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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

OS BRANCOS NOS TERREIROS E OS PRETOS NA IGREJA: CONTRADITA À LEI DO RACISMO RELIGIOSO.

Durante depoimentos e postagens polemicas racistas e discriminatórias, envolvendo adeptos das religiões de Matrizes Africanas no Brasil, os próprios seguidores exercendo o direito de resposta, comentam.

Nesta imagem o IBGE informa onde a população se encontra:

Respostas dos adeptos do Batuque:


Cristiano Oliveira
"Fui feito pelo Saudoso Pai Luiz Amaro
(e memória)Meu padrinho d axé Pai Daniel do Ogum (en memória) após 5 anos do seu falecimento entro pro axé de Pai Raul Dorneles Vargas ambos brancos se eles tem resto de gotas ancestrais oque eu tenho
Está mulher não me representa nem aqui nem lá adiante
Ela tem que se tratar"


Alexandre Cusatódio
"No Batuque
O povo de santo bota um tecido africano e uns penduricalhos e sai falando merda sem legenda nas redes sociais, tentando reescrever a história do Batuque, mas em vez de usar o espaço para construir algo positivo, tentam destruir o que sempre foi um ponto pacífico do Batuque o acolhimento a todos, por uma atitude militante e mentirosa."

 Fonte https://www.facebook.com/alexandredxango.aganju/posts/pfbid02wz8mcaTLHgZGChbbD5k6VCDXwtY5R7VvVVLdLLCcifvwPiYZF3Lko23AFgErMc8cl


Jairo D'Adjolá
"Vamos falar de origens então.
Quem tem direito ao axé e quem é agregado?
De acordo com a Mãe do Café, você é legítimo do axé se for gerado por um ventre negro.
Bom, vamos então falar de história. 
 
De acordo com alguns historiadores e arqueólogos, os fósseis humanos mais antigos já encontrados foram na África Ocidental, o que os levou a um estudo profundo e os levou à conclusão de que os primeiros humanos a habitar a Terra eram do continente africano. Com o passar dos anos, esses grupos humanos foram se dispersando e migrando para outros continentes, alguns muito frios, outros com calor extremo. O corpo humano tende a se adaptar ao ambiente em que vive. Em climas extremamente frios, por exemplo, as características físicas se moldaram para a sobrevivência, como a formação das raças amarelas, como chineses, japoneses, coreanos e alasquianos, cujas pálpebras se adaptaram para proteger contra o frio. 
 
Em meio a mudanças climáticas, em alguns continentes havia muito sol, em outros equilíbrio, e em outros, extremo frio. O continente africano, embora tenha sua flora e fauna, sempre foi muito quente, sendo um dos continentes com mais desertos hoje. A adaptação do corpo humano, ao longo do tempo, incluiu a produção de melanina para proteger contra danos causados pelos raios solares, especialmente em uma época em que não havia protetor solar. 
 
O que quero dizer com isso é que, independentemente de ter nascido na Inglaterra com a cara do príncipe Harry, a origem de todos é africana, conforme a história nos mostra, pois somos descendentes dos primeiros humanos, e esses eram africanos. 
 
Portanto, não importa se você é branco, pardo, amarelo, roxo ou vermelho, todos têm igual legitimidade no culto afro. Não podemos esquecer que vivemos no Brasil, um país extremamente miscigenado, onde cada pessoa, ao fazer seus testes de ancestralidade, encontra algum vínculo sanguíneo, hereditário ou traço genético herdado de seus antepassados. 
 
Novamente, enfatizo que os comentários recentes foram igualmente ridículos, e a transmissão ao vivo de ontem parecia mais uma tentativa de se eximir de responsabilidade do que de justificar o desmerecimento e a invalidação de tantos irmãos no axé por causa da cor da pele.
Nossa religião ACOLHE, não ESCOLHE
A África no Brasil - A Raiz da Ancestralidade"

Fonte https://www.facebook.com/jairo.fagundes1/posts/pfbid02mvJBht15PRV598oD55xgQE3BRbj2uTG5VresynJQyfQX5tT42wxTXHSyGBZWm15kl

 

Leoni Ti Ogun 
"Religião Não tem Cor!!!
As religiões afro-brasileira, não exclui, as pessoas pela sua cor, nacionalidade, sexo. Pois somos aparelhos de comunicação entre o mundo espiritual, seja as entidades, da Nação, Umbanda ou Quimbanda!!!
Entidades não se importa com cor do médium!!!"



