É sumo sacerdote dessa confissão o Sr. JOÃO MARINS, que nos proporcionou uma cerimônia do culto, durante a qual se manifestaram SÃO JORGE, e o espírito do avô do Sr. MARINS, por intermédio deste.
Tanto São Jorge como o espírito do avô que foi um velho negro Africano, fizeram interessantes declarações, registradas por nós em outra reportagem.
JOÃO MARINS comprometera-se então conosco, a contar-nos a sua história e descrever-nos como se deu a revelação do culto. Hoje ouvimo-lo longamente.
QUEM SAE AOS SEUS...
Meu avô era Africano, disse JOÃO MARINS, iniciando a história, era de religião NAGÔ e possuía Santos Africanos, Eu nasci em casa dele, na cidade de SÃO LEOPOLDO no RIO GRANDE. O velho tinha um quarto de santo com altar, tudo bem arrumado, de manhã cedo Ele e minha avó levavam comida para os Santos e deixavam lá junto ao altar. Eu então entrava no quarto e comia a comida dos Santos, que é a primeira a sair da Panela. Criança não sabia o que estava fazendo....O Sr. compreende .... De vez em quando vinha do Rio um Africano o TIO ALUFÁ, que tinha o segredo do santo e junto com meus avós fazia matança de bicho em honra dos santos.
Eu vivendo ali naquele meio, fui compreendendo a Religião NAGÔ, mesmo sem querer.
Quando trovejava minha vó gritava: Santa Barbara! São Jerônimo! Fui apreendendo que esses são os Santos mais fortes. Eram os santos do meu avô. As vezes, minha avó me dizia: No dia em que o Santo do teu avô descer, o mundo vai se acabar....Felizmente nunca desceu, aos 112 anos de idade morreu o avô, fazem 28 anos.
CASTIGO DOS SANTOS
Com a morte de meu avô, os santos ficaram abandonados, minha gente fechou o quarto e ninguém mais pensou naquilo. Pois então começou todo ano a morrer um da família. Cada crioulo forte e decidido., Entregava os pontos sem saber como. Assim se foram meus pães e meus parentes menos chegados. Minha família tinha alguma coisa. Eu estava estudando, perdemos tudo, tive que trabalhar lá pelos 13 anos.
Fui ser Grumete de uma "ITA" certo dia eu estava no mar, deitado na proa do navio e meio acordado, meio dormindo mostrando quando vi com estes olhos, chegaram voando meus avós. Vieram feito gaivotas, vieram do mar e desceram ao meu lado. Conversaram comigo e me disseram: Você é o único que pode salvar nosso espírito, atendendo aos santos que estão lá em casa.....vi então que existia alma penada, quando puder estar de volta, corri a explicar a minha família que era preciso tratar os Santos.
SUSCEPTIBILIDADES FÁCEIS DE FERIR
Uma das minhas tias VICTORIA, sabe o segredo de santo, ela estava com uma filha para morrer e achava que era devido aos castigos dos santos de PEDRA... arranjou então um tal de WALDEMAR, que conhecia a religião NAGÔ, e juntos resolveram botar os santos fora.
Comecei a pensar nisso e a achar que não estava direito. Pois se a gente tem uma coisa, uma coisa boa, útil, uns santos tão fortes, vai botar fora assim sem amis nem menos? Jogar na praia? Decidi procurar um irmão de meu Pai que tinha uma alfaiataria em Porto Alegre, o tio THOMAZ. esse parente disse:
Procura o tio ALUFA para que lhe explique como se deve mexer nos santos. Porque isso é um fundamento muito sério. Esses santos estão guardados aqui e. Casa de vez em quando eu dou comida a eles, um dia eu estava costurando nesta sala, quando vi muito bem um carneiro entrar no quarto dos santos.....
Vim para o Rio, mas tio ALUFA estava na África, morreu pouco depois, mas deixou filhos. Uma filha dele trabalha pela linha de Umbanda e faz coisas do outro mundo pra muito político aqui do Rio.
ELEITO DO XANGÔ
Voltei a Porto Alegre, sempre preocupado com aquilo lá procurei um amigo de meu avô, o velho Africano PRÍNCIPE CHICO, expliquei a ele de que se tratava, O Príncipe me olhou com cuidado e de repente exclamou:
Meu irmão! XANGÔ BABALAÔ FINA! só você é que pode mexer lá! Pegue um galo e mata na porta do cemitério, depois agarre os santos e leve pra praia, quebre e jogue no mar.
A família não me deixou levar os Santos.
Não, que você não entende disso.... Deixe WALDEMAR levar.
WALDEMAR levou os santos e todos o acompanharam, na praia quebraram os santos, jogaram no mar, depois fizeram uma batucada, quando a festa estava no melhor, o WALDEMAR caiu feito morto.
