terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

REALINHAMENTO OU QUEBRA DE FUNDAMENTO

REALINHAMENTO OU QUEBRA DE FUNDAMENTO

Baba Marco

15/02/2021

Publicado no Facebook


"Batuque: denominação de uma das religiões afro-brasileiras, a qual cultua os Orixás, nascida no Rio Grande do Sul.

Dentro deste conceito, o Batuque possui dogmas, tradições, crenças e fundamentos próprios, os quais fazem do Batuque uma religião única.

Fundamento é o alicerce, a base, o conjunto de regras básicas de organização e funcionamento de uma instituição. Se um destes fundamentos é retirado ou mudado, ao ponto de diferenciar-se do original, cria-se algo novo.

Dentro de um culto religioso, mesmo que baseado em outra religião, ainda que matriz, cria-se um novo conceito. O melhor exemplo a ser dado, refere-se às religiões Judaica e Cristã, onde o Cristianismo, originário do Judaísmo, acabou tornando-se outra religião. Obviamente, isso acaba gerando discrepâncias. No Cristianismo, o Deus do velho testamento é completamente diferente do cultuado no Novo Testamento. No Judaísmo, Jesus é apenas um profeta, onde o “salvador” ainda não se manifestou, visto não ter aparecido alguém que preencha os requisitos para ser “o messias”. No Cristianismo, os cristãos acreditam que este messias seja Jesus. No Judaísmo, não há intermediários para se chegar até Deus. No Cristianismo, Jesus diz que “ninguém vai ao pai, senão por mim”. Como a religião é dinâmica e sofre influências externas e internas, alguns seguidores do Judaísmo mesclaram as duas religiões e criaram o “Judaísmo Messiânico”, onde seus membros, que são judeus, acreditam no messianismo de Jesus.

Nos dias de hoje, temos a alegria e a facilidade da internet pois podemos fazer consultas, pesquisas, entrar em contato com várias pessoas de várias localidades do mundo, etc. Particularmente, sou a favor de pesquisas na religião yorùbá para que consigamos algumas explicações necessárias a alguns entendimentos e questionamentos sem ultrapassar o limite do fundamento, evitando descaracterização.

Voltando ao Batuque, o mesmo possui dogmas e fundamentos os quais o diferencia completamente das outras religiões afro-brasileiras e até da religião matriz. Como exemplo, só no Batuque existe o “dogma da ocupação”, onde não se fala sobre a manifestação do Orixá para a pessoa a qual o Orixá se manifesta. Só no Batuque, o culto a Orí é mesclado com o culto a Orixá. Só no Batuque, a leitura do jogo de búzios é realizada por configuração. Esses dois últimos casos são tidos como “fundamento”, visto ser realizado desta maneira somente no Batuque e, se retirados ou alterados, desconfigurariam totalmente o mesmo, criando-se algo novo.

No Batuque, o Borí é considerado iniciático e é realizado com as características do Orixá da pessoa: o número de búzios a ser usado é a conta do Orixá, algumas das aves usadas são da cor do Orixá e canta-se a reza do Orixá da pessoa. Algumas famílias cantam para Orí antes da reza do Orixá. No meu entendimento, seria algum tipo de bênção do Orí da pessoa para o recebimento daquele Orixá e do seu axé na sua vida.

Na Religião Tradicional Yorùbá e, com algumas diferenciações, no Candomblé, o culto a Orí é totalmente desligado do culto ao Orixá, visto que Orí é considerado um Orixá pessoal. O Borí não é iniciático, não há obrigatoriedade da existência de um “igbá orí ou ilê orí” (no Batuque, mantegueira/cremeira) e, quando existente, é realizado de maneira totalmente diferente. Pode-se realizar um Borí em qualquer pessoa, mesmo ela não fazendo parte do culto, não tendo qualquer tipo de vínculo religioso antes e após sua realização.

Basicamente, o jogo é realizado através da consulta dos 16 odus principais, onde são jogados 16 búzios e a quantidade de búzios abertos revela um determinado odu, o qual possui algumas determinações e ebós específicos.

