domingo, 12 de dezembro de 2021

BATUQUE FUNDAMENTAL II

Por Alexandre Custodio

Postado em 12/12/2021




Seguindo com os temas corriqueiros do cotidiano dos batuqueiros, sempre tendo o cuidado de não entrar nos fundamentos, pois esses devem ser recebidos no templo através dos sacerdotes devidamente preparados para isso.

TEMA QUATRO: RITUALISTICA
O Batuque como liturgia, possui uma série de procedimentos que ocorrem durante a vida religiosa de seus seguidores, esses procedimentos têm por função iniciar e fortalecer o culto a pessoa(ori) e as divindades(orixás), essa caminhada litúrgica termina com o orissum o rito de desligamento e preparação deste iniciado para sua volta ao orun. Cada rito pelo qual o iniciado passa, o torna mais apto a interagir com o axé e lhe permite participar de alguns outros rituais de forma segura. É comum no Batuque durante os rituais as divindades ligadas ao templo se manifestarem em seus iniciados, participarem ajudando nas atividades que circundam aquele ritual, por exemplo no serão, O sacerdote pode confirmar com os orixás estando esses no mundo durante os rituais, se tudo que está sendo feito é o necessário e está de acordo com o desejo dos mesmos. Antes de cada ritual, dependendo, prepara-se o ecomi azedo frenteia e sacraliza para a rua, orixás responsáveis pela segurança do templo, bem como são feitos seguranças especificas para a proteção do templo durantes essas funções. Os ritos seguem para o quarto de santo, lá já se encontram os ecomi doce e azedo e as frentes dos devidos orixás que irão comer no ritual, deve-se oferendar a Bará, também orixá do sacerdote, para a realização satisfatória, a partir daí segue a sequência dos rituais.

Lavar a Cabeça
Primeiro passo do rito do Batuque, pois é através do qual a pessoa se prepara para passar por um outro rito maior do templo, esse rito pode ser feito dentro ou fora dos templos, sendo feito fora geralmente são feitos em praias de água doces ou salgadas. quando um religioso vai migrar de uma família para outra ele repete esse ritual para se desligar do sacerdote anterior.

Omiero (Omièrọ)
Depois de jogada e confirmada nos búzios a cabeça e as passagens do filho, é feito o omiero, que é um ritual realizado com ervas específicas de cada orixá, maceradas na água onde o Babalorixá lava a cabeça do filho que fará a obrigação enquanto entoa a orins do orixá da pessoa e da Bandeira (Orixá no qual o Babalorixá é iniciado). Tem de ser levado em conta as folhas usadas pois dependendo da categoria das folhas, se nesta água tiver ervas quentes ou elementos quentes, não será mais omiero, e sim omiaxé (omiàṣẹ).

Omiero Coberto
Segue o mesmo padrão do omiero, mas nele é acrescentado eje(ejè) a mistura. É o costume cortar uma ave para consagrar o omiero.
N.E. No Batuque existem muitas famílias que não separam os ritos de ori e orixá, já ouvi muito sobre o fato, vou tratar aqui como ritos separados alimentar ori e alimentar orixá abaixo uma fala sobre o tema.
[...] O que eu quero comer você não quer comer, devemos comer separados, ou um de nós ficará com fome. (Provérbio Iorubá) [..]
Essa fala destaca a importância de separarmos os rituais, pois ori e orixá podem desejar coisas diferentes para seus rituais como oferendas desde comidas secas até animais a serem sacralizados, pois ori é tão ou mais importante que orixá, dado que na própria sequência dos ritos do próprio Batuque, nas casas onde os rituais ocorrem em separado, como vamos ver a seguir orixá começa a comer muito tempo depois de ori, somente na iniciação do religioso a sua divindade regente. Vou deixar o link do trabalho de registro feito pelo Rudinei Oliveira Borba.
[...] O Batuque não realiza mais o culto de Orí, perdeu o conceito e o rito. O que faz hoje no Batuque não é um bori ao orí, mas um reforço de Òrìsà para a cabeça. Com exceção de alguns poucos mais antigos. [...]
Bom esse tema gera muito debate, mesmo a alguns entendam que cortar na cabeça para o orixá esteja alimentando ori, esses sacerdotes estão considerando apenas a cabeça física, considerando apenas o ato de sacralizar na cabeça como alimentar ori, ignorando parte espiritual a noção de pessoa, tornando o bori deste modo um ritual de orixá, passam assim a consagrar a cremeira (ile ori) e seus elemento que deveriam pertencer do Ori, representação espiritual da pessoa, mais um assentamento de orixá.

Ibin (Igbin)
Em algumas situações o sacerdote pode sacralizar Ibi (caracóis) na cabeça de iniciados, podendo ser usado tanto para ori quanto para orixá.

Oribibo (Orì bi bó)
O Oribibo é a obrigação realizada com um casal de pombos, brancos pois é cor de ori, visto que se trata de um reforço ou até mesmo um axé de saúde, grosso modo a tradução de oribibo seria cobrir(proteger) a cabeça.
Nesse ritual frenteia-se um orixá essa decisão diz respeito ao sacerdote, são colocados os ecomi doce e azedo, acendem velas no quarto de santo, colhem e maceram as ervas, para preparar o omiero, em um reservatório colocam uma quartinha nesse reservatório para imantar, o sacerdote começa a executar os procedimentos para o iniciado lavado a cabeça, jogado a cabeça, é separado parte deste o omiero para banhar o corpo, depois do balho é passado a limpeza, consecutivamente tem a cabeça lavada.
Seguindo com o rito segue a marcação da pessoa, marca-se com banha de ori, no meio da cabeça, nas fontes, no pescoço, na nuca, na palma das mãos, nas costas das mãos, no peito dos pés e na sola dos pés. Retiram a quartinha e na guia do omiero e elas também são marcadas. Em frente aos assentamentos do quarto de santo, acende-se uma vela ao lado da pessoa que é colocada sentada de frente para o quarto de santo.
Apresentam os pombos e então sacraliza-se os animais na cabeça da pessoa, marcando a pessoa e os utensílios acima citados enquanto são entoadas as orins durante todo o processo, faz se a coroa de penas ao redor do eleda (Eléèdá) da pessoa. Apresenta-se o pano de cabeça da pessoa aos orixás no quarto de santo pedindo licença aos mesmos e depois apresenta-se pano as demais pessoas no templo ali presentes. O padrinho ou madrinha amarra a trunfa no seu futuro afilhado, o sacerdote junto com padrinho levanta a pessoa. A pessoa deverá bater cabeça no quarto de santo para seu sacerdote para seu padrinho ou madrinha.
Não tendo mais pessoas inicia-se o recolhimento, após encerrado o prazo de recolhimento de 24 horas da pessoa, vem a levantação. Durante um período de resguardo que pode variar 7 (sete) ou 8 (oito) dias proteger a cabeça do sol, da chuva e do sereno. O oribibo não permite muita participação nos demais ritos religiosos.

