quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O Nascimento de um Òrìsà- Parte II

Por Bàbá Erick Òòsàálá
16/10/14

Conforme o artigo parte I, informamos a existência de Ìkójopò-òòsà  ou Ìran-òòsà e quais recursos para que seja estabelecido o vinculo com tais ancestralidades, sabemos que além destes recursos, ainda deveremos ficar atentos ao caráter e personalidade do indivíduo.

Um ponto ao qual o iniciado deve se dedicar quando deseja cultuar Orí e sua Ancestralidade, e não cometer atos que gerem desequilíbrio ao seu Orí, para a lei dos homens, há regras que a sociedade estipula que devem ser observadas e ao mesmo tempo respeitadas, como não roubar, não matar entre outras, sabemos que além das punições que a própria lei poderá cobrar, há também os desequilíbrios e cobranças do próprio espiritual. Um dos fatores que poderá proporcionar a exclusão de um templo caso o indivíduo possa ser um perigo para o templo religioso, ou seja, os  desvios de conduta possam gerar problemas a tal ponto que o sacerdote possa querer quebrar o vinculo com aquele indivíduo, por falta de comprometimento com os bons costumes e regras daquele templo, sem que o sacerdote se comprometa com o espiritual daquele indivíduo. Sabemos que muitas vezes para proteger a comunidade ele poderá eliminar o mau, seja espiritual ou material.

O livre-arbítrio é o maior mecanismo de abstenção da culpa e do compromisso, pois a maioria dos que usam a sua escolha para algo, e a liberdade de escolha para qualquer caminho, ele deve assumir toda a e qualquer responsabilidade, deixando claro que ele será o único responsável quando houver uma má escolha, desde que este indivíduo não tenha sido induzido à má escolha. Por outro lado, o livre-arbítrio, além de ser um mecanismo de auto flagelação por consequência, ele livra o sacerdote dos compromissos com o indivíduo, afinal cada um é livre para escolher o seu caminho, desde que não prejudique a comunidade ele poderá seguir por onde quiser, caso contrário o sacerdote terá o dever de intervir caso algum indivíduo possa prejudicar aquela comunidade, assim o sacerdote estará protegendo a sua comunidade.

Talvez o maior vilão do ser humano não seja a punição a qual ele se envolve, mas sim a tendência para a má escolha, e os os erros que ele poderá cometer diante das más escolhas, o que sabemos que não é da responsabilidade do sacerdote quando este indivíduo insiste nas más  escolhas.

O culto ao Orí, abre caminhos e oportunidades para que o indivíduo possa prosperar e crescer, vai dele escolher sempre o melhor para si, desviar de um caminho honesto e correto, pode lhe causar danos, podendo até que responder judicialmente, porem não cabe a nós julgar ou conviver com isso, basta eliminar as más escolhas, caso não consiga  elimine os elementos que trazem má influencia ou possam prejudicar a comunidade, desta forma protegera aqueles que são honestos e procuram a espiritualidade.

sábado, 11 de outubro de 2014

O Nascimento de um Òrìsà- Parte I

Por Bàbá Erick Òòsàálá
11/10/14


 
Criar o elo entre o iniciado e a divindade é feito através da iniciação, o sacerdote necessita saber as características, folhas, ferramentas, comidas e segredos.
 
Quando citamos características, estamos relacionando aos fundamentos que compõe aquela divindade, não basta apenas definir se é um Sàngó, Odé ou Òòsàálá, temos que definir qual divindade será cultuada para aquele indivíduo, partindo do principio que, muitas divindades estão aglutinadas numa determinada divindade, para simplificar o culto, levando em consideração que há muitas divindades para serem cultuadas, os sacerdotes antigos consideraram que o culto de determinadas divindades assemelhava-se a outras, e poderiam compor o que chamavam por qualidades, no entanto com o tempo percebemos que estas qualidades estariam divididas em descendências ou por ajuntamento ou acumulação... conforte citaremos a seguir;
 
Descendência - poderemos notar no caso de Sàngó que o seu culto aglutina divindades como Aganju, Agodo, Jakuta entre outros, que partem de uma mesma descendência e aglutinam no culto a Sàngó, levando em consideração que cada divindade tem a sua caraterística, fundamento e rituais, que o individualiza dos demais.

Neste caso recebe o nome em Yorùbá de Ìran-òòsà - descendência ou geração.