Sandro Miranda
Cadê o Kizomba que deixa esse tipo de coisa na página de vocês??? Racismo é crime, de qualquer forma ou vertente.
Pq se fosse ao contrário, já teriam caído de pau.
E agora eu pergunto a todos, e daí como fica isso???
Gostaria de obter uma resposta sensata.


Nação Cabinda RS
"Então "quem não nasceu de vente de uma mãe preta, não tem axé e nem raiz afro"? Ou seja nada só tem a dona do café 
com bobagens !?.istó é um puta preconceito e meio discriminação na pratica !



Vanessa Breeze
"Atenção irmãos brancos Pacote de Bronze na promoção kkkkkk"

Emmanuele Colussi
"Mãe de santo Loira branca dos olhos azuis e filha de Bará . e feita por um pai de santo branco também Com muito axé com certeza.Nossa pele pode ser funfun mas nosso coração é afro."


Ìyá Magda Òsún
"Passada, nossa religião acolhedora, o orixá é acolhedor lutamos diariamente por união! Agora vem essa aí que nem sei que buraco saiu tentando nos dividir, retrocesso.....
Volta pra igreja mãe café azedo porque teu passado te condena e não fala em gente que já morreu porque sempre tem um pra falar a verdade."

Fonte - https://www.facebook.com/luisfelipe.fariasdasilva.52/posts/pfbid035Q6ZTRQSdyF4FHCFXrVdEXuHgLiLb1SXfrbateK6RxPNgWNcdFDvg9kxomN3G5mMl

terça-feira, 21 de novembro de 2023

DEBATE: DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Este ensaio tem por finalidade registrar debates em comunidades afro religiosas, que abordam o racismo, a posição dos religiosos e da população Brasileira.

O debate ocorre na comunidade Conhecendo Ketu - Oficial®, em 20/11/2023, dia oficial da Consciência Negra.

A postagem divide opiniões e conceitos, onde uma parcela da população entende que o dia da consciência negra deve segmentar a população, outra parcela entende que deve abranger e não fixar apenas alguns indivíduos.


Evair Ciro Deantoni
Esse cartaz é bem verdadeiro mas pode servir de desculpa esfarrapada para aqueles racistas de plantão que nada fazem para, pelo menos, reconhecer o privilégio branco

Conceição Acelina Dos Santos
[Evair Ciro Deantoni] eu sou branca sou obesa E já sofri muita discriminação inclusive no candomblé um dia desses de uma postagem alguém dizendo que candomblé não era lugar de branco isso não é racismo?

Evair Ciro Deantoni
[Conceição Acelina Dos Santos] isso é ignorância mesmo. Racismo é muito mais que tirar um sarrinho

Eliana Borges
[Felipe Carvalho]
*Nota informativa para o povo que tá dizendo que não precisamos de consciência negra, mas sim de consciência humana*
Caríssimos, é impossível falar da consciência humana quando episódios de racismos acontecem reiteradamente. É impossível falar de uma consciência humana enquanto o trabalho escravo ainda se mantém e, aliás, com características modernas. É impossível falar de uma consciência humana enquanto a desigualdade de classe, gênero, educacional, assistencial e de saúde vitimizam, sobretudo, o povo negro e periférico. É impossível falar de uma consciência humana enquanto pessoas negras são vítimas de um Estado omisso que, além de não lhes dá oportunidades, ainda as encarcera, na maioria das vezes injustamente. Enquanto isso, pessoas brancas e criminosas estão livres cometendo os mesmos crimes e vivendo de forma impune.
Dizer que não precisamos de um dia da consciência negra, mas sim de “consciência humana” é uma forma racista e preconceituosa de tentativa de, no mínimo, minimizar a luta do povo negro que ainda precisa lutar por mais espaço, respeito, reconhecimento e equidade na sociedade.

