Mostrando postagens com marcador oya. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador oya. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

PESQUISA DE CAMPO VIRTUAL: A MÃE EVA DO OSSANHE

Ensaio, publicado na comunidade Nação Kambina do RS, em 26/09/2024, acessado em 03/10/2024.
Abrimos esta publicação com intuito de pesquisa de campo virtual de mãe Eva de Ossanhe, para estudo da sequência da imperial desta família. 

A seguir: 


ERICK WOLFF
"Pesquisa de campo, para estudo e memórias do Batuque, segmento Kambina (atualmente conhecida por Cabinda) fundada por pai Waldemar.
Por gentileza, alguém sabe informar "a" sequência da Imperial da família da mãe Eva de Ossanhe (falecida) de Caxias do Sul?"

 

COMENTÁRIOS

 

"Henry Mello

Se entendi bem a pergunta a sequência é: Bará, Ogum, Iansã, Xangô, Odé, Otin, Obá, Ossanha, Xapanã, Oxum, Iemanjá e Oxalá.


Sadi de Bará

Sou neto da finada mãe Eva... Então para mim foi passado pelo meu finado pds que p nós vinha pai ossanha antes de mãe obá. E assim eu sigo ... Só fiz diferente em breve passagem após falecimento de meu pds quando fez 5 anos busquei outra bacia de raiz de finado pai cleon onde era diferente . Aliás várias coisas e fundamentos diferentes . Na época não tinha condições ainda de governo optei me ligar a outra pessoa . Mas hoje tento resgatar tudo de meu finado pai.


Sadi de Bará

Uma coisa para se saber bem os fatos tem dois caminhos .. falando em relação a finada vó Eva .

Primeiro buscar saber com pessoas vivas hoje e que foram filhos dela QUAL FOI O TRAJETO QUE MAE EVA VIVEU NA RELIGIAO exemplo.. ela quando filha de pai ONOFRE DE YEMANJA grande pds qual era sua bacia e fundamentos quais influências ele carregava e depois quando foi para mão de finado pai Hélio de xangô e tudo mais.. para se entender teve algumas influências que não vou citar aqui as quais umas ele absorveu e outras de outra bacia ele manteve ...

Segunda maneira é buscar saber com pai 

Antonio Cesar que era filho carnal de pai ONOFRE e está bem vivo e lúcido para relatar tudo pois ele vivenciou toda essa história e seus desdobramentos dessas pessoas mais antigas .

Só para contribuir !


Sadi de Bará

[Erick Wolff] mas aí que está .. oque falei acima tinha algumas coisas que eles mantinham de herança de pai ONOFRE pois ela passou a ser Cabinda após a ida de pai ONOFRE p a mão de pai Hélio.. mas parece que ele não se adotou bem e não permaneceu mas mãe Eva deu continuidade até mesmo as coisas era feitas mais ao lado de Cabinda quando pai Hélio os visitava etc kkkkk


Erick Wolff

[Ronaldo De Aganjú] mas, se ele foi filho da mae Eva, e ambos eram Kambina, por que ele teria o feito o fio conforme a sequencia Oyo igbomina , se ele era filho antigo dela e não teve outro sacerdote ou sacerdotisa.


Sadi de Bará

[Italo Sidnei Gomes de Oliveira] contribuindo tio Italo eu conservo aqui como pai jusa me passou mãe obá antes de pai ossanha e ele me explicou a questão da influência na época do oyo .. e assim mantenho


Erick Wolff

[Odilon Maciel]

bom dia meu querido, o irmão conheceu o Silvio de XAPANA e a imperial dele seguia uma sequência diferente, mas usava Ogun verde e vermelho e azulão como a sua e para Oyá o marrom, saberia qual seria o motivo destas cores?


Odilon Maciel

Não sei mesmo , nos sempre usamos nesta sequência e cores, azulão para o Ogun, e verde vermelho Avagan. Iansa na verdade é o grená ( cor de telha) que se assemelha ao marrom , na falta usamos o marrom por ser parecido e marrom e vermelho para Diram ou timboa..... mas como diz meu irmão Tite ( italo) só ele mesmo pra responder , mas o irmão tbm conheceu o Silvio em São Paulo, não?


Erick Wolff

[Odilon Maciel] sim conheci em SP, a muitos anos.

Retornando ao tema, muito interessante a informação da cor telha para Oyá, saberia informar se esta tradição vem pai Hélio ou pai Onofre?


Odilon Maciel

Quando me aprontei com a mãe Eva a 29 anos atrás e ela já estava nas mãos do pai Hélio de Viamao, meus irmãos mais velhos saberão lhe dizer, mas acredito que o pai Onofre que era Cabinda tbm usava a mesma sequencia, mas vc conheceu o Silvio tem coisas que ele mesmo fazia por sua conta e risco, pois no entendimento dele era assim. Mas como ele não está aqui para explicar ... fica assim


Erick Wolff

[Odilon Maciel] obrigado mais uma vez pela gentileza de responder, quanto as cores dos orixás, se ambos eram Kambina, sendo que o pai Hélio vinha da família do pai Tati, interessante saber, qual família o pai Onofre pertencia?