Bori
O Bori é a primeira obrigação propriamente dita onde é alimentado tudo que representamos no orun, a cabeça espiritual. Na obrigação do bori são consagrados alguns objetos que formam a representação de ori aqui no Aye, apesar de muitas famílias incluir orixá nesse ritual esse não é o correto segundo a matriz, bori e iniciação em orixá, são dois ritos distintos, como poderemos ver abaixo mesmo no bori feito para orixá no Batuque, na manteigueira não vão elementos do orixá, pois como já falei antes é uma representação espiritual da pessoa, sem ligação com o orixá:
• Manteigueira de vidro ou porcelana.
• 01 moeda antiga.
• 08 búzios .
• 01 quartinha (espécie de jarro de barro com tampa) ao natural ou pintada na cor branca.
Estes objetos são colocados dentro de uma vasilha, juntamente com as guias e recebem o ejè/axorô dos animais sacrificados, vasilha esta que fica no colo do filho que está sendo borido, enquanto este fica sentado no chão. O sacerdote faz as marcações no corpo do filho da mesma forma que foi feita no aribibó, Na continuação da obrigação de bori conservam-se as mesmas etapas do oribibo.
Porém no bori há uma testemunha a quem chamamos de padrinho ou madrinha de cabeça, devendo-se total respeito ao padrinho, que deverá ser alguém com feitura, filho-de-santo pronto, pois é o padrinho ou madrinha que deverá ser procurado caso o afilhado necessite de orientação e o Babalorixá estiver impossibilitado de auxiliar o filho-de-santo.
Terminada as etapas da matança o borido é auxiliado a trocar de roupa e deita-se no chão mantendo-se o mais próximo de sua obrigação. Os animais sacrificados vão para a cozinha, onde são preparados, separadas as partes que serão colocadas no quarto de santo, o restante do corpo das aves serão preparadas as refeições para alimentar o povo que permanecerá no Ilê durante o período de obrigação.
A reclusão do filho de santo que está sendo borido varia de 03 a 07 dias. Durante este período o borido reduz ao máximo suas atividades e movimentos, permanecendo a maior parte do tempo deitado ao chão. Após o término do período de reclusão levanta-se a obrigação e monta-se o bori: Faz-se uma cama de algodão dentro da manteigueira e põe-se a moeda ao centro rodeada pelos búzios.
Cobre-se com bastante banha de ori. Agora o filho-de-santo tem o bori (a manteigueira com os búzios, dna, moeda e a quartinha cheia d'água), que ficará guardado no Quarto-de-Santo do templo, numa prateleira coberto por cortinas, juntamente com os boris dos demais filhos.
O bori é considerado a representação de tudo que a pessoa é no orun, portanto exige certos cuidados, não deve ser mexido, a quartinha deve estar sempre com água e deve ser reforçado de tempos em tempos com nova obrigação.
Existem alguns tipos de Bori na liturgia do Batuque, em cada um dos ritos abaixo os elementos que representam ori citados acima, e que compõem o ile ori passam junto com o religioso pelo ritual novamente.

Bori de Aves
Ritual no qual são sacrificados além dos pombos, galos ou galinhas pedidos por ori. É recomendável que o religioso, que passará pelo rito, já tenha passado pelo oribibo. O Bori de aves é mais um degrau galgado pelo religioso em sua caminhada até o aprontamento.

Bori de Meio Quatro-Pé
É recomendável que o religioso, que passará pelo rito, já tenha passado pelo bori de aves, também pode ser feito como reforço, até para os que já são filhos prontos. Nesse rito são sacralizadas aves que são consideradas meios quatro pés, ou seja, aves consideradas superiores a galos e galinhas. Exemplo galinhas d’angola, perus, patos, marrecos etc. ou outras aves requisitadas por Ori no jogo.

Bori de Quatro-Pés
Como podemos ver no Batuque as obrigações vão crescendo, é recomendável que o religioso, que passará pelo rito, já tenha passado pelo menos por bori de aves, nessa obrigação são sacralizadas aves, e o animal de quatro pés da escolha de ori.

