segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

ADOSU SANGO

Por Erick Wolff de Oxalá

Pub em 11/01/2021


O Adosu é um símbolo de submissão ao Alaafin, carregado de poder espiritual que envolve Sango.


[...] O lya-fin-Ikii é o segundo tenente e assistente para a lya-Naso.  Ele é "Adosu Sango" do rei, ou seja, devoto do rei e aos aos mistérios de Sango. Como todos os adoradores de Sango o fazem, por submissão, de seus filhos à adoração do deus, se levanta em lugar disso para o rei.  Ela possui o encargo do sagrado, que pode ir a qualquer lugar e no mercado sem ser molestado, e pode comer impunemente qualquer coisa do vendedores [...][pág. 64]


Adósù - Inicia, aquele que tem tufos de cabelo no alto da cabeça [pág 42, dic Beniste]




Fontes.


Dicionário Ioruba, Beniste

domingo, 10 de janeiro de 2021

CRIAÇÃO DO MUNDO SEGUNDO A TRADIÇÃO BANTU

Postado Por Geledes
Em 28/08/2013

Segundo a história tradicional contada pelos mais idosos e categorizados Nganga (sacerdotes) de tribo bantu (Angola), que todos os povos negros descenderiam dos Bungu e estes diretamente do Nzambi (Deus Supremo da mitologia bantu).


Eis a história tal qual foi contada, da criação do Mundo e a ascendência divina destes povos. Nzambi, a quem também chamam Ndala Karitanga (Deus criador de si próprio), Nzambi ia Kalunga (Deus Supremo e Infinito) e Nzambi Ampungu (Deus Poderoso), depois de ter criado o Mundo e tudo quanto nele existe , criou uma mulher para que fosse sua esposa e para que, por seu intermédio, pudesse ter descendência humana, a fim de que esta povoasse a Terra e dominasse todos os animais selvagens, por ele criado.

Disse a sua esposa que passaria a chamar-se Ná Kalunga, em virtude da filha que iria dar a luz, se chamar Kalunga.

Com efeito, tal como Nzambi tinha anunciado, passados nove meses, nasceu sua filha.

Esta foi crescendo como qualquer criança normal, junto de seus divinos pais, na Sanzala dia Nzambi (aldeia de Deus).

Logo que sua filha atingiu a puberdade, Nzambi, informou Ná Kalunga, sua esposa, que tencionava mostrar para Kalunga, sua filha, tudo que havia criado e que após três meses retornaria.

Esta resolução não agradou à divina esposa que tentou opor-se a que sua filha o acompanhasse. Porém Nzambi lembrou-lhe que ela tinha sido por ele criada para lhe obedecer, visto que, além de seu marido, era também seu Deus.

Contrariada, mas impotente para obrigar Nzambi a desistir do seu intento, limitou-se a deixar ir à filha com o pai, enquanto ela ficou a chorar amargamente.

Logo que anoiteceu, Nzambi, instantaneamente, construiu uma Kuabata (palhoça), na qual instalou uma só cama. Ao ver único leito, a filha recusou-se a dormir com o pai e saiu, a chorar da cabana.

Ao ver a recusa da filha e não podendo convencê-la de outra forma, disse-lhe que se não viesse imediatamente para junto dele, seria devorada pelas feras que infestavam a floresta.

Transitada de medo pelo que acabava de ouvir, Kalunga entrou novamente na cabana, deitou-se junto de seu pai e com ele dormiu não só naquela noite, mas durante todo o tempo que durou a viagem.

Finda esta, regressaram a casa e, Ná Kalunga, tal como tinha previsto, verificou que a filha estava grávida do próprio pai. Enraivecida pelo fato e pelo desgosto, no meio das maiores blasfêmias, enforcou-se numa árvore, perante os olhos atônitos da filha e de Nzambi, que nada fez para evitar tal suicídio.

Desgostoso pela atitude da mulher, que não compreendeu os seus desígnios para povoar o Mundo que ele tinha criado, mostrando ser indigna de continuar a ser esposa daquele que lhe tinha dado o ser, em vez de lhe dar vida, novamente, a amaldiçoou e transformou-a num espírito maligno, a quem deu o nome de Mulungi Mujimo (ventre ruim da primeira mãe que existiu na Terra).

A partir dessa altura, Nzambi passou então a viver maritalmente com sua filha Kalunga, a qual depois da morte da mãe, passou a chamar-se também Ndala Karitanga e a ser a segunda divindade.

Algum tempo depois da morte de sua mãe, durante um sonho, teve uma visão que deixou apavorada.

