sábado, 14 de janeiro de 2023

OS IORUBAS, O ALAAFIN E O OONI: A DESINFORMAÇÃO NA INTERNET

Luiz L. Marins

Janeiro de 2023


A cultura e religião ioruba são plurais e heterogêneos, portanto, não é uma forma igual para todas as cidades. Cada local tem sua história e sua particularidade. Entretanto, apesar de sua pluralidade, alguns fundamentos históricos precisam ser observados.

Recentemente tivemos a oportunidade de ver no canal “Atualidade em Foco”, no YouTube, o vídeo com o título: OS POVOS DA ÁFRICA III - OS IORUBÁS (HISTÓRIA) –  

https://youtu.be/N7r0jY7HwiM.

O vídeo tem o seu mérito, entretanto, a partir 01:03 o autor do vídeo diz:

[…] O chefe era chamado de Ooni, e reunia as funções de líder político e religioso, além de exercer diversas funções importantes para as comunidades, sem, no entanto ter poder direto sobre elas. Ainda hoje, Ifé é considerada sagrada pelos iorubas […]

E no minuto 01:43 afirma que:

[…] Cada cidade era liderada por um chefe conhecido por Oba ou Alaafin, com poderes políticos e sagrados, ele era submisso apenas ao Ooni […]

Porém, estas informações do canal “Atualidade em foco” são desencontradas com os dados informados por Samuel Jonhson no livro “Historia dos Iorubas”.

Informa Samuel Jonhson no capítulo primeiro, que Oranian, neto legítimo de Oduduwa  tornou-se herdeiro de toda a terra Ioruba e, mesmo depois da fundação da capital política de Oyo, continuou a ser o Obá supremo de todas as cidades iorubá, inclusive de Ifé, a quem todos os Obas deveriam reportar-se.

Sobre o Ooni, informa Jonhson, ficou encarregado pelo Alaafin de liderar os cultos em Ilé-Ifé e de reportar-se ao Alaafin.

A seguir republicaremos aqui na íntegra o capítulo 1 do livro “História dos Iorubas” no qual é relatado a história e o significado da palavra Ooni, e o porque o Alaafin jamais se reporta ao Ooni, como foi informado equivocadamente pelo canal “Atualidade em foco”.

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REVISTA OLORUN, n. 61, maio de 2018 

ISSN 2358-3320 – www.olorun.com.br



A HISTÓRIA DOS YORUBAS

CAPÍTULO 1


BY

REV. SAMUEL JOHNSON

Pastor of Oyo

Edited by

DR. O. Johnson, Lagos

1921

C. M.S. Bookshops Lagos

Tradução: Luiz L. Marins* 

www.luizlmarins.com.br

Abril de 2018

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* Título original: The History of the Yorubas. A numeração das páginas e das notas de rodapé não correspondem ao original, pois foram diagramadas para artigo. Contem notas de fim, do tradutor.


CAPÍTULO I


ORIGEM E HISTÓRIA INICIAL

A origem da nação iorubá está envolvida na obscuridade, assim como o início da história da maioria das nações. As versões comumente aceitas são, na maior parte, puramente lendas. Pessoas não letradas, e tradição oral, é tudo o que é conhecido através das tradições cuidadosamente transmitidas.

Os historiadores nacionais pertencem a algumas famílias mantidas pelo rei, em Oyo, cujo ofício é hereditário. Eles também atuam como poetas, percussionistas e músicos do rei. É deles que nós dependemos, tanto quanto possível, para qualquer informação confiável que possuímos agora. Mas, como se pode esperar, suas informações geralmente variam em vários detalhes importantes. Nós não podemos fazer nada mais do que relatar as tradições que foram universalmente aceitas.

[Segundo estas tradições], os Yorubas dizem que surgiram de Lamurudu um dos os reis de Meca, cujos descendentes eram: - 1. Oduduwa, o ancestral dos Yorubas. - 2. os Reis de Gogobiri e dos Kukawa, duas tribos Hausa. É digno de nota que estas duas nações, apesar do lapso de tempo desde sua separação, e da distância entre elas de suas respectivas localidades, ainda têm as mesmas marcas tribais distintas em seus rostos, e os viajantes Yoruba são livres para circular entre eles, e vice-versa, cada um reconhecendo um ao outro como sendo de um só sangue.

Em que período de tempo Lamurudu reinou, é desconhecido, mas os relatos da revolução entre seus descendentes e sua dispersão, parece terem sido um tempo a considerar como sendo depois de Mahomet. Contaremos a história da forma como nos foi relatada:

O príncipe herdeiro Oduduwa se converteu à idolatria durante o reinado do pai, e, como ele era possuidor de grande influência, atraiu muitos adeptos. Seu objetivo era transformar o paganismo, na religião do Estado; para tanto, ele converteu a grande mesquita da cidade, em um templo de ídolo, e Asara, seu sacerdote, era ele mesmo um criador de imagens, cravejado de ídolos.

Asara teve um filho chamado Braima que foi educado em um Mohammedan. Durante sua adolecencia, ele era um vendedor dos ídolos de seu pai, uma ocupação que ele abominou completamente, mas que ele era obrigado a participar. Mas ao oferecer para venda o trabalho de seu pai, ele geralmente alertava os compradores dizendo: " Quem compra falsidade?". Uma premonição do que o menino depois se tornaria.

Pela influência do príncipe herdeiro, foi emitido um mandato real ordenando a todos os homens que saíssem caçando por três dias antes da celebração anual dos festivais realizados em honra desses deuses.

Quando Braima tinha idade suficiente, ele aproveitou a oportunidade de uma dessas ausências da cidade, daqueles que poderiam impedi-lo de destruir estes deuses, cuja presença tinha causado a profanação da sagrada mesquita. O machado com o qual os ídolos foram cortados em pedaços foi deixado pendurado no pescoço do ídolo chefe, uma coisa enorme em forma humana. Inquérito foi feito, e logo se descobriu quem era o iconoclasta, e quando abordou, ele deu respostas que não agradaram aqueles que Joash deu para Abiezrites, os quais tinham acusado seu filho Gideon de ter realizado um ato semelhante {ver Juízes vi, 28-33).

Disse Braima: “Pergunte isso ao ídolo maior, quem fez isso. ”

Os homens responderam: “Ele pode falar? ”

        Então disse Braima: “Por que você adora coisas que não podem falar? ”

Ele foi imediatamente condenado a ser queimado para este ato grosseiro impiedosamente. Mil cargas de madeira foram coletadas para uma estaca, e vários potes de óleo foram trazidos para acender a pilha. Este foi um sinal para uma guerra civil. Cada uma das duas partes tivera seguidores poderosos, mas o partido maometano até então suprimido, tinha a vantagem e vencido seus oponentes.