Assentamento de Orixá/Iniciação
Ocasião em se individualiza as divindades do iniciado e/ou se faz a iniciação no Orixá de Cabeça, imantando os elementos do assentamento de cada orixá axé de suas oferendas, criando assim ponto de acesso a divindade respectiva.
Fazem parte do assentamento:
• Okuta(pedra) ou vulto para algumas divindades.
• Delegum, guia com vários fios de contas que variam em número e cor de acordo com o axé do Orixá, quando o assentamento for do orixá de cabeça.
• Imperial, guia do jogo, algumas famílias colocam junto, quando o assentamento for do orixá de cabeça, pois entendem que é o responsável pelo jogo já que ele é o comandante do Irunmole, essa guia posteriormente irá passar também pelo ritual de Oromilaia.
• Ferramentas.
• Facas de iniciação e serviço, nas respectivas divindades.
• Quartinha (espécie de jarro de barro com tampa) pintada nas cores do Orixá.
• Búzios, se for o orixá de cabeça é além dos búzios referentes a conta do orixá, são colocados a mais os búzios referentes ao jogo 08 é o tradicional, mas também podem ser colocados 16 em algumas famílias, pode variar algumas famílias não colocam os búzios referente ao jogo para comer junto com o Orixá de cabeça.
• Vasilhames recipientes que irão comportar o assentamento.
Nessa ocasião são sacralizados os animais da divindade aves e 4pés, se for feito sem a inclusão dos animais de 4pés é chamado de encostar o Orixá.
Terminada as etapas da sacralização o iniciado é auxiliado a trocar de roupa e deita-se no chão mantendo-se o mais próximo de sua obrigação. Os animais sacrificados vão para a cozinha, onde são preparadas as inhelas (partes extremas e vitais das aves, fritas em óleo, algumas tradições fritam tudo outras apenas algumas partes) que serão servidas aos orixás e com o restante do corpo das aves serão preparadas as refeições para alimentar o povo que permanecerá no Ilê durante o período de obrigação, ou então serem servidas durante a noite de Batuque.
A reclusão do filho de santo que está sendo borido varia de 07 a 30 dias podendo ser mais em algumas casas. Durante período em que o orixá está comendo o iniciado fica recolhido, reduz ao máximo suas atividades e movimentos, permanecendo a maior parte do tempo deitado ao chão. Recebe visitas dos seus irmãos de santo, familiares e amigos de outros templos. Após o término do período de reclusão, os toques levanta-se a obrigação e monta-se os assentamentos, que ficaram guardado no Quarto-de-Santo do templo junto do ile ori (Bori) deste religioso, numa prateleira coberto por cortinas formando o Irunmole do mesmo, ou aguardando o assentamento das demais divindades para a formação.
N.E. Vou acrescentar aqui algumas informações sobre os costumes do antigos que não dividiam eje e não assentavam todos os orixás de uma vez, podendo muitos deles assentarem esses com aves primeiro antes de completarem com 4 pés. Seguindo praticamente a mesma sequência descrita no bori.
[...] Conforme o costume da época sentava-se somente 3 ou 4 orixás principais do sacerdote, e com estes orixás abriam casa, ficando a vida toda somente com estes sem necessidade de assentar de Bara a Oxalá. Ele informa que na tradição Oyo do Batuque, o orixá de rua, quando pega cabeça, ele passa a ser cultuado dentro de casa. [...]
[...]que antigamente, primeiro assentava o Bara, para ele abrir os caminhos, a maioria dos baba antigos, não tinham todos os orixás, hoje é moda de Bara a oxalá. [...]
[...] Naquela época, era costume não dividir "quatro pés" e não se dava "carona", isto é, não sentava outros orixás com o mesmo quatro pé, nem deitava filhos com o mesmo quatro pé. Era também costume "encostar" orixá com ave, angola ou marreco, e era costume também usar pato para "encostar" o orixá. [...]

Oromilaia
Ritual pelo qual passam os iniciados que já tem seu orixá de cabeça assentado, para ter acesso ao oráculo, são sacralizadas as aves para o ritual (galinhas uma preta e uma branca), com as quais os participantes do ritual são marcados pelo sacerdote nos olhos, boca, ouvidos e mãos sob o ala, bem como os búzios e imperial, tem famílias que procedem diferente, depois da sacralização essas aves são preparadas dentro do fundamento do Batuque e servidas aos participantes, os mesmos envoltos em pano branco se deitam até a manhã seguinte quando são levantados.

Entrega de axés
A entrega destes axés ocorre no início ou após o término do xirê da terminação, geralmente no sábado posterior ao Batuque em que ocorre o Kassum. Quando for entregue os objetos que compõe o jogo de búzios e as facas, deverão ser colocados em uma bandeja e se fará o ritual de entrega. O padrinho ou madrinha testemunham a obrigação. A partir daí o iniciado(filho-de-santo), é considerado pronto, isto é, tem sua obrigação completa com o assentamento de todos os Orixás pertencentes ao Irunmole, alguns orixás são assentados somente quando a pessoa abre seu templo. Depende agora de seu conhecimento, desenvolvimento de aptidões, e com o consentimento de seu orixá e de seu Babalorixá ou Yalorixá (Pai e Mãe de Santo), poderá ter seu próprio Ilê (Casa de Santo).

Ritual da Obrigação do Peixe
São sacrificados aos orixás peixes vivos, logo pela manhã cedo, os peixes variam de acordo com os Orixás que vão receber a obrigação, e a sua quantidade varia muito de acordo com o axé de número do mesmo. Os orixás de frente recebem pintado como obrigação e os orixás de praia recebem jundiá. Nos Quartos-de-santo são sacrificados ao menos um peixe para cada orixá e a eles são destinados: a cabeça, a cauda, as barbatanas e um pouco de axorô (ejè/sangue). Os peixes sacrificados, são servidos, com pirão, no almoço e devem ser consumidos, pelos filhos que estão de obrigação e pelos que estão na casa, pois o ebó de peixe simboliza fartura e prosperidade. E uma quantidade maior de peixes, é preparada frita, para serem servidos ao povo que comparecer ao batuque de encerramento ou no toque do Peixe, toque realizado na noite do corte do peixe, porém com duração mais curta quando serão consumidos o ebó do peixe e peixes fritos, além das comidas dos Orixás.