Nos dias atuais, estamos convivendo com discussões pelas redes sociais onde alguns seguidores do Batuque propõem e já fazem, por iniciativa própria, visto que suas famílias originalmente não fazem, um “realinhamento” com a Religião Tradicional Yorùbá, onde Orí seria cultuado separadamente do Orixá. Na carona deste “realinhamento” vem a leitura do jogo de búzios por Odu, visto que é impossível Orí se manifestar totalmente dentro do jogo de búzios por configuração do Batuque. Obviamente que se consegue realizar algumas perguntas com relação ao Orí da pessoa mas, fundamentalmente, quem responde nos búzios do Batuque é Orixá.

Por que impossível a manifestação total de Orí no jogo do Batuque? Simples: Orí responde diante da leitura dos búzios por Odu, a qual é baseada SOMENTE nos 16 odus principais, conforme vimos anteriormente. Ora, se o Batuque realiza a leitura por configuração, de onde viriam os textos dos Odu para a consulta? Dos Odu Ifá, utilizados na Religião Tradicional Yorùbá? Dos Odu utilizados no Candomblé? De qual família?


Obviamente, existem muitas coisas a serem perguntadas nas entrelinhas da minha explanação. Entre estas, a maior delas é: trazer estes rituais que não são do Batuque para dentro do Batuque seria um realinhamento ou quebra de fundamento? Fica a reflexão."

FONTE: publicado no Facebook aqui





ADENDO DA REDAÇÃO DO BLOG

Há uma divergência de fundamentos no Bori do Batuque.

Diferente do que informa o Baba Marcos, o Babalawo Coutinho, dirigente espiritual do Egbe Awo Ase Imoye Oyo Aworeni, descendente da família da mãe Emília Ladja, publicou na sua pagina pessoalinformações sobre a existência do Bori separado do orixá nessa família, como veremos a seguir:
Em 24/11/2022 


[...] As casas de Oyó que ainda funcionam conforme as Tradições da Princesa Emilia de Oyá Ladja possuem os seguintes ritos:[...] 
Nosso Bori não é feito junto com o Orixá! E sim separado! Com rezas e feituras próprias! [...]


Sugerimos que esta diferença ritual no bori do batuque seja objeto de um estudo mais profundo, localizando as famílias que praticam um, ou outro ritual de bori. 

Acesso: 

https://iledeobokum.blogspot.com/2022/12/costumes-e-ritos-do-batuqueo-do-rs.html  

sábado, 11 de fevereiro de 2023

QUEM SÃO OS JEJE!

Este artigo registra uma postagem do autor João Luiz Félix Pereira, que foi compartilhado no Facebook do Babalorixá João.

O texto informa que a palavra Jeje é denominação de quem veio de longe. 

Postado por João Gunga Do Babá

Em 17/01/2023 acessado em 11/02/2023

 

"Em Dahomé, a Nação denominada Jêje, recebeu influência direta do povo que ali vivia, o povo chamado de Fon ou Ewê Fon, que em dialeto local significava "o que veio de outro lugar, ou de longe. Ewê, ou Jêje mais precisamente , instalou-se no leste desse País na localidade de Mahin, litoral do Dahomé onde existiam as minas de pedras preciosas e de extração de ouro, de domínio da Coroa de Portugal, sendo no século XVII, dominada pelos ingleses.

Foi ali nesta localidade litorânea, construído o Forte de São Jorge da Mina, para defender a tão cobiçada cidade e suas riquezas naturais até então, pertencente ao já antigo povo Mahin.

Agora, os preceitos Religiosos da Nação do Povo Jêje, atravessaram o mar vindo para o Brasil, pelas mãos do ilustre Príncipe Custódio de Sakpatá da real família que governava Benin.

No ano de 1864 a Nação Jêje chega ao Brasil e posteriormente no ano de 1883 chega ao Rio Grande do Sul, antes estando em outros estados brasileiros. Posteriormente formou novos Babalorixás e Yalorixás por todo estado gaúcho. E nesse estado brasileiro recebe o nome de Batuque pelas pessoas leigas que ouviam os tambores desta Religião em dias de festa e rituais. É um rito proveniente da Matriz Africana, assim como a Macumba do Rio de Janeiro, o Candomblé da Bahia, o culto chamado tambor de Mina, ou Mina Jêje no Maranhão e o ritual de Xangô no estado de Pernambuco, Batuque é tão somente mais uma variante oriunda do grande continente Africano. Jêje não é portanto uma Nação política ou geograficamente reconhecida, por não existir nenhum lugar na África com esse nome, correto seria então dizer Nação Mahin, cujo apelido ou nome popular , acabará ficando Jêje, que é um Rito do Povo Nagô, dos Yorubás: Todo Jêje é Nagô!
(João Luiz Félix Pereira)"


Fonte https://www.facebook.com/photo/?fbid=2323990747776793&set=a.248804551962100&comment_id=705844741146294&notif_id=1674045995129282&notif_t=feedback_reaction_generic&ref=notif
 



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

EGBÉ OGA ÒGO!