Viu a mãe com a cabeça apoiada nas mãos, a olhá-la com rancor e a insultá-la, dizendo que ainda ia devorá-la, enquanto ela envergonhada, pedia perdão a mãe e dizia que de nada era culpada, posto que, seu pai a tal a tinha obrigado. No meio desta aflição, acordou e contou ao pai o pesadelo.

Este a sossegou, dizendo-lhe que nada receasse daquela que tinha sido sua mãe e que agora era espírito mal, pois nenhum mal lhe poderia fazer, mas apenas lhe pedir comida. Portanto, disse Nzambi, vamos dar-lhe.

Levantaram-se ambos e Nzambi preparou um pequeno montículo de terra, junto da porta casa simulando uma sepultura.

Disse ele então a filha, que fosse buscar carne e outra comida e a pusesse sobre aquela sepultura, proferindo, ao mesmo tempo, as seguintes palavras: Mam’é nzanga ua-ku-kurila.Halapuila kanda uiza kuri yami nawa: ny ngu-na-ku mono nawa, ngu n’eza ny ku ku cheha (minha mãe acabo de vir chorar-te; agora, não voltes a ter comigo outra vez, porque se volto a ver-te, venho matar-te). Nzambi(aldeia de Deus).

Chegado que foi o tempo, Kalunga deu à luz um filho ao qual Nzambi deu também, o nome de Ndala Karitanga, passando este a ser a terceira divindade.

Logo que o seu filho-neto cresceu e atingiu a adolescência, Nzambi ordenou-lhe que casasse com sua mãe Kalunga, para que esta concebesse dele muitos filhos de ambos os sexos, a fim de povoarem a Terra e dominarem todos os animais.

Cumprindo as ordens de Nzambi, sua filha e seu filho-neto casaram e tiveram um filho e uma filha. Quando estes chegaram à maioridade, Nzambi ordenou, então, que o primeiro casasse com sua mãe e a filha casasse com seu pai, dizendo que já não se justificava a primeira união que ele tinha ordenado, informando-os, ainda que depois daquelas uniões, as seguintes se fizessem sós entre primos.

Por fim, depois de lhes ter ensinado tudo o que deveriam fazer, para a que sua descendência crescesse e multiplicasse, para que lutasse contra as doenças e os feitiços que um dos descendentes do sexo feminino, viria a possuir, porque ele lhes legaria.

Disse, também, que viriam outros descendentes divinos e que após deixarem a vida terrena, cada um dentro de sua atribuição, iria supervisionar o mundo que ele havia criado.

Nzambi despediu-se de todos, chamando depois, o seu cão, que sempre o acompanhava, dirigiu-se para à Sanzala Kasembe diá Nzambi (Aldeia Encantada de Deus), e dali subiu para o espaço, levando consigo o cão.

Naquela altura as rochas estavam moles, por terem sido formadas a pouco tempo. Ainda hoje se podem observar as pegadas esculpidas, numa rocha ali existente, especialmente do pé direito de Nzambi, assim como da pata dianteira do seu cão, estas pegadas existem também em diversas outras rochas espalhadas por toda a África, incluindo Angola.(vide pré – história da Lunda do autor).

Foi, pois, dali, que o Nzambi subiu à TCHEUNDA TCHA NZAMBI (aldeia de deus), ou céu como nós lhe chamamos, onde se conserva, através dos séculos, para recompensar os bons e castigar os maus.

A pergunta feita a diferentes sacerdotes bantu, como é e quem foi que criou Nzambi, eles responderam que, sendo ele Ndala Karitanga, se deve ter criado a si mesmo e que tudo o mais é mistério que jamais alguém conseguiu ou conseguirá desvendar.

A resumida lenda que acabamos de expor, foi contada por dois velhos naturais da região do Sombo, conselho de Camissombo. Um chamava-se Tchinjamba Sá Fuca e o outro Sá Hongo, ambos já falecidos. O primeiro morreu no Luaco, o segundo faleceu na sua terra natal com cerca de 90 anos em 1994.

Comprovação feita pela Seção de Arqueologia e pré-história do Museu do Dundo-Angola, de que são originais e não forjadas por mãos humanas. Segundo as indicações dos nativos, a Sanzala Kasembe diá Nzambi, situa-se entre os rios Luembe e Kasai, junto da nascente do Mbanze. Dão-lhe estes nomes, por estar perto do Meue (estrangulamento) do Kasai.

Neste ponto, o rio tem apenas cerca de quatro metros de largura. Segundo a tradição oral, foi junto à nascente do Mbanze que se estabeleceram, primeiramente, os chefes e autoridades divinas, Ndumba ua Tembu, Muambumba, Muaxisenge e outros, quando fugiram à soberania do Muatianvua.