A Festa do Batuque
Após cumpridas as obrigações, também quando encerrado o levantamento, são feitos os toques ao sons do tambores, ages e agogos, para os orixás conhecidos como xirês, que tornaram a Nação conhecida como o Batuque. O sacerdote, ajoelhado em frente ao quarto de santo, juntamente com todos seus filhos e demais convidados, toca-se a sineta (Adjarin), fazendo a chamada de todos os Orixás, de Bará a Oxalá com suas saudações específicas, pedindo-se aos Orixás, as coisas que a eles competem. Terminada a invocação, o sacerdote, autoriza o tamboreiro/alabe os toques, que correm, na ordem de Bará a Oxalá respeitando a sequência de cada tradição. Todos que estão na roda, gira dançam com as características de cada Orixá aos quais estão sendo tocado as orins.

Balança
Se a obrigação que originou a festa teve o corte de quatro-pés, deverá ser realizada dentro das rezas para Xangô, a obrigação da balança em homenagem, a Xangô, e por conter o axé de todos os Orixás em harmonia. Há um intervalo na movimentação da roda e os presentes, inclusive os Orixás afastam-se do centro do salão, deixando espaço para a gira da roda da balança. Nesta hora, participam só os já prontos colocados lado a lado, formando uma gira uma roda de mãos dadas, dançam ao ritmo dos tambores que vão indo gradualmente aumentando de intensidade. É quando ocorre o maior número de ocupações. Ao terminar a balança os Orixás cumprem o fundamento: vão ao Quarto-de-santo, depois até a porta da rua para cumprimentar os Orixás da rua e depois dançam ao som do Alujás de Xangô.

Aforiba
Já o Aforiba, é o momento em que o orixá Ogum e Iansã estejam presentes demonstram a passagem em que Iansã embebeda Ogum para fugir com Xangô. O sacerdote convida um Ogum e uma Iansã para fazerem o Aforiba, então colocam-se no centro do salão duas garrafas contendo atã (Aforiba) e as armas inerentes a estes Orixás (espadas). Iansã pega as garrafas e oferece a Ogum que logo se embriaga, mas logo em seguida Ogum volta a si e vai atrás de Iansã empunhando a sua espada. Os dois digladiam, mas Iansã consegue acalmar Ogum e os dois reconciliam-se e assim voltam a dançar juntos. Tendo um Xangô no mundo poderá vir a fazer parte do Aforiba. Xangô vem em defesa de Iansã e com seu machado de dois gumes entra na luta com Ogum. Aí então, Iansã acalma os dois Orixás (que por natureza, não se dão bem, fato criado aqui no Brasil pois na matriz não existe essa informação).
N.E. Esse ritual praticado pelos orixás dentro do Batuque é representação de um mito, que em momento algum influenciará os filhos de Ogun, Iansã, ou Xangô causando dependência de bebidas alcoólicas.

Ecó
Terminado as orins de Xapanã é hora da Saída do Ecó, que nada mais é do que o despacho do ecomi de azedo e doce, marcando o término das orins dos orixás de mato e o início das orins dos orixás de praia. A saída do ecó simboliza a saída de toda a negatividade que existe no ambiente e nas pessoas presentes, prepara o ambiente para os orins dos Orixás mais velhos, que tem um toque mais brando, enquanto sai o ecó, os alabês continuam puxando os orins, só que agora puxam os orins dos orixás da rua (Bará Lodê, Ogum Avagã e Iansã Timboá), não há movimento da roda e a assistência evita olhar para o que está acontecendo, virando para a parede. Diz a crença que quem olhar a saída do ecó atrai para si a negatividade ali contida.

Roda de Ibeji
No Batuque de Quatro-pés há a roda de Ibejis, no Jejê-Ijexá ela acontece durante os orins de Oxum. É o momento em que as crianças participam da obrigação e as mulheres que pretendem a maternidade ou que estão grávidas fazem os seus pedidos e agradecimentos. Os orixás, principalmente Oxum e Xangô, distribuem aos que estão na roda e assistindo, as frutas e os doces que estão no quarto de santo.

Axé dos Presentes
Acontece no final do Batuque, os Orixás seus bolos, comidas enquanto os presentes os saúdam. Depois os bolos são servidos aos convidados e o excedente é distribuído juntamente com as oferendas. É tradição, também, os convidados ofertarem presentes ao Orixá do sacerdote, por ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns são perfumes, flores, doces, e outros utensílios que podem ser usados no dia a dia do templo.

Axé dos Perfumes
Acontece no final do Batuque, o sacerdote, pega os perfumes no quarto de santo, e com as Iyabas no mundo, distribui entre elas que dançam e perfumam os presentes no salão, distribuindo o seu axé enquanto são entoadas suas orins.

Alá de Oxalá
Pertence aos orins do Oxalá o axé do Alá. Em determinado momento, os filhos de santo com estatura mais elevada suspendem ao alto um grande Pano branco (Alá). Enquanto a gira e os orins continuam, todos passam por baixo do Pano branco (Alá), pedindo ao Orixá funfun, ou seja, o orixá do branco a paz, saúde, fartura, prosperidade e a proteção.

Axêros
Conforme o Batuque vai se desenrolando, os Orixás “chegam” e “sobem”, e vão embora. Os orixás são suspendidos, normalmente, pelos “filhos de santo”, mais antigos e experientes do Ilê (Casa de Santo), porém eles ficam em “axêre” ou “axêro”, estado intermediário entre a ocupação do Orixá e do médium propriamente dito.