Postado por orisa_priestess 



Em 10/02/2023

Saúdo todos os Ẹgbẹ́ (companheiros astrais/companheiros celestiais), Ajagunna, Iyalode, Eleriko, Saworo, Marotana, Baálè, Korikoto, Alargbo (para mencionar alguns) que nos guiam e nos apoiam.


Egbé Òrun é tão importante quanto Orí. Egbe são a maior fonte de proteção e riqueza em Ikole Òrun e é graças a eles que podemos obter toda a sorte aqui em Ikole ayé.

Através da adoração do nosso Egbé, podemos assim receber bênçãos, proteção, prosperidade, bondade, abundância e toda a ira da vida.

Junte-se a nós para a TERCEIRA edição do Dia de Ẹgbẹ. Será um dia educativo e cheio de diversão que aprenderemos mais sobre nossos Ẹgbẹ (companheiros astrais/companheiros celestiais).

Data: Sábado, 25 de março de 2023

Horário: 10h (Sem horário africano)

Este é Ẹgbẹ́ Eleriko/Eleeko. Uma das manifestações de Ẹgbẹ́.. Você vai começar a vê-lo no meu Dia 💃💃💃💃💃

Ẹgbẹ́ Iiiiiiiiiiiii Iyaaaaaaaaaa oooooooooooooooo Iiiiiiiiiiiii Iyaaaaaaaaaa oooooooooooo




Fonte https://www.instagram.com/reel/CofRndcO2YW/?igshid=YmMyMTA2M2Y%3D

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

O AXÉ DA CRIAÇÃO NA RELIGIÃO YORUBA.

O AXÉ DA CRIAÇÃO NA RELIGIÃO YORUBA.

Erick Wolff

09/02/2023



Os mitos Ioruba da criação do mundo são dicotômicos. Ora o protagonista da criação é Oduduwa, ora é Obatala.

Pierre Verger no livro "Lendas Africanas dos Orixas", quarta edição, Ed. Corrupio, o protagonista da criação é Oduduwa após Obatala dormir, seguindo-se após uma guerra vencida por Oduduwa. Neste mito, por ter trazido a terra para o mundo, Oduduwa torna o proprietário da terra.

Luiz L. Marins, a partir de uma releitura de fontes mais antigas publicou no livro "Obatala e a Criação do Mundo Ioruba", quarta edição (do autor) o mito de Obatala como criador do mundo (sem Oduduwa), e criador dos seres humanos, animais, plantas e árvores. Neste mito, é Obatala o proprietário da terra.

Entretanto, somente Obatalá possui o abá e o axé da criação dados a ele por Olôdumare. Vemos nesta dicotomia mitológica que o elemento principal de disputa é a posse da terra.

Há, entretanto, uma tentativa atual de acomodação mitológica, com a atual realidade política de Ilé-Ifé, governada pelo Ooni Ifé, que ocupa o trono de Oduduwa, e Obalesun, descendente de Obatalá. O Ooni Ilé-Ifé ocupa o trono de Oduduwa só pode reinar se receber o axé que lhe é outorgado pelo Obalesun, do templo de Obatala.

Nesta acomodação mitológica para ajustar-se a atual realidade política, Obatalá por embriagar-se, não consegue terminar o trabalho da criação. Olôdumare envia então Oduduwa para completar e governar. Obatala é o criador do mundo e detentor do axé e o aba, forças da criação, inclusive do axé que ele outorga à Oduduwa, mas Oduduwa torna-se o proprietário da terra por tê-la trazido para o mundo.

Em "Itapa, identidade ritual e poder no festival de Obatalá e Iyemoô", Jacob Oluponã mostra porque motivo Obatala outorga seu axé a Oduduwa para que possa governar, e como foi crucial a atuação de Iyemoô para que isso.

