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quarta-feira, 2 de agosto de 2023

MÃE APOLINÁRIA REGISTROS

Este Registro foi publicado no wikifavelas.com.br
Por Luís Gustavo Ruwer da Silva (Preserve Morro Santana)*.
Acessado em 02/08/2023

Mãe Apolinária ‘Picurrucha’ (1912-1957)

Apolinária Mathias Baptista, também conhecida como ‘Mãe Apolinária’, ’ Mãe Currucha’ ou ‘Picurrucha’ foi uma das grandes expressões da religiosidade africana no Rio Grande do Sul (SCHUMAHER e BRAZIL, 2006). Foi uma importante ialorixá (mãe de santo; em iorubá: iyálorìṣa), nascida em 10 de março de 1912 no município de Tubarão (SC) e radicada em Porto Alegre (RS), fundadora da Sociedade Caboclos Amigos - Casa de Umbanda e Batuque de Porto Alegre.

Nascida aproximadamente duas décadas após a abolição da escravidão, sua mãe foi escravizada e fugiu para um quilombo, conta sua filha Marilu Paraguassú (SILVA, 2018), que não se recorda o nome da avó. Apolinária afirmava também ter em suas veias “uma boa porcentagem de sangue indígena” (CORREIO DO POVO, 1959).

*O verbete foi escrito baseado em entrevista realizada pelo autor com Marilú Paraguassú, filha de Apolinária, em 06 de dezembro de 2018.

Sociedade Caboclos Amigos

Picurrucha era adepta da religião de matriz africana, da Nação Nagô-Oyó, da Bacia de Mãe Erminda de Oxum Bolomí, que também era de Santa Catarina. Quando “grande”, foi para Bahia, onde aprofundou seus estudos sobre religião com a conhecida ialorixá Menininha de Gantois (SILVA, 2018). Apolinária compra um terreno em Porto Alegre, no bairro no bairro Mont Serrat, onde fundou a casa de religião afro-brasileira de Umbanda e Batuque conhecida como Sociedade Caboclos Amigos, se tornando uma das mais importantes chefes de terreiro da cidade.

Apolinária era próxima também de Mestre Borel, uma das figuras culturais dentro da cultura de matriz africana mais importantes dentro do RS, um grande ícone da luta do negro no RS compositor, escritor e pesquisador da cultura. Com o tempo, Apolinária, e sua casa do Mont Serrat acabaram ganhando muita fama e atenção do grande público, por conta de suas grandes festas e cerimônias, que frequentemente eram noticiadas em reportagens pela imprensa metropolitana.

Contribuições para ciência e psicanálise

Em 1952, Apolinária abriu seu templo para a pesquisa científica e por conta disso, muitos de seus rituais foram registrados fotograficamente, e as rezas gravadas em fita magnética e acetato. Grandes nomes das ciências e das artes chegaram a participar de suas cerimônias, como o regente e folclorista alemão Fritz Jöde. Muitos psicanalistas observavam suas cerimônias para desenvolver estudos a respeito do “estado de santo”, como Angel Garma, Arnaldo Raskovsy e Ernesto La Plata (CORREIO DO POVO, 1959).

O grande sonho

Para além de sua importância religiosa, Apolinária era conhecida por sua solidariedade e generosidade. Gostava muito de crianças, com quem conversava, brincava e as acolhia em sua casa. Foi mãe de quatro filhos carnais: Maria do Carmo, Marino, Maria Antônia e Marilu. Além disso, chegou a ter cerca de 40 crianças adotivas sob sua guarda. Seu maior sonho era o de construir uma grande instituição de acolhimento de menores abandonados em torno de sua casa de religião. Por conta da visibilidade dos problemas de espaço e buscando concretizar um projeto ambicioso de construir um novo terreiro que também funcionasse como uma instituição de acolhimento, Apolinária comprou quatro terrenos no entorno do Morro Santana, onde hoje se localiza o Jardim Ypu, onde começou a construção de seu projeto (SILVA, 2018).

Um novo terreiro, fora da orla extrema da cidade. Terreiro de tais proporções como talvez não exista outro no Brasil. Enorme área construída, com dois pisos. A sala de dança ritual teria quatorze metros de lado. Ao redor do edifício principal, muitas casas de seus crentes mais chegados. (CORREIO DO POVO, 1959) 
 
O projeto arquitetônico foi concebido pelo Eng. Civil Ênio José Verçosa, que foi convidado por um dos filhos de religião da casa e ficou impressionado com a grandiosidade do projeto. A casa foi levantada com recursos próprios e dos filhos, e a própria família trabalhava na obra, erguendo tijolos e abrindo poços. De acordo com sua filha Marilú, parte da obra já estava “levantada”, onde funcionava na parte de cima o salão de religião. Na parte de baixo, haveriam quartos para acolhimentos de pessoas em situação de rua e crianças (SILVA, 2018).