Leo Oliveira
Não, gente!
Isso é desonestidade intelectual.
Me espanta pessoas de candomblé proferindo essa bobagem.
Se temos um dia de consciência negra é porque pessoas pretas sofrem racismo diariamente, e racismo estrutural é algo que impede pessoas de viver sua cidadania com plenitude.
Se você não sofre com o racismo, cale a boca e não fale coisas sem saber.
Precisamos sim do dia da Consciência negra. Precisamos falar sobre racismo. Precisamos superar isso.
Mais da metade da nossa população é negra. Falar de consciência negra não é privilegiar ninguém. Faz parte da História do nosso país e do nosso povo 😘

Paulo Sekiguchi
Leo Oliveira a graça eu acho no que eu quiser… principalmente nesses discursos demagogos. O post está totalmente certo… temos que intender que somos humanos independente de qualquer coisa. Essa papo só alimenta esse discurso de nos contra eles.
“Dividir para conquistar”.

Leo Oliveira
Agora tenho pena de quem não sabe nem as origens da religiao que pertence. Acha que consciencia negra é bobagem. Que seu orixá te ensine a respeitar as coisas e entender, espero que não pela dor.

Fabiano Tavares
Enquanto houver racismo, será preciso do dia da consciência negra.

Fabiano Tavares
E os racistas usam esse argumento para diminuir a importância do combate ao racismo.
Não concordo com essa postagem.

Gustavo Guga
Precisa sim! Branco não quer se conscientizar, se dar ao menos o trabalho de ter e desenvolver sua branquitude crítica. O primeiro discurso deles é dizer "somos todos iguais"... querem enganar quem? Com que propriedade falam isso? Dos lugares de fala de quem tem privilegios? Conhecem o país que moram e como funciona sua sociedade? Muitos coisas foram apagadas e APROPRIADAS, é necessario consciencia sobre tudo de nós brancos em religiões de matriz africana.

Sharlene Santos Wilmes
Uma página que fala sobre religião de matriz africana. Culto trazido e funda nessas terras por pessoas pretas!! Pessoas essa que são subjugadas em todos os aspectos de nossas vidas. Somos os que mais morrem por violência, por negligência médica e nutricional, somos o que menos acessamos políticas públicas, nossas mulheres são as maiores vítimas de feminicídio, somos a maioria esmagadora da população carcerária… é isso não é uma opinião, SÃO DADOs, divulgados por estudos e pesquisas. Somos em maiores em somas de números negativos. Então esse post, nessa página, no dia de hoje, é um verdadeiro escárnio.

Cláudia Oraka
Querem ser de uma religião de matriz africana, mas não reconhecer que existe racismo Quer falar de intolerância religiosa, mas não entendem a especificidade ɖo desrespeito com o Candomblé. O desrespeito acontece único e exclusivamente por se tratar de uma religião negra. Quer usufruir ɖo legado cultural negro, mas não quer se envolver no combate ao racismo.Assim fica difícil.Os brancos tem consciência que são brancos e se orgulham disso.Ter consciência negra incomoda.Como se ter consciência de ser negro impede de ter qualquer outra consciência. Como diz na minha tradição, "bo yì bo wà".Me retiro dessa conversa.

Raquel Almeida
Ridículo uma página que trata de assuntos voltados a religião de matriz africana fazer um desserviço a luta e ao combate contra o racismo! Isso faz entender que metade das pessoas que se dizem fiéis a religiosidade de matriz africana, não conhecem a historia, e a importância de reafirmar a negritude e o orgulho da negritude em um países racista como o Brasil.
Enxergo que a preocupação é querer status dentro de uma construção de pessoas negras, e acabam sendo ignorantes com o que realmente importa! Se existe o dia de hj é justamente pra reafirmar que o povo negro é oriundo de luta, de realeza, de beleza, de magia e de tantas outras coisas que tentam ainda hj dizer que feio e demoníaco.
Se vc é praticante de religião de matriz africana, e não combate o racismo, a desigualdade, vc só faz um desserviço a todas e todos nós. Não basta ter fio e panos caros, essa religião que vc diz se orgulhar foi forjada no suor, sangue, trabalho de pessoas pretas que foram ao longo dos anos desvalorizadas pelo racismo! Se não entendeu isso, de nada adianta seu “culto”. Consciência humana? Termo criado pelos mesmos opressores que escravizaram o povo que trouxe o culto para essas terras.