O mito no qual Obatalá cria o mundo e os seres humanos, e Oduduwa termina devido à embriaguez de Obatalá, está publicado no "Dictionary of African Mythology A-Z, de Patricia Ann Lynch & Jeremy Roberts, " 2004, [2010], está transcrito abaixo:


[tradução digital, corrija se necessário]


"OBATALA


Obatala (Obatala, Olufon, Rei do Branco Pano) Yoruba (Nigéria).



Em alguns relatos, o segundo em comando no panteão Yoruba de divindades, conhecido como o orisa [sendo Olôdumare o primeiro].


Como deputado do Supremo Olorun, Obatalá é o representante de Olorun na terra. Em alguns relatos, Obatala é considerado como o fundador da primeira cidade Yoruba, Ife.


Na mito da criação Yoruba, Obatalá criou terra, vegetação e seres humanos. De acordo com os iorubás, no início, a Terra era apenas uma vasta extensão de água e pântanos. Obatala sugeriu a Olorun que a Terra seria melhorado se houvesse terra sólida em que orisas e outras formas de vida poderiam viver.


Olorun concordou, então Obatalá disse que se encarregaria da tarefa. Ele foi a Orunmila, o deus da adivinhação, que poderia adivinhar a melhor maneira de proceder a qualquer empreendimento, e perguntou-lhe como começar. Seguindo o de Orunmila instruções, Obatalá desceu à Terra em uma corrente e derramou areia nas águas.


Ele então colocou uma galinha e um pombo na areia. Os pássaros arranharam na areia, espalhando-a em todas as direções. Onde a areia caiu, as águas viraram terra seca. Obatalá desceu para a terra, que ele chamou de Ife.

Ele plantou uma palmeira que gerou muito mais palmeiras árvores. Quando Olorun enviou seu servo, o camaleão Agemo, à Terra para perguntar como estava Obatalá. Obatalá disse que as coisas melhorariam com mais luz. Então Olorun criou o Sol.

Depois de um tempo, Obatalá decidiu que as coisas iriam seria melhor se houvesse pessoas na Terra. Ele moldou figuras humanas de barro e convocou Olorun para dê vida a eles.

Porém, enquanto Obatalá era formando os humanos, ele ficou com sede e teve bebeu muito vinho de palma (o malandro Exu era disse tê-lo tentado com o vinho). de Obatalá a embriaguez o levou a deformar alguns dos figuras. Quando Obatalá ficou sóbrio, ele viu que alguns de suas criações tinham membros torcidos, costas curvadas, e outras deformidades.


Ele estava cheio de remorso e resolveu ser o protetor especial de todos os humanos com deficiências.


Obatala então deu às pessoas as ferramentas eles precisavam para a vida, e a humanidade floresceu e cresceu. Obatala governou Ife por muitos anos. Eventualmente ele ficou com saudades de casa, subiu a corrente de ouro e voltou para o céu.

De acordo com a tradição de Ife, enquanto Obatala era dormindo os efeitos do vinho de palma, Olorun viu que ele havia deixado seu trabalho desfeito. Olorun enviou Oduduwa (o primeiro rei de Ife) para completar a tarefa de criação. Oduduwa criou seus próprios humanos e passou a governar Ife."


Considerações Finais

 

Procuramos o escritor Luiz L. Marins, para coletar informações sobre o mito onde Oduduwa finaliza a criação, que nos informou que conhecia, porém evitou usar o mito em seu trabalho "Obàtálá e a Criação do Mundo Ioruba", por falta de fontes primárias.

Luiz L. Marins informa que autor Falokun Fatunmbi no livro "Obatala" (1994) fala sobre Olodumare ter enviado Oduduwa para terminar o trabalho de Obatalá, porém, Falokun não cita as fontes primárias. Informou ainda que este mito de Falokun foi republicado no livro "Obatala e a Criação do Mundo Ioruba".

Assim, por ora, apesar da conveniência política do mito onde Obatalá inicia a criação, e Oduduwa termina, mantendo assim a harmonia socialde Ilé-Ifé, até que se encontre uma fonte legítima (caso exista, não temos conhecimento) o mito deve ser olhado com reservas. 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

ORIKI DE OGUN

Educa Yoruba postou este vídeo, se trata de um oriki de Ogun. 

Postado em 15/09/2019 acessado em 06/02/2023




TIKTOK ERICK WOLFF