Foi naquele mesmo ponto que mais tarde, reuniram-se novamente, e ali planearam a separação e distribuição de terras que cada um deveria ocupar.

* Lenda é a narração escrita ou oral de caráter maravilhoso, na qual os fatos históricos são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética *.

* Nzambi s.m. – Deus Criador. Autor da existência e de suas características dominantes – o bem e mal.

Conquanto seja o Ente supremo, não rege diretamente os destinos do Universo. No tocante ao nosso planeta, serve-se de intermediários a entidade espiritual. Em face das atribuições de que se revestem, assumem o caráter de semideuses. Por efeito desse privilégio, é a elas, pois, a quem os crentes se dirigem em suas emergências. De correntemente, a quem prestam culto.

Enquanto as entidades espirituais permanecem nas profundezas do globo. Nzambi paira em toda parte, sem lugar determinado. Pelo alheamento a que votou os problemas mundanos, só são invocados em última instância. Tal como noutros povos, também existem sinônimos para designá-lo, Kalunga, Lumbi lua Suku, etc.

Kalungangombe, o juiz dos mortos, tem o poder de suprimir a existência. Mas, se Nzambi não concordar com a decisão, o mortal continuará subsistindo. Portanto, intervém quando necessário.

* Extraído do Livro: Crenças, Adivinhação e Medicina Tradicionais dos TCHOKWE da Lunda que se encontra no Norte de Angola , África.

 

Fonte: Criação do Mundo Segundo a Tradição Bantu - Geledés (geledes.org.br)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

TRADIÇÃO DO BATUQUE DO RS

Por Erick Wolff

Atualizado em 10/10/2022




Algumas informações sobre o culto de Orixá na tradição Batuque do RS.:


1. A iniciação do Batuque NÃO raspa a cabeça do iniciado, pois NÃO precisa. Sabemos que na matriz Iorubá nem todos os Orixás necessitam raspar a cabeça do iniciado na feitura, assim como nem todos os iniciados passam pela raspagem. Desta forma NÃO precisamos do adoxu*.


2. É valido lembrar que o adoxu para feitura de determinado orixá, deverá ser feito por pessoas "daquele orixá", ou, se for feito por pessoas de outros orixás, será um adoxu "da casa" que está ocorrendo a feitura, e não do Orixá ao qual ele está sendo feito.


3. Se não raspa e nem adoxa um iniciado, o Batuque não precisa e não possui Iyawo.


4. Nem todos os iniciados no Batuque passam pela possessão, chamada de ocupação pelos Batuqueiros, muitos sacerdotes do Batuque não passam pela ocupação.


5. No Batuque NÃO se faz barco de recolhimento, porque se nem todos que estão recolhidos passam pela ocupação, sendo assim, não tem como nomear a ordem dos Iyawo do Barco.


6. Se não possui raspagem, adoxu, Iyawo, ocupação ou barco de feitura, também não precisa e NÃO se faz saída de Iyawo.


7. No Batuque o tambor é tocado por um onilu, ao qual chamamos de Tamboreiro.


8. Na tradição do Batuque não há interdição do tamboreiro passar pela ocupação, inclusive o tamboreiro também pode se tornar um sacerdote e ter filhos de Orixá.


9. Não necessitamos dos cargos Ekeji ou Ogã, que são do Candomblé.


10. Um sacerdote na tradição do Batuque para abrir casa, não precisa ter todos os orixás sentos, pode ter alguns conforme os fundamentos da sua família e ir se sentando com o tempo os demais.


11. Não usamos odu, pois não necessitamos.


12. Oxalá Oromilaia não é Orunmila.


13. Não existe axé de governo com pai de santo vivo.


14. O culto do Batuque é voltado à Orixá. As entidades Caboclos, Exu e Pomba gira NÃO SÃO cultuados no Batuque.


15. Batuque tem orúko, e não tem dijina**, pertence ao Candomblé. Orúko (nome) no idioma ioruba, não é exclusivo do Candomblé. .


* Adoxu um pequeno preparado cônico, que é consagrado possuindo diversos elementos religiosos, que é colocado no topo da cabeça do iniciado quando se raspa a cabeça do iniciado.