Conceição Acelina Dos Santos
Sarah Olinda me admiro preciso falar isso porque tem muitas eYlorixas brancas. O Brasil é um país de todas as cores então se estão no Brasil somos brasileiros independente da cor da pele ou quem é gordo magro feio bonito homossexual não é cada um querer ocupar o primeiro lugar para ganhar vantagem

Luciana Davila
O que precisa é o branco abrir mão do protagonismo.

Leonicia Justo de Jesus
Sei!
Fala isso para as pessoas que escreveram no muro de uma Universidade Pública no Río de Janeiro: Fora cotistas, Aqui não é o seu lugar.
Bando de hipócritas.
Vão estudar sobre racismo cordial, racismo velado, construção dá identidade dá criança Negra.
Leiam o livro: Mulheres negras contam a Sua história: E Veja a História de Mulheres que quando criança , no caminho dá escola, sozinha, TODOS OS DIAS, Crianças brancas ab perseguia dizendo que seu cabelo era feio, dizendo que ela era feia, cuspindo nela, jogando pedras.
Até que um Dia além de tudo relatado acima, trouxeram uma tesoura e cortaram o cabelo dela.
Diga isso para àquela menina negra que nos Estados unidos, na Década dos anos 1960 , que para ir para escola precisou ser escoltada pela polícia, porque todos, eu digo todos, os alunos dá escola não queriam que uma criança Negra estudasse lá.
Não esqueça que o Povo racista acha lindo a história de Harry Potter e dizem que as religiões de matrizes africanas são Coisas do Diabo.

José Roberto
Enquanto um povo não chegar a um grau de educação, de consciência coletiva,haverá essas datas para lembrar que há esperança.

Lelê Days
Tão bonitinho esse lance de consciência humana,depois de 400 anos de escravidão e uma avalanche de absurdos horrendos de racismo…acordem!!!!

Fabinho NassoProf
Ter consciência negra é ter o despertamento quanto à uma condição de escravidão imposta ao povo preto por quase 400 anos e que causou o condicionamento mental desse "estado" de servidão em gerações e geraçoes de pretos (e brancos) que ainda perdura nos dias atuais, e é o que provocou (e provoca) o racismo estrutural. Ou seja, é necessário, ainda, que se busque essa consciência da liberdade conquistada para que todos os paradigmas escravocratas caiam por terra. Enquanto ainda houver históricos e comportamentos racistas, tal conscientização ainda não será plena. Então, é muito importante que se simbolize isso através de um Dia da Consciência Negra. É necessário!!!

Ludi de Ossain
Pode ser uma imagem de texto que diz "UNIZAP CERTIFICADO DE "CONSCIÊNCIA HUMANA" Concedemos ao cidadão de bem (ns). o certificado de "Consciência Humana" pelos seus atos opiniões de senso comum. utilização de casos isolados para competir com regra. bem como menção a Morgan Freeman para desmerecer Mès da Consciência Negra. Parabéns. você é um racista! Bolsominion Jairzabel Libertador dos escravos cubanos" Reitor da Instituição Cidadão de Bem (ns) e Defensor da "Consciência Humana""

Dandara Lob
Quer dizer que a noção de respeito, civilidade, igualdade e fraternidade não importam? Num país em que a maioria é negra ou parda, estamos falando de que minoria? Minha opinião tá? Assim como respeito a de vocês, espero que respeitem a minha também, ou vou ter que me vitimizar. (o grifo é nosso)

Considerações

No Brasil é muito difícil debatermos o tema já que a maioria da população possui o tom da pele, ou se declara ou possui o DNA afrodescendente ou indígena. 
Observamos a insatisfação e o rancor da população, ficando claro que ambos lados caminham para divisão de valores.


Link da postagem https://www.facebook.com/groups/604828946236470/posts/7759914247394535

Fonte primaria:


https://www.facebook.com/groups/1754647898110427/user/100005033793439

Fonte segundaria:


https://www.facebook.com/groups/604828946236470/user/100002895377453

 Imagens comprobatórias:













quinta-feira, 18 de maio de 2023

O BATUQUE E O NEGRO RIO-GRANDENSE. ENTREVISTA ESPECIAL COM NORTON F. CORRÊA

Este texto foi publicado no site do Instituto Humanas Unisinos, em 27/11/2012, acessado em 18/05/2023.