Odilon Maciel

Meu irmão querido , não sei te responder mas meus irmãos mais velhos que participaram desta época podem te esclarecer, porém em meu humilde conhecimento, Pai Hélio, era filho do pai Adão do Bara, que por sua vez era filho do pai Romário do pai Oxala, que por sua vez era filho de Madalena da Oxum e por sua vez era de Waldemar me corrija se eu estiver errado pois pra mim esta do pai Tati é novidade


Fernanda Pandolfo

[Odilon Maciel] Boa tarde meu irmão ,estou aqui para assinar em baixo de suas sábias palavras , mãe Eva era filha de pai Onofre de Iemanjá ,migrando para a bacia de pai hélio de xangô de Viamão que por sua vez filho de pai Adão do Barã que por sua vez neto de pai Romário,de encontro com a imperial de pai Silvio de xapanã ,temos em conta que ele fazia coisas aleatórias aos fundamentos a ele passado ,sendo que muitos costumes do tempo de pai Onofre , mãe Eva continuou a preservar assim como pai Onofre que também foi para bacia de pai hélio ,sou filha de mãe Eva feita por ela a mais de 40 anos ,também filha e neta de pai hélio a quem sentou meu lodé e desconheço dele ser filho de pai Tati ,espero poder ter reforçado suas palavras meu irmão querido.


Erick Wolff

[Odilon Maciel] estes dias eu mapeei a família do pai Hélio, segundo registros ele seria filho do pai Tati de Bará.

Sobre ser da família do pai Romário, podemos confirmar com a família mãe Nara Almeida ou mãe 

Mary Faleiro que podem nos ajudar


Erick Wolff

**** ATENÇÃO

O intuito desta pesquisa é contar as memórias e história do Batuque, não desejamos normatizar nem julgar certos ou errados, porém, registrar os costumes e tradições do Batuque, com a finalidade do Batuque ser respeitado por outros segmentos e para os nossos descendentes terem a oportunidade de recontar a nossa história para seus descendentes


Erick Wolff

[Sadi de Bará] grato nobre amigo, temos que contar a história para que outros segmentos respeitem o Batuque.


Odilon Maciel

Babá [Erick Wolff] sei de todo seu esforço admirável em resgatar e documentar os fatos, a não ser que não estejamos falando da mesma pessoa, sua pesquisa deve estar equivocada.

O Pai Hélio de Xango , nascido em Caxias pai da mãe Eva deu suas primeiras obrigações com a mãe Dionísia de Odé e depois foi para Miguelina do Xangô e com o falecimento dela foi para a mão do pai Adão do Bará! Pesquisa ai


Erick Wolff

[Odilon Macielon] querido, como disse, são pesquisas, segundo informações, inclusive neste vídeo os descendentes falam que ele iniciou na mãe Dioniza do Ode depois foi para a mãe Miquelina Xangô e após pai Adão do Bara.

No entanto, outra fonte informou que ele teria se iniciado ou passado pela família do pai Tati do Bara, como o meu trabalho é coletar informações não julgo apenas registro.

Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=Q5HBinIzRys 


Erick Wolff

Sadi de Bará grato pela contribuição, por gentileza, não ficou claro, em qual momento seria esta influência de Oyo e por que?


Odilon Maciel 



 Erick Wolff

Por gentileza, ainda não ficou claro se pai Onofre era Kambina ou Oyo, e neste caso, por que Ogun e Oya mudam de cor?

Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "Odilon Maciel Quando me aprontei com a mãe a 29 anos atrás e ela já estava nas mãos do pai Hélio de Viamao, meus irmãos mais velhos saberão lhe dizer, mas acredito que pai Onofre que era Cabinda tbm usava a mesma sequencia, mas VC conheceu o Silvio tem coisas que ele mesmo fazia por sua conta e risco, pois no entendimento dele era assim. Mas como ele não está aqui para explicar... fica assim"


Erick Wolff

[Thiago Oliveira] grato pela informação, por gentileza, a cor na família de mãe Miguela, seria de Ogun é azulão ou verde e vermelha e para Oyá marrom?


Erick Wolff

DURANTE A PESQUISA SURGIU UMA DÚVIDA

Segundo a família, mãe Eva teve foi filha de pai Onofre, que pelo que informam tbm seria Kambina, depois foi para a mão do pai Helio que também é Kambina... E mostraram que mãe Eva dava marrom para Oya, e também Azulão para Ogun, estas cores seria comum na Kambina?


Diego da Rosa

[Erick Wolff] sua benção! Aqui usamos Marrom e vermelho para Timboá, branco e vermelho para demais oyás! Azulão, verde e vermelho para Adiolá, demais Oguns usamos verde e vermelho


Erick Wolff

Bençãos trocadas [Diego da Rosa], interessante a sua informação, vocês são descendentes do pai Henrique da Oxum, né?


Diego da Rosa

[Erick Wolff] isso! pai Nado tbm usa essas cores! Não me recordo se a dirã ele usa vermelho e marrom tbm 


Erick Wolff

Por gentileza baba [Diego da Rosa], qual a família do pai Nado?


Diego da Rosa

[Erick Wolff] Pai Silvio da Oxum, pai Silvio filho da Vó Quina de Iemanjá, Vó Quina filha do pai Romário! 


OBSERVAÇÕES

Conforme observamos que:
Há famílias da Kambina, que adotam a cor marrom com vermelho para Atimbowa.
Há famílias da Kambina, que adotam a cor marrom, inclusive para as Oya que ficam dentro do quarto de orixá.
Há famílias da Kambina que adotam a cor vermelho e branco para as Oyas que cultuam, incluindo a Oya Atimbowa.
 
