quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ajala e o mito das mulas sem cabeça


    Imagem: Internet, autor desconhecido.

Por Erick Wolff8
08/06/2012

Revisado em Março de 2018


Esta postagem tem a intenção de mostrar como um equívoco mitológico pode influenciar milhares de pessoas através de um conceito religioso, também equivocado.

O mito abaixo é corrente na etnografia afro-brasileira. Foi publicado no livro "Mitologia dos Orixás", Reginaldo Prandi, Cia. das Letras, São Paulo, p. 470.

Um dos versos diz que "Obatala esqueceu de fazer a cabeça". Não sabemos onde Prandi encontrou esta informação, pois a fonte informada pelo autor, a saber: Sixteen Greats Poems of Ifa", Wande Abimbola, Unesco, 1975, não traz este dado.

Na contra-mão, as informações colhidas em Oyo por Paula Gomes, Oloye do Alaafin Oyo, dizem o contrário: que Obatala cria o ser humano, ainda no òrun, completo, isto é, com a cabeça (babalaô Ifatokun, Aare Isese Alaafin Oyo).


Vamos ao mito publicado por Prandi:

Ajalá modela a cabeça do homem

Odudua criou o mundo,
Obatalá criou o ser humano.
Obatalá fez o homem de lama,
com o corpo, peito, barriga, pernas, pés.
Modelou as costas e os ombros, os braços e as mãos.
Deu-lhe ossos, pele e musculatura.
Fez os machos com pênis
e as fêmeas com vagina,
para que um penetrasse o outro
e assim pudessem se juntar e se reproduzir.
Pôs na criatura o coração, fígado e tudo o mais que está dentro dela,
inclusive o sangue.
Olodumare pôs no homem a respiração
e ele viveu.
Mas Obatalá se esqueceu de fazer a cabeça
e Olodumare ordenou a Ajalá que completasse
a obra de Oxalá.
Assim, é Ajalá quem faz as cabeças dos homens e das mulheres.

Quando alguém está para nascer,
vai à casa do oleiro Ajalá, o modelador de cabeças.
Ajalá faz as cabeças de barro e as cozinha no forno.

Se Ajalá está bem. faz cabeças boas.
Se está bêbado, faz cabeças mal cozidas,
passadas do ponto, malformadas.
Cada um escolhe sua cabeça para nascer.

“Cada um escolhe o ori que vai ter na terra.
Lá escolhe uma cabeça para si.
Cada um escolhe seu ori.

Deve ser esperto, para escolher cabeça boa.
Cabeça ruim é destino ruim,

cabeça boa é riqueza, vitória, prosperidade, tudo que é bom.

O povo Yorùbá acredita que Obatala (a maior divindade cultuada entre os yorùbá, o primeiro ser divino criado, conhecido por Òòsàálá) modela o homem do barro do òrun (mundo espiritual), ou seja, ele cria o homem, com elementos do próprio òrun, porem em momento algum diz que ele cria "mulas sem cabeça".
Entre muitos erros conceituais na literatura afro-brasileira, este acima é o pior, que faz com que o homem seja criado como uma mula sem cabeça, para mais tarde buscar orí na casa de Ajalá.

Todos sabem que Ajalá é o oleiro do òrun, que possui poder de modelar orí, que o culto a orí é individual  tanto que é cultuado antes mesmo da feitura do òrìsà.

O babalaô Ifatokun, de Oyo, esclare que o orí de Ajala é um àse que o ara-orun coloca em sua cabeça (espiritual), ainda no òrun, antes vir para o mundo (ayé)


Bibliografia no corpo do texto.

 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os direitos humanos é um Titanic pronto para afundar no Brasil


Por Erick Wolff8
25/05/2012

Durante 17 anos, o congresso discutiu a união entre pessoas do mesmo sexo. E tentando tapar o sol com a peneira, mais uma vez este congresso não fez nada, nesta quinta-feira, 24 de maio,  ele enrolou e caiu no dedo do pé, pois a lei disfarça a falta de preocupação da Comissão dos Direitos Humanos, que segundo esta lei, não haverá mudança alguma, pois existe um Pitt bull, chamado Comissão de Constituição e Justiça, que diante dos senadores preconceituosos e fanáticos, sendo a maioria, lutam contra os direitos homoafetivos, sem ao menos entender a necessidade da causa. Depois disso, deverá seguir para a Câmara, que ali sim a bancada evangélica, ou melhor, falando a totalidade Cristã, irá lutar de unhas e dentes contra.

Mas porque articular tanto entre o atraso e a necessidade?

Simplesmente porque, os direitos dos casais do mesmo sexo de poderem construir uma vida e principalmente adquirir bens nunca foram respeitados, que no caso de falecimento de um dos dois, simplesmente a família do falecido se apossa de tudo, deixando o outro sem direito algum, resumindo o drama, deixa o outro sem nada...

Atualmente a lei chegou até o estúpido entendimento que o individuo compete com os herdeiros, diferente dos casais heteros onde o individuo é meeiro, então porque a lei ignora a união entre pessoas do mesmo sexo? Sendo que o INSS e a Receita Federal já os reconhece?

