ao ritmo do Ilu ( tambor de cordas tocado no Batuque ).
Esse tambor , assim como os Obés e o jogo de Búzios também "comem obrigação" , por isso no dia a dia mantemos esse Ilu deitado no chão e com as cordas frouxas para o tambor "descansar" , e só em dias de obrigações na casa é que as cordas são devidamente apertadas novamente afinando assim o som do tambor.
Quando uma divindade se manifesta em seu filho(a) na tradição do Batuque , leva alguns anos para receber "axé de fala" e só recebe após passar por algumas provas que só os mais velhos no Batuque conhecem. Então as divindades que receberam o "axé de fala" passam a responderem as rezas ( Orins , músicas cantadas ) todas de Bará a Oxalá no dialeto iorubá , que são puxadas pelo tamboreiro (ogã).Sim, essas divindades respondem a todas as rezas de Bará a Oxalá cantadas durante todo o Batuque , diferente do Candomblé em que somente o Ogã canta e as divindades não cantam.Vejam bem , não estou jamais querendo "diminuir" o Candomblé , somente explicando para que vocês entendam as diferenças que existem entre um culto e outro.
No Batuque as divindades não usam nenhuma paramenta que lhes tampe o rosto e ficam de olhos abertos tal qual são as manifestações na África Mãe.
Também não raspamos nem catulamos ; somos feitos no Santo como costumamos dizer , mas percebe-se que de uma forma bem diferente do Candomblé brasileiro como já expliquei.
Batuque e Candomblé não podem ser comparados , nenhum é melhor que o outro ; pois são cultos com tradições na maioria bem diferentes , mas com o mesmo propósito de cultuar ancestrais e divindades africanas.
As obrigações e iniciações no Batuque variam dependendo de 24 horas a 16 dias de recolhimento.Nosso preceito é de 32 a 40 dias dependendo a nação.Também temos restrições a alimentacão, as "quizilhas" de Orixá.
Os filhos iniciados e recolhidas são cuidados na obrigação pelo próprio Babalorixá ou Iyalorixá, padrinhos e madrinhas ou pelos irmãos mais velhos de tempo e de obrigação no asé.
Também podemos fazer inúmeros trabalhos religiosos pela Nação , como abertura de caminhos , limpezas espirituais , axés para melhora da saúde , para amor , e todas as pessoas podem participar , desde dos recém nascidos aos mais idosos.
Fazer parte e se iniciar no Batuque não interfere em nada se você já é de Umbanda e Kimbanda ; pode continuar com seu desenvolvimento e trabalho nestas vertentes; para nós são cultos bem distintos e não se misturam.Por exemplo , não pode chegar um guia de umbanda em uma roda do Batuque pois logo é indentifica do.
Essas divindades só "nascem" no tempo que elas próprias quiserem , e as vezes pode levar 5 , 10 , 15 anos ou mais para se manifestarem dentro de uma roda de Batuque.Pois nós Batuqueiros entendemos que o tempo das divindades não é o nosso e essas divindades são sagradas.
Não podemos desenvolver um Orixá de cabeça no filho ou filha. Também não podemos e nem devemos obriga-los a fingir que estão "ocupados" com Orixá no salão.Então por exemplo uma pessoa pode fazer suas Obrigações de Santo , ser feita no Santo , ser -Pronta- , ter casa aberta , filhos e netos de santo e não necessariamente o Orixá desse Babalorixá ou Iyalorixá precise se manifestar ; e também não há avisos prévios quando o Orixá vai "nascer", simplesmente uma noite durante uma Obrigação ou do Xirê do Batuque ele se manifesta , poderoso e lindo como se sempre esteve manifestado em seu filho ou filha.
Valhe ressaltar que é terminantemente, expressamente, proibido e considerada uma falta gravíssima tirar fotos ou filmar as divindades que se manifestam em seus cavalos de santo no Batuque.
Um filho ou filha do Asé que comete essa falta é mandado imediatamente expulso da casa , e se for um convidado proibido de voltar.
Fotos e filmagens no Batuque podem serem realizadas antes do início do toque ou depois que termina , mas jamais com os Orixás manifestados.
Então você pode se ocupar ( incorporação ) a 30, 40 anos com seu Orixá no Batuque e nunca verá uma foto sequer desta divindade manifestada em você.
No Candomblé a "virada" das divindades manifestadas se chama de Erê ; o que para nós do Batuque chamamos de Axerô.
Em um Terreiro de Batuque como o nosso Castelinho do Caçador temos Assentada a África de Odé que é o meu Orixá de cabeça.
Essa África é composta por assentamentos de Bará a Oxalá que são : Bará , Ogum , Oyá , Xangô , Ossaym , Odé , Otim , Obá , Xapanã , Ibeijis , Oxum , Iemanjá e Oxalá , eles são o meu Asé ( outro dia explico melhor sobre isso para vocês entenderem ).E temos em separado os assentamentos dos Orixás de cada filho da casa desde de uma quartinha de Aribibó , Bori , e Assentamentos da África dos que são prontos.
A África individual de cada filho é levada devidamente para sua casa quando é aberta a casa de santo deste filho ou filha.
O Batuque é magnífico para quem vive ele.
Sou muito grata!
Créditos do texto : Lya Tarosh "

Coletamos alguns comentários do debate:

"Norton Corrêa

Muito interessante o teu texto. Nem todas as pessoas percebem que algumas divindade jêje que citas são mencionadas nos cânticos do batuque. Talvez uma característica do teu ritual, mas nunca vi, nos batuques da antiga, a presença de inkises, que são de origem banto, regiões do Congo, Angola e Moçambique. São cultuadas no candomblés de caboclo. E, concordando contigo, quando um caboclo baixa num batuque é imediatamente despachado, como vi várias vezes. É logo identificado porque dança com as mãos fechadas. No batuque, parece que o vodum Elegbara, do jêje, foi dividido em dois, surgido o Léba. O sacerdote João do Xapanã, da turma do Oió, se não me engana, me mostrou um vulto de Léba: uma imagem de madeira toda pintalgada que ficava num lugar fora do templo dele e em outro local que não a casinha do Bará e Avagã. Era, segundo ele, ligado aos cemitérios. Mas, embora a separação, continuam a mencioná-lo pelo nome inteiro, Elegbara, na abertura do jêje, Quanto a "ilu", o tambor, nunca ouvi tal palavra na antiga do batuque, e sim, no candomblé baia no e no Recife. Bem antes de Antes de eu começar a pesigamente, na casa da Mãe Moça da Oxum, "

Fonte https://www.facebook.com/lyalyatarosh/posts/pfbid025FSgiNsvt2C24DU4xJknRfqmCiDDNL6zHdooijcd8hUSjMH5jgxCW4gGvdaD4bZal?comment_id=512819361259256&reply_comment_id=807407151516997&notif_id=1721411109523330&notif_t=comment_mention&ref=notif 

Imagem comprobatória:



sexta-feira, 12 de julho de 2024

ÒSÁNYÍNWUMI, UM PRESENTE MUITO ESPECIAL…

Esta postagem foi publicada por Luiz L. Marins, na comunidade Orisa University, em 07/07/2024, acessada em 12/07/2024.

Trata-se de um material coletado pelo Marcelo Cândido, que possuem informações inéditas sobre o culto de Osanyin.

 

"ÒSÁNYÍNWUMI, UM PRESENTE MUITO ESPECIAL…
Por Marcelo Cândido
De lá da Nigéria um querido Bàbálosányin junto de Òsányín, me fizeram um belissimo cortejo no primeiro dia do ano de 2023.
Fiquei muito alegre e emocionado pela oportunidade de poder ver e ouvir meu pai, orixá de grande sabedoria e magia, em sua antiga essência através de um Ojubó encantado, me dedicando uma especial e linda oração com seu piado de pássaro.
O nome que a mim foi concedido por Òsányín ao ser legitimando por ele próprio como seu filho: “Òsányínwumi - Eu Amo Òsányín”, me vestiu como uma roupa feita sob medida, presente que somente poderia ser ofertado por aquele que me conhece intimamente pelo lado espiritual.
Obrigado meu pai por todo acolhimento, e também pelas palavras de presságio sobre como será o meu ano em 2023, estou muito alegre e feliz por este novo caminho o qual me conduzistes.
Haverá um dia pelo qual conseguirei lhe honrar pelo privilégio de poder te chamar de pai, até este dia chegar, farei o que estiver ao meu alcance em prol desta busca.
Òsányín é toda a essência, propósito e encanto presentes em minha vida.
Logo mais estaremos juntos.
- Èwé Ô! Èwé Ô!"

 


Os principais comentários desta postagem a seguir:

"Ronaldo Ti Sango

ASE AWURE.O MOJUGBA.

ASA ORISA ALAFIA OYO.

EWE, EWE, OSSAIN. ASA, ASA, ORISA.

 

Marlene Pinto Fibger

Desculpe me. Eventualmente posso estar enganado. O aluwo quando para de falar a garganta fica mexendo....o pomo de Adão mexe....parece ventríloquo. Repare bem.....Ou ele canta ou vem o assovio. Nunca os dois.

 

Bàbá Àkẹ̀renà

[Marlene Pinto Fibger] Então, o que ele está fazendo seria, análogo, ao que alguns sacerdotes aqui do Brasil fazem com um pequeno apito, ou assobiando, literalmente, reproduzindo as palavras, ou ìlà de Ọ̀sanyìn.

 

Osanyinwumi

[Bàbá Àkẹ̀renà] Bom dia meu irmão! Estive com o ojubo em minha mãos, e os assobios “saem de dentro dele”… Na minha pagina: Osanyinwumi, existe um vídeo registrando este encontro, estou com ele sozinho em mãos…

 

Bàbá Àkẹ̀renà

[Osanyinwumi] Eu não duvido, não, irmão. Só que explicar o sagrado / sobrenatural, nem sempre é viável.

 

Osanyinwumi

[Bàbá Àkẹ̀renà] Tem toda razão! Em algumas ocasiões, estive sozinho com ojubo dentro do quarto onde ele é guardado. Os sons saem de dentro dele.

https://www.facebook.com/share/r/eFqAHqjxQiVGYaii/?mibextid=D5vuiz


Moura Falefa

Qual o povo cultuava, ou cultua Ossanhe na Nigéria .

 

Osanyinwumi

[Moura Falefa] Tradicionais Babalosanyin são raros, mas sou da família Egbewole, que é de Ilê Ifé. O sacerdote é de uma família dela.