REFLEXÕES

Existe uma divergência na cor usada para Oya Atimbowa, numa mesma família religiosa, por isso, buscamos referência em Oyo, na Nigéria, com o intuito de chegarmos a pontos comuns entre a Matriz ioruba e a diáspora Afro-brasileira.

Importante destacar que o Oyo do Batuque não representa Oyo, na Nigéria, porem, podemos encontrar elementos da matriz Oyo, nos segmento Jeje, Ijesa, Oyo e Kambina do Batuque.

Possivelmente a mudança da cor de Oya Atimbowa, possa ter influência do livro do Paulo Tadeu, que não fica claro por que ele cita apenas a cor vermelho e branco para a Atimbowa, sendo que na própria família do pai Waldemar existem descendentes que usam marrom com vermelho, enquanto outros usam vermelho com branco.

Considerações 

Não foi possível determinar com a qual original de Oya Atimbowa.
O marrom é a cor predominante que vemos as elegun de Oya usarem em Oyo, na Nigéria.








Imagem comprobatória:











 

sexta-feira, 21 de junho de 2024

ÒRÌṢÀ ỌYA: A CASA SAGRADA DA RAINHA DOS VENTOS NA NIGÉRIA; IRÁ NI’LÉ ỌYA- ANÁLISES

Texto publicado no blog The Ancestral News, em 21/06/2024.

"ÒRÌṢÀ ỌYA: A CASA SAGRADA DA RAINHA DOS VENTOS NA NIGÉRIA; IRÁ NI’LÉ ỌYA- ANÁLISES 

Por ADEYINKA OLAIYA

Òrìṣà Ọya, também conhecida como Yansãn ou Iansã , é uma das divindades mais reverenciadas na religião tradicional Yorùbá. Ela é a deusa dos ventos, tempestades e transformação, possuindo uma personalidade poderosa e multifacetada. Como guardiã dos cemitérios e dos mortos, Oyá também é vista como uma divindade que governa a transição entre a vida e a morte.


Segundo a mitologia Yorùbá, Ọya é originária da cidade de Ira, no atual estado de Kwara, Nigéria. Ela é amplamente conhecida como a esposa de Sango, o deus do trovão e dos raios. Oyá é frequentemente associada ao rio Níger, conhecido em Yorùbá como Odo Oyá, e muitos dos seus mitos estão centrados em sua relação com este rio e com Sango.


Ọya é uma divindade complexa que incorpora aspectos tanto benevolentes quanto malevolentes. Ela é imprevisível, mas sempre busca manter o equilíbrio cósmico, uma característica fundamentalna percepção Yorùbá do universo. Como deusa dos ventos, ela é capaz de controlar os elementos da natureza, trazendo tanto destruição quanto renovação.


Ela é também associada ao fogo e é conhecida por sua coragem e força em batalhas. Sua habilidade de invocar ventos poderosos e tempestades a torna uma protetora formidável contra inimigos e forças malignas. Em termos de simbolismo, Oyá é frequentemente representada com o búfalo, que simboliza sua força e poder.


Irã é uma cidade histórica e sagrada para os seguidores da religião Yorùbá, situada no estado de Kwara, na Nigéria. Este local é venerado como a casa de Oyá, onde ela viveu e estabeleceu sua influência. Irã não é apenas uma cidade geográfica, mas um centro espiritual onde os devotos de Oyá se reúnem para honrar e celebrar sua divindade.


A cidade de Irã tem uma rica história que está intimamente ligada à mitologia de Oyá. Segundo as tradições orais, Oyá escolheu Irã como sua residência devido à sua localização estratégica e sua capacidade de controlar os ventos e tempestades da região. Irã tornou-se um centro espiritual e cultural para os devotos de Oyá, atraindo peregrinos e seguidores de todas as partes do território Yorùbá.

 

Ọya viveu na Terra como humana na cidade de Ira, no atual estado de Kwara, Nigéria, onde foi esposa do Alaafin de Oyo, Ṣàngó . Em Yorùbá, acredita-se que o nome Ọya derivado da frase “ọ ya”, que significa “ela rasgou”, referindo-se à sua associação com ventos poderosos. Ela é frequentemente retratada como um búfalo na poesia tradicional e acreditava-se que tinha o poder de se transformar em um búfalo. O búfalo-africano serve como um símbolo importante de Ọya, e é proibido que seus sacerdotes matem um búfalo. Ela é conhecida como Ọya Ìyáńsàn-án, a “mãe de nove”, por causa dos nove filhos que deu à luz com seu terceiro marido, Oko, após sofrer uma vida de esterilidade. Ela é a patrona do rio Níger (conhecido pelos Yorùbá como Odò-Ọya).


Na religião Yorùbá, Ọya foi casada três vezes, primeiro com o Òrìsà guerreiro Ògún depois com Ṣàngó e, finalmente, com outro Òrìsà da caça e da agricultura, Oko.


Ọya era tradicionalmente cultuada apenas nas áreas de território Yorùbá que estavam sob o controle e influência do império Oyo. Por causa do tráfico atlântico de escravos, muitos de seus seguidores de origem Oyo foram sequestrados e vendidos para o Novo Mundo, onde seu culto se tornou difundido. O culto a Ọya também se espalhou para outras partes de Yorubaland.


