domingo, 7 de fevereiro de 2010

BARA

Luiz L .Marins



08/02/2010


Nas ultimas décadas esta palavra de quatro letras virou sinônimo e explicação para quase tudo dentro da religião dos orixás, especialmente o candomblé.

Sinceramente não sei como a palavra "Bara", pura e simples, pode significar "Rei do corpo" ou "Exu do corpo". A tentativa de dizer que ela deriva de Òbàrà não se justifica, pois esta palavra quer dizer apenas, um dos odù de Ifá.

Na minha visão, "Exu do corpo" não existe na Noção de Pessoa Iorubá. Isto é um profundo erro de conceito de algumas teses acadêmicas. Penso que o assunto em que trata esta palavra deve estar referindo-se ao Exu do Orixá.

Para tentar dar um pouco de luz à questão, fomos procurar os dicionários, que não esclarecem conceitos, mas explicam as palavras. Vejamos alguns significados de Bara conforme os dicionários (observem os tons):

Dictionary of the Modern Yoruba, R.C.Abraham, 1962 (várias páginas):
bàrà = melancia > citrullus vulgaris.
bàrà = mausoléu real onde são enterrados os Aláààfin.
bàrà = bàrà-bàrà = correr esquivando-se ou movimentando de um lado para o outro.
bára = encontro, reunião.
bárà = uma coisa podre.
bààrà = expressão ligada ao ato de defecar.
báárà = o ato de estar começando algo.
bárá-bárá = o ato de amarrar algo com firmeza.
bára-bàra = fazer algo supercialmente
A Dictionary of the yoruba language, CMS, p. 53
bàrà = planta rasteira que fornece o oleo de semente egunsi.
bara = deus do engano, o demonio, Ifá.
bárabára = pequena quantidade.
bàrabàra = rapidamente, apressadamente.

Existe outra palavra, gbára, que significa “a parafernália ou conjunto de coisas de algo ou alguém, ou de uma situação em particular”. Esta palavra quando aplicada sobre os assentamentos religiosos toma uma conotação especial porque, todos os elementos juntos que compõe o assentamento de um determinado orixá pode ser chamado de gbára òrìsà.

O conjunto de elementos que formam o igba-ori (assentamentos do orí) pode ser chamado de “gbara orí”. O mesmo vale para a mesa de jogo e todo os elementos que o compõe. Ocorre porém que esta palavra não tem nada a ver com Exu.


Espero ter oferecido uma pequena contribuição.


http://www.orixa.rg3.net/
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09/02/2010
José Beniste em seu livro Òrun-Àiyé: o encontro de dois mundos: o sistema de relacionamento nagô-yorubá entre o céu e a Terra (Bertrand Brasil) usa a palavra Bara, sem acentos, e afirma que é uma forma reduzida de Elégbára. ele se baseia na usualidade iorubana de aglutinar frases em uma só palavra e na simplificação de palavras como, por exemplo, okutá - otá, Orixá - Oxá, Orixá Nlá - Oxalá, Ebó Ori - bori, etc.

Juana Elbein dos Santos usa o mesmo princípio e deduz, a partir da análise sistemática das funções primordiais de Exu, chega a conclusão de que Ele é Obará ou o rei do corpo (Obá ará). Mas, a princípio, ela não afirma que o nome Bará, seja uma corruptela de Obará. Ela diz que Exu é Obará.

Axé

Hendrix
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Luiz L .Marins

09/02/2010
O conceito do José Beniste eu concordo pois pode ser referendado pelos dicionários; quanto ao da Juana Elbein, ela precisa esclarecer como chegou a essa conclusão, pois os dicionários não confirmam.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Igbá Orí

Por Altair T’Ogun


http://www.altair.togun.nom.br/arquivo/cultura09.htm


Então é à nossa cabeça que devemos reverenciar não aquela tigela com alguns objetos que dizem, ser o Igbá Orí. Digo isso por que acredito assim. E algumas vezes, quando sou questionado por algumas pessoas que por “n” motivos, perguntam o quê fazer com seu “Igbá-Orí”.


Outros, preocupadíssimos porque seus zeladores não querem entregar ou que pior ainda, despacharam seus Igbá-Orí. Então, converso com elas dizendo isso que acredito. Grande parte delas se acalma e acaba concordando comigo. Não que Eu seja o dono da verdade, mas, há lógica em minha teoria. Mas, se não houver, é um bom assunto para ser pensado por todos.


Assim como, não é por ter escolhido um mau Orí que a pessoa tenha que viver na penúria a vida inteira. Ela poderá, através dos ebo reverter esse quadro, se não por completo, mas, em boa parte, pois ela estará resgatando parte da integridade do seu Orí.