 
Ajuntamento ou acumulação - quando encontramos divindades que o seu culto se assemelham e podem considerar que o seu culto possa ser tratado como uma determinada divindade, observem no caso do Batuque que Olókun, Óbokún, Dakun, Oduduwá entre outros, se encontram no culto a Obatala, neste caso aglomeraram divindades Funfun (Primordiais) que poderiam ser cultuada em determinados fundamentos, porem mesmo assim deverá haver uma individualização entre elas, e cada uma terá determinados conceitos, rituais e fundamentos que possam identificar a  feitura de  cada um.
 
Neste caso recebe o nome de Ìkójopò-òòsà - ajuntamento, acumulação ou coleção de  divindades semelhantes em determinado culto.
 
Estes conceitos ajudaram os  sacerdotes no Brasil a aglutinar várias divindades no culto das divindades principais.

Folhas
As folhas são de extrema importância, sabemos que devem fazer parte do assentamento, ou seja, são usadas na hora de fazer o Omi-àse (água de erva do ase daquela divindade ou demais divindades, conforme a necessidade ou fundamento), da mesma forma que as folhas irão compor o assentamento para que possa ser ativado, quando houver o sacrifício, seja qual for, haverá a sacralização e a folha ajuda a ativar a consciência desta divindades considerando que cada folha contem e ajuda a compor a divindade como se fosse o DNA, que faz com que aquela divindade desperte.

 
Note que existe folha macho e fêmea, quente e fria, entre outros fatores que devem ser considerados, jamais esquecendo que cada folha contem um Ofò (invocação ) para que desperte a sua magia.
 
No Batuque há um conceito muito interessante que ajuda tanto na hora corte quanto na hora da levantação, que o sacerdote escolhe aves e bichos com pelos na cores convencionadas que distinguem cada divindade cultuada, sendo assim, ao cortar e ter vários assentamentos comendo, fica muito fácil identificar cada um pelas cores das penas das aves que foram sacrificadas, sendo assim não há confusão com penas brancas de bichos que são cortados... Por isso usa-se bichos com penas de varias cores e tipos de  aves, como as carijó, vermelhos, telha, escuros e  claros, assim cada divindades será identificada conforme as penas que estão cobrindo os assentamentos que estão comendo.
 
Os fundamentos de cada divindade, sabemos que cada divindade tem uma determinada ferramenta e rituais, por isso, é muito importante que ao preparar aquela divindade saiba-se o mínimo a que ela necessita para que possa ser feita, como pós, sementes, favas, óleos, mel, folhas e  etc.... Observamos para alguns sacerdotes consideram que basta as aves distintas, porem levantamos a questão do Ìkójopò-òòsà  ou Ìran-òòsà, que são divindades individualizadas que compõem uma destas posições e devem ser  respeitadas, por isso consideramos que na hora da  feitura teremos que movimentar adequadamente a feitura daquela divindade para que haja a ligação com força e àse.
 
Assim consideramos que cada divindade que nasce deve ser  respeitada e considerada pelo sacerdote sagrada, jamais esquecendo que está diante de um deus ou deusa, e qualquer sacerdote é um mero intermediador entre os seres divinos e a humanidade, agora imaginem a responsabilidade de cada iniciado diante da sua divindade e sacerdote.... Afinal foi através dele que houve a ligação e o restabelecimento entre o divino e o ser humano.
 
Assim os òrìsà nos ensinam e assim ensinamos os iniciados a serem boas pessoas.
 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Ibeji


Dhadar Faseyi


29/09/2014




 
O povo Iorubá acredita que gêmeos são pessoas especiais. Na cultura tradicional Iorubá, quando nascem gêmeos, os pais visitam um babalaô/ babalorixá, para descobrir seus desejos.

 

O gêmeo que nasce primeiro chama-se Taiwo, que significa, “a primeira que chegou no mundo”, e a segunda chama-se Kehinde, que quer dizer, “a última pessoa que chegou no mundo”. Dizem que Kehinde envia Taiwo para ver como é a vida na Terra, e dizer para Kehinde se é boa.

 

Portanto, Taiwo vem como enviado de Kehinde, e torna-se a primeira criança a nascer. Ele se comunica com Kehinde espiritualmente, dizendo se a vida aqui será boa ou não. A resposta determina se Kehinde vai nascer vivo ou natimorto. Ambos retornam para onde vieram, se a resposta do Taiwo não for boa o suficiente para os dois viverem juntos.