Irã é considerada uma cidade sagrada devido à sua associação direta com Oyá. Os devotos acreditam que a energia de Oyá permeia o local, tornando-o um ponto de contato direto com a deusa. Os rituais realizados em Irã são considerados altamente potentes, e muitos vêm de longe para realizar oferendas e buscar as bênçãos de Oyá.


O título “Onírá” é conferido a Ọya em reconhecimento à sua soberania sobre Irã. Este título, que significa “Senhora de Irã,” destaca a importância de Ọya não apenas como uma deusa dos elementos naturais, mas também como uma figura de liderança e autoridade espiritual na comunidade de Irã.


Como Onírá, Ọya é vista como a protetora e guardiã de Irã. Este título reforça sua conexão com a terra e seu papel em manter a ordem e a harmonia na comunidade. Os devotos de Oyá respeitam profundamente este título, que simboliza a interseção entre o poder divino e a governança humana.


Em Irã, diversos rituais e celebrações são realizados para honrar Oyá como Onírá. Estes incluem:


Rituais de Purificação: Cerimônias que utilizam os elementos de vento e água para purificar os participantes e afastar energias negativas.

Dança dos Ventos: Uma dança tradicional que imita os movimentos dos ventos e tempestades, simbolizando a presença de Oyá.

Oferendas: Itens como frutas, flores, e objetos de metal são oferecidos a Oyá em altares dedicados a ela.

A vida em Irã é profundamente influenciada pela presença espiritual de Oyá. A cidade é organizada em torno de práticas culturais e religiosas que refletem a devoção à deusa. Os habitantes de Irã vivem em um estado de constante reverência e respeito pela natureza, conscientes de que cada fenômeno natural é uma manifestação da vontade de Oyá.


A arquitetura de Irã é projetada para refletir a sacralidade do local. Muitas estruturas possuem símbolos de Oyá e são orientadas para maximizar a interação com os elementos naturais. Templos e altares dedicados a Oyá são comuns, servindo como locais de adoração e comunhão espiritual.


A comunidade de Irã é conhecida por sua forte coesão e compromisso com as tradições ancestrais. Festivais, reuniões comunitárias e práticas rituais são centrais para a vida cotidiana. A transmissão oral de mitos e histórias sobre Oyá é uma prática comum, assegurando que a nova geração continue a honrar e venerar a deusa.


A veneração de Oyá não está confinada apenas à Nigéria. A diáspora africana levou as tradições de Oyá a muitas partes do mundo, incluindo o Brasil, Cuba e os Estados Unidos. Em cada um desses locais, Oyá é reverenciada de maneiras que combinam elementos tradicionais Yorùbá com influências locais.

No Brasil, Oyá é conhecida como Iansã no Candomblé, uma religião afro-brasileira que incorpora muitas tradições Yorùbá. Iansã é uma figura central no Candomblé, onde ela é invocada em rituais e festivais que celebram sua força e poder. Similarmente, na Santeria cubana, Oyá é uma das orixás mais importantes, com muitos devotos que buscam sua proteção e bênçãos.


Festivais como o Dia de Iansã no Brasil e outras celebrações em Cuba e nos Estados Unidos demonstram a persistente influência de Oyá na diáspora africana. Esses eventos são marcados por danças, músicas e rituais que mantêm viva a conexão com as raízes Yorùbá.


Oyá, com sua casa em Irã e seu título de Onírá, representa uma figura de imensa importância na religião tradicional Yorùbá. Sua influência vai além dos ventos e tempestades, penetrando profundamente na vida espiritual e cultural de seus devotos. Irã, como casa sagrada de Oyá, é um centro espiritual onde a conexão com a deusa é mais intensa, simbolizando a união entre o divino e o humano. A veneração de Oyá na diáspora africana demonstra a resiliência e a adaptabilidade


A história de Ira, localizada na atual Área de Governo Local de Oyun, no estado de Kwara, Nigéria, teve início em Ira-Fere, fundada por Laage. O local de “Ira-Fere” fica a cerca de três quilômetros da atual Ira e é acessível por uma estrada que se desvia de uma colina chamada Kereloriaje, aproximadamente um quilômetro e meio da Ira atual, no caminho para Ofa.

Como muitas outras antigas cidades e vilas Yorubá, não há uma data específica de sua fundação. No entanto, ao considerarmos que Oya, a famosa esposa de Sango, o quarto Alaafin de Oyo, veio desse lugar, percebemos que é um assentamento Yorubá muito antigo. Sem a história de Ira, a história dos Yorubá não estaria completa.


A tradição nos informa que Laage, filho de Laru, o fundador de Ira-Fere, veio de Oyo. Ele era um guerreiro e caçador. Foi durante uma expedição de caça que ele se estabeleceu no local, que posteriormente foi chamado de Ira-Fere. O nome Ira-Fere surgiu devido ao uso de poderes mágicos por Laage para desaparecer (ra) e reaparecer subitamente. Sempre que ele não era encontrado em sua cabana, as pessoas diziam “O ra fere ni, o feree yoju na” (Ele acabou de desaparecer, ele logo reaparecerá). Daí surgiu o nome “Ira-Fere”.


Quando Oya deixou Oyo após a morte de Sango Alaafin, ela decidiu retornar ao seu local de nascimento, Ira-Fere. Foi um evento triste para o povo de Ira-Fere, pois eles não sabiam qual seria o destino de Oya após a morte de Sango. Houve histórias de que Oya havia deixado Oyo, mas ninguém sabia exatamente para onde ela foi ou qual caminho tomou.