É de conhecimento da população batuqueira o trabalho do professor Norton F. Corrêa, desta formar este blog registra em suas páginas este artigo para o grande acervo que possuímos.  A seguir:

O BATUQUE E O NEGRO RIO-GRANDENSE. ENTREVISTA ESPECIAL COM NORTON F. CORRÊA

O Rio Grande do Sul é um estado muito racista. E o desprezo em relação à figura do negro é projetado sobre suas práticas religiosas, que continuam sendo reprimidas. Tanto a ocultação como a repressão são formas de racismo, constata o antropólogo.

Confira a entrevista.

Questionado a respeito de como o negro se apresenta na história rio-grandense, Norton F. Corrêa, em entrevista concedia por telefone à IHU On-Line, frisa que ele é ocultado. “Há o caso de um historiador gaúcho bastante conhecido, Walter Spalding, que levou tal ocultação ao máximo: afirma que não houve racismo, no Rio Grande do Sul, simplesmente porque não havia negros! Entretanto, as estatísticas da época a que se refere revelam que os negros eram quase 40% da população da então Província. Considero que a prática de ocultar também se deve ao racismo. O Rio Grande do Sul é um estado muito racista.”, frisa.

Para ele, o desprezo em relação à figura do negro é projetado sobre suas práticas religiosas, que continuam sendo reprimidas. “Tanto a ocultação como a repressão são formas de racismo. Mas ele pode se expressar de forma ainda mais sutil, como é o caso das campanhas da turma da ecologia contra os sacrifícios rituais de animais, no batuque. A sutileza está em se escudar num argumento meritório: proteger os animais. Entretanto, é curioso que em um estado com um enorme rebanho bovino, suíno, ovino e centenas de matadouros, legais e ilegais, além de outras tantas centenas de sinagogas que cumprem práticas muito semelhantes, o zelo da turma ecológica recaia apenas sobre o batuque. Por que apenas nele?”, questiona.

Norton F. Corrêa é antropólogo e professor do Programa de Pós-Graduação - PPG em Cultura e Sociedade da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O pesquisador estará na Unisinos, no próximo dia 27 de novembro, no IHU ideias especial, abordando o tema “Corpo e concepção da pessoa comparados no batuque do Rio Grande do Sul e no catolicismo”, das 17h30min às 19h, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU. Maiores informações: http://migre.me/bYsim.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – De que maneira o senhor relata em seu livro O batuque do Rio Grande do Sul – Antropologia de uma religião afro-rio-grandense o que de fato ocorre em um templo de batuque? Como o senhor conseguiu essas informações?

Norton F. Corrêa – Consegui as informações a partir de uma longa pesquisa, 20 anos, me aproximando dos templos e ganhando a confiança de muitos sacerdotes e sacerdotisas da comunidade. O convívio com os pesquisados é imprescindível em antropologia. Então, comecei a ir a uma casa, depois em outras, durante este tempo todo.

IHU On-Line – Quais os pontos centrais de sua obra?

Norton F. Corrêa – O ponto central do livro, em minha opinião, é o capítulo onde falo sobre a visão de mundo dos batuqueiros. Ou seja, o que eles pensam sobre mundo, sobre as pessoas. E esse é um trabalho que ainda não vi em outros autores, porque é preciso ter muito convívio, muito tempo de diálogo, para poder entender esse tipo de pensamento deles, visto ser totalmente diferente do pensamento do cristianismo.

IHU On-Line – Qual foi a grande constatação que o senhor obteve com suas pesquisas sobre o batuque?

Norton F. Corrêa – A constatação foi no sentido de ter captado a visão de mundo deles. A parte mais importante do trabalho é esta: ter entendido como é que os batuqueiros pensam.

IHU On-Line – E como é que eles pensam? Qual é a visão de mundo deles?

Norton F. Corrêa – Eles pensam de uma maneira diferente. Se formos comparar a visão de mundo deles, por exemplo, com a visão de mundo cristã, veremos que nesta última a alma tem um destino específico de acordo com o que o indivíduo faz com o corpo em vida. Ou seja, se você ser prazer ao seu corpo, a alma vai para o inferno. Se você não der prazer ao corpo, ela vai para o céu. Resumidamente, a dor salva e o prazer condena.