 

Os iorubás dizem que Kehinde é o mais velho dos gêmeos apesar de ser o último a nascer, porque ele enviou Taiwo. Kehinde é, portanto, referido como omokehindegbegbon, que significa a criança que veio por último torna-se o mais velho.

 

Que Orixá Ibeji esteja sempre com a gente e nos dê muito axé.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

MÉDIUM DE INCORPORAÇÃO CONSCIENTE


Luiz L. Marins
Setembro de 2014

Não existe incorporação consciente. Quem está incorporado, não tem consciência de nada.
O médium de incorporação que tudo vê, tudo escuta, e lembra-se de tudo depois do transe, simplesmente não está incorporado, está irradiado. Ilude a si, e pensa enganar aos outros. Isto se chama animismo. W.W. Matta e Silva já falava sobre isto nos 60/70.


Médiuns conscientes são os videntes, os psicógrafos, os clariaudientes ...
Sim, existem médiuns de incorporação semi consciente, mas estes são muito diferentes dos chamados conscientes, pois não se recordam de nada depois do transe, embora durante este possam ter alguns flashs do que ocorre.
Babas, Iyas e Médiuns. Sejam honestos com vocês mesmos, revejam seus conceitos. Se for o caso, parem de exercer uma mediunidade que nunca tiveram. Tenho certeza que serão mais felizes, pois tirarão um peso de suas consciências.
Desculpem a franqueza, mas é necessário.

terça-feira, 24 de junho de 2014

O Caráter e o Afro-religioso.

Por Bàbá Erick Óbokún
24/06/14


Atualmente na comunidade Afro-brasileira, está se falando muito sobre o caráter, porem acreditamos que muitos ainda não conseguiram visualizar em sua mente, do que se trata o bom caráter. Por isso, que vale tentar ajudar a entender melhor o que é o bom caráter, principalmente para aqueles que pertencem a cultura Yorùbá. Iremos ilustrar;



"O que é Caráter:

Caráter é um conjunto de características e traços relativos à maneira de agir e de reagir de um indivíduo ou de um grupo. É um feitio moral. É a firmeza e coerência de atitudes.

O conjunto das qualidades e defeitos de uma pessoa é que vão determinar a sua conduta e a sua moralidade, o seu caráter. Os seus valores e firmeza moral definem a coerência das suas ações, do seu procedimento e comportamento.

Uma pessoa conhecida como "sem caráter" ou "mau caráter", geralmente é qualificada como desonesta, pois não apresenta firmeza de princípios ou de moral. Por outro lado, uma pessoa "de caráter" é alguém com formação moral sólida e incontestável.

O caráter quando é forte, não se deixa levar por alguma proposta de uma via mais fácil para a realização de algo. Mesmo se naquele momento parece ser o melhor caminho a seguir, é o caráter que vai determinar a escolha do indivíduo.

"A caráter" é uma expressão que significa conforme a época e ao lugar, rigorosamente como a moda deve ser.

Caráter também pode ser uma marca ou sinal gravado em uma superfície, como uma letra. Ex: Ele não entendeu nada porque não consegue ler caracteres chineses." (fonte -http://www.significados.com.br/carater/)

Acima fizemos uma pequena demonstração do que é Caráter, porem o que isso importa, e por que é tão falado atualmente? Justamente sobre isso que quero tentar demostrar para que as pessoas entendam a real necessidade de cultuar o bom caráter, numa religião a qual se dá muito valor à verdade!

Para um iniciado, o bom caráter lhe ajuda a estar afinado com a sua divindade e Orí, Orí engloba tudo que for pessoal para aquela pessoa, que se encontra no òrun. Se aquele indivíduo não cultua o bom caráter, a sua vida ou melhor falando o seu destino começará a sofrer conflitos, em conseguencia do mal caráter, pois ele terá dificuldade em viver a verdade, envolvido nas mentiras que cria.

Aprendemos a ser quem somos com os nossos mais velhos, seguimos os seus exemplos, e os imitamos, claro que o estudo e o aprendizado é algo que lhe ajudará muito, porem uma boa parte lhe é dado como um àse, que lhe acompanhará para sempre, cabe a pessoa manter este 
àse com bons pensamentos e uma vida equilibrada e sadia.