Mesa de Ibeji
A obrigação da Mesa de Ibeji é feita no Batuque de Encerramento e nas ocasiões em que o sacerdote, ache necessárias. É realizada a tarde ou no início da noite e antecede o Batuque de Encerramento. Dela participam crianças de zero a doze anos, além de mulheres grávidas, ou que queiram engravidar. São cantados orins de Xangô e Oxum (que representam os Ibeji) e dos orixás velhos. A Mesa de Ibeji é riquíssima de detalhes e constitui uma obrigação religiosa com muito axé e beleza.
Ao agradar e reverenciar aos orixás crianças, que simbolizam pureza, paz e prosperidade, procuramos alcançar a solução para algumas necessidades específicas que só podem ser atingidas através de suas ações.
Uma grande toalha branca é colocada ao chão e nela colocam-se frutas, Amalá, flores, uma quartinha, brinquedinhos, bolo, doces e refrigerantes. As crianças sentam-se ao redor da toalha, as menores acompanhadas por um adulto. Servem-se para as crianças: primeiramente canja de galinha, depois os doces e refrigerante. Depois são lavadas e enxugadas as mãos das crianças.
Terminadas estas etapas as crianças são levantadas da mesa por pessoas adultas ou por Orixás que tenham chegado e conduzidos a formarem uma roda ao som de orins de Xangô. Encerrada a Mesa, os Orixás que chegaram recolhem os itens que ainda restam na mesa e levam até o quarto de santo. Os brinquedos são distribuídos entre as crianças que participaram.

Encerramento
É o toque que encerra as atividades públicas daquela obrigação, tem uma proporção um pouco menor do que o primeiro toque, pois é antecedido pelos toques da confirmação e do peixe, quando são imoladas somente aves aos Orixás. A cor dos axós é preferencialmente o branco, pois esse toque pode acontecer depois da Mesa de Ibejis. É nesta noite que serão dados os axés para os filhos prontos caso necessário. Seguido do toque, no dia posterior há a levantação da obrigação.

Levantação
Terminada o período em que a obrigação deve ficar arriada, há a levantação, termo que se refere ao ato de levantar as vasilhas contendo as obrigações de corte que estavam arriadas, limpá-las e guardá-las nas prateleiras dentro do quarto de santo. Mantendo um costume desde o tempo início do batuque, as obrigações são guardadas e ocultas por cortinas que geralmente tem a sua frente velas, castiçais, comidas de santo, flores e outros objetos sagrados pertencentes aos Orixás.

Passeio
O término da obrigação para os filhos de santo que estão em reclusão é o passeio no dia posterior a Levantação. Pela manhã, o Babalorixá ou Yalorixá os leva até a porta da frente do Ilê e apresenta-os à rua (aos Orixás da Rua), liberando-os para saírem fora dos limites do Ilê. Vão até o centro visitar lugares de grande significado: o mercado público (onde compram velas, grãos, ervas, cereais etc.). Em seguida, vão visitar algum Ilê(casa), de um conhecido onde batem cabeça cumprimentando os Orixás do Ilê(casa), e lá depositam parte das compras feitas no mercado. De volta ao Ilê(casa), batem-se a cabeça no quarto de santo e arriam-se o restante das compras feitas. Cumprimentam o Babalorixá ou Yalorixá (Pai e Mãe de Santo), agora na nova condição de filho de santo.

Quinzenas
As obrigações das quinzenas, são obrigações que duram normalmente dois ou três dias em que é feito a matança e os toques. Geralmente, um número não muito grande de pessoas fazem parte desta, que estão associadas a alguma data especial ou a obrigação de bori de filhos de santo do Ilê(casa) quando não existe assentamento de divindades. Começa com os toques das orins, onde as comidas de santo são oferendadas aos Orixás, e as comidas servidas a todos, como: canjas, canjicas brancas e amarelas, os Amalá. Sendo uma obrigação menor, exige-se um mínimo de aves a serem sacrificadas. As carnes das aves são consumidas e ofertadas nos intervalos do toque e dos pontos dos atabaques, servindo enfaroados e as canjas, comidas que por tradição são ofertadas às pessoas que comparecem ao ebó.
Exitem ainda as “quinzenas secas”, quando não se sacrificam animais.

Orisun
Com passagem do religioso tudo que foi feito deve ser desfeito, os ritos fúnebres são praticados preparando a volta do mesmo para o orun, posteriormente a isso as obrigações que o mesmo possuir são desfeitas e os orixás devolvidos a natureza, se o mesmo tiver casa aberta, era costume antigamente jogar para ver se a rua iria ser devolvida a natureza ou não. Temos conto do Deodé que narra esse fato.
N.E. Conto com a colaboração de todos para aperfeiçoar e enriquecer essa postagem, e ainda apontar algo que tenha sido ignorado por mim. Todas as informações pertinentes serão acrescidas ao texto.

sábado, 11 de dezembro de 2021

OYA VISITA EMOJAGBEMI OMITANMOLE ARIKE

Postado por Yemojagbemi Omitanmole Arike

Em 15/0/2019, acessado em 11/12/2021 às 16:48



Orisa Oya na casa de Yemoja em Oyo ..

Kof kof , to chorando porque engasguei, kof kof... acho que entrou um cisco no meu olho...


Já contei a história antes mas não mostrei o vídeo kkk 15º dia de iniciação em Yemoja na cidade de Oyo, em confinamento extremo , era o dia do festival de oya na cidade. Eu não podia sair de casa, então oya apareceu no condado de Yemoja, com sua multidão de devotos a seu redor todos começaram a entonar Oriki de Yemoja, oya me pega na porta, me arrasta para o quarto, senta na minha esteira e me abençoa.

Eu simplesmente não podia acreditar.. que aquela Oya que acompanhei durante anos nos vídeos da Asa , ou canal do World Sango Festival, estava ali na minha frente... a Oya a Elegun Oya Alaafin Oyo, a elegun oficial do reinado de Oyo - eu não sabia se gritava, pulava, chorava, ... chamei de mãe, naquela hora eu simplesmente explodi de emoção queria pedir um autógrafo (ok já fiz essa brincadeira antes )... eu só sentei... e depois contei para todo mundo sobre oya - para todos que apareciam no condado de Yemoja, no começo da noite as crianças já cantavam para Oya, ... até minha Iya Yemoja ficar com ciúmes e achei melhor parar de falar afinal em 3 dias seria o dia de Yemoja em Oyo.