Temos como exemplo os santos católicos: boa parte foi para o céu porque sofreu. No linguajar coloquial, as pessoas, ao se queixar de dificuldades, dizem: “paguei os meus pecados”. No caso dos batuqueiros, não existe uma relação entre o que se faz com o corpo em vida, ou seja, se você permite ter prazer ou o que quer que seja, o destino da alma é um só. Ela fica vagando, vai para o cemitério, ou vai para outros locais, inclusive no templo,  onde são invocadas ou chamadas para ficar lá. Mas o batuqueiro não tem a ideia da existência de sofrimento ou bem-aventurança eternos, após a morte,  de acordo com o que você faz do seu corpo. Para eles, a alma tem só um destino. E essa é a grande diferença com relação à religião cristã, que prega milenarmente a repressão ao corpo.

Várias ordens religiosas, especialmente de freiras, tapam o corpo, procuram se apresentar como assexuadas, nada mais do que um reflexo das representações que têm sobre o Céu, onde não há sexo, pois este é um dos maiores, talvez o maior, fator de perdição. Observe-se que há, ainda, ordens religiosas, especialmente de freiras, em que ocultam completamente o corpo, ficando apenas com parte do rosto de fora. Para os batuqueiros, não há essa questão. As vestes das mulheres no batuque, muitas vezes, são bem abertas, decotadas, nesses rituais.

IHU On-Line – O que mais lhe impressionou ao realizar esta pesquisa?

Norton F. Corrêa – O que é muito interessante é que se trata de uma religião que está no Rio Grande do Sul há uns 150 anos, guardando tradições africanas de raiz. Eles têm um patrimônio muito importante, que se mantém apesar do tempo, possivelmente pelo fato da sociedade onde se inserem ter um forte viés europoide.

IHU On-Line – De que forma seu livro marca historicamente o início da liberdade de expressão de muitos filiados à religião afro no Rio Grande do Sul?

Norton F. Corrêa – Esta expressão foi usada por um sacerdote do batuque, Pai Rodrigo do Xapana, na contracapa do livro. Talvez porque ele gostou do fato de eu defender veementemente o direito de cada um poder praticar a religião como bem entender, sem que sofra críticas ou repressão de outrem. Geralmente as pessoas pensam que tudo é feitiçaria e que fazem mal ao próximo. O que eu fiz no livro foi mostrar a realidade deles, o que ocorre nos templos, nas cerimônias. Atualmente acho muito louvável que haja vozes e grupos de batuqueiros se levantando, reivindicando seus direitos à prática da religião, assumindo-se publicamente como religiosos, saindo às ruas. Isso é uma coisa nova, sinal dos novos tempos, porque antigamente as pessoas da comunidade eram discriminadas, desqualificadas e nada faziam. Não acredito que o livro tenha influenciado neste processo. É o crescimento de uma consciência de si mesmo, de um não à baixa autoestima.

Antropologia

A antropologia diz que é indispensável ao pesquisador conviver com os pesquisados. Então, convivi durante muitos anos com eles, conheci muitas pessoas. Creio que temos que aprender a trabalhar e conviver com o outro. Isso eles percebiam. Por exemplo, eu respeitava e respeito o que eles faziam ou fazem. Embora eu sempre me apresentasse como pesquisador, tinha uma familiaridade grande com a religião, os grupos, e eles observavam isso. Então, posso dizer que contribuiu muito para essa familiaridade o fato de eu aprender como eles pensam, como agem etc. O longo tempo de convívio me levou a estas conclusões. A integração e confiança que adquiri junto a estes grupos foi porque aprendi a entender e falar a linguagem batuqueira. E isso, então, permite que a gente aprofunde mais a pesquisa, conheça mais, tenha mais e receba mais detalhes, possa captar determinadas coisas, assistir outras que os praticantes do batuque muitas vezes não permitem que leigos assistam.

IHU On-Line – Em que sentido seu livro assinala um marco de um antes e depois na bibliografia sobre as religiões afro-brasileiras no RS?