Mas, também, não será somente através dos ebo que isso será alcançado. Elas também haverão que se esforçar com muito mais força de vontade ainda para superarem suas barreiras. Podem não alcançar o sucesso total, mas, poderão ter uma vida mais amena com algumas realizações e alegrias.


A iniciação na Religião Yorùbá significa o nascimento do Orí-inú dentro do culto aos Òrìsà. É uma maneira de demonstrar que a partir da iniciação aquela pessoa nasceu para a religião e para o sagrado com a confirmação do seu Orí-inú, que passará a ter representação física no àiyé.


Aí, é que começa a história do Igbá Orí (literalmente, cabaça da cabeça, pois os assentamentos eram feitos em cabaças – igbá, daí o nome ter virado sinônimo de assentamento de Òrìsà) a Cabaça do Orí.


Costuma-se fazer assentamentos com as mais variadas coisas para representar o Orí de uma pessoa. Esta variedade de coisas deve-se a que o Orí seja o que individualiza o ser humano. Como no caso das impressões digitais, ninguém tem Orí igual ao de outra pessoa, cada Orí é único e exclusivo daquela pessoa.


Então, faz-se o assentamento numa cabaça ou tigela, o mais comum entre nós, e esse assentamento é cultuado como Igbá – Orí, ou seja, a representação física do Orí-inú da pessoa. Tudo bem, este comportamento é usual e corrente. Mas, sem querer ser o único certo, longe de mim isso, Eu não concordo com esse tipo de Igbá Orí. Porque Eu penso que a melhor representação do nosso Orí-inú é o nosso Orí físico, ou seja, a nossa própria cabeça.


A nossa cabeça física é a materialização da nossa cabeça interior, acho Eu. Qual o melhor objeto para representar o nosso Orí-inú, que não a nossa própria cabeça? É dentro dela que se instala a outra do òrun, por isso, chamado Orí-inú (cabeça interior), mas interior onde? Da cabeça física que também acho, tem o formato do igbá (cabaça).


Quando fazemos um eborí nós estamos cultuando esta cabeça interior. E onde nós fazemos os preceitos? Diretamente em nossa cabeça, pois é ali que mora o nosso Orí-inú e o nosso òris


Igbá Ori, segundo a Tradição de Orisa, não leva okuta e não deveria existir, pois não há lugar melhor para cultuar Ori Inu que sobre Ori Ode, porém ficou convencionado o uso dele.


Quanto ao Igba-Ori, quer dizer a bandeja onde guardamos o doublé, a representação material do Ori, este contém alguns itens de conhecimento restritos àqueles que tem o seu ori “assentado”.


Posso, porém assegurar que dentre estes itens jamais encontrarás um Okuta (Ota).


Àse para todos!
Altair t’Ògún

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Segredos revelados

Antigamente não se falava por que dizia-se que era segredo ...
Hoje se deleta para não descobrirem que não sabiam.”

Luiz L. Marins

Ẹ̀SỌ̀

O uso mágico das folhas na religião iorubá sempre vem acompanhado de expressões de encantamentos que visam despertar o àṣẹ das fôlhas utilizadas. Estes encantamentos são chamados ọfọ̀.

Vamos apresentar aqui, periódicamente, uma folha e seu respectivo ọfọ̀, na singela intenção de dividir cultura e conhecimento.

Sinomínia: Ewé Ọ̀sanyìn.

Elytraria Marginata,
Elytraria Imbricata,
Vahl, Acanthaceae

Ìrosùn Etùtù

ọfọ̀
Ewé ẹ̀sọ̀ temi ẹ̀sọ̀ ẹ̀sọ̀
Ni gbogbo ire yio máa tọ̀ mi wa, ẹ̀sọ̀ ẹ̀sọ̀.

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Folha da Gentileza

“Folha da gentileza, todas as minhas coisas serão feitas gentilmente, gentilmente.”
“Todas as coisas boas virão para mim gentilmente.”

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Fonética em português:

Euê éssó temi éssó éssó
Ni guiboguibo ire iô máa tó mi ua, éssó éssó.

(obs. exemplo fonético, não é escrita iorubá)



Fonte:
Pierre Fatumbi Verger“Ewe, o uso das plantas na sociedade iorubá”, 1995.


Por Por Luiz L. Marins

Série Folhas sagradas - Leia mais...

Folhas iorubás

Carta do colunista
Luiz L. Marins


O uso mágico das folhas na religião iorubá sempre vem acompanhado de expressões de encantamentos que visam despertar o àẹ das fôlhas utilizadas.

Estes encantamentos são chamados ọfọ̀.

Vamos apresentar aqui, periódicamente, uma folha e seu respectivo ọfọ̀, na singela intenção de dividir cultura e conhecimento.

TIKTOK ERICK WOLFF