Esta é a intolerância e o medo dos nossos  políticos de votarem a favor e  perderem os eleitores mais fanáticos que lutam contra os direitos dos homoafetivos de constituir  família e viver dignamente.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Quem é Exu? (parte 2)

Exú por  Alessandro Coi
Segunda parte

Nos anos (18)40 e (18)50 foi constante a referência, nas páginas dos jornais do Rio de Janeiro e São Paulo, de reuniões de pretos (nomes dos negros de então), com finalidade aparente de praticar a religião. Tais reuniões, quando descobertas ou denunciadas, eram dissolvidas a pata de cavalo ou a golpe de bastões policiais, sendo seus praticantes recolhidos presos, quando não logravam fugir.

A partir dos anos (18)50, é nítida a separação de semelhantes “pagodes”, sempre destruídos, em duas famílias, o Candombe ou Candomblé e a Macumba ou Imbanda. Aparece, portanto, pela primeira vez (1853) a Nbandla bantu como ramo independente das religiões ou “cultos” afro-brasileiros.

Quanto ao nome de “pagodes”, eram dados por deboche pelas autoridades policiais, em virtude do caráter enfeitado e complicado dos rituais e dos instrumentos de culto ali evidenciados. Os objetos eram recolhidos ou ali mesmos destruídos.

A Nbandla foi assim uma ideologia social de importância nas condições do século XIX, em função do grande número de componentes dos povos Bantu, que na realidade sócio-cultural de então conformavam as populações locais brasileiras. No que se refere às aproximações com outras religiões, a destruição massiva dos elementos de culto e dos rituais eliminou a possibilidade de uma reconstituição dos caminhos culturais percorridos.

No entorno da Guerra do Paraguai (1860-1880), a `Nbandla sofreu forte impacto do Kardecismo, recém-implantado no Brasil e muito forte então no corpo de oficiais do exército e da marinha. A `Nbandla, sendo já à época conhecida como Umbanda (corruptela gerada pela pronúncia), no Rio de Janeiro tinha mesmo acesso às igrejas católicas onde concentravam as tropas que eram enviadas para o “front” paraguaio. Era então nítida a associação das cores das nações africanas, na escolha dos santos católicos que deviam favorecer os iniciados ou adotados pela Umbanda.

Os cânticos (ou “pontos”) expressam assim uma parte congelada das relações religiosas inter-étnicas, que necessitariam para ser corretamente datados de – ao menos uma preservação de amostras da estatuária sagrada ao longo das gerações. Dessa, ainda hoje – o pouco que resta se encontra nas mãos da polícia. Por isso, torna-se muito difícil chegar à definição dos lugares específicos das identidades religiosas (*dai o distânciamento dos Jinkisi, e conseqüente absorção dos Orixás no culto, mais conservado pela maior visibilidade de alguns terreiros com raízes Yorubas), com uma teoria adequada do papel das identidades eventualmente duplas ou triplas, nas fases históricas precedentes (da época contemporânea). A multiplicidade de papéis a desempenhar que se gera naturalmente numa sociedade em urbanização devia requerer oportunidades também múltiplas de transformação religiosa nos contextos étnico-sociais de então (*Nagotização).

No culto Bantu, a tenda pode atender coletiva ou individualmente. Os dias de atendimento eram coletivos geralmente às segundas e às sextas, sendo os demais dias – todos ou parte deles – dedicados a atendimentos individuais e à “prática da caridade”.


 Mas e Exú? Se perdeu em alguma encruzilhada?

Claro que não, como Senhor dos Caminhos estava abrindo as portas da religião para o novo que surgia com o advento da abolição da escravatura e da nova situação do Brasil, que deixaria de ser mera propriedade de Portugal, assim como os escravos de seus senhores, e passaria, a ser uma nação independente que construiria a partir de então, identidade própria..

O atendimento coletivo substituía a antiga roda comum de delírio das aldeias Bantu na África (Ku Yinga). Ali podia-se entoar cânticos reelaborados para expressar a nova coletividade, evidentemente híbrida, de parentela e consangüinidade desconhecidas. Os antepassados eram invocados de acordo com uma nova terminologia mais abrangente,produzida pelos sacerdotes para cobrir um arco mais abstrato de relações com os fiéis. Nesse sentido, pode-se observar um deslocamento do outro mundo próximo para o outro mundo distante. A necessidade de generalizar as relações de parentesco para todos os Bantu e não-Bantu agora (então) desaldeiados levou à mitologia das Sete Linhas, cujas cores incorporam diferentes culturas e escolhas africanas. Constituiu-se assim nova hierarquia geopolítica da vida espiritual, para corresponder aos movimentos populacionais devidos à guerra, ao recuo da escravidão e ao avanço urbanizador.


Bibliografia
África, mitos y leyendas - Alice Webner
Traduzido por Mametu Ndenge Mutarerê

TIKTOK ERICK WOLFF