Comprado o grande terreno de uma empresa imobiliária, abriram e sentaram os alicerces. Para suprir as necessidades de água escavaram um profundo poço Finda a jornada na cidade os fiéis para lá se dirigiam e trabalhavam até a madrugada. Fabuloso movimento de terras, ciclópicos muros de pedra, e as paredes se elevaram pouco a pouco. Puzera a cobertura. Uma laje de concreto dava acesso direto da estrada ao piso superior. Tudo marchava bem. (CORREIO DO POVO, 1959)

Falecimento

Apolinária chegou a viver na nova casa por alguns anos, recebendo muitos filhos de religião, mas não chegou a ver a obra se concretizar. Em 5 de junho de 1958 Apolinária faleceu “do coração”, de acordo com Marilú:


Ela morreu de… Um bicho que ela tava cuidando. Ela tava cuidando de um bicho e morreu. Do coração, bem dizer né? [...] Ah, foi… Muita emoção. Bah, eu chorava que nem sei. Era agarrada com ela. [...] Foi um cavalo que ela tava cuidando, agora eu me lembrei. Ela tava cuidando de um cavalo e morreu.. Era obaluaiê. Ela comprou o cavalo pra mim e o cavalo morreu. (SILVA, 2018)

O jornal Correio do Povo afirma que fora o tétano seu “inimigo mortal”: “Inesperadamente se abate sobre Apolinária um inimigo mortal - Clostridium de Nicolaier. Em outras palavras: o tétano. E tétano alto. Dias depois Apolinária era cadáver.” (CORREIO DO POVO, 1959). Marilú conta que ela chegou a ser hospitalizada, e recebeu muitas visitas, principalmente dos filhos de religião, mas que faleceu “no dia seguinte” (SILVA, 2018).

Em vão o “êru” que os seus filhos fizeram para salvar-lhe a vida, igual àquele, ou talvez mais impressionante, com que a própria Apolinária roubara à morte a velha cardíaca que no dia seguinte dançava na roda louvando os orixás. Em vão. Quando no “erú” já não baixou nenhum santo… esta era a vontade dos deuses. (CORREIO DO POVO, 1959).

“Foi tanta gente no enterro pra mãe” conta Marilu (SILVA, 2018). Seu funeral atraiu uma multidão de filhos e admiradores, que ao som de tambores e agês que ritmavam a dança, carregaram seu caixão. O cortejo foi escoltado por por batedores de polícia, montados em motocicletas. desde o bairro Mont’serrat até o cemitério São Miguel e Almas, na Azenha. “Quase pianíssimo as vozes diziam: ‘Ateté e e’laô. Oia funi banã. Ateté e’laô. Oia funi baña” (CORREIO DO POVO, 1959)

Homenagens póstumas

Após seu falecimento, filhos de santo, simpatizantes e integrantes do movimento negro, em gratidão e homenagem, lutaram pela preservação de sua memória. Moradores do Morro Santana que já haviam sido beneficiado por suas curas e benfeitorias conquistaram a nomeação da principal avenida do Jardim Ypu como Av. Mãe Apolinária Matias Batista

Em 1988, ao lado de nomes como Lupicínio Rodrigues e Tesourinha, Mãe Apolinária foi reconhecida no Calendário Vultos Negros do Rio Grande do Sul, em razão do centenário da abolição da escravatura.

Mais fotos





Referências

SILVA, Luís Gustavo Ruwer. Saída de campo à Casa da Mãe Apolinária, 2018.

“Ogum baixou no terreiro de ‘Mãe’ Apolinária”. Revista do Globo Ano XXVI. 1955. Disponível em https://www.ufrgs.br/biev/texto/mae-apolinaria/

LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. 2011.

Mãe Apolinária - Uma legenda Afro-gaúcha. Jornal CORREIO DO POVO, 14 de junho de 1959.

Mulheres Negras do Brasil. SCHUMAHER e BRAZIL, 2006.

Calendário Vultos Negros do Rio Grande do Sul. Acervo Centro de Memória Mulheres do Brasil. 1988. Disponivel em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=arq_cultura&pagfis=9149

Este vídeo Mestre Borel relata sobre a Mãe Apolinária:

NA CASA DA MÃE APOLINÁRIA 

Neste vídeo o professor e Babalorixá Denis, registra outro endereço de Mãe Apolinária:


Imagens comprobatórias:










sexta-feira, 29 de abril de 2022

ORIXÁ DA MÃE RITA CHEGA EM PLENO DIA

Por Erick Wolff de Oxalá

Postado em 29/04/2022, revisado e aumentado em 01/05/2022 às 10:27

Mestre Borel

O extrato de vídeo abaixo registra um depoimento do Mestre Borel, que relata o orixá da Mãe Rita*, chegando as 13 horas da tarde, em pleno dia, para falar com ele. 