 

Hérick Lechinski

Qual é sua mensagem através deste vídeo nobre irmão [Luiz L. Marins]?

 

Luiz L. Marins

Àse. Divulgar o culto de Osanyin conforme os registros do irmão [Osanyinwumi].


Hérick Lechinski

O Culto de Ọ̀sanyìn na Nigéria, é um culto envolto em mistérios, com muitos segredos e muita magia. Ọ̀sanyìn é um poderoso mago que detém o poder das folhas e de inúmeras magias (oògùn). Seu culto não é preservado em muitas cidades, mas existe de forma muito forte em algumas aldeias nigerianas.


Hérick Lechinski

O relato do irmão [Ọ̀sanyínwùmí] é muito bonito, fico feliz por ele, é muito bom quando cultuarmos o Òrìṣà que amamos com todo amor e gratidão.

Mas nós que somos estudiosos e praticantes das tradições espirituais iorubás sabemos do ventriculismo dentro do culto de Ọ̀sanyìn, mas isso não diminui em nada este culto, pelo contrário, um dos cultos mais poderosos das terras iorubás.


Bàbá Àkẹ̀renà

[Hérick Lechinski] Ọ̀sanyìn "divide" esse epíteto de Deus da Magia, o segredo sobre a magia, com Ọrúnmìlà. Por isso, os cubanos o temem e sabem que os sacerdotes de Ọ̀sanyìn não precisam de IFÁ.

(relato de Bàbáláwo)

Citei porque achei interessante.


Hérick Lechinski

[Bàbá Àkẹ̀renà] os cubanos possuem um culto (afro-cubano) muito forte para Ọ̀sanyìn. Algo que no Brasil não se preservou... 🥲


Osanyinwumi

Bàbá Àkẹ̀renà No culto tradicional de Osanyin, Opele e Ikin são oráculos proibidos, por se tratar de um culto com seu próprio oráculo, mas falarei deste assunto através de um livro para deixar isso registrado.

 

Bàbá Àkẹ̀renà

[Hérick Lechinski] preservou sim. Entretanto, há diferença pela miscigenação com o Vodun Agẹ̀ (Agué).

Além disso, sofreu uma releitura nas religiões do norte do Brasil, através da miscigenação com práticas ritualisticas indígenas, logo, a prática da jurema e do tambor de mina são, praticamente, formas de culto, afro-indígena brasileiro, a Ọ̀sanyìn


Luiz L. Marins

[Bàbá Àkẹ̀renà] OFF-TOPIC ... a propósito, nenhum Olorisa "precisa" de Ifá. O culto aos orisa são independentes. É só um off-tópic, não quero desenvolver um tema paralelo.


Bàbá Àkẹ̀renà

[Luiz L. Marins] Sim, irmão! EU SEMPRE FALO ISSO!!! MAS AS PESSOAS NÃO QUEREM ENTENDER!

E, GERALMENTE, BÀBÁLÁWO FINGE QUE NÃO ESCUTA... lógico.


Osanyinwumi

[Hérick Lechinski] Bom dia irmão! Na minha pagina existe um vídeo o qual estou sozinho com o ojubo em mãos. Os assobios veem de dentro do ojubo. Não é ventriloquismos!


Dote Hungbono Etalakemin Savaluno

Mas Osanyin é um Orixá ou um Irumolé?

 

Osanyinwumi

[Dote Hungbono Etalakemin Savaluno] Bom dia meu irmão!

Vou publicar nos próximos dias um livro que vai me ajudar a desmistificar este tipo de dúvida. Como será um livro aberto, poderei dar visibilidade dele nesta pagina. Terá bastante informação sobre Osanyin.


Luiz L. Marins

Gostaria de destacar esta fala do irmão [Osanyinwumi] ...

Luiz L. Marins

Sim muito ... a diáspora precisou adaptar-se à sua própria realidade para que o culto continuasse.


Erick Wolff

Venho notando que muitos orixás não usam odu e nem precisam.

 

Osanyinwumi

[Erick Wolff]

No culto tradicional de Osanyin, “não se utilizam de versos de odu”, sejam eles merindilogun ou ifá. O oráculo do culto de Osanyin é o próprio ojubo que assobia, e as narrativas mitológicas sobre Osanyin, seguem padrão próprio de um itan (narração mitologica), sem o contexto de verso métrico de oito partes utilizados para os ese (versos) de odu.


Osanyinwumi

[Erick Wolff]

O Babalaô Ifatokun esclareceu anteriormente que, babalaôs não se iniciam em outros orixas.

Desta forma, por exemplo, subentende-se que não exista o ato litúrgico de “Itefa”, feito por uma outra família de orisa que não seja de a Orunmila, ou seja, ele não poderia ser feito utilizando-se do oráculo obi, seja pela família de Ogun, ou através do merindilogun de Obatala, para sacar um Odu-Ifa para uma pessoa, e sim somente com Opele e/ou Ikin, pois são oráculos próprios de Orunmila para este feito.

Então, pela fala de Ifatokun, somente um babalaô inicia outro babalaô, pelas métricas que envolvem determinadas liturgias versus oráculos especificos.