Demorou algum tempo até que os caçadores encontrassem um local a cerca de um quilômetro e meio do atual Ira. Os caçadores e outros anciãos que mais tarde foram ao local notaram que os pertences ao redor de um buraco pertenciam a Oya e concluíram que “Ibi ti Oya ra si niyi” (Este é o lugar onde Oya desapareceu). Oya foi deificada e se tornou um objeto de adoração.


Laage vinha de Ira-Fere para adorar Oya no local onde ela desapareceu, e um santuário foi construído lá. A área é conhecida como “Igbo Oya” (Bosque de Oya) até hoje. Quando Laage ficou muito velho e a distância entre Ira-Fere e Igbo-Oya tornou-se excessiva para ele, ele consultou seu povo e se mudou para o local atual, que não fica longe de Igbo Oya. “Fere” foi retirado do nome do lugar que eles deixaram, e “Ira” é mantido até hoje.


Ira compartilha fronteiras com Ekosin e Iyeku no estado de Osun e com Iresadu no estado de Oyo. Ira também faz divisa com a Área de Governo Local de Asa, no estado de Kwara, em Aboto. Existem muitas aldeias nas terras de Onira. Em vários momentos da história, Onira concedeu permissão a pessoas de diversas partes da terra Yorubá para se estabelecerem em suas terras. Entre as aldeias estão Inaja Alaro, Inaja Maliki, Ahogbada, Sanni Ode, Bakin, Asaoye, Egbejoda e Ago Owode. Portanto, Onira é o dono dessas terras.


A deusa das tempestades e dos ventos, Oya, possui uma identidade dupla, como muitas outras divindades. Ela é ao mesmo tempo humana e espiritual, sendo seu nome completo Oya Akanbi. Tanto a história quanto a mitologia concordam que Oya foi uma nativa de Ira, uma pequena cidade próxima a Offa, no estado de Kwara, Nigéria. Como deusa, ela pode ser tanto benevolente quanto malévola, sendo extremamente imprevisível, mas sempre buscando manter o equilíbrio, um aspecto crucial na visão cósmica Yorùbá (Gleason 1987).


Acredita-se que Oya tem poderes de cura e magia (oogun), adquiridos de sua família materna na terra Nupe (Ile Tapa), do outro lado do rio Níger (Odo Oya). Esses poderes enigmáticos fazem dela uma figura poderosa, descrita na língua Yorùbá como “obinrin okunrin bi,” que significa “uma mulher como um homem.”



Oya combate com raios, assim como seu marido terreno, Sango. Mentirosos e ladrões temem seu santuário, pois ela os enfrenta de maneira decisiva; por isso, é considerada uma guardiã da moral na comunidade. Além disso, Oya concede filhos e riqueza aos seus devotos, protegendo-os de todos os perigos.


Os filhos de Oya recebem nomes como Oyabunmi (dom de Oya para mim), Oyafunke (Oya cuida de mim), Oyafemi (Oya me ama) e Oyawale (Oya retorna para casa)."


 

Imagem documental


 

Fonte https://ancestrals.com.ng/2024/06/21/ori%E1%B9%A3a-oya-a-casa-sagrada-da-rainha-dos-ventos-na-nigeria-ira-nile-oya-analises

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

MÃE EMILIA DA OYÁ LADJÁ.

Revisado e aumentado, contém atualizações no corpo do texto.

Pelo bem da ciência e preservação da memória do Batuque do Rio grande do Sul, registramos uma postagem da página do Jornal do Batuqueiro e o artigo científico do Bolivar, que coleta informações da Mãe Emília de Oya Laja.  Vejamos a seguir:


Postado em 01/12/2022 acessado às 8:06 h


"MÃE EMILIA DE IANSÃ OIA LAJÁ
QUEM FOI EMILIA AFFONSO ARAÚJO?
Em 2020 em uma pesquisa encontro uma publicação de um ESTATUTO DA SOCIEDADE RELIGIOSA BENEFICIENTE AFRICANA em um jornal de Porto Alegre (A Federação, 4 de janeiro de 1924) no estatuto consta em seu quadro:
1°Conselheira: EMILIA AFFONSO ARAÚJO
Presidente: FABIANO DOS SANTOS
Secretário: CLAUDIONOR ALVES
Tesoureiro: EMILIO JOSÉ DA COSTA
Também encontramos a SOCIEDADE BENEFICIENTE “EMILIA AFONSO DE ARÚJO” seu estatuto no Jornal a Federação, 18 de janeiro de 1933, Porto Alegre. Acredito que seu nome foi dado a esta casa de culto a Religião Africana em homenagem Póstuma, seu quadro é formado por:
Presidente: DARTGANAN VAZ
Vice Presidente: FRANCISCO LA ROTONDA
1° Secretário: SILVIO GUIMARÃES
2° Secretário: ALCIDES DA SILVA
Tesoureiro: GALVÃO RODRIGUES (também foi presidente da Sociedade 14 de Setembro, Rua TAquary N°57)
Orador: EDUARDO SILVA
Sócios Fundadores: Dartgnan Vaz, Silvio Guimarães, Galvão Rodrigues Machado, Armando Luiz da Silva, Eduardo Silva, José Monteiro, João Mathias, Salles Darvil, Darcy Galdino dos Santos, Maria Joaquina Machado, Anna Luiza Santos, Lydia Pio, Noemia Alves, Odeth, Ady do Carmo, Lucia Frierweiler e Francisco La Rotonda.
EMILIA AFFONSO DE ARAÚJO nasceu em 1864 (levando em conta que tinha 17 anos quando casou em 1881) , Emília era natural de Rio Grande, seu nome de solteira era: EMILIA ROSA AFFONSO, filha de FELICIANA MARIA DE BARROS (Africana liberta da Costa da África). Casou em 1881 na catedral de São Pedro em Rio Grande com MIGUEL SERAFIM RODRIGUES DE ARAÚJO, profissão pedreiro, natural de Pelotas, Miguel era Filho de: MIGUEL SERAFIM RODRIGUES (Costa da África) E JOANNA ANTONIA (Africana Liberta da Costa da África). Obs.: A parte paterna usou mais de 3 gerações o nome Miguel.
Emília e Miguel tiveram os seguintes filhos: MIGUEL RODRIGUES DE ARAÚJO, MARIA RODRIGUES DE ARAÚJO E ALICE RODRIGUES DE ARAÚJO.
Espero que a partir dessas informações surjam novas informações sobre essa Grande Ialorixá dos anos 20 e 30.
FONTES: FAMILY SEARCH, CANAL DO YOUTUBE HISTÓRIA E BATUQUE, HEMEROTECA DIGITAL."