Mas o santo desceu na cabeça de um desconhecido, e salvou WALDEMAR.
Fiz então conhecimento com o Africano ANTONINHO , que também foi amigo de meu avô,. Ele me ensinou uma porção de coisas da lei de NAGÔ e me deu umas contas, essas contas me garantiam uma sorte formidável, um dia me roubaram as contas!
RÓL DAS DESGRAÇAS
Perdi as contas, comecei a sofrer o Diabo, eu me tinha casado a pouco tempo, minha mulher morreu, comecei a ir pra traz. Perdi tudo, fiquei sem trabalho, comecei até a pensar em me suicidar.
Mas afinal, vim aqui pro Rio e fui morar em casa de uma família, por sinal essa gente praticava macumba, mas eu não sabia, lá eu vi um dia, uma jovem da nossa melhor sociedade, chamada WILMA. Que estava sendo preparada para mãe de santo, mas isso é outra historia, depois conto.....
REVELAÇÃO DA LEI DE NAGÔ
Uma tarde, eu estava esperando freguês no meu carro, quando apareceu meus avós, sentaram-se ao meu lado e foram me dizendo: Vamos andando meu neto, vamos....
Eu nem discuti. Puz o carro em movimento. Andamos por lugares onde eu nunca tinha ido. Subimos e descemos ladeiras. Passamos por pontos perigosos e de repente, eu tive a impressão que caia num precipício.
Ora aí está! Exclamei, lá se vai meu trabalho todo.
Meus avós começaram a rir e me disseram: Não ligue agora meu neto e agora é que agora você vai começar a viver.
No fundo do precipício havia uma porção de bicho, eu passava a mão no corpo deles, e não me acontecia nada, então eu comecei a ouvir um barulho como se fosse um sineta da igreja a tocar. Primeiro a sineta, depois uma corneta, depois um rufo de tambor. Olhei em volta e vi que no alto de um monte, pertinho, havia uma igreja.
Lá é que nós morávamos, disseram meus avós. E me ajudaram a sair do precipício e me levaram até a igreja. Sentei- me num banco e fiquei quieto, silencioso, estava ouvindo aquele barulho: toque de sineta, som de corneta, rufo de tambor....rufo de tambor... Aquilo não acaba mais, desde então estou ouvindo.....
Um momento apareceram uns padres, dois padres tentaram puxar prosa comigo. Mas eu não dizia nada, eles se cansaram foram-se embora. De repente, para mim um galo vermelho, parou diante de mim e falou:
Quando eu cantar três vezes, você faz isto, e isto....
O repórter neste já está por conta do Bonifácio" podem contar o que quiserem, que ele registra.
Depois do galo veio um cachorro e me ensinou como banhavam os búzios, as contas da sorte, como se tirava o mal das pessoas.
Entendi tudo o que os dois bichos diziam: Como? Isso eu não posso explicar porque já faz parte do fundamento da religião e esse fundamento eu vou levar comigo pra cova, veio dos mortos e não deve ser contato pros vivos.
LEVANTAÇÃO
Uma noite apareceu meu avô e me de ordenou que atirasse a pedra de XANGÔ. Eram sete dias antes de CUSTODIO PRÍNCIPE, morrer em Porto Alegre. Na noite seguinte veio um galo e me conduzia a Porto Alegre a uma casa de santo.
Era a casa de ANTONINHO filho de OXUM PANDÁ,. Eu vim voando com minha Mãe Santa Barbara, São Gabriel ia descer no mundo. Fui entrando na casa e vi a multidão, tinha gente que não acabava mais, todo mundo me esperava! São Gabriel era eu! Enfiava a mão num saco e tirava confete Azul, jogava esse confete e ele caia em globo em vez de espalhar, caia perto uma bola acesa.
Então eu posei de asas abertas como um pássaro, mas não encostei os pés no chão.
COROANDO O REI!
Três dias depois cheguei a SÃO LEOPOLDO, já estavam me esperando em casa de meu avô, encontrei lá meus avós, ANTONINHO, TIO CHICO e PRÍNCIPE CUSTÓDIO, que ia morrer dali a dias.
O PRÍNCIPE disse: Pois nós vamos entregar o comando a você, você agora é o rei de nós todos.
Dias depois CUSTÓDIO morreu despertei no RIO e mandei um telegrama a PORTO ALEGRE, avisando que vou pra tratar dos santos do PRÍNCIPE, mas espero que os búzios me dêem sinal de que devo ir, sem isso não vou.
Os santos de CUSTODIO são muito fortes, são santos Africanos, ajudaram muita gente boa a fazer carreira. Muito político ilustre, por ai, deve o que é aos santos e ao preto velho, PRÍNCIPE CUSTÓDIO, era PRÍNCIPE mesmo de verdade.