Mas, igualmente ao que foi feito com o Ifatokun, vamos deixar o nativo, Oluwo Babalosanyin Asapeola, dar a sua resposta, pois no culto de Osanyin, existe oráculo próprio e independente, então portanto, parecidos com os “credos da família de Orunmila”, a de Osanyin também não reconhece outros oráculos, que não seja o seu próprio, para as suas liturgias.

No culto tradicional de Osanyin, Opele e Ikin são tabus !!!


Osanyinwumi

Osanyin e Opele ou ikin não podem estar no mesmo lugar porque Osanyin pode falar e Osanyin vê profundamente do que Opele. Osanyin e Opele lutam desde os tempos antigos.

(Oluwo Babalosanyin Asapeola).

 

Ifágbèmiṣolá Ọbátàlágbemi Ifa

Um aprendizado muito grande aqui. Vou acompanhar e me aprofundar sobre as falas e experiências do Baba [Osanyinwumi].

Concordo plenamente que o culto tradicional não precisa de Ifa e vice versa. Essas discussões se deram a valer aqui no Brasil por causa da ganância, poder e ego envolvidos na religião. E sabemos tbm que em terras Yorubas se há o respeito tanto pelos Babalawos e Babalorisas .

O que me intrigou é, nos versos de Odu, precisamente em quase todos os odus se fala da importância de Ossayin.

Claro que esse importantíssimo Irunmole não precisa de Ifa, de odu, pois ele tem seu culto a parte, cheios de mistérios e magias pelo qual nos instiga em conhecer.

Porém, sabemos aqui que Opele e Ikins são oráculos de Ifa e não se remete a Orisa. Oráculos tbm muito importantes. Mas fiquei com esse questionamento, sobre os odus falando de Ossayin.

Ou esse tabu se remete ao oráculo?

Ase Baba

Estou lhe acompanhando para aprender!

Àṣé!


Osanyinwumi

[Ifágbèmiṣolá Ọbátàlágbemi Ifa]

Na diáspora, talvez pela ausência de um autêntico Babalosanyin, se utilizou por muitos anos, os trabalhos de William Bascom (Ifa Divination e Sixteen Cowries) e Bernard Maupoil (La Géomancie à L'ancienne Côte des Esclaves), livros que falam por odu sobre Osanyin, a exemplo: “Escravo comprado em uma feira por Orunmila”, o que na realidade é uma tremenda falácia e teve influências negativas sobre as teologias de Osanyin no Brasil.

Embora, ainda hoje esses livros sirvam como referências para estudos principalmente na diaspora, mas suas estórias, falo sobre Osanyin especificamente, a maioria estão equivocadas e não são reconhecidas pelos babalosanyin.

O culto de Osanyin, ainda hoje é mantido em segredo pelos tradicionais sacerdotes babalosanyin, neste culto Osanyin “nunca foi escravo”, ou se submeteu a qualquer outro culto iorubá em uma relação de subserviência. Se prestar atenção os anos deste culto mantidos em segredo falam por si mesmos.

O craculo de Osanyin não se utiliza de ese odu, sejam eles de merindilogun ou ifá, pois segue uma outra lógica e uma diferente tradição.

 

Ifágbèmiṣolá Ọbátàlágbemi Ifa

[Osanyinwumi] eu não gosto dessa real falácia onde se trata um Orisa sendo escravo ou dependente de outro. Isso fora Ossayin. Muito povo de Ifa, pratica Orunmilá como um verdadeiro Deus onipotente e nós que somos realmente do Ifá verdadeiro, sabemos que não existe isso. O que complica são as escritas que temos acesso. Fato que cada culto defende suas ideologias. Mas de fato, fica compreensível suas palavras para quem realmente quer estudar. Vou lhe acompanhar porque quero aprender. Adupé Baba !

 

Osanyinwumi

[Erick Wolff]

No culto tradicional de Osanyin, “não se utilizam de versos de odu”, sejam eles merindilogun ou ifá. O oráculo do culto de Osanyin é o próprio ojubo que assobia, e as narrativas mitológicas sobre

Osanyin, seguem padrão próprio de um itan (narração mitologica), sem o contexto de verso métrico de oito partes utilizados para os ese (versos) de odu.

 

Osanyinwumi

[Erick Wolff]

Osanyin e Opele ou ikin não podem estar no mesmo lugar porque Osanyin pode falar e Osanyin vê profundamente do que Opele. Osanyin e Opele lutam desde os tempos antigos.

(Oluwo Babalosanyin Asapeola).

 

Osanyinwumi

[Ifágbèmiṣolá Ọbátàlágbemi Ifa]

Na diáspora, talvez pela ausência de um autêntico Babalosanyin, se utilizou por muitos anos, os trabalhos de William Bascom (Ifa Divination e Sixteen Cowries) e Bernard Maupoil (La Géomancie à L'ancienne Côte des Esclaves), livros que falam por odu sobre Osanyin, a exemplo: “Escravo comprado em uma feira por Orunmila”, o que na realidade é uma tremenda falácia e teve influências negativas sobre as teologias de Osanyin no Brasil.

Embora, ainda hoje esses livros sirvam como referências para estudos de odu principalmente na diaspora, mas suas estórias, falo sobre Osanyin especificamente, a maioria estão equivocadas e não são reconhecidas pelos babalosanyin.

O culto de Osanyin, ainda hoje é mantido em segredo pelos tradicionais sacerdotes Babalosanyin, neste culto Osanyin “nunca foi escravo”, ou se submeteu a qualquer outro culto iorubá em uma relação de subserviência. Se prestar atenção os anos deste culto mantidos em segredo falam por si mesmos.