Link https://www.facebook.com/100063684961443/posts/pfbid0wLKJ7vFCTMGAWSdYJsvpEGyHRrFdi4fN7UuHHbs7AJKSDUH3j5a3EWS35fX2fDukl/?mibextid=Nif5oz

Imagem comprobatório



BOLIVAR

Entretanto, Bolivar em 2012, o artigo "A Nação Oyó em Alegrete, Uma Etnografia do Batuque Oyó", que segundo seu informante o Babalorixá José Airton Barraganas, no dia 22 de abril de 2012, informa, que mãe Emilia era filha de escravos, nascida sob a lei do ventre livre, e completa com informações sobre a Iyalorixá. Segue:

[...] A segunda família religiosa chegou pelo porto de Rio Grande, deslocando-se depois para Pelotas, local de nascimento de Mãe Emília de Oyá Ladjá (Emília Fontes de Araújo, nascida no século XIX e falecida na década de 30), a Mãe de Santo mais antiga que se tem notícia desta família. É sobre a tradição de Mãe Emilia e de seus descendentes religiosos que se ocupará este trabalho de pesquisa. 

Segundo constam as fontes orais, Mãe Emília era filha de escravos nascida sob a Lei do Ventre Livre 16. Em sua cidade natal, ela era dona de um estabelecimento conhecido por “casa de pasto”, local similar a uma casa de pensão aonde também se servia comida. Posteriormente, ela mudou-se para Porto Alegre, cidade em que fundou uma casa de santo localizada na Rua Visconde do Herval. A idéia desta mudança de Pelotas para a capital surgiu quando Mãe Emília foi convidada a uma festa de Batuque em Porto Alegre, tendo gostado bastante da cidade. Posterior a isso, diz-se que ela foi aconselhada pelas próprias entidades a deslocar-se para Porto Alegre e abrir uma casa de religião lá. Estima-se que estes fatos aconteceram num período situado entre o final do século XIX e o começo do século XX. Mãe Emília viveu neste local até o final de sua vida e acredita-se que seu legado em Porto Alegre tenha sido preservado pela Mãe Elvira de Oxum, a filha de santo mais próxima de Mãe Emilia. Na sequência genealógica do Batuque Oyó da cidade de Alegrete, está uma das filhas de Santo de Mãe Emília, Mãe Doca de Yemanjá (Palmira de Jesus), era originária de Gravataí e representa o elo seguinte na linhagem do Oyó de Alegrete. Mãe Doca, antes de se dedicar integralmente ao Batuque, trabalhava como lavadeira. Foi ela quem iniciou Mãe Lili de Xapanã, a introdutora do Batuque da Nação Oyó em Alegrete. [...] (2012, p. 22)


 

Figura 1: Foto do “local de honra” 23 do terreiro de Airton de Yemanjá.
À esquerda, Mãe Doca de Yemanjá e à direita, Mãe Emilia da Oyá Ladjá.
P. 24 



Figura 4: Foto do “local de honra” do terreiro de Carlos de Oxum,
filho de santo de Airton de Yemanjá. À esquerda, Mãe Emília de Oyá Ladjá;
à direita, Mãe Doca de Yemanjá e ao centro Mãe Lili de Xapanã.
Percebe-se a adição de mais uma foto no “local de honra”
em comparação à figura anterior. P. 26

Neste trecho outro autor, sem esclarecer como chegou a esta informação, diz que o orixá da mãe Emília é Dirã. Da forma como está escrito imaginamos que esta informação tenha vindo do Tamboreiro Donga da Iemanjá:


[...]

No movimento inverso àquele que fez Pai João de Carlos de Oxalá, que trouxe a cabinda de Porto Alegre para Pelotas, o velho tamboreiro Donga da Iemanjá‟ considera que „quem trouxe o lado de oió para Porto Alegre, vinda de Pelotas, fora sua mãe-de-santo, Emília da Oyá Dirã (ou da Oyá Lajá, de acordo com outras fontes), que se instalara na Azenha[...] (apud Edgar)


Algumas considerações sobre o texto do Bolivar. 