**Dijina é o nome do iniciado no Candomblé de Angola quando passa pela raspagem. Orixá não possui Dijina porque não pertence a sua cultura. A divindade Angolana nKissi não possui Dijina porque somente o iniciado usa este termo.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

FESTIVAL DE OBATALA 2021

Por Baba Awodire Obatala Agbaye 
Em 14/12/2020 



KÓJÓDÁ

Por Asa Orisa

Publicado em 29/12/2020



O antigo Calendário iorubá


O Calendário iorubá Tradicional tem 13 meses em 1 ciclo anual, 28 dias em 1 mês e 4 dias em 1 Semana.


Antigamente, os iorubás contavam o tempo observando a lua para poder controlar a produção de alimentos, plantando, colhendo e observando certas aves, insetos para ajudá-los a determinar a mudança sazonal, que estão ligados a festivais anuais para divinidades específicas, a fim de alcançar seu próprio equilíbrio como resultado do equilíbrio da natureza.


Para entender a ideia pré-colonial anterior de um sistema civil de um ano, é pertinente chegar ao período aborígene iorubá e ao mito da criação do mundo, sendo a base do calendário primordial, que é o primeiro pilar da estrutura social iorubá.


Baseia-se no número fixo (4), que conceito está relacionado com as crenças tradicionais sobre o Universo ser redondo e sua criação começou com 4 cantos.


Esta é a semente primordial que define a estrutura social iorubá.

Marca os valores das 4 divindades mais importantes da cosmologia iorubá e do ciclo de mercado.


No início, não havia dias de semana e Elédùmarè decidiu dar a Semana de 4 dias  aos ÒRÌSÀ .


Dia 1 - Òsè Ògún = Ògún, Òrìsà-Oko, Òsóósí, Erinlè


Dia 2 - Òsè Sàngó /Jàkúta = Sàngó , Oya, Iyemoja, Obalúayé, Obà, Èsù


Dia 3 -Òsè Obàtálá = Obàtálá, Egúngún, Egbè, Òkè


Dia 4- Òsè Ayó (alegria) = é dedicado a todos os outros Òrìsà = Òsun, Òrúnmìlà, Orò, etc.


ASA ORISA ALAAFIN OYO

domingo, 27 de dezembro de 2020

ỌYA GBÁLÈ

Ọya Gbálẹ̀, vamos entender um pouco mais sobre Ela?


Antes de adentrar no assunto Ọya, vou expor algumas palavras em iorubá para vocês entenderem.
- Baálé é o líder (homem) de uma casa ou família.
- Baálẹ̀ é o líder (homem) de uma comunidade, de uma aldeia.
- Gbá é o verbo varrer, limpar em iorubá.
- Gbálé significa varrer/limpar a casa (ilé).
- Gbálẹ̀ significa varrer/limpar o chão (ilẹ̀).
- Gbalẹ̀/Gbilẹ̀ significa espalhar, estender ao redor.
- Ìgbálẹ̀ significa vassoura em iorubá.
- Ìgbàlẹ̀ é denominação dada ao local onde ficam e se cultuam os Egúngún (Ancestrais veneráveis).
Prestem a atenção na diferença da escrita, e consequentemente no tom e significado das palavras.
Quando falamos Ọya Gbálẹ̀, estamos falando "Ọya varre o chão", em referência ao vento (um dos atributos e poderes de Ọya) que limpa, que varre o chão e a atmosfera.
Embora Ọya possui ligações fortes com Egúngún (Ancestrais veneráveis), com o Egúngún Ológbojò por exemplo, que chega a sair com Ọya no festival anual de Ọya em Ọ̀yọ́. Esta ligação não chega a ser como é falada e ensinada no Brasil, que Ọya veste branco, que deu a luz a nove Egúngún, que Ọya Gbálẹ̀ mora no cemitério. Gentem, os iorubás tradicionais não possuem cemitérios, eles enterram seus mortos em suas casas ou quintais.
Entre os iorubás não existe esta coisa de nove Ọya, Ọya é uma só.
Pode ser que Ọya seja cultuada e até "assentada" em algum Ìgbàlẹ̀ (local de culto a Egúngún), pode ser, ainda não tive o prazer de adentrar em um Ìgbàlẹ̀ iorubá. Mas isso não faz dela se vestir de branco e ser cultuada de forma diferente.
Ọya é Ọya, uma só.
Onírá é Ọya, uma só.
Então, não caiam nesta loucura que vemos na Internet, de 500 Ọya, uma faz assim, a outra faz assado, como já dizia meu querido e adorado padre Quevedo, ISSO NO ECXISTE!!!




ỌYA Á GBÈ WA ÒÒÒ.
✒️
Hérick Lechinski
📸
Fotos do Festival Anual de Ọya em Ọ̀yọ́, em 2019. Fonte -

TIKTOK ERICK WOLFF