O vídeo completo pode ser encontrado aqui - https://youtu.be/ftjdoUEC4b0

 


Informação da mãe Rita do Aganju: *Mãe Rita do Aganju, filha de Jauri de Oxum Fun Mike, tradição Ijexá Puro.

Imagem comprobatória:


 

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

ALINHANDO OS CONCEITOS DOS TERREIROS BATUQUEIROS

Erick Wolff de Oxalá

Sacerdote de orixá desde 1989, na tradição do Batuque do Rio Grande do Sul.

Porto Alegre, 23/09/2021



(Figura 01)


Este ensaio tem por finalidade pontuar os conceitos e finalidades que envolvem os templos afro religiosos da religião Batuque do Rio Grande do Sul. 

Resumo

Os terreiros Batuqueiros afro-brasileiros possuem um papel importante para a sociedade brasileira e para a própria diáspora do Batuque, dos países vizinhos aos quais esta religião se instalou.


PONTUANDO AS DIFICULDADES

A busca do conhecimento e fundamentos

Entre as dificuldades, se destaca a cultura, que aqueles indivíduos que não tiveram oportunidade de ter acesso ao que o Batuque pode oferecer através das suas famílias religiosas, acabam por procurar em outras religiões este conhecimento, dando origem a pratica da dupla pertença, em sua maioria dando início a novas religiões misturando um pouco de cada religião, ou tudo.

Esta mistura acaba descaracterizando o Batuque perdendo sua identidade, e ao usar elementos do Candomblé como adjas, fios de contas que não são tradicionais do Batuque, roupas, panos de cintura e etc..., como cita Alexandre Custódio em "O costume do Belo", estes indivíduos ficam entre dois mundos e não praticam corretamente nem um nem outro culto, apenas usando indumentárias de outras religiões sem o devido fundamento; mas questionam quando os fios de contas do Batuque e suas indumentárias acabam sendo usadas por outras religiões como Quimbanda ou Umbanda os adeptos do Batuque sempre contestam e não aceitam.


Idioma e cantigas

Em destaque a perda do idioma, que conforme relata o Onilu (tamboreiro) Antônio Carlos neste fragmento de uma entrevista:

[...] A língua que nós falamos, é uma língua afro-brasileira.... entendeu?... por que um exemplo que eu vou dar... (cantando)... antigamente era diferente.... (cantando)... então as pessoas de hoje teria uma dificuldade para desenvolver na língua... entendeu?.... então o qui que aconteceu nesse.... facilitaram mais... entendeu?... não tão afro puro [...]

Notamos pelo relato que em determinada época, os mais velhos que sabiam o idioma foram morrendo, ficando os mais novos com dificuldade, e foram “melhorando”, quer dizer, não sabiam, e o "melhorar" nada mais foi que destruir as orin (cantigas), criando o suposto "ioruba arcaico" de hoje, que muitas palavras são misturas de gírias do nosso idioma com algumas palavras ioruba, que geralmente não fazem sentido. 

Os maiores problemas se encontram nas orin, que não formam uma frase completa ou com sentido, com isso as supostas traduções não possuem validade alguma. Pois cada Onilu canta na melodia, mas usa palavras diferentes para cada cantiga das cerimonias do Batuque, ou seja, não é a mesma cantiga nem que tente copiar.

Vale ressaltar que recentemente alguns onilu introduziram orin do candomblé no Batuque, não se sabe o porque. Da mesma forma quando o mestre Borel viajou para o nordeste para dar aula de tambor, tocando e ensinando as cantigas do Batuque aos candomblecistas, que possivelmente cantam as cantigas do Batuque nos terreiros de Candomblé, sendo assim, atualmente adeptos do Candomblé ao ouvir as nossas orin pensam que são de origem Candomblecista.
    

Registros do Mestre Borel ensinado toques de tambor e cantigas

O onilu do Batuque Borel de Xangô participou de várias edições do Alaiande Xire, encontro nacional de ogãs, onilus e tamboreiros organizado por Roberval Marinho e Cleo Martins, ambos filhos do Ile Axé Opô Afonja. 