Segundo estas informações, coletadas por Bolivar talvez o titulo de Princesa Emília Laja, tenha a ver com a religião afro-brasileira Batuque do RS, sendo que segundo Bolivar ela teria nascido no Brasil, sob a lei do ventre livre, sendo que o seu titulo não teria qualquer correlação com os Ioruba ou origem Africana.


E EDGAR 

E Edgar fala sobre o nome da Oya, da mãe Emília, seria Dirã.  

Devido a informações recentes sobre a princesa Emília, faremos este registro do Jornal do Batuqueiro, dados atualizado em 07/01/2023 às 16:46

"Mãe Alzenda de Iansã a baluarte mais antiga da cidade de Rio Grande, não em idade e sim em vasilha pois hoje com 75 anos de feitura, feita pela saudosa Mãe Margarida de IANSÃ ( postúma) com seu filho de santo Thiago de Agelú , ambos da Nação NAGÔ.
Foto e texto: Thiago de Agelú"

Outros depoimentos dos descendentes informam que:  


Link - https://www.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid0Xt8F3T1FbCxDeTgiwjsCYLbsEKMW7xX23j6BfXxRs3aRKUsqczFNxegMpJnCyC3Ql&id=100063684961443&mibextid=Nif5oz 

Referências

NETO, Edgar Rodrigues Barbosa. A Máquina do Mundo Variações sobre o Politeísmo em Coletivos Afro-Brasileiros, Universidade Federal do Rio de Janeiro Museu Nacional Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Rio de Janeiro, 2012.
http://objdig.ufrj.br/72/teses/780960.pdf 

MARINI, Bolívar Scholottfeldt, A NAÇÃO OYÓ EM ALEGRETE - UMA ETNOGRAFIA DO BATUQUE OYÓ, URCAMP, Centro de Ciências da Educação, Comunicação e Artes Curso de História, Alegrete, 2012.
https://www.academia.edu/10084796/Monografia_A_NA%C3%87%C3%83O_OY%C3%93_EM_ALEGRETE_UMA_ETNOGRAFIA_DO_BATUQUE_OY%C3%93


Revisado e aumentado em 17/10/2023  

PROGRAMA AXÉ RESGATE E TRADIÇÃO

Neste texto publicado em 16/10/2023, o perfil Programa Axé Resgate e Tradição, emitiu uma nota de repúdio referente a algum artigo publicado, porém, não informaram quem ou quando publicaram informações sobre a matriarca Emília, princesa do Batuque, à saber.



"Nota Pública De Repúdio
Nós Tradicionalistas da Nação de Oyó repudiamos a forma marginal como foi divulgada uma matéria de forma PARCIAL, que não leva em conta uma série de fatores a serem considerados sobres esta antiga Bacia de Oyó!
O fato da Princesa Emília ser Africana ou nascida no Brasil já havia sido levantado no livro Vozes Ancestrais!
Aliás fomos nós que publicamos o achado do Pesquisador Alexsandro Dolzan, editor do Jornal Batuqueiro que encontrou os documentos que muitos falam!
Enquanto ao fato do seu título ser próprio dela ou herdado da linhagem materna ou paterna ou até dela não ser uma Princesa, não influência o seu feito!
Quanto ao fato de chamarem a Princesa de praticante de Nago é correto, partindo da ótica que o TERMO NAGO no dialeto Djeje de Daomé significa PIOLHENTO!
Maneira a qual os mesmos chamavam os Yorubás vencidos na guerra de 1830 na África!
Quanto ao nome fomos nós autores do livro Vozes Ancestrais que publicamos o documento onde aparecia o nome de:
Emília Afonso de Araújo
Porém até o surgimento deste documento era conhecida como:
Emília Fontes Araújo
Isso levanta algumas questões:
É um homônimo?
É a mesma pessoa?
Pode ser uma corruptela oral?
Quanto ao tempo de vida da mesma, fomos nós que levantamos a data aproximada de sessenta anos de idade!
Quanto ao domicílio da Princesa ela desembarcou em Rio Grande, posterior foi para Pelotas e por fim a Porto Alegre!
Mas o que isso importa? Nada
O maior feito da Princesa, não foi o fato dela ser ou não Princesa!
Mas sim um grande Percusora da bacia de Oyó!
Em plena época de opressão! Aphartheid! De perseguições! Assassinatos e destruição de terreiros! Foi ela a responsável pela feitura de mais de 20 Bàbás ou Iyás!
Isso é o que importa ela ter deixado grandes nomes como:
Iyá Rola de Oxalá
Iyá Matilde de Ogum
Iyá Doca de Yemanjá
Iyá Alice de Osun
Iyá Margarida de Yansã
Iyá Aracy de Odé
Bàbá Donga de Yemanjá
Iyá Nora de Yansã
Iyá Eva
Bàbá Dirceu de Oxum
Entre tantos outros!
Isso fez dela uma grande Percusora da Bacia de Oyó! Esse foi seu grande feito!
Aconselho a qualquer Instituição antes de publicar qualquer documento de forma PARCIAL!
Ter ÉTICA! E trazer os pontos e contra pontos a tona! De forma a respeitar o amplo e democrático debate!

Bàbá André de Ogum"

Imagens comprobatórias 



Link https://www.facebook.com/photo?fbid=700492162014465&set=a.467933548603662 


MOZART DE IEMANJÁ

Nesta outra postagem publicada na página pessoal do sacerdote Mozarte de Yemanjá, comenta sobre a matriarca Emília, princesa do Batuque. A seguir:

"E AGORA JOSÉ???