O pensamento claro e sadio lhe ajudará muito, ser um adorador da verdade lhe ajudará a caminhar por caminhos aos quais, mesmo quando levantarem falso contra você, a verdade será a sua aliada e os mentirosos cairão, por que, a "verdade" é única não tem meia verdade e ou uma verdade inventada.... Para isso existe a "mentira" que não é sadia, que muitas vezes quer confundir com a verdade e enganar inocentes.

E para o sacerdote, o por que é importante o Bom Caráter?

Os seus seguidores irão imita-lo, e irão carregar o seu 
àse, por isso, que a boa conduta, bons pensamentos e viver a verdade lhe fará um bom exemplo, não importando o quanto doa a verdade, ela deve ser cultuada e cultivada dentro de cada um.

Sabemos que muitas vezes a verdade dói e machuca, e nem todos estão preparados para a verdade, contudo aprender a aceitar a verdade e procurar a verdade, faz parte do amadurecimento e da sua ascensão para a evolução pessoal e comunitária.

Evoluir e crescer, é um ato de valentia numa sociedade a qual talvez não esteja pronta para ver a verdade, onde a maioria prefere estar na sua zona de conforto e manter o que aprendeu, sem querer olhar para a frente com medo de descobrir que o que conhece pode ser que não esteja de acordo com a verdade, afinal não existe uma verdade pessoal, inventada apenas para aquela pessoa. Por isso, por mais que doa, devemos procurar caminhar para frente nunca para trás, mesmo que esta jornada seja cansativa e solitária, devemos aos que virão a oportunidade de aprender e ter o seu exemplo.

Então por que o caráter deve ser avaliado pelo indivíduo constantemente?

Por que somos humanos e erramos constantemente, não basta deletar alguém, bloquear ou expulsar da sua vida, só por que esta pessoa pode lhe causar transtorno ou por que lhe mostrou algo ao qual você errou,  seja valente e maduro e reconheça seu erro e o concerte, afinal é para isso, que estamos evoluindo, aprender e consertar nossos erros.

E se tem duvidas sobre o que aquela pessoa fala, procure mais fontes, estude e tenha conteúdo para debater, trabalhe limpo e honesto, a sua vida será mais linda e você poderá ser feliz.... Pense, quem sabe seja por isso que sofra tanto.


Boa semana.

domingo, 25 de maio de 2014

PAÍS DIOLA

Senegal 
País Diola

Bosques sagrados, boekin e costumes históricos como salvaguarda cultural

Casamance, região do sul do Senegal, é um território de valores íntimos, iluminado por sua riqueza cultural e pela vivacidade de suas tradições. A capital Ziguinchor foi, no século XVII, um grande centro de comércio português e ainda preserva alguns prédios da arquitetura colonial. A fauna local é distinguida pela grande diversidade de aves, que se destacam no cenário que mistura mangues e baobás. Mas não é a arquitetura ou a natureza que prevalecem como símbolo da região. Encaixada entre Gâmbia e Guiné-Bissau e dividida pelo rio homônimo, Casamance é marcada pela preservação das mais antigas culturas, sendo o atual coração de grandes reinos. É ali que se encontra o País Diola.

A origem do povo Diola é pouco conhecida, uma vez que a história da comunidade é considerada confidencial, conservada a sete chaves pelos seus guardiões, que fazem questão de preservar a tradição em segredo. A sociedade ocupa a região da Baixa Casamance, território que abrange toda parte sul do rio, e é conhecida e respeitada por ter conseguido fazer prevalecer sua estrutura fundamental, perpetuar antigas normas e manter vivos os numerosos costumes locais. Em um país onde 95% da população incorporou o islamismo ou o cristianismo como principal crença, a cultura Diola é marcada pela salvaguarda do animismo e suas tradições e crenças endógenas do continente africano.

O rei fica instalado no vilarejo de Oussoye e desempenha papéis econômicos, sociais e religiosos na sociedade Diola. Entre suas funções principais está a justiça, sendo o encarregado de solucionar intrigas e problemas sociais, aconselhando os envolvidos e podendo até punir os responsáveis. Ainda, dono de grandes terras de arroz, o Rei Sibulumbaï Diédhiou explica que ele é incumbido de empregar em seu cultivo parte da população e que o arroz colhido deve ser divido entre as comunidades. Ele enfatiza ainda que as terras pertencem àquele que ocupa o cargo e não ao indivíduo e por isso devem ser utilizados em função do povo.