O craculo de Osanyin não se utiliza de ese odu, sejam eles de merindilogun ou ifá, pois segue uma outra lógica e uma diferente tradição.


Erick Wolff

Caro amigo [Osanyinwumi], penso que outra polêmica que na diáspora brasileira, Osanyin ser seis meses homem e seis meses mulher, algo que difundiu no candomblé dos anos 80.

Apesar que no Batuque, sempre consideraram uma divindade masculina.


Osanyinwumi

[Erick Wolff]

Simpson em 1991, trouxe um importante oriki de uma família de Osanyin quando esteve em Ibadan. Esse oriki, consta em seu livro: Yoruba Religion & Medicine in Ibadan.

Este mesmo oriki é bastante difundido no Brasil, nele existe um verso que explica a sua pergunta:

Aro abi-okó líelié.

O aleijado que possui pênis forte.

Assim, como na família de Osanyin em Ibadan, a de Ile Ife também cultua-o como uma divindade masculina. Babalosanyin são raros, na grande maioria eles se conhecem. Dificilmente, vamos encontrar uma versão, tendo ele como uma divindade feminina no culto tradicional iorubá."


Fonte - https://www.facebook.com/reel/718177809745942

Imagens comprobatórias











quinta-feira, 11 de julho de 2024

OBALESUN FOI GERADO NAS NUVENS



Isanideobatala


No começo de abril foi lançado o nosso livro OBATALA e está disponível para download gratuito em PDF > aqui

O livro rememora a coroação do @obaobatalafaseyi - Obà Oribato Obàtálá Ilé Ifè (Agbaye).

Em um dos trechos do livro está escrito pelo o @obaobatalafaseyi sobre Deus na nossa Religião Tradicional Yoruba:

“TAANI Olorisa? Quem acredita em Deus — Olódùmarè —através de Òrìşà? Deus sabe quem o adora, e os Òrìşà sabemquem acredita em Deus através deles. 

Nós, humanos,sabemos quando somos favorecidos através de Deus e dosÒrìşà? Os Òrìşà sempre favorecerão quem procurar por elesquerendo algo. Ninguém pode enganar a Deus, como nunca se pode enganar Òrìşà.”

Em outro trecho é possível entender a conexão entre Deus e os Orixás:

“Nós acreditamos, que Olódúmarè é Deus, e em divindades que são mensageiros de Olódùmarè, os Òrìşà. Eles moravam todos no céu, entre as nuvens. 

O primeiro Òrìşà, a maior divindade,se chama Obàtálá. Olódùmarè deu muitas tarefas para Obàtálá fazer. Disse a ele para vir a este mundo, a Terra,e criá-lo. 

Para isso, Olódùmarè deu a ele vários materiais:terra, uma corrente (para descer das nuvens até a terra) e folhas também, pequenas folhas chamadas de ewe koko. 

Obàtálá desceu até a terra e no meio do céu. No meio do céu existem nuvens que usou para descansar. E Obàtálá tem uma esposa que é sua favorita, que se chama Yemòó. 

Eles tiveram um filho entre o céu e a terra, não neste mundo, mas nas nuvens. Esse filho se chama Obalesun, que significa “orei pode dormir”.”


Fonte:

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Transcrição e adaptação: Luiz L. Marins



Prova documental:




sábado, 6 de julho de 2024

ÒSÁNYÌN NÃO É O DONO DAS FOLHAS !!!

Osanyinwumi 




Marcelo Candido

Facebook


Conta-se através de um antigo ìtan, que Oyá a pedido de Ṣàngó, descobre e derruba dos galhos de um Ìrókò uma cabaça que Òsányìn guardava as suas folhas mais secretas, e nisso todos os òrìṣàs aparecem e repartem essas folhas. Passado algum tempo esses mesmos òrìṣàs tiveram que se redimir, pois estavam com as folhas, mas não sabiam como manuseá-las para despertar o seu poder de asé. Acabaram retornando a Òsányìn para pedir para que ele os ensinasse, e assim todos os òrìṣàs acabam reconhecendo o seu domínio no uso das folhas e ele de forma prestativa acaba ensinando-os, cada um dos òrìṣàs, sobre o uso de determinadas folhas.

O ìtan nos deixa claro uma mensagem de que tudo aquilo que pode ser roubado, em sua essência não nos pertence, mas aquilo que não pode ser roubado realmente nos pertence. As folhas recolhidas e guardadas na cabaça nunca pertenceram a Òsányìn, pois bastou ele virar as costas para elas lhe serem roubadas, mas o que estava em seu Orí, seus conhecimentos, não podiam serem roubados, portanto eles lhe pertenciam. Òsányìn é dono dos conhecimentos sobre as folhas ou melhor, ele é o “guardião dos conhecimentos” que despertam o asé sobre o reino vegetal, saberes estes que lhe foram confiados por seu pai Olódùmarè.