Lamurudu, o rei, foi morto, e todos os seus filhos, junto com seus adeptos, foram expulsos da cidade. Os princípes, que se tornaram depois reis de Gogobiri e dos Kukawa, foram para o oeste.

Oduduwa foi para o leste. Este último viajou 90 [depois que saiu] de Meca, e após vaguear, finalmente se estabeleceu em Ile Ife, onde ele se encontrou com Agboniregun (ou Setilu) o fundador do culto de Ifá.

Oduduwa e seus filhos haviam escapado com dois ídolos para Ile Ife. Sahibu, que foi enviado com um exército para destrui-los e conquista-los, foi derrotado, e entre as coisas saqueadas pelos vencedores, havia uma cópia do Alcorão, que foi depois preservado em um templo e, não foi apenas venerado por sucessivas gerações como uma relíquia sagrada, mas é adorada até hoje sob o nome de Idi, significando “algo que liga com as origens”.

         Tal é o relato comumente aceito entre essas pessoas inteligentes, embora iletradas. Mas traços de erros são muito aparentes nesta tradição. Os Yorubas certamente não são da família árabe, e não poderia ter vindo de Meca (falamos da Meca universalmente conhecida na história) e nenhum relato como esse pôde ser encontrado nos registros de escritores árabes de Meca. Um evento de tamanha importância dificilmente poderia passar despercebido por seus historiadores. Mas, ainda que se dê algum crédito de que todas estas narrativas e tradições têm alguma base em fatos reais, o assunto não foi revisto, e isso se tornará claro em um estudo mais detalhado.

Que os Yorubas vieram originalmente do Oriente não pode haver a menor dúvida, como os seus hábitos, costumes e costumes, etc., todos vão para provar. Para eles, o Oriente é Meca e Meca é o Oriente. Tendo fortes afinidades com o Oriente, e Meca no Oriente pairando tão amplamente em sua imaginação, tudo o que vem do Oriente, para eles, vem de Meca, e, portanto, é natural representar a si mesmos como tendo sido originários daquela cidade.

O único registro escrito que temos sobre esse assunto é o do sultão Belo de Sokoto, o fundador daquela cidade, o mais instruído, se não o mais poderoso, dos soberanos fulanis que já governaram o Sudão.

O Capitão Clapperton (Viagens e Descobertas na África Setentrional e Central, 1822 - 1824) conheceu este monarca. De um grande trabalho geográfico e histórico [do sultão], o Capitão Clapperton1 fez um copioso extrato, do qual se segue:

Yarba é uma extensa província que contém rios, florestas, areias e montanhas, como também muitas coisas maravilhosas e extraordinárias. Nela, o pássaro verde falante chamado babaga (papagaio) é encontrado.

Ao lado desta província há um ancoradouro ou porto para os navios dos cristãos, que costumavam ir até lá e comprar escravos. Esses escravos eram exportados de nosso país e vendidos para o povo de Yarba, que os revendia aos cristãos.

Os habitantes desta província (Yarba) são supostamente originários do remanescente dos filhos de Canaã, que eram da tribo de Nimrod. A causa de seu estabelecimento no oeste da África foi, como é declarado, em consequência de terem sido conduzidos por Yar-rooba, filho de Kahtan, da Arábia para a costa ocidental entre o Egito e a Abissínia. Daquele ponto, avançaram para o interior da África, até chegarem a Yarba, onde fixaram sua residência. No caminho, em todos os lugares em que paravam, quando iam embora, deixavam uma tribo de seu próprio povo. Assim, supõe-se que todas as tribos do Sudão que habitam as montanhas são originárias deles, como também são os habitantes de Ya-ory. No geral, as pessoas de Yarba tem muita semelhança que as de Noofee (Nupe). ”

No nome Lamurudu (ou Namurudu), podemos facilmente reconhecer uma modificação dialética do nome Nimrod. Quem foi este Nimrod? Se Nimrod foi apelidado de "o forte", “o filho de Hasoiil”, ou Nimrod o "poderoso caçador" da Bíblia, ou, se ambas as descrições pertencem a uma mesma pessoa, não podemos dizer. Mas, este extrato não é apenas confirmação da tradição de sua origem, mas também lança uma luz sobre a lenda. A Arábia é, provavelmente, a "Meca" da nossa tradição. Sabe-se que os descendentes de Ninrode (fenícios) guerrearam com a Arábia, que se estabeleceram ali, e de lá saíram para a África devido a uma perseguição religiosa. Temos aqui também a origem do termo Yoruba, de Yarba, seu primeiro assentamento permanente na África. Yarba é o mesmo que o termo Hausa Yarriba para Yoruba.

É muito curioso que na história de Maomé lemos sobre uma viagem similar de seus primeiros convertidos, de Meca para a Costa Leste da África (a primeira Hegira), devido também a uma perseguição religiosa. Este fato servirá para mostrar que não há nada improvável nos relatos recebidas desta tradição. Novamente, que eles emigraram do Alto Egito para Ile Ife também podem ser provados por aquelas esculturas comumente conhecidas como "Mármores de Ife", muitas das quais podem ser vistas em Ile Ife até os dias de hoje, que dizem ser obra dos ancestrais. Eles são completamente egípcios em forma. O mais notável deles é, o que é conhecido como "Opa Orafiyan" (cajado de Oraniyan), um obelisco em pé no local da suposta sepultura de Oraniyan, com caracteres que sugerem uma origem fenícia. Três ou quatro destas esculturas podem agora ser vistas no Tribunal Egípcio do Museu Britânico, mostrando de relance que eles estão entre as obras de arte afins.

A partir destas declarações e tradições, autênticas ou mitológicas, as únicas deduções seguras que podemos fazer quanto a mais provável origem dos Yoruba são:

  1. Que vieram do alto Egito, ou Núbia.

  1. Que eles eram súditos do conquistador egípcio Nimrod, que era de origem fenícia, e que eles o seguiram em suas guerras de conquista até a Arábia, onde se estabeleceram por um tempo. Como a autodenominação de “crianças ou descendentes” de seus soberanos é muito bem conhecido neste país, nós veremos isso no decorrer desta história.

  1. Que na Arábia foram discriminados por causa de suas práticas e de suas formas de adoração, que era o paganismo ou mais provável uma forma adulterada do cristianismo oriental, que permitia a adoração de imagens, desagradável aos muçulmanos.