Se eu falar que vivi um sonho não será o bastante eu muitas vezes não acredito que foi comigo, me recordo de estar lá e fazer um enorme esforço para parar o tempo, para que os minutos durassem meses, mas tive que partir e passou aqui na volta tão rápido, que me transporto revendo os vídeos e fotos ..
Àse #oyo

Fonte - 
https://www.facebook.com/yemoja.renata/videos/380766122719343/

SÀNGÓ ABENÇOANDO E ORIENTANDO O POVO DURANTE O FESTIVAL DE 2020

Postado por Àsà Òrìsà Aláàfin Òyó Èsìn Òrìsà Ìbílè 

Em 22/08/2020, acessado em 11/12/2020 às 16:45



Sango manifestado no Elegun Sango Koso, fazendo orações pelas pessoas em Koso.

Festival Mundial de Sango 2020


Fonte - https://www.facebook.com/WorldSangoFestival/videos/650846128858481

Imagem comprobatória 


O CORTEJO FÚNEBRE DO ELEGUN SANGODELE IBUOWO

O CORTEJO DO ELGUN ELEGUN SANGODELE IBUOWO

Postado por Paula Cristina Gomes Em 11/12/2021

Revisado e aumentado em 19/05/2022, às 10:27

Imagem 1 cortejo do Elegun Sangodele Ibuowo
Fonte - 
Paula Cristina Gomes

Elegun Sangodele Ibuowo despediu-se ontem do palácio, dançando pela última vez pelas ruas da cidade de Oyo.

Regressando a sua casa para começarem os rituais tradicionais.
Segundo a tradição yorùbá quando um membro idoso morre, ele terá que ser festejado, pois cumpriu sua missão.
Hoje dia 11 de Dezembro 2021 irá se despedir de Koso e será enterrado na sua casa *
Imagem 2 cortejo do Elegun Sangodele Ibuowo
Fonte - 
Paula Cristina Gomes



Imagem 3 cortejo do Elegun Sangodele Ibuowo
Fonte - 
Paula Cristina Gomes

Imagem 4 cortejo do Elegun Sangodele Ibuowo,
em alguns momentos o cortejo para no meio da rua
e depositam o caixão no chão, e dançam e cantam.
Fonte - 
Paula Cristina Gomes



Imagem 5 cortejo do Elegun Sangodele Ibuowo
Fonte - 
Paula Cristina Gomes

Imagem 6 cortejo do Elegun Sangodele Ibuowo
Fonte - 
Paula Cristina Gomes

INFORMAÇOES SOBRE COSTUMES E TRADIÇÕES DO POVO DE SÀNGÓ

Entrevistamos a Dra. Paula Gomes sobre os ritos funerários do elegun Sàngó e, com a permissão dela, transcrevemos as respostas sobre a tradição e costumes do povo de Sàngó e os ritos fúnebres. Segue:

EW - Se este cômodo era o quarto do Elegun, se foi construído especialmente para ele ou se já possuía alguém enterrado aí?

Paula Gomes Aduke: [...] Primeiro, esta é a casa da família do Elegun, este é o quarto onde ele dormia, não está ninguém enterrado, só ele vai ser enterrado ali.
O irmão dele mais velho, no outro quarto ao lado [...] não tem ali mais ninguém e, não foi especial para enterra-lo, ali é uma casa normal, onde ele dorme, onde ele dormia, e pode ser enterrado...

E agora foi enterrado, e depois dos rituais, eles não vão ter mais mosaico, mas vão ter algo por cima, por que vão utilizar o sitio (lugar), para dormir, para fazer sala [...] Por que as pessoas vão viver ali...

A pessoa, agora mais velha da casa, deve passar para ali, para ficar ali dormindo [...]


EW - Tem mais familiares enterrados na casa?

Paula Gomes Aduke: Esta é uma casa comum da família, conforme vão morrendo, eles vão sendo enterrados dentro de casa, o elegun é o quarto deles, se a casa estiver cheia... vão enterrar ali ao lado da pessoa, não no local do elegun, mas ao lado, e atrás e na frente...vão enterrar, por que são todos enterrados dentro de casa [...]


EW - Se o Elegun foi raspado após a morte:

Paula Gomes Aduke: [...] Sim estes são rituais, que são secretos do povo de Sàngó... Claro, foi raspado antes de ser enterrado... E todos os filhos que ele pôs a mão, vão ser todos raspados agora no sétimo dia...

EW - Sàngó ficou ao lado do túmulo?

Paula Gomes Aduke: [...] Não, Sàngó está em outro local da casa, no sítio (local), onde o Sàngó costuma estar. Não tem nada a ver estar ali ao lado do quarto dele...  

Aquele Sàngó que viu no outro enterro (link)... Eles foram buscar o Sàngó... por que ao sétimo dia o Sàngó da casa, o ipori do Elegun vai ser lavado... então vão dar de comer a Sàngó e vão levar Sango para onde está o elegun, para onde a pessoa está enterrada... depois levam novamente o Sàngó do quarto... e levam novamente o Sàngó, para o quartinho dele de onde sempre fica [...]

EW - O que seria Ipori?

Paula Gomes Aduke: o ipori dele, é o edun ara, da iniciação dele. É a ligação entre a cabeça espiritual dele e Sàngó, a parte espiritual, é o edun ara que come o sangue dele [...]

 

EW - Possui algum ritual ou momento que oferecem farinha e água? 

Paula Gomes Aduke: Farinha e água... Oká, é amalá... é o nome é amalá, só Oyo é que chama Amala Oká... E eles dão Oká no dia que Sàngó vai ser levado, no sétimo dia, eles vão dar Oká sim... a Sàngó...

Amalá e Oká, é a mesma palavra, só que Oká, é só utilizado em Oyo, se for para outra cidade, você diz amalá, aqui você diz Oká [...]