Os maiores segredos sempre estiveram guardados junto da cabaça que continha o seu Orí, então ele nunca depositou nenhum dos seus segredos nos galhos de Ìrókò. Òsányìn é aquele que tudo vê (vide post anterior), ele sabia que os òrìṣàs queriam partilhar de seu poder e de “forma proposital”, ofereceu lhes um ensinamento ao guardar folhas em uma cabaça externa. Naquele recipiente foram recolhidas somente as folhas as quais ele já havia decidido compartilhar conhecimentos, pois isso lhe foi incumbido por seu pai Olódùnmarè ou seja, ensinar os Òrìsàs e seres humanos sobre os mistérios básicos do asé do reino vegetal e com isso ajudar no desenvolvimento da humanidade e dos cultos aos òrìṣàs. Diversas outras folhas ficaram de fora da cabaça e são conhecimentos que ainda continuam guardados juntos ao Orí de Òsányìn.

“Òsányìn não é o dono das folhas!!!”

Está foi uma frase que Òsányìn me ofereceu no dia 02/06/22, como uma “enigmática resposta” para um dilema que me tirava o sono e a paz. Compreender o ìtan seria a primeira etapa do desafio, a última seria entender como está história se encaixava como um ensinamento neste mesmo problema. O que me motiva contar sobre está passagem seria minha vontade de compartilhar um aprendizado oferecido por Òsányìn, o importante é compreender a mensagem principal, pois conhecimento é poder.

Fui iniciado no candomblé para Òsányìn em 2011, então hoje tenho 12 anos de feitura, e no dia que escutei a frase que é título deste texto, já haviam se passado 2 meses que tinha ido visitar o Ilé Asé o qual me iniciei, para pedir a devolução do igbá òrìṣà Òsányìn. Tive uma conversa longa e bastante sincera com o bàbálórìsà, sobre os todos os motivos que me levaram aquela situação, tudo limpo e as claras numa conversa franca entre homens. Sobre esses fatos, eles são irrelevantes e não veem ao caso. Na vida tudo tem um propósito, então que sejamos “gratos” até mesmo as situações que nos convida a deixar a zona de conforto para o nosso próprio crescimento, aprimoramento, evolução pessoal e espiritual.

Mas, minha visão ou percepção estavam distorcidas sobre o “igbá Òrìsà Òsànyín me pertencer”, muito em função do jogo de búzios, materiais físicos, animais imolados, outras despesas da iniciação (água, luz e mantimentos), o valor da mão de obra do bàbálórìsà e 11 anos de mensalidades, tudo ter sido pago com o meu dinheiro, então acreditava ser o seu proprietário, pois além do mais, ele deveria ser a representação dos meus caminhos espirituais junto ao òrìṣà no àiyé.

E de fato o igbá Òsányìn não me pertencia, pois ao pedi-lo fui surpreendido pelo bàbálórìsà com seu discurso final de que precisava de um tempo para pensar. O imóvel do Ilé Asé é sua propriedade legal e as chaves estão consigo, então tudo ali dentro lhe pertence. Acabei tendo que ceder e fiquei 6 meses esperando um retorno que não veio. Bloqueei-o e decidi seguir em frente, contudo compreendi que o bàbálórìsà seria de fato o dono do igbá de Òsányìn e eu do livre arbítrio, dos meus sonhos, desejos, decisões, ações e destino. Hoje ao escrever sobre está passagem já se passaram mais de 1 ano.

Nesta vida todos os bens físicos não nos pertencem verdadeiramente, pois são “bens transitórios”, ou seja, nos pertence somente durante o tempo pelo qual conseguimos utilizá-los e não os levamos após a morte. Meu pai biológico teve seu carro roubado, estava em seu nome, pagava o IPVA, DUT etc., ele foi furtado e morreu sem poder utilizá-lo. O carro seria dele? Se era como foi que conseguiram privá-lo de usufruir dele em vida? Levou-o após a morte?

O que é meu de verdade, levo comigo em todos os momentos, ou seja, meus pensamentos, retidão, humildade, conhecimentos, ações e o meu amor pelas pessoas e pela vida, pois estão guardados em meu Orí e não podem serem apropriados. Caso eu morresse agora levaria somente isso ao Òrun, nem mesmo os sapatos e as roupas no corpo eu os levaria. Os antigos Iorùbás utilizavam a expressão “ìwà rere - bom caráter”, como ele sendo o melhor caminho para o cumprimento de um bom destino e “ìwà lèsìn - o caráter sendo a essência”, das religiões de matrizes Iorùbás. Neste sentido, sempre caminhei nos desígnios do sagrado plantando boas sementes no canteiro de obras da minha vida.

“Ìwà ré laye yii ni yòó da o lejo”.
(Teu caráter na terra proferirá sentença contra você).

Estive recentemente em terras Iorùbás em uma comunidade de Òsányìn na Nigéria - África, conversei com um Olúwo Bàbálọsányin (líder / ancião) e com o igbá ancestral de Òsányìn (Ìta Òrun), que é o próprio oráculo do culto e se comunica diretamente por assobios. Para me aconselhar sobre todos esses aspectos envolvidos, orientações junto daqueles que guardam há mais de 2.000 anos os antigos costumes, tradições e ancestralidades de Òsányìn. E após consultar o sagrado, o que me foi revelado prevê um futuro simplesmente brilhante dentro das estradas e no asé deste mesmo òrìṣà. E ainda consegui compreender meu destino nos caminhos de sacerdócio.

“Òsányìn é magia viva em meu ser, caminhos e destino e isto ninguém consegue se apropriar!!!”.