Novamente, o nome do sacerdote “Asara” também é um peculiar, tanto como “Anasara”, um termo que os muçulmanos geralmente aplicavam aos cristãos, que significa “seguidores do Nazareno”, [talvez] para torná-lo provável que a revolução falada foi, antes, em conexão com islamismo, em vez da forma corrupta do cristianismo daqueles dias.

Por último, a relíquia sagrada chamada Idi, sacralizada e preservada, e que é suposto ter sido uma cópia do Alcorão, é provavelmente um outro erro. Cópias do Alcorão abundam neste país, e eles não são venerados assim, e por que isso se tornou um objeto de adoração? O livro sagrado daqueles que foram contra eles! Dificilmente não se chegará à conclusão de que o livro não era o Alcorão, mas uma cópia das Escrituras Sagradas em rolos, a forma em que manuscritos antigos foram preservados. O Alcorão, sendo o único livro sagrado conhecido para as gerações posteriores que perderam todo o contato com o Cristianismo, por séculos, após a grande emigração para o coração da África, é natural que seus historiadores concluam de que a coisa que ligava aos ancestrais, era o Alcorão. Pode-se, talvez, mostrar que os ancestrais dos Yoruba, vindos do alto Egito, ou eram cristãos coptas, ou de alguma forma, eles tinham algum conhecimento do cristianismo. Se assim for, ele pode oferecer uma solução do problema de como ele veio sobrepor-se às histórias tradicionais da criação, o dilúvio, de Elias, e outros personagens bíblicos que são atuais entre eles, e as histórias indiretas de Nosso Senhor, denominada “filho de Moremi”. Mas deixe-nos continuar a história como dada pela tradição:

Oduduwa e seus filhos juraram um ódio mortal dos muçulmanos de seu país, e estavam determinados a vingar-se deles; mas [Oduduwa] morreu de idade antes de ser poderoso o suficiente para marchar contra eles.

Seu filho mais velho Okanbi, comumente chamado de Idekoseroake, também morreu ali, deixando sete príncipes e princesas, que depois se tornaram famosos. Deles surgiram as várias tribos da nação Yoruba.

O primogênito de Okanbi era uma princesa, que era casada com um sacerdote, e tornou-se a mãe do famoso Olowu, o ancestral dos Owus.

A segunda criança também foi também uma princesa, que se tornou a mãe do Alaketu, o progenitor do povo Ketu.

O terceiro, um príncipe, tornou-se rei do Benin people.

O quarto, o Orangun, tornou-se rei da Ila;

O quinto, Onisabe, ou o rei do Sabes

O sexto, 0lupopo, ou rei dos Popos;

O sétimo e último nascido, Oraniyan, que foi o progenitor dos Yoruba propriamente ditos, ou como eles são mais conhecidos, Oyos.

Todos esses príncipes se tornaram reis que usavam coroas, distinguindo-se daqueles eram vassalos que não tinham direito de usar coroas, mas coronetas chamadas Akoro, bordadas com prata. Mas isto pode mostrar que o pai do Olowu era um plebeu, e não um príncipe de sangue, e ainda assim ele se tornou uma das cabeças coroadas. A história a seguir explicará como isso surgiu:

As princesas Yoruba tiveram (e ainda têm) a liberdade de escolher maridos de acordo com sua posição na vida. Assim, a filha mais velha do rei escolheu se casar com o sacerdote de seu pai, de quem ele teve, o Olowu.

Este jovem príncipe estava um dia brincando nos joelhos de seu avô, e puxou a coroa da cabeça dele; o avô, indulgente, então colocou-a na cabeça do seu neto, mas, como uma criança mimada, ele se recusou a devolver, quando necessário, e por isso foi deixada com ele. A criança ficou com a coroa em sua cabeça até que adormeceu nos braços de sua mãe, quando então, ela a tirou e a devolveu ao seu pai, mas o este disse-lhe para guardá-la para seu filho, pois ele parecia tão ansioso para tê-la. Daí o direito do de usar a coroa como seus tios. O mesmo direito foi subsequentemente concedido ao Alaketu, ou seja, o progenitor do povo Ketu.

Foi dito acima que Oraniyan era o mais novo dos netos de Oduduwa, mas eventualmente ele se tornou o mais rico e mais renomado de todos eles. Como isto foi possível, é contado assim pela tradição oral:

Na morte do rei, seu avô, sua propriedade foi desigualmente dividida entre seus filhos como segue:

- o rei de Benin herdou seu dinheiro (consistindo de conchas de buzios);

- o Orangun de Ila, suas esposas;

- o rei de Sabe, seu gado;

- o Olupopo, as contas;

- o Olowu, suas vestes,

- e o Alaketu, as coroas,

- Para Oraniyan, foi deixado apenas a terra.

Alguns afirmam que ele estava ausente em uma expedição guerreira quando a partição foi feita, e assim ele foi desligado de todas as propriedades móveis.

Oranyan foi, no entanto, satisfeito com a sua parcela, que ele passou imediatamente a administrar com habilidade.

Ele alugou as terras que viviam seus irmãos, agora, na terra que era dele. Para os aluguéis ele recebeu dinheiro, mulheres, gado, miçangas, vestuários, e coroas, que eram porções de seus irmãos, pois todos estes eram mais ou menos dependente do solo, e precisavam dele para seu sustento.

Assim, ele foi o escolhido para suceder o pai como rei na linha direta de sucessão2. Para seus irmãos foram atribuídas as várias províncias sobre as quais eles governaram mais ou menos independentemente. Oranyan então veio a ocupar o trono como o Alafin ou o Senhor do palácio real na sua família em Ile Ife. i

De acordo com outro conto:

Oranyan tinha apenas um pedaço de pano contendo terra, 21 pedaços de ferro, e um galo. Toda a superfície da terra era então coberta de água. Oranyan colocou sua porção [de terra] na superfície da água, e colocou sobre ela, o galo, que espalhou a terra com os pés; a vasta extensão da água se encheu, e a terra seca apareceu em toda parte. Seus irmãos que preferiram viver em terra seca ao invés de na superfície da água foram autorizados a fazê-lo, em seu pagamento de um tributo anual para compartilhar com seu irmão mais novo, [o rei], a sua própria porção.

Este [último] conto é apenas para mostrar que as tradições orais atribuem a terra a Oranyan, daí o provérbio comum: “Alafin L'oni Ile” (o Alafin é o senhor da terra): as peças de ferro representando tesouros subterrâneos, e o galo, como sobreviver na terra.