(https://pt.wikipedia.org/wiki/Alaiand%C3%AA_Xir%C3%AA)

Nestas ocasiões ele teve a oportunidade de apresentar as cantigas do Batuque para os ogãs do candomblé, inclusive dentro do próprio Opô Afonja. (Informação pessoal de Aulo Barretti Fº, apud, Luiz L. Marins).

Figura 2

Figura 3

Figura 4

Observação, na figura 2, o onilu mestre Borel é referenciado como representante do Candomblé, na verdade em momento algum nas imagens 2, 3 e 4, citam que ele pertencia ao Batuque. 


Cantigas para folhas

Com a dificuldade do idioma, encontramos alguns equívocos, como cantar para Odé (caçador) uma cantiga que soa a palavra "Mi n' eró, mi n' ero Odé" que se transformou em Omiero de Odé, sendo que nas transcrições do livro Axés dos Orixás do Rio Grande do Sul, se cantava assim:

[...] 

- mineró mineró Odé mineró Odé o

[...] (pág. 47)

A questão de ressignificar, é preciso esclarecer que não é a mais cantiga original, neste caso não seria problema, mas ao mudar a orin para Omiero, para ser usada no ritual de Omi ero (água calmante) para macerar ervas para banhos ou rituais para lavar a cabeça e iniciações, transforma o ritual exclusivo para Odé para todos do terreiro.

O mesmo ocorre ao cantar para Ossanhe, onde todo o ritual pertenceria a este orixá, independente dele ser uma divindade que manipula as ervas.  

Entendemos que ao colher ervas devam ter cantigas exclusivas para isso, a menos que a erva seja para ritual exclusivo de determinada divindade, neste caso canta-se para a divindade que será feito o ritual. Assim também ocorre com a maceração de ervas onde necessita de uma cantiga exclusiva para macerar, ou, no caso de ser um banho ou água de axé para determinada divindade, canta-se para ela.


O Tabu da ocupação

A manifestação das divindade pelo nossos registros sempre foi mantida em segredo pelos adeptos, evitando assim comentar para as pessoas que estão com seus orixás manifestas, ou, até mesmo fotografar. 

Entendemos que o Tabu da ocupação ajudou a preservar as semelhanças do comportamento das divindades com a sua origem nas terras Ioruba, pois, conforme poderemos ver neste artigo, os orixás do Batuque dançam e se porta muito semelhante a Oya no festival de oyo, Nigéria: 

https://iledeobokum.blogspot.com/2021/06/orixa-oya-na-religiao-tradicional-ioruba.html 

E ao mesmo tempo que o tabu da ocupação preserva os ritos e os orixás, para que não caiam nas mídias sociais e sejam alvo de pessoas maliciosas e mau intencionadas. 

Pelo que relatam os antigos, o Tabu da ocupação teve início lá no inicio onde mulheres e homens da corte ao frequentar os toques acabaram entrando em transe e a divindade manifestando, para que estas pessoas pudessem voltar e não abandonarem por motivos particulares ou medo, não contavam e assim ficou até os dias de hoje. Outra versão do Tabu da ocupação é para evitar que os filhos abandonem a religião pelas provas e testes de fogo, dendê ou mel fervendo que são feitos secretamente ou abertamente em dias de toques ou festas. 


Axé de fala

O axé de fala do Batuque é uma ritualística que o orixá passa por vontade própria, quando convidado pelo orixá da casa ou pelo Babalorixá/ Iyalorixá para que seja apresentado para a comunidade e a partir deste momento possa falar com qualquer pessoa quando necessário, ou tire orin nos toques ou em rituais. 

No Candomblé, na saída o orixá, irá falar o nome dele e dar o seu "hun be" (uma espécie de berro ou lamento) que ao chegar ou durante o transe emitem. O orixá do Candomblé não tem permissão de fala e não o faz como os orixás do Batuque ou na tradição Ioruba, na Nigéria.


Comidas dos orixás

As comidas de orixás do Batuque possuem identidade culinária e padrão, muitas delas se assemelham as que são feitas em terras iorubas como:

O Akassa (Eko):  

https://iledeobokum.blogspot.com/2020/05/omiidun-eko-ogi.html

O Amalá de Xangô de Oyo, Nigéria que é muito semelhante:  

https://iledeobokum.blogspot.com/2020/12/amala-de-xango-em-oyo.html

Entre outras comidas e bebidas que poderemos encontrar nos costumes da tradição ioruba que facilmente acharemos semelhança com os feitos no Batuque tradicional. 


Consultas e oráculo

O jogo de Búzios do Batuque originalmente usa 8 búzios, e Solomon informa que Ekiti, sacerdotes de Oxalá jogam com 8 búzios. 