IDAASA ERINDILOGUN ADIVINHAÇÃO PARA CERIMONIA FÚNEBRE


O ENTERRO DENTRO DE CASA



O LOCAL ONDE O ELEGUN SANGODELE IBUOWO FOI ENTERRADO

Por Asa Orisa Alaafin Oyo
Postado em 13/12/2021

Imagem 7 local onde foi enterrado o Elegun Sangodele Ibuowo
Fonte - 
Asa Orisa Alaafin Oyo

Imagem 8 local onde foi enterrado o Elegun Sangodele Ibuowo
Fonte - 
Asa Orisa Alaafin Oyo

Imagem 9 local onde foi enterrado o Elegun Sangodele Ibuowo
Fonte - 
Asa Orisa Alaafin Oyo

É tradição entre os yorùbá enterrar os mais velhos dentro de casa, principalmente entre os tradicionais.
No 3º dia o local de sepultamento será preparado com folhas para dar continuidade aos rituais tradicionais. Asa Orisa Alaafin Oyo **

Esclarecimentos sobre a cultura Ioruba e as cerimonias fúnebres. 


No 7 dia dos ritos fúnebres do Baba Sangodare Ajala.
Os ritos foram executados na sepultura dentro de casa.
O assentamento de Ṣàngó foi levado até a sepultura, onde amalá foi não só ofertado a Ṣàngó, mas também ao espírito do Baba Sangodare Ajala, aos filhos e a toda a comunidade presente.

Que o Baba Ṣàngódare Ajala descanse em paz e nos proteja.
Imagem 10 o igba do Sango

Após o ritual o Ṣàngó retorna ao quarto sagrado de orixá, local onde ele sempre ficou e continuará.


* Fonte imagens 1, 2, 3, 4, 5 e 6:
https://www.facebook.com/paula.gomes.aduke/photos/pcb.193392556336355/193392379669706/

** Fonte imagem 7, 8 e 9:
https://www.facebook.com/asaorisaalaafinoyo/photos/pcb.1381058959019214/1381057592352684

*** Fonte imagem 10: https://www.facebook.com/paula.gomes.aduke/photos/a.103343675341244/174100391598905/

Sobre Paula Gomes Cristina
Embaixadora da Cultura do Aláààfin de Òyó, uma pessoa de confiança entre os Yorùbá, que apoia a preservação do antigo patrimônio cultural e tangível e intangível dos Yorùbá, Unida com o Aláààfin de Òyó, Oba (DR.) Olayiwola Adeyemi III, JP., CFR., LLD para preservar o património Òyó. A Fundação tem a sua sede em ÒyóAláààfin Palace, Òyó, estado de Òyó, na Nigéria. http://www.paulagomesfoundation.com/

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

RELIGIÕES DE MATRIZ E INFLUÊNCIA AFRICANA E AMERÍNDIA, PATRIMÔNIO CULTURAL DE NATUREZA IMATERIAL

Por Erick Wolff de Oxalá

Em 08/12/2021



Seguindo o exemplo do Rio de Janeiro que reconheceu Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Povo Carioca, as Religiões de Matriz e Influência Africana (Umbanda, Candomblé e Ifá). Soube-se por fontes seguras, que tramita um projeto de lei do poder Legislativo, que declara, as Religiões de Matriz e Influência Africana, Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Município de Porto Alegre-RS, autor vereador Alexandre Bobadra, protocolado em  08/12/2021.

A importância deste projeto para nós afro religiosos e religiões ameríndias, é reconhecer e proteger a nossa fé, justamente numa época que estamos a favor ou contra a herança cultural e religiosa afro/ameríndia. 

Informações sobre a lei n 7.162/2021sancionada no Rio de Janeiro, em 02/12/2021 pelo prefeito Eduardo Pais:

Art. 1º Ficam declaradas Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Povo Carioca, as Religiões de Matriz e Influência Africana (Umbanda, Candomblé e Ifá). (BATUQUE É RECONHECIDO PATRIMÔNIO CULTURAL DO POVO CARIOCA)


Com isso, pedimos a atenção de todos os para que se unam e possam pedir aos seus amigos que divulguem e espalhem para que quantos mais pessoas puderem ajudar neste momento tão especial e importante. 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

A VERDADE E A MENTIRA DISPUTAM O BATUQUE DO RS

NO BATUQUE
Por Alexandre Custodio

Postado em 08/12/2021



"Onde falecem as verdades, prevalecem os enganos."


O Batuque perdeu muito desde a passagem de sua primeira geração, com essas passagens, tanto idioma, conceitos e fundamentos foram corrompidos, tanto que muitos hoje falam de um “Batuque Original” que não é o que foi formatado pela primeira geração, da qual ainda escutamos sussurros aqui e ali, esses fragmentos comprovam as mudanças criadas pelas gerações posteriores para ocupar esse vácuo de conhecimento que não se preocuparam em preservar.


"Quem diz a verdade, não merece castigo."


Quem se dispõe a pesquisar uma hora ou outra vai se deparar com verdades sobre a nossa cultura religiosa, seja em registros escritos ou em pesquisas de campo nos templos, geralmente em casas menos badaladas, encontramos um ritual mais preservado foi o que eu percebi, ritos que nos ligam ainda mais a matriz, um exemplo disso é o Jogo do recém-nascido que eu vi na casa do pai Lula do Ogun feito para seu filho Leonardo Martins por sua avó(não me recordo o nome), registrado em fotos e vídeos, conhecido na matriz como “essentaye”, uma casa que já se encontra na terceira geração, encaminhando a quarta, alternando sempre a liderança do templo entre Xangô e Ogun.


"Nem todas as verdades são para serem ditas."


Sim, vão tentar te calar, basta a qualquer um decidir se aprofundar nos estudos sobre o Batuque, que esse perceberá algumas mudanças ao seu entorno, amigo e adversários se formaram de acordo as verdades que vocês expõem, se essa verdade for a favor ao que praticam em seus templos, nesses momentos serão seus amigos, caso contrário se colocar em xeque o que praticam tenderam a estar entre seus adversários, ambos tentaram em um momento ou outro te calar por não conseguir prever seus próximos passos, ou manipular as opiniões das pessoas quanto a você e ao que fala e produz.