A tradição antiga parece mais provável, sendo esta última, além de curta, parece mais uma paródia da história da criação, ou o dilúvio. Mas, é justo mencionar que a opinião mais geralmente aceita é, que Oranyan tornou-se mais próspero do que seus irmãos devido ao fato de sua vida virtuosamente, [enquanto seus irmãos] uma vida de libertinagem desenfreada, sendo também, de longe, o mais corajoso de todos eles. Ele era o preferido, [estava] acima deles, e estava sentado no trono ancestral em Ile Ife, que era então a capital do país Yoruba.

O Alake e o Owa de Ilesa são ditos por serem parentes próximos ao Alaafin; o primeiro foi dito ser da mesma mãe, com um dos primeiros Alafins. Esta mulher foi chamada Ejo3, que depois foi morar com seu filho mais novo até sua morte: daí o provérbio comum “Ejo ku Ake” (Ejo morreu em Ake).

O Owa dos Ijesas alegou ser um dos irmãos mais novos, mas seu pedigree não pode agora ser rastreado; o termo “irmão” é muito elástico em Yoruba e pode ser aplicado a qualquer parente distante ou próximo, e até mesmo a um servo fiel, ou a um adotado para a família. Nos tempos antigos, quando havia paz entre as tribos do país, antes do início das guerras intertribais destrutivas que romperam a unidade do reino e criaram a independência tribal, essa relação foi reconhecida pelo Owa pagando um tributo anual de certa quantidade de búzios, esteiras e alguns produtos de suas florestas para o Alaafin, enquanto este enviava-lhe presentes de tobes e coletes, e outros artigos superiores, bem dignos dele, como um irmão mais velho.

Que o Alaafin, o Alake, e o Owa eram filhos ou netos de Oranyan, parece provável, pelo fato de que até hoje nenhum deles é considerado adequadamente instalado até que a espada do Estado, é trazida de Ile Ife, onde Oranyan foi enterrado, é colocada em suas mãos.

Oranyan era um apelido do príncipe, pois seu nome próprio era Odede. Ele era um homem de grandes poderes físicos. Ele obteve fama primeiro como um poderoso caçador; e com o tempo ele também se tornou, como Nimrod, um conquistador poderoso.

A EXPEDIÇÃO CONTRA MECA.

Quando Oranyan estava suficientemente forte, ele saiu para uma expedição contra “Meca”, para a qual ele convocou seus irmãos, para vingar a morte de seu avô [Oduduwa], e a expulsão de sua família daquela cidade. Ele deixou Adimuii, um dos servos de confiança de seu pai, no comando dos tesouros reais e da administração, com uma ordem para realizar a adoração habitual dos deuses nacionais, Idi e Orisa Osi.

Este é um ofício da maior importância pertencente ao próprio rei, mas escravos, ou altos servos são muitas vezes confiados com os estes devere, e isto é bem conhecido neste país, como veremos no decorrer desta história.

Diz-se que a rota pela qual eles vieram para "Meca " e que demorou 90 dias, foi, neste tempo, tornada intransitável devido a um exército de formigas negras que estavam bloqueando o caminho, e, portanto, Oranyan foi obrigado a tomar uma outra rota que o levou a atravessar o país Nupe ou Tapa. Todos os seus irmãos, mais o mais velho, se juntara a ele. Mas em Igangan eles discutiram por causa de um pote de cerveja, e dispersaram-se, recusando-se a seguir com sua liderança. O irmão mais velho, calculando a distância através do país Tapa, perdeu coragem e foi para o leste, prometendo fazer o seu ataque a partir desse pelo outro lado, se seu irmão Oranyan fosse bem sucedido no Oeste. Oranyan continuou, até que ele se viu nas margens do rio Níger.

Os Tapas, é sabido, não permitiram que ele cruzasse o rio, e como ele não poderia forçar o seu caminho, ele foi obrigado a permanecer por um tempo perto do rio, e depois resolveu desistir. Para voltar, no entanto, para Ile Ife, era demasiado humilhante, portanto, ele consultou o rei de Ibariba perto de cujo território ele estava acampado, a respeito de onde ele deve fazer a sua residência. A tradição diz que o rei de Ibariba fez um encanto e o colocou em uma jibóia, aconselhando Oranyan a seguir a jibóia e onde ela ficasse por 7 dias, e depois desaparecesse, lá estava ele para construir uma cidade. Orariyan e seu exército seguiram suas orientações e foram atrás da jibóia, até no sopé de uma colina chamada Ajaka foi onde o réptil permaneceu por 7 dias, e depois desapareceu. De acordo com instruções, Oranyan parou ali, e construiu uma cidade chamada Oyo

             Ajaka. Esta foi a antiga cidade de Oyo marcada em mapas antigos como Eyeo ou Katunga (este último sendo o termo islandês para Oyo), capital de Yarriba (ver Webster's pronuncie Gazetteer). Esta foi a Eyeo visitado pelos exploradores ingleses Clapperton e os Landers.

Oranyan permaneceu e prosperou no novo lugar, seus descendentes propagaram-se para o leste, oeste e sudoeste; eles tinham uma comunicação livre com Ile Ife, e o rei muitas vezes enviava para [seu servo] Adimu o que ele precisava para a nova cidade.

Com o tempo, Adimu se tornou grande porque ele não era apenas o adorador das divindades nacionais, mas também o depositário e distribuidor de tesouros do rei, e ele era comumente chamado: “Adimu Ola” (Adimu dos tesouros), ou Adimula (Adimu veio a ser rico).

Mas, este [servo] Adimu, que se tornou poderoso devido a seu desempenho nas funções reais, originalmente, era filho de uma mulher condenada à morte que, no momento de sua execução, ela estava grávida [de Adimu], então, sua execução foi adiada, até que a criança nasceu. Esta criança [Adimu], em seu nascimento, foi prometida ao serviço perpétuo dos deuses, especialmente Obatalá, para quem sua mãe foi sacrificada. Foi dito a ele para ser honesto, fiel e dedicado ao rei [Oranyan] assim como seu próprio pai. Portanto, ele era amado e de confiança.