Norton F. Corrêa – Sem me dar conta, escrevi um livro que, na opinião dos estudiosos, corresponde a um clássico, assim como os de outros autores de outros locais do Brasil que escreveram sobre as religiões de matriz afro de suas regiões. O que acontece, com relação ao batuque, é que até o momento, ninguém escreveu um trabalho mais completo, maior, que descreva os rituais, os templos, seus integrantes, o panteão e, sobretudo, a visão de mundo batuqueira, que é muito semelhante à dos participantes do candomblé, por exemplo. Especificamente sobre os rituais batuqueiros, o que há são livros escritos pelos próprios religiosos, mas nem sempre são muito bem aceitos pelo fato de menos ou mais explicitamente criticarem os colegas, reivindicar que o seu ritual é o correto e assim por diante. Além destes, há monografias e trabalhos de alunos, especialmente da UFRGS, que têm abordado questões sobre o batuque ou outras religiões de matriz afro do Rio Grande do Sul. Mas ninguém, ao que me consta, fez o que eu fiz: uma etnografia bastante completa desta religião, mostrando quem são as pessoas, o que elas fazem, como é que funciona a religião, os templos, a natureza, as suas apresentações tais como os orixás, os mortos e como é que essas pessoas vivem, como é que aprendem a ser batuqueiros. E isso é algo difícil de fazer, também, porque demanda muito tempo de convivência com os pesquisados, dá muito trabalho.

Creio que o livro é bem recebido pelos religiosos, primeiro porque eu não me posiciono, no sentido de achar que isso é verdadeiro e aquilo é errado. Há batuqueiros que condenam os outros pelo erro de desvirtuar supostos preceitos da religião. No meu caso, relato o que eu vi. Não estou me posicionando. Creio que é por isso que o livro teve uma boa aceitação. Talvez, também, pelo estilo despojado, longe do jargão "antropologuês", embora sem perda de conteúdos interpretativos, o que possivelmente contribui para que as pessoas comuns possam lê-lo sem problemas. É um livro simples, pensado para ser simples, porque acho que tem que ser assim mesmo. Escrevi um livro para ser lido por todas as pessoas, e não dirigido especificamente a acadêmicos. Apesar disso, tenho ouvido de colegas da área dizerem que escrevi um clássico, do mesmo modo que outros autores escreveram sobre religiões de matriz africana de outros locais do Brasil.

IHU On-Line – De que maneira o negro é representado na história rio-grandense?

Norton F. Corrêa – A presença da população negra no Rio Grande do Sul é muito significativa, além de o trabalho escravo ter construído as bases da economia local. Acrescente-se a indiscutível importância da herança cultural legada ao contexto rio-grandense. Apesar disso, a cultura negra tem sido muito pouco estudada  o que não deixa de ser uma forma de ocultação. Mas há o caso de um historiador gaúcho bastante conhecido, Walter Spalding, que levou tal ocultação ao máximo: afirma que não houve racismo no Rio Grande do Sul simplesmente porque não havia negros!

Entretanto, as estatísticas da época a que se refere revelam que os negros eram quase 40% da população da então Província. Considero que a prática de ocultar também se deve ao racismo. O Rio Grande do Sul é um estado muito racista. E o desprezo em relação à figura do negro é projetado sobre suas práticas religiosas, que continuam sendo reprimidas. Tanto a ocultação como a repressão são formas de racismo. Mas ele pode se expressar de forma ainda mais sutil, como é o caso das campanhas da turma da ecologia contra os sacrifícios rituais de animais no batuque. A sutileza está em se escudar num argumento meritório: proteger os animais. Entretanto, é curioso que em um estado com um enorme rebanho bovino, suíno, ovino e centenas de matadouros, legais e ilegais, além de outras tantas centenas de sinagogas que cumprem práticas muito semelhantes, o zelo da turma ecológica recaia apenas sobre o batuque. Por que apenas nele?

IHU On-Line – Por que o senhor afirma que este livro lhe trouxe uma grande surpresa? Que surpresa foi esta?

Norton F. Corrêa – Porque eu não esperava uma aceitação tão grande do livro, seja pelos batuqueiros, seja pelos estudiosos. Os primeiros, talvez porque se vejam nele; e os segundos por ser uma fonte de informação antes praticamente inexistente. Algo que me deixa muito feliz é o fato de a maioria dos leitores ser os próprios batuqueiros.

Link - 
https://www.ihu.unisinos.br/?id=515787

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