"A verdade é manca, mas chega sempre a tempo."


Quantas narrativas eu vi cair por terra, nesse pouco anos mais de 10 (dez) anos em que comecei a estudar o Batuque com mais afinco, coisas que muitos batuqueiros tinham com verdades, que hoje muitos batuqueiros querem enterrar, mas a verdade é como sol mesmo fechando os olhos para ela, o calor ainda pode te queimar.


"A verdade, ainda que amarga, se traga."


O Batuque não é meu, não é seu, não é de ninguém, todos somos herdeiros, cabe a nós preservarmos e corrigir possíveis equívocos produzidos por nossos ancestrais, todos nós vamos morrer e quando já estivermos esquecidos o Batuque ainda vai estar aqui, o Batuque não nasceu com quatro pessoas um ancestral de cada tradição, se fosse assim não teríamos mais Batuque, dada a pressão o que mesmo sofreu, muitos dos responsáveis pela consolidação do Batuque hoje nem são lembrados, sejamos mais humildes, eu faço aqui minha meá-culpa, devemos acordar as pessoas para a realidade quando essas estiverem preparadas. Mas devemos deixar publicas a realidade.


"A verdade pode ser combatida, mas não vencida."


O Batuque ao longo dos anos foi muito vilipendiado tanto pelos integrantes do Candomblé que se achavam a palmatória do afro, quando pelos próprios batuqueiros que muitas vezes não sabem explicar de uma forma lógica o que praticam, sabem fazer, não sabem explicar, por isso muitas e muitas vezes o Batuque foi motivo de chacotas nos muitos fóruns. O Batuque sofreu isso por culpa dos próprios batuqueiros que olharam muitas vezes para o Candomblé em busca de conhecimento, enxertando o Batuque com elementos do Candomblé, alguns possuindo até dupla pertença, elementos que vemos sendo perpetuados e tidos como tradição. A verdade veio da Matriz e ficamos sabendo que o Batuque preservou muito mais que o Candomblé, talvez mais que todas as outras vertentes afro-brasileiras.


"A verdade dispensa enfeites."


Sempre que encontramos temas polêmicos no Batuque, notamos que a verdade nem sempre é defendida, muitos vão defender o erro e romantizá-lo, pois seus egos não lhes permitem aceitar a realidade, não importa quanto se prove errado o que falam, nunca vão se desapegar da mentira ou do erro, e para isso usam de todos os subterfúgios, desde tentar denegrir o seu interlocutor até fazer birra, em debates que deveriam ser civilizados.


"Calar a verdade é enterrar ouro."


Muitos do Batuque mesmo sabendo da verdade, preferem manter os seus no escuro por comodidade, pois o conhecimento está aí para todos, se eu encontro você também encontra, o que poderia tornar o Batuque ainda mais próximo de sua origem é tratado como um mal, olhar para a matriz, pois o Batuque nasceu aqui, mais os seus ritos conceitos e fundamentos vieram de lá dessa mesma matriz, nosso primeiros adaptaram aqui para poder cultuar como faziam quando estavam lá. Se não fosse necessário adaptações teríamos aqui o culto no mesmo formato que lá, a não ser que pensemos que nossos ancestrais não eram tão tradicionalistas como nós. O erro nasce da falta de conhecimento, essa falta de conhecimento abriu espaço para inserção de elementos de outras tradições e até outras religiões abraçadas como fundamental, enquanto negam a verdade vinda da origem a matriz por todos os meios, para não ter que mudar como fazem os seus rituais.


"A verdade contenta-se com poucas palavras."


Quem chega no Batuque com dinheiro, em muitos templos compra do apronte até o título de rei, não difere das outras religiões afro-brasileiras, e da matriz, o dinheiro fala, quem compra está visando vender também. Comercio estabelecido, concorrência e marketing tudo se justifica, pois, existe a necessidade de faturar, fundamento fica em segundo lugar, hoje quase tudo é feito online de jogo até ebó são despachados por SEDEX, fecham os olhos para o fundamento e a tradição para arrecadar, mas se garantem tradicionalistas e amantes dos orixás, dói ver pessoas que admirava abraçarem esses subterfúgios.


"A verdade só se envergonha de estar oculta."


Muitas vezes já ouvi inbox, pessoas me elogiando pela minha conduta, e outras me recriminando pelo mesmo fato, quem elegia inbox o faz por ter medo de que se o fizer em público atraia problemas, quem critica inbox tem medo da repercussão da resposta que ia levar ao fazer o questionamento em público, no fim tudo se resume a imagem. O lado material vem antes do religioso e verdades incomodas devem ser silenciadas.


"A verdade é clara; a mentira é sombra."


A verdade do Batuque não precisa de muita explicação e elaboração, pois é uma religião calçada na lógica e no fundamento, quando tentam criar uma aura nebulosa sobre algo podem ter certeza ou não sabem explicar, ou a explicação não condiz com a realidade que está sendo praticada, nesse momento se criam os segredos, é melhor ficar calado e manter o mistério parecendo sábio, que abrir a boca e falar uma bobagem e acabar com o encanto, para a falta de conhecimento construíram uma rede segura para se esquivarem das responsabilidades que vai do merecimento até a expulsão do templo, usadas conforme a necessidade.


O pior desserviço ao Batuque é em se sabendo da verdade, propagar a mentira e o erro só para defender o ritual que se pratica ou que é praticado por seus ancestrais, se o orixá lhe deu a oportunidade conhecer a verdade, é sua responsabilidade difundi-la, ou você pode estar cultuando qualquer coisa menos os orixás, pois esses já passaram a ter menor importância dentro do que pratica.

TIKTOK ERICK WOLFF

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