Tradução online: 

 

"Solomon Omojie-mgbejume Jeff Gonzalez verdade. Você se lembra de dez kolanut lançando quando egbe estava sendo feito ib ilaro?
Em algumas áreas em Ekiti, sacerdotes Oxalá usam 8 búzios também."


O jogo tradicional do Batuque é baseado no orixá, através do jogo de búzios é feita a consulta, em momento algum usa-se ou necessita de odu (registros de signos de ifá ou orixá); sabemos que nem todos orixás na tradição Ioruba usam ou necessitam de odu. Veja o caso do povo de Obá:



Raspagem da cabeça

Nem todos os orixás necessitam raspar, entre eles Oxóssi e Ogum não raspam na tradição Ioruba, desta forma, o Batuque não precisa e nem raspa.

Baba Zarcel informa (apud Marins, 2017) que nem todos necessitam raspar, e completa que tem pessoas que não devem raspar, veja a seguir entre trecho:

[...] 

A raspagem do cabelo não é um ritual obrigatório. É dos vários rituais que podem ou não acontecer durante uma iniciação. Inclusive, existem pessoas que não podem raspar a cabeça, como alguns filhos iniciados para Xangô, não todos. Mulheres que tem determinado odu Ifá, como por exemplo, Oxé Meji, que proíbe ter cabelo curto assim igual ao meu, e orienta a pessoa ter cabelo grande. Então, não se raspa. [...] 

O ato de raspar é necessário para que seja colocado o idosu, um preparado que contem vários componentes sagrado para feitura do orixá, neste caso, somente os iniciados para aquele orixá participam e o sacerdote deverá ser do mesmo orixá ao qual o iniciado. 

No entanto, nem todas as divindades tem o idoxú em suas feituras, caso de Ogun, por exemplo (Paula Gomes, Oyo Alaafin). 

No Brasil, o Candomblé, na sua ritualística possui a tradição de raspar, no entanto o idosu do candomblé é um idosu casa da casa de axé, e não do orixá, pois, diferente da tradição ioruba, várias pessoas de outros orixás manipulam o novo idosu que está sendo iniciado, não possuindo nenhuma ligação com a divindade do noviço que está sendo iniciado, exceto o axé da casa a qual o iniciado esta sendo feito. 


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Batuque possui conhecimento e cultura, passado por sacerdote responsáveis que pertencem a casas tradicionais do Batuque. 

O idioma e as cantigas necessitam de maior atenção e carinho para que os batuqueiros possam resgatar o que perderam. 

Muitas cantigas do Batuque foram ensinadas pelo mestre Borel e por outros mestres batuqueiros, para o Brasil, desta forma é normal que outras religiões possam estar cantando algumas orin do batuque no candomblé, assim como também houveram tamboreiros que introduziram cantigas do Candomblé no Batuque. 

Cantigas para folhas e rituais necessitam atenção, ou corremos o risco de estar fazendo rituais para outros orixás em nossas iniciações.

O Tabu da ocupação e o axé de fala são fundamentos do Batuque, da mesma forma que não há necessidade de raspar, sendo que nem todos orixás raspam e nem levam idosu. 

O jogo de búzios do Batuque não usam e nem precisa de odu, e pode orientar em todos os momentos e problemas dos seres humanos. 


Bibliografia 

VERARDI, Jorge, Axés dos Orixás no Rio Grande do Sul, Impresso no Brasil, edição 1990.


Referencias 

BARRETTI Fº, Aulo - Pagina pessoal no wordpress. 

https://aulobarretti.wordpress.com/ 


MARINS. Luiz L. - Pagina pessoal no wordpress

https://luizlmarins.wordpress.com 


MARINS. Luiz L., OGAN, EKEDI E O ATO DE RASPAR: BABA ZARCEL FALA SOBRE OS COSTUMES DA RELIGIÃO TRADICIONAL IORUBA, REVISTA OLORUN, n. 56, 2017.

WOLFF. Erick, CONSIDERAÇÕES SOBRE REALINHAMENTO DOS RITOS AFRO-BRASILEIROS, NA TRADIÇÃO BATUQUE DO RS, acessado em 22/09/2021 as 18:44

https://iledeobokum.blogspot.com/2020/07/consideracoes-sobre-realinhamento-dos.html?m=1 


CUSTÓDIO. Alexandre, O COSTUME DO BELO, OS NOVOS ELEMENTOS INTRODUZIDOS NO BATUQUE, REVIST, revista OLORUN, n. 57, janeiro de 2018.

https://luizlmarins.files.wordpress.com/2019/06/o-costume-do-belo-os-novos-elementos-adicionados-ao-batuque.pdf

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