Quando Adimu foi anunciado como a pessoa apontada pelo rei [Oranyan] como aquele que cuidaria dos tesouros e deuses do reino, todos perguntaram: “E quem é este Adimu?”. A resposta que veio foi: “Omo oluwò ni” (o filho de uma pessoa sacrificada). Esta frase isto foi reduzida para Owoni [atualmente Ooni].iii Oluwo, é o termo para uma vítima sacrificada). Então, no futuro, quando a sede do governo foi movida permanentemente para Oyo (exceto as divindades nacionais), Adimu tornou-se “supremo” em Ile Ife, e seus sucessores até hoje são chamados de Olorisas (sacerdotes ou adoradores dos fetiches do rei e das pessoas de toda a nação iorubá. O nome Adimu desde então foi adotado como um “apelido”, e o termo Owoni, até hoje, como um título aos sumos sacerdotes reais, não sendo local ou tribal, mas nacional.iv

De acordo com outra tradição, após a morte de Okanbi, Oranyan tendo sucedido e assumido o comando, emigrou para a Okò, onde ele reinou e onde ele morreu, [quando então] sede do governo foi removido dali, no reinado de Sango para Oyokoro, ou seja, a antiga cidade de Oyo.

Oranyan pode ter realmente morrido em Okò, mas sua sepultura com um obelisco sobre ele, está em Ile Ife até hoje. É um costume entre os Yorubas aparar as unhas e raspar a cabeça de qualquer um que morre longe do lugar onde será feito um sepultamento [simbólico]. Estas partes são levadas para o lugar de sepultamento, e lá será decentemente enterrado, com os rituais funebres observados como se o próprio cadáver fosse ali enterrado. Por isso, embora (alguns digam que) Oranyan possa ter morrido em Okò, e seu túmulo verdadeiro ter sido perdido ou desconhecido, suas partes poderiam, portanto, ter sido levados para a Ile Ife, onde deve, então, estar enterradas até hoje. Um relato mais romântico de sua morte, no entanto, será dado na segunda parte desta história.

Como os Yoruba veneram os mortos, e têm a convicção de que as orações oferecidas na sepultura dos antepassados falecidos são potentes para obter bençãos temporais, todos os reis Yorubas, antes da coroação devem executar os atos de adoração no túmulo de Oduduwa, e receber a bênção do sacerdote. A espada da justiça conhecida como Ida Oranyan (espada de Oranyan) deve ser trazida de Ile Ife, e cerimoniosamente colocada em suas mãos; se isso não for feito, o rei não tem autoridade para ordenar seus atos. Os descendentes de Oranyan, durante o tempo, foram divididos em quatro familias distintas, conhecidos por seus dialetos distintivos, e formando as quatro províncias vizinhas: Ekun Otun, Ekun Osì, Ibolo e Epo. As províncias Ekun Otun, Ekun Osì, respectivamente direita e esquerda, ou seja, províncias orientais e ocidentais, são as cidades que se encontram a leste e oeste da cidade de Oyo.

  1. O Ekun Otun, ou, Província Ocidental, incluiu todas as cidades ao longo da margem direita do rio Ògùn, até Ibere Kodo, sendo Igana a cidade chefe. As outras cidades importantes são: — Sàki, Oke'ho, Iseyin, Iwawun, Eruwa, Iberekodo, etc. Nesta província dois dialetos distintos são falados: as pessoas que habitam as fronteiras ultraperiféricas são conhecidas como Ibarapas, e são distinguidas por um sotaque nasal em seu discurso.

  1. O Ekun Osì, ou a Província Metropolitana, compreendeu todas as cidades a leste de Oyo, incluindo Kihisi e Igboho no norte, sendo Ikoyi a cidade chefe. Outras cidades importantes são, Ilorin, Irawo, Iwere, Ogbomoso etc, incluindo os Igbonas no limite máximo para o leste, e os Igbonas, tanto quanto Orò.

Os Igbonas são distinguidos por um dialeto peculiar de sua cidade. O Ekun Osì Oyo são considerados como falando o mais puro Yoruba. A antiga cidade de Oyo também está nesta província.

  1. A província de Ibolo encontra-se ao sudeste das cidades de Ekun Osì, inclusive mais para baixo como Ede, sendo Iresa a cidade-chefe. As outras cidades importantes são de Ofa (?) Oyan, Okuku, Ikirun, Osogbo, Ido, Ilobu, Ejigbo, Ede.

  1. O Epos são as cidades que se encontram ao sul e sudoeste de Oyo tendo a cidade principal Idode. Outras cidades importantes nesta divisão são: Masifa, Ife Odán, Arà, Iwo, Ilora, Akinmoirin Fiditi, Awe, Ago Oja.

Eles são chamados de Epos (ervas daninhas), porque eles estavam na parte mais remota do reino, rudes e grosseiros, em suas maneiras, muito desonestos, e longe de ser leal como as outras tribos. Os Owus eram geralmente contados entre eles, mas eles são uma tribo um pouco distinta dos Yorubas, embora agora domiciliado entre os Egbas.

Grandes mudanças foram efetuadas nestas divisões por meio das guerras revolucionárias que alteraram a face do país no início do século dezenove.

No distrito de Ekun Otun, Igana perdeu sua importância e seu lugar foi tomado por Iseyin.

Em Ekun Osì, Ikoyi, a cidade chefe, foi destruída por Ilorin, e Ilorin aliou-se aos estrangeiros Fulanis. A cidade de Oyo [antiga], agora em ruínas, foi transferida para Ago Oja no distrito de Epo. No distrito de Ibolo, Iresa deixou de existir, sendo absorvida por Ilorin, e seu lugar tomado por Ofa, que por sua vez foi parcialmente destruído pelos Ilorins em 1887, com muitas outras cidades neste distrito. Modakeke uma cidade grande e crescente, povoado por Oyos do Ekun Osì, surgiu no distrito de Ife, logo depois das fronteiras do Ibolos.

Owu foi destruída e nunca mais foi reconstruída.

O distrito de Epo agora inclui Ibadan, Ijaye e outras cidades anteriormente pertencentes ao Gbaguras. Idode deixou de ser a cidade chefe, essa posição agora pertence a Iwo, sendo uma cidade real. Mas Ibadan, que era originalmente uma vila Egba a estação militar do exército confederado que destruiu a cidade de Owu e as vilas de Egba, e mais tarde veio a ser uma cidade de Oyo, tem por meio de sua força militar forças para assumir o controle não somente do distrito de Epo, mas também sobre uma larga área do país. Ela possui uma população mista de várias tribos Yorubas.

Ijaye, formalmente uma cidade Egba, veio a ser povoada por Oyos do distrito de Ekun Osì (Ikoyi).

Todas estas, incluindo centenas de importantes cidades nesta área são povoadas por Yorubas propriamente ditos, ou Oyos, como eles são geralmente chamados.