Desejo boa sorte aos proprietários do igbá òrìṣà Òsányìn, por viverem numa fantasia de que o òrìsà ficou ao lado deste igbá. Ninguém nesta vida é “dono do vento”, pior é acreditar neste tipo de ilusão simplesmente por conseguir se apropriar de um apanhado de materiais físicos. Òrìṣàs são deidades, representam o começo da vida no àiyé, a força da natureza e a energia do asé, possuem consciência, opiniões e vontades próprias, portanto conseguem compreender muito melhor do que qualquer um de nós, sobre o que é certo ou errado nesta vida.

Igbá òrìṣà é um assentamento sagrado de imensa importância dentro das religiões de matrizes Iorùbás, existem òrìṣàs que são cultuados por gerações em uma mesma família através de um igbá. Ìta Òrun é um exemplo de òrìṣà ancestral que acompanha a comunidade Ègbéwolé. Òsányìn está encantado em uma estátua de madeira, entre suas consultas ele é normalmente molhado com gin, pois adora beber, então seu igbá tem um “desgaste físico” muito maior quando se comparado com uma òkúta (pedra). Para atenuar está situação existem sempre três estátuas ou igbás diferentes para Òsányìn se manifestar, que vão sendo utilizadas e substituídas ao longo do tempo. Isto somente reforça a condição de Òsányìn como etéreo sagrado sobre o transitório igbá fisico.

Mas, retornando ao também importante igbá e òkúta no Brasil, e se imaginássemos um grupo de extremistas de outra religião invadindo de noite o espaço do Ilé Asé para na maldade, depredar e jogar o que pudessem no fundo de um rio. Ao perder fisicamente o igbá o seu caminho em òrìsà também estaria perdido? Seu ciclo com o sagrado estaria então concluído, pois o òrìṣà estaria preso no rio?

“Não!!! Vão se os anéis ficam se os dedos!!!”.

Então, para o meu caso que não é fictício eu digo.

“Que fiquem com a cabaça e as folhas, contudo o encanto de Òsànyín, o qual costumo chamá-lo de pai, carrego-o em meus caminhos nesta vida”.

“Bàbá mi Òsányìn! Ewé ó! Ewé ó!”.

No candomblé me ensinaram que a cabeça divinizada, portanto renascida pelos atos de Adosú e Ekodidé se torna consagrada moradia de Òrìsà, e ainda, por essas crencas, quando eu morresse haveria a necessidade de se abrir uma segunda vez a cúria (centro) do Orí, para o òrìṣà poder se desvencilhar e retornar para a natureza. Independentemente de como são feitos esses atos por Ègbéwolé na Nigéria, pretendo manter algumas das tradições do candomblé por ter nascido em òrìṣà aqui no Brasil.

Estou livre por conseguir me desapegar, então que façam bom proveito dos seus bens, pertences e dos seus karmas, pois nada disso me pertence. Podem até chamar de amor e fé uma conduta autoritária de propriedade, mas é somente o ego em curso, atitude controversa, ainda mais quando são comparadas com ações do passado, por receber irmãos iniciados de outros terreiros com seus respectivos igbás.

Da minha parte sou, contudo, muito grato a navalha que me iniciou nos caminhos de Òsányìn e vou levar está assinatura em meu orí com a maior retidão, compromisso, amor e fé. Todas as manhãs em minhas orações eu lhe peço sua benção e te desejo prosperidade como forma de agradecimento, afinal foi graças a uma aliança estabelecida há 12 anos atrás que Òsányìn consegue me ensinar hoje. Sobre os seus ìtans e feitos, sobre ele não ter se iludido com o seu enorme poder em despertar o asé das folhas, a ponto de erroneamente ter se considerado o dono delas. Òsányìn me trouxe em uma curta frase, um pouco da sua sabedoria, uma grande reflexão sobre o igbá òrìsà e o que de fato me pertence nesta vida, mas, sobretudo, me demostrou em qual lugar se encontra ao vir ensinar sobre os seus encantos.

Uma porta se fechou em minha vida, porém outra maior se abriu e quem está me conduzindo nesta nova jornada é Òsányìn. Não guardo nenhum sentimento de tristeza, mágoa ou rancor, estou mais alegre, fortalecido no orí e no vínculo com o òrìṣà. Somente me “despertaram” pela busca dos antigos costumes e ancestralidades de Òsányìn, me despertaram para o meu propósito nesta vida.

Que meu orí nunca perca suas forças interiores ou aquilo que de fato me pertence, para eu assim não esmorecer, fraquejar e pensar em desistir.
O amor, a fé e a resiliência que me motiva recomeçar, a humildade que me torna mais humano, o caráter como bússola para os novos desafios da vida, o agradecimento até pelas dores que nos desperta das ilusões de propriedade sobre a realidade física, a adaptabilidade para as mudanças do tempo e o sorriso que no final faz tudo valer a pena.

Òsányìn me ensinou que ele não é o dono das folhas, apesar do grande poder que exerce sobre elas. Eu evolui ao compreender que nunca fui o dono do igbá òrìṣà Òsányìn, mas dono do poder da fé, da coragem e da força de vontade que me faz recomeçar.

E o seu orí?
Ele se te condiciona a ser dono do que nesta vida?