“Quando um rei está bem é porque a população está bem. É um círculo vicioso”, aponta o Diédhiou ao comentar que um rei pode perder o cargo se a população estiver insatisfeita. Ele ainda explica que na cultura Diola o reinado não funciona como uma dinastia e que quando um líder morre ou é deposto, existem três famílias que possuem o poder de decidir o novo encarregado. “Outro membro da família do antigo até pode ser escolhido, mas nunca o filho”, deixa claro o líder, que faz questões de receber os visitantes, sejam turistas ou não. Sibulumbaï Diédhiou acredita que é essencial esclarecer as dúvidas da população sobre seu reinado e sobre as tradições Diola. E para não deixar mal entendidos, prefere ele mesmo responder aos questionamentos.


As três famílias, além da escolha do rei, possuem outras importantes funções na sociedade, como a guarda de alguns espíritos. Pierre Diatta faz parte de uma delas. É um grande conhecedor das histórias e tradições de sua cultura, qualidade exigida pela família. Ele explica que apesar da incidência no país ser o oposto, na região de Casamance 90% da população é considerada animista. “Mas são apenas números. Na verdade, toda população do Senegal carrega seus valores tradicionais e a maioria ainda participa dos rituais mais importantes. O que existe na África não é um ou outro, mas sim um forte sincretismo religioso. A diferença aqui em Casamance é que somos exclusivamente animistas”.


Os animistas Diola acreditam que a energia cósmica, também conhecida como energia vital, mora em todas as coisas, sejam animais ou materiais. Acreditam também na existência de inúmeros espíritos, conhecidos como boekin, que moram e transitam pelas casas, vilarejos, plantações de arroz e bosques. Os intermediários da conexão entre os humanos e os boekin são os Oeyi, influentes figuras do domínio espiritual que junto ao rei, são responsáveis por definirem as obrigações e deveres dos cidadãos, por manter a ordem e a moral e, antes de tudo, por manter a paz. A conexão com os espíritos pode acontecer de diferentes formas: em rituais sagrados, em cerimônias tradicionais ou grandes comemorações.


Pierre Diatta explica que cada espírito tem o seu lugar e cada um é responsável por uma função específica na sociedade. “Tem o boekin da floresta, tem o da família que fica no fundo da casa, tem o boekin da fecundidade que é exclusivo das mulheres etc. Os maiores e mais importantes são protegidos e guardados por uma das três famílias”. O responsável por guardar o principal boekin de Oussoye é o pai de Pierre. Nas cerimônias de conexão, ele obrigatoriamente deve estar presente, escutando todos que buscam a ajuda do boekin. “Os pedidos são na maioria das vezes relacionados à saúde, fertilidade, bons estudos, justiça, proteção e trabalho, podendo ser tanto um problema pessoal e individual quanto um social”, completa o filho.


Normalmente na cerimônia é trazido como oferenda ao boekin galinhas, cabra ou porco e vinho de palma, suco da palmeira que chega a ter 4 a 5% de teor alcoólico quando fermentado por mais de dois dias. Alguns espíritos aparecem mais constantemente, outros são mais raros e alguns só aparecem no principal evento da cultura Diola, o Boukout, um ritual de passagem realizado no bosque sagrado, que marca a saída da adolescência para idade adulta. Quando é o período da cerimônia, todos os jovens não iniciados são encaminhados para o bosque, onde passam semanas ou meses.



No entanto, não há periodicidade certa para a realização do Boukout, que pode demorar até 30 anos para acontecer. E quando esse é o caso, os não iniciados, mesmo os mais velhos, não podem nem casar e nem ter filhos, pois são vistos pela sociedade como adolescentes. O que acontece no bosque sagrado é outro segredo guardado a sete chaves. “O que se passa lá a gente não pode contar, mas posso dizer que é uma experiência, sobretudo de educação, trabalho e ética”, explica Pierre. Formando a estrutura da sociedade e movendo o motor cultural da região, bosques sagrados, boekin, reinados e costumes históricos fazem do país Diola uma das principais e mais ricas tradições da África Ocidental.






Fonte - http://www.afreaka.com.br/pais-diola

TIKTOK ERICK WOLFF

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