A grande líder religiosa Yalorixá Emília de Oya Ladjá, Mãe Emília Fontes de Araújo não era "Fontes", e sim Afonso de Araújo, nunca foi escravizada, não veio da África, nunca teve realeza civil, não viveu 115 anos( ela viveu 65 anos, nasceu em 1863 na cidade de Rio Grande/RS e morreu em 1932 em Porto Alegre/RS, foi sepultada no Cemitério da Santa Casa). Depois de 91 anos de seu falecimento é comprovado que Mãe Emília nunca desembarcou do "navio negreiro" no porto de Rio Grande/RS, e que não trouxe a Nação de Oyó da África para o Brasil, muito menos para Porto Alegre, pois cultuava a Nação Nagô.

Os historiadores, através de certidão de nascimento e de óbito, desconstruiram as narrativas verbais sobre minha tataravó de santo. Me cabe continuar honrando e respeitando sua memória.

Quanto mais a história é revelada, de forma documental e inquestionável, mais somos obrigados a nos manter reconfigurados, sem negar a origem, a tradição e a fé.

Axé é para quem tem fé." 


[...]

CHENDER SIQUEIRA

Sua benção meu pai. Com todo o respeito que lhe devo.

Rio grande, o berço do Batuque no RS, a primeira cidade do Estado, onde desembarcaram mais de 80% dos negros e negras escravizados, sempre soube que a princesa Emília era nagô. Temos provas vivas dessa relação. Iya Alzenda de Iansã, com seus 85 anos de idade, e 76 de iniciada. Filha de mãe Margarida de Iansã e neta de Mãe Emília de Oya Ladja.

Igualmente Rio Grande sempre soube que a princesa Emília não trouxe o Oyo de África. Pois foi iniciada aqui em Rio Grande, por Iya Bibica de Ogun e negro Ozébio. Rio Grande também sempre soube que ela já nascerá na Lei do Ventre livre e que veio de Recife para Rio Grande.

Seus pais biológicos foram vendidos para as Charqueadas. E Iya Bibica, que lhe iniciou, havia vindo tempos antes do mesmo local. Tinham relações com as tias do pátio do terço, casa de Santa Barbara (Iyaya e Sinhá). E sempre compreendemos que lhe foi dado o título de princesa na tradição, por reconhecimento dos seus e das suas e pela expansão do axé que executou ao iniciar muita gente no caminho de Rio Grande até a capital.

Então para nós a não ser as datas e o local de sepultamento, não tem grandes novidades. Em nada muda nosso respeito, admiração e amor por nossa matriarca. Responsável pela expansão da nossa nação.

A capital é que nunca nos deu ouvidos. E inclusive finge não saber da existência de Iya Alzenda, em plena atividade aqui no Interior do Estado. A Iya mais velha da nossa cidade, em tempo de iniciada.

Sua benção...


[...]

NORTON CORREIA

Boa tarde, Chendler.

Quando comecei a pesquisar sobre o batuque, a turma da velha guarda me dizia que a religião surgiu em Rio Grande.

No templo da Mãe Merces da Iemanjá, na Cidade Baixa, conheci o tamboreiro Donga, assim como o Seu Jauri da Oxum, todos de Oió, de Pelotas, e que diziam a mesma coisa.

Quando fui a Rio Grande, entrevistei a Mãe Alzenda, do mesmo lado, e o Pai Miro (?) que se dizia de nagô. Mais recentemente, o historiador Jovani Scherer identificou uma colônia de negros auto intitulados também nagô, na cidade.

Quando fui a Recife, compareci a uma festa no muito antigo e respeitado templo no bairro da Água Fria, logo percebendo, surpreso, muitas coisas similares às do batuque, como os tambores, cânticos, preceitos, nomenclaturas etc.

Anos depois, quando a pesquisadora do xangô, Rita Segatto, minha amiga, veio a Porto Alegre, levei-a a uma festa na casa da Santinha. Disse que se sentia no xangô. Vários destes dados me levaram a supor, como escrevi em meu livro, O Batuque do RS, que havia uma relação entre o batuque e o xangô, que a fundadora possivelmente seria uma mulher vinda de Pernambuco. E que escravizados ou livres - talvez vindos de outros templos em outros lugares - teriam se filiado a ele, com o tempo, fundando outros templos e acrescentando aportes da fauna e flora do RGS, o que teria resultado no batuque mais ou menos como é hoje.

O certo é que a mulher que imaginei ter sido fundadora do batuque seria bem mais antiga do que a Mãe Emília, esta, sendo descendente de santo dela. Há mais coisas interessantes a desvendar: ela seria de nagô, mas suas descendentes de santo tomam-na como de Oió, como é o caso da Mãe Alzenda, do Pai Antoninho e sua filha Moça, ambos da Oxum. Não tenho dados suficientes sobre este assunto, mas algo me diz que Oió e Nagô podem ser a mesma coisa com pequenas alterações. Taí algo para ser esclarecido.

Finalizando, cabe e dizer que esta extraordinária dupla de pesquisadores de alto bordo - Vinícius de Oliveira e Jovani Scherer - têm trazido dados indiscutíveis, pois cientificamente embasados -, que muito nos contam sobre a história real do batuque. Meus parabéns à dupla.

[...]

 

TIKTOK ERICK WOLFF