Autor: Òsányínwumi.
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução sem mencionar os créditos.
Não copie, compartilhe.
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Fonte: Facebook

Transcrição e adaptação: Luiz L. Marins

sexta-feira, 5 de julho de 2024

MEMÓRIAS DO SACERDOTE DO BATUQUE: JOÃO DE BARÁ AGELÚ NÍ BÍ

Coletamos esta postagem na página do Roger de Xangô, relatos sobre o Pai João, vejamos:


"JOÃO DE BARÁ AGELÚ NÍ BÍ (EXÚ BY) - NETO DO PRÍNCIPE
Por Afrosul
Postado em 30/07/23

Quando se fala em Nação Jêje do Rio Grande do Sul, logo vem o nome do Pai de Santo mais famoso desta nação que foi o Pai João de Bará Ni Bi (Exu Bý), que sem dúvidas foi a maior expressão Jeje. Conhecido no Brasil e em outros países, filho de Santo de Mãe Chininha de Xangô Agandju Ibeijis. Pai João do Bará doutrinava muito bem seus filhos de santo. Ensinava muito bem seus filhos a puxar as rezas dos Orixás e a tocar tambor.

 

Ele tinha uma técnica de ensinar os filhos tocando na mesa com duas colheres e no outro dia já os colocava a tocar no tambor com os agidavís. João de Bará e Tia Licinha, sua irmã, tocavam Jêje juntos, e diziam na época que era um dos melhores rituais quando esses dois se juntavam na mesma obrigação. Dos pais e mães de santos atuais, da nação Jêje do Rio Grande do Sul, muitos desconhecem a palavra Vodun; deve-se este fato ao predomínio da nação Ijexá, de origem Yorubá que acabou absorvendo as demais, e o termo vodun com o passar dos tempos, deixou de existir; mas é certo que a linguagem utilizada nas rezas e o uso das AGIDAVIS, para toque dos tambores RUM - RUMPI e LÊ (instrumentos de percussão), entre outros fatos refletem muito os fundamentos do antigo Daomé. (o grifo é nosso)

 

Há casos em que as tradições culturais africanas resistem mais que em outros, à mudança, mas em nenhuma instância, nem mesmo nos terreiros mais antigos e ostensivamente zelosos à suas origens, deixou de existir, contudo, se tivesse, no sul um maior interesse em pesquisar a origem dos fundamentos de cada nação é certo que achariam a ligação direta do jêje praticado aqui, com os povos do antigo Dahomé, e assim por diante. O que sobrevive da vertente jêje como legado cultural acha-se associado ao acervo Yorubá, embora não se fale em Voduns no Rio Grande do Sul.

 

19 de Maio, seria aniversário do saudoso Exu Bi, de Pai Joãozinho, patriarca da nação Jeje.

 

Sempre foi e sempre será, um dos maiores BALUARTES de todos os tempos dentro da nossa Religião. Foi um homem que deixou um Patrimônio Cultural e religioso para todos os seus filhos e descendentes, que ao longo dos anos, se tornaram uma extensa Bacia. Era um homem de fé, acima de tudo, de dedicação ao sagrado e ao ORIXÁ, de imensa sabedoria e fundamentos. Divulgou e promoveu a Religião e a sua Nação, por muitos lugares, inclusive na Argentina e no Uruguai. Foi uma LENDA no seu tempo e continua sendo, até os dias de hoje.

 

Com muito respeito, que hoje, nós homenageamos, o grande Babalorixá JOÃO CORREIA LIMA (póstuma), Pai JOÃOZINHO DE BARÁ EXÚ AJELÚ BÍ (NÍ).
Pai Joãozinho era da Nação JÉJÉ, NETO do PRÍNCIPE CUSTÓDIO de SAPATÁ ERUPÊ, e da Bacia de Mãe CHININHA DE IBEJI.

 

Fazia grandes obrigações e lindas festas, que os antigos nos contam que eram maravilhosas, e comemorava o aniversário do seu ORIXÁ, no dia 19 de maio.
Morava na rua COMENDADOR RHEINGANTZ, 265 no Bairro MONT SERRAT, que era o berço de grandes batuqueiros.

 

Pai Joãozinho tinha uma característica de ensinar a todos os seus filhos de santo, inclusive as mulheres, de tocarem o JÉJÉ de aguidaviche e NAGÔ no tambor.
Foi um homem muito generoso, pois ajudou a criar e manter muitas crianças desamparadas, que se tornaram seus filhos de criação.

 

Deixou uma enorme e rica GOA, e seus descentes hoje, continuam cada vêz mais aumentando.
O seu nome, definitivamente, entrou para a história da nossa Religião.
Ele faleceu, no dia 24 de novembro de 1971.
Fonte: BATUQUE DO RIO GRANDE DO SUL"

 

Reflexões

Pai João ensinava a tocar tambor com aquidavi, no entanto, não foi informado onde ele coletou este costume.

Os nomes de atabaques do Candomblé Ketu "RUM - RUMPI e LÊ", foram citados, porém, não há registros que usem na família.

Há registros de que somente ele tocava com aquidavi, sendo que a família não usava os aquidavis.

Link https://www.facebook.com/roger.dexango/posts/pfbid02RRWfP4KGdwKqvRqzQd8F5LDNMCs4H8rdC1ocdYCvtuhp6YyM2Dyr57v1bgveRY7Ul

Imagens 






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