Os Egbas, que eram na maior parte desdobramento destes, e anteriormente vivendo em aldeias e vilas independentemente, devido às guerras, reuniram várias vilas e cidadelas para formar a cidade, Abeokuta. Mais informação sobre isso será dada em outro lugar. Todos estes são reconhecidos como descendentes de Oranyan.

          Notas do tradutor:

  1. Há uma dúvida sobre Oranyan ser filho ou neto de Oduduwa. Porém, esta dúvida é esclarecida pelo próprio autor na mesma obra, parte II, cap. I, parágrafo II, p. 143, quando diz que:

Oranyan, the grandson of Oduduwa succeeded his grandfather on the throne.” (Oranyan, o neto de Oduduwa sucedeu seu avô no trono.)

       Ajisafe Moore em “Laws and Customs of Yoruba People”, 1924, Fola Bookshops, p. 6, esclarece que:

o uso da palavra Baba é muito extensa. Por exemplo: um yoruba poderá chamar seu tio, sobrinho, primo ou irmão mais velho, um mestre, ou chefe de família ou tribo, de Baba. A palavra Iya também tem a mesma extensão”.

  1. Além dos ofícios sacerdotais, administrava também os tesouros do rei Oranyan, por isso era chamado de Adimu Ola (Adimula). Adimula era conhecido por ser “Omo oluwò ni” (o filho de uma pessoa sacrificada). Esta frase isto foi reduzida para Owoni [e atualmente Ooni]. Oluwo é o termo para uma vítima sacrificada. Assim, segundo o relato de Jonhson, o Ooni Ifè não seria descendente da família real de Odùduwà, mas do servo de Oranyan chamado Adimula. (pg. 11).

  1. Segundo o autor, o Ooni de Ifè seria descendente de Adimu, cuja mãe foi sacrificada para Obàtálá. Adimu era um servo de total confiança do rei Oranyan, que ficou em Ilè Ifè para cuidar do trono, enquanto Oranyan estava fora. Com o tempo, e com a transferencia do governo político para Òyó, Adimula veio a ser rei em

      Ilè-Ifè por vacancia do trono.

  1. Um interessante debate com o título: “Quem foi o primeiro Ooni Ifè?” foi desenvolvido no grupo Orisa University, no Facebook, no qual alguns Iorubas nativos confirmaram que o Ooni Ifè não é descendente de Oduduwa, nem rei dos Iorubas. O debate pode ser visto AQUI

  2. 1 Ver “Narrativas de Viagens e Descobertas” por Major Denham e Capt. Clapperton, 1826. Apêndice XII, SEC. IV. ”, e, “Uma dependência tropical, por flora L. Shaw (Lady Lugard), 1905, Pgs. 227-228.

2 A razão atribuída para isso, era que ele foi "nascido na realeza", quer dizer, ele foi o primeiro a nascer depois que seu pai, Oduduwa, se tornou rei em Ile Ife. Este era o costume de “Aremo Oye”, ou seja, o primeiro nascido no trono, para suceder o pai.

3 Ejo significa papear [uma pessoa faladeira]. A frase então significa: “um caso decidido em Ake, está decidido”


       A seguir registraremos a fala de Rukayat Adelakun no debate informado na nota

(iv) imediatamente acima, que esclarece o tema:


___________________________

Arole, Aremo e Adele


Luiz L. Marins


27/07/2018

A palavra ioruba àrólé (pronuncia-se arolê) quer dizer: “herdeiro, aquele que sucede o chefe da casa ou um posto oficial.”

A palavra ioruba àrèmo (pronuncia-se arémó) significa: “príncipe primogênito e futuro herdeiro do trono real”.

A palavra ioruba adèlé (pronuncia-se adelê) significa: “representante de uma pessoa, delegado; aquele que age em nome de outra pessoa; uma pessoa por uma casa na ausência de seu proprietário”.


Entretanto, no trato de sucessão real Ioruba, não é tão simples assim. Por isso, queremos registrar aqui a fala da Ioruba Rukayat Adelakun, que a ofereceu em uma postagem do grupo Òrìsà University, no Facebook (link abaixo), na qual esclarece um pouco mais sobre o significado de “àrólé”.

 Vejamos:

RUKAYAT ADELAKUN







“Na terra e cultura iorubá, o primogênito masculino de uma família é chamado de "àrólé".


A palavra àrólé não tem nada a ver com a realeza ou linhagem da família real. 

Todo filho primogênito macho de uma família é um "àrólé". Seu primeiro filho nascido macho é um àrólé.
 

Aláàfin não pode ser um àrólé porque a primeira filha de Okanbi, que por acaso era neta de Oduduwa, era uma mulher. Os sete filhos de Okanbi eram três mulheres e quatro homens.


A primeira mulher é a mãe de Owu, e a primeira criança do sexo masculino é Orangun, que é, na verdade, o àrólé de Okanbi.
 

O único àrólé de Odùduwà é Okanbi, não o Ooni. O Aláààfin é o último filho nascido de Okanbi.

Um rei só terá UM “àrémo” (príncipe). Já que Aláààfin tem irmãos e irmãs mais velhos, ele não pode ser o Àrólé.

Ooni Ifè não é biologicamente ligado a Odùduwà, que veio a ser o progenitor da raça Iorubá.

Ooni é um zelador, e na terra ioruba o nome é "Adèlé" um zelador dos deuses, porque ele era um adivinho para o Aláààfin, ele consultava os deuses (òrìsà) para o Aláààfin.

Se Ooni está chamando a si mesmo de "Àrólé Oduduwa", é apenas um auto intitulamento para si mesmo, porque, na verdade, representa o zelador dos deuses e dos santuários.

Seria melhor que ele fosse um “Adèlé” e não “Àrólé".

Um exemplo “real” sobre adèlé, está no livro “A História dos Iorubas”, Samuel Johnson, que registra o mito de Oraniyan, então rei em Ilé Ifè, o qual, ao sair para lutar, deixa um representante em seu lugar para cuidar das obrigações religiosas chamado Adimu Ola, conhecido Omo Oluwo mi. (Ver link abaixo)

Fontehttps://iledeobokum.blogspot.com/2018/07/arole-o-herdeiro.html


Erick Wolff registrou um resumo AQUI que reproduziremos, como segue:


__________________________________

QUEM FOI O PRIMEIRO OONI IFE

Erick Wolff

Junho de 2018

De acordo com Samuel Johnson, em: The History of the Yorubas, cap. 1, p. 11, a palavra "ni" vem de "Owòni", que é uma contração de "Omo Oluwò ni", e significa "o filho de uma pessoa que foi sacrificada". Esta é a origem do termo ni.

Òdudùwa foi o progenitor dos Iorubas, mas nunca foi ni Ifè, pois este posto veio a existir depois.

Resumidamente, após a morte de ÒdudùwaOranyan assumiu o trono de Ifè, mas ausentou-se para guerrear, quando, então, fundou Òyó.

Nessa ausência, ele deixou no lugar um servo fiel e sumo sacerdote chamado Adimu O, que era conhecido por ser "Omo Oluwò ni".

Oranyan nunca mais voltou, e transferiu o poder político para Òyó, vindo então Adimula, seu servo fiel, a ser o governante real em Ifè.
 
Desta forma, segundo Johnson, o ni Ifè é o rei em Ifè, mas não é o rei dos Iorubas, e nem é descendente direto de Òdudùwa, como está sendo veiculado nas mídias sociais.

Assim, de forma isenta, é importante esclarecer que o líder dos reis Iorubas é o Aláàfin Òyó, Oba (Dr.) Lamidi Olayiwola Adeyemi III, Iku Baba Yeye, descendente consanguíneo de Oraniyan e Òdudùwa.



CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Iniciamos este artigo mostrando a informação do canal "Atualidade em Foco" o qual, no vídeo sobre os Iorubas, informa que o Alaafin estaria subordinado ao Ooni Ifé.


Entretanto, como vimos pelas informações das fontes aqui apresentadas, o Alaafin Oyo é soberano sobre os todos os Obas iorubas, enquanto o Ooni Ife, não é nem mesmo descendente de Oduduwa, sendo que ocupa um cargo de chefia apenas religiosa outorgado pelo Alaafin, ainda que atualmente ostente a posição de Oba de Ilé-Ifé.


Assim, o Ooni Ife não é o Oba supremo dos Iorubas, e diferente do que informou o citado canal, é o Ooni que deveria reportar-se ao Alaafin, e não inverso. 

PROJETO DE LEI RECONHECE OS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA

Já alguns tempo venho lendo leis que pouco contribuem para nossa sociedade afro religiosa, no entanto, o Projeto de lei CM 213/2022 me surpreendeu, por isso segue o merecido compartilhado neste blog:



Enviado por Matamoride Ijoba Angola em 14/01/2023



PROJETO DE LEI CM 213/2022 Reconhece os povos e comunidades tradicionais de Matriz Africana presentes nesse município e torna suas prática e saberes ancestrais integrantes do patrimônio cultural de natureza imaterial do município de Santo André.
AUTOR: Vereador Ricardo Alvarez (PSOL)

 

"A CÂMARA MUNICIPAL DE SANTO ANDRÉ APROVA:
Art. 1º Ficam reconhecidos os Povos Tradicionais de Matriz Africana (POTMA), as Comunidades Tradicionais formadas por estes Povos, historicamente presentes nesse Município, bem como a importância do povo negro em geral no processo de construção, física e cultural, desta cidade, desde a sua constituição até os dias atuais, e declaradas como Patrimônio Cultural, de Natureza Imaterial, da Cidade de Santo André as suas práticas e seus saberes ancestrais.

 

§1º Para fins desta Lei, entende-se por Povos Tradicionais de Matriz Africana:
I - Os grupos que se organizam a partir de valores civilizatórios e da cosmovisão trazidos para o país por africanos para cá transladados durante o sistema escravista, o que possibilitou um contínuo civilizatório africano no Brasil, constituindo territórios próprios caracterizados pela vivência comunitária, pelo acolhimento e pela prestação de serviços à comunidade; concomitantemente,
II - Os grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição; e
III - Os grupos que mantém a convivência em comunidade e o acolhimento, independente do grau de parentesco sanguíneo ou da ausência deste parentesco e que a classe social dos indivíduos não é levada em consideração, pois no momento em que estão inseridos nesta comunidade, por meio do processo ritualístico iniciático, passam a fazer parte de uma família tradicional de matriz africana, em que a hierarquia, o respeito ao mais velho e o compromisso com o mais novo, são fatores fundamentais para a preservação da tradição e costumes ali conservados, historicamente praticados e repassados por meio da oralidade.

 

§2º - Os Povos Tradicionais de Matriz Africana não se constituem em uma unidade homogênea, mas em uma diversidade integradora.

 

§3º Para fins desta Lei, entende-se por:
I - Comunidades Tradicionais de Matriz Africana:
a) Unidades territoriais, Territórios ou Casas Tradicionais / Terreiros / Roças / Barracões - constituídos pelos africanos e/ou sua descendência no Brasil, no processo de insurgência e resistência ao escravismo e ao racismo, a partir da cosmovisão e ancestralidade africanas, e da relação desta com as populações locais e com o meio ambiente, representando o contínuo civilizatório africano no Brasil, constituindo territórios próprios caracterizados pela vivência comunitária, pelo acolhimento e pela prestação de serviços na comunidade, são espaços de alta complexidade, por serem onde se ritualizam origem e destino e onde tomam forma a cultura, as representações e os valores ancestrais ; concomitantemente,
b) Espaços de busca do sentido de pertencimento dos POTMAS, embora com diferentes denominações a depender da região do país e do povo que a constitui, prevalece em todos esses territórios tradicionais de matriz africana, "um conjunto organizado de representações litúrgicas" que tornam esses espaços/comunidades "territórios político/mítico", lugares de resistência, transmissão de conhecimentos e preservação de identidades, sendo reconhecidos, ao longo das décadas, como lugares privilegiados de manutenção, construção e reconstrução tanto da tradição quanto de sua cosmovisão, considerando que, no caso dos Povos Tradicionais de Matriz Africana, o vínculo entre essas duas esferas intrínseco e indissolúvel.
II - Autoridades Tradicionais de Matriz Africana: os mais velhos da comunidade tradicional, investidos da autoridade que a ancestralidade lhes confere.
III - Lideranças Tradicionais de Matriz Africana: as demais lideranças constituídas dentro da hierarquia própria dos territórios e das casas tradicionais.
Art. 2º O reconhecimento previsto no art. 1º desta Lei visa estimular à discussão sobre a criação e implementação de um Inventário das Referências Culturais de Matriz Africana da Cidade de Santo André, com vistas a mapear, catalogar, identificar e registrar, através de estudos técnicos e científicos, as práticas e saberes preservados pelos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africanas no Município, em suas diferentes vertentes:
I - Formas de Expressão;
II - Ofícios e Modos de Fazer e viver;
III - Celebrações;
IV - Lugares e territórios;
V - Edificações.
Art. 3º Para fins do disposto nesta Lei, o Poder Executivo Municipal procederá aos registros necessários nos livros próprios do órgão competente.
Art. 4º O reconhecimento previsto no art. 1º desta Lei visa igualmente estimular à discussão sobre a criação e implementação de um Plano Municipal de Desenvolvimento Sustentável dos POTMAS no Município de Santo André, que contemplem as seguintes diretrizes:
I - Garantir a estes povos seus territórios, e o acesso aos recursos naturais que tradicionalmente utilizam para sua reprodução física, cultural e econômica;
II - Implantar infraestrutura adequada às realidades socioculturais e demandas dos POTMAS;
III - Garantir os direitos desses afetados direta ou indiretamente por projetos, obras e empreendimentos;
IV - Garantir e valorizar as formas tradicionais de educação e fortalecer processos dialógicos como contribuição ao desenvolvimento próprio de cada povo e comunidade, garantindo a participação e controle social tanto nos processos de formação educativos formais quanto nos não formais;
V - Reconhecer, com celeridade, a autoidentificação dos POTMAS, de modo que possam ter acesso pleno aos seus direitos civis individuais e coletivos;
VI - Garantir o acesso aos serviços de saúde de qualidade e adequados às suas características socioculturais, suas necessidades e demandas, com ênfase nas concepções e práticas da medicina ancestral e tradicional;
VII - criar e implementar, urgentemente, uma política pública de saúde voltada aos POTMAS;
VIII - garantir o acesso às políticas públicas sociais e a participação de representantes dos POTMAS nas instâncias de controle social;
IX - Garantir nos programas e ações de inclusão social recortes diferenciados voltados especificamente para os POTMAS;
X - Implementar e fortalecer programas e ações voltados às relações de gênero nos POTMAS, assegurando a visão e a participação feminina nas ações governamentais, valorizando a importância histórica das mulheres e sua liderança ética e social;
XI - garantir aos POTMAS o acesso e a gestão facilitados aos recursos financeiros provenientes dos diferentes órgãos de governo;
XII - assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e coletivos concernentes aos POTMAS, sobretudo nas situações de conflito ou ameaça à sua integridade;
XIII - reconhecer, proteger e promover os direitos dos POTMAS sobre os seus conhecimentos, práticas e usos tradicionais;
XIV - apoiar e garantir o processo de formalização institucional, quando necessário, considerando as formas tradicionais de organização e representação local; e
XV - Apoiar e garantir a inclusão produtiva com a promoção de tecnologias sustentáveis, respeitando o sistema de organização social dos POTMAS, valorizando os recursos naturais locais e práticas, saberes e tecnologias tradicionais.
Art. 5° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação"


Fonte http://www.cmsandre.sp.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=18968:2022-11-29-19-25-54&catid=12:noticias-do-vereador&Itemid=9 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O USO DA PALAVRA ODU NO ORÁCULO DO BATUQUE

 Por Erick Wolff de Oxalá

Em 11/01/2023


Este breve artigo tem por finalidade esclarecer que o Batuque do Rio Grande do Sul, não usa nem precisa de odù.

O sistema oracular do Batuque do Rio Grande do Sul se apoia no orixá, e suas quedas não são enumeradas nem mesmo marcadas desta forma não há encaixe o odù

Vejamos o que significa a palavra odù:

Dicionário Yorubá Português (Beniste, p.  558) • Odù:  Conjunto de signos do sistema de Ifá que revela em forma de poemas, que servem de instruções diante de uma consulta.

E a palavra Kádàrá significa destino no idioma ioruba, que no Brasil é pouco conhecido o seu real significado:

Dicionário Yorubá Português (Beniste, p.  440) • Kàdárà: Destino, sina.

 Em outros dicionários a palavra destino.

Dictionary of Modern Yorùbá (Abraham, p. 357) • Kádàrá: Destiny – Destino.

Dictionary of the Yorùbá Language (CMS, p. 40) • Kàdárà: predestinate – Destino.  

Porem, atualmente alguns batuqueiros associam as quedas do jogo de búzios do Batuque, com a palavra odù, a destino; no entanto, esta expressão não tem nada a ver com odù-òrìsà nem odù-ifá, pois o sistema do jogo do Batuque não é numerado nem fracionado.

Os mais velhos costumavam chamar de Ifa o sistema de Búzios do Batuque. 

Importante destacar que o jogo de búzios do Batuque, apesar de ser chamado de Ifa pelos mais velhos, nada tem nada haver com Ifá-Òrúnmìlà que usa ikin ou òpèlè.

Assim consideramos que o atual uso da palavra odù, como destino para o jogo de búzios do batuque é apenas de uso pessoal. 


Informações complementares
Dicionário Yorubá Português (Beniste, p. 343) • Ifá: sistema de consulta divinatória que utiliza 16 coquinhos de palmeira, òpe ifá.

Dicionário Yorubá Português (Beniste, p. 344) • Ìfà: boa sorte, ganho, vantagem.

Dicionário Yorubá Português (Beniste, p. 344) • Ìfà: função.

Dicionário Yorubá Português (Beniste, p.  344)  Ì: ferramenta com dois cabos usada para escavar a polpa da cabaça verde.

Dicionário Yorubá Português (Beniste, p. 367) • Ikin: coquinho de dendezeiro. Na pratica religiosa, eles simbolizam a personalidade de Òrúnmìlà, sendo utilizados os que possuem quatro orifícios ralos, conhecidos como olhos e jogados em número de 16, em oito jogadas sucessivas que objetivam encontrar oito sinais - odù.

Dicionário Yorubá Português (Beniste, p.  622)  òpèlè: corrente intercalada com oito sementes côncavas para prática de  consulta divinatória de Ifá.

PAI ACIMAR, OYO

Postado pelo Jornal do Batuqueiro, em 11/01/2023, acessado às 10:00, esta postagem registra o segmento religioso do Pai Acimar. Confira:


"Pai Acimar de Xangô Taió, nação Oyo, Pai Acimar foi Pai de santo de Mãe Eulinda de Oyá Bemi, Oyo com Jeje, hoje quem carrega a bandeira é pai Chiquinho do Oxalá (povo da Veiga).

Foto: acervo do Pai Chiquinho de Oxalá

Colorida artificialmente"

TIKTOK ERICK WOLFF

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