segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

A CABULA E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMBANDA

Postado por Religião Respeito Humildade

Em 20/02/2023



"A CABULA E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMBANDA

Origem


A cabula foi uma manifestação religiosa afro-brasileira que surgiu no final do século XIX, no período pré abolicionista, provavelmente na Bahia (não há um consenso sobre o local de origem), se estendendo ao Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e que pode ser considerada uma das precursoras da umbanda. Acredita-se que tenha se originado a partir dos calundus coloniais e é o resultado de práticas ancestrais dos povos bantos e malês, sincretizadas ao catolicismo e também ao espiritismo. Cabula também é o nome de um bairro em Salvador que surgiu a partir do Quilombo do Cabula e de um ritmo de percussão angolano que inspirou o samba..

Alguns historiadores e antropólogos apontam a existência de poquíssimas casas remanescentes que preservam de alguma forma o culto da cabula nos dias atuais, pricipalmente em Minas Gerais e em Santa Catarina (relação com almas e angola), outros defendem que o culto está praticamente extinto, entretanto deixou o seu legado na formação de outras praticas religiosas similares.

Organização

Após a assinatura da Leia Áurea, os negros, apesar de livres, foram deixados à margem da sociedade e tudo o que era relacionado aos antigos escravizados não era bem visto, inclusive suas práticas religiosas, que por muito tempo foram perseguidas e combatidas. Por esse motivo, o culto da cabula era muito reservado e praticado dentro das matas e durante a noite. Os adeptos passavam por um ritual de inicação, sob o juramento de não revelar detalhes e nem o local do culto; era o preceito do segredo.

A cabula talvez tenha sido a primeira manifestação afrorreligiosa mais organizada em termos de liturgia, com a presença de altares ou mesas, o uso de roupa branca e pano cobrindo a cabeça, imagens de santos católicos sincretizados a divindades africanas, a figura de um sacerdote (embanda) e uma hierarquia bem definida dentro da prática religiosa. Boa parte dessa organização foi absorvida pela macumba carioca e mais tarde pela própria umbanda. Há relatos de historiadores sobre a utilização de um oráculo de búzios pelos cabulistas, o que levanta duas hipóteses: a de que houve um sincretismo com os iorubás; ou de que os bantos também utilizavam um sistema oracular semelhante aos nagôs. Isso explica a presença de oráculo de búzios em raízes como o omoloko, almas e angola, kimbanda e batuque, vertentes que descendem da cabula.

Liturgia

O ritual da cabula era caracterizado pela manifestação de espíritos através do kambula ou xinguilamento (transe/incorporação). As pessoas (cafiotos) que se reuniam para realizar suas práticas religiosas formavam um grupo denominado mesa, as quais eram batizadas com nomes de santos católicos, como por exemplo, Mesa de Santa Bárbara. As mesas eram organizadas por um sacerdote conhecido como embanda. Os embandas eram auxiliados por um cambone, uma espécie de ajudante. O ritual era conduzido por entidades espirituais intituladas "Tatá", que no dialeto kimbundo significa "pai". Os Tatás se comunicavam através dos iniciados no culto, que recebiam o nome de camanás. Os não iniciados eram chamados de caialos.

Os camanás eram preparados para estabelecer uma comunicação com o santé (espíritos que habitavam as matas), que era o objetivo principal do culto. Cada camaná recebia também o seu Tatá protetor. Há registros de diferentes nomes de Tatás, como Tatá Guerreiro, Tatá das Matas, Tatá Flor de Carunga, o Tatá Rompe Serra, Tatá Rompe Ponte, Tatá Rompe Mato, dentre outros. O encontro dos Tatás manifestados era chamado de engira. Acredita-se que os santés eram divindades que hoje são chamadas de orixás ou nkisis e os Tatás as entidades como exus, caboclos e pretos velhos. Os camanás que recebiam os santés, logo ascendiam a posição de embanda.

O encontro dos Tatás era denominado engira. Os cabulistas reverenciavam ainda os bacuros, que eram espíritos ancestrais que nunca encarnavam. Segundo O. Cacciatore, o termo proviria da expressão iorubá " i g b à k ú r ò " isto é salvador [ D C A f B r : 6 1 ]. Parece que os bacuros tinham representação estatuária, portanto não está claro se os bacuros são espíritos ou as images que ficavam sobre as mesas.

As engiras costumavam ocorrer mata adentro, geralmente sob a guarda de uma árvore frondosa e a luz de uma fogueira, o local do culto chamava-se camucite. Os camanás se organizavam em círculo e em cada ponto cardeal era colocado uma vela com uma imagem católica. O embanda então conduzia o ritual entoando cânticos denominados nimbus, que eram ritimados por palmas. Logo os camanás entravam em transe e após a chegada dos Tatás, os cambones ofertavam vinho, raízes para mascar e fumo em cachimbos. O ritual então seguia com benzições através de infusões de ervas, com as iniciações dos novos camanás utilizando um pó branco chamado enba (pemba). Também existia o uso liturgico da fumaça para defumação. Os Tatás realizavam atendimentos, aconselhavam pessoas e desenhavam símbolos cabalísticos no chão.

Os cafiotos utilizavam roupas brancas e na cabeça uma espécie de gorro denominado camalelé ou camolelê semelhante aos mulçumanos. Esse datalhe demonstra a influência dos malês (negros de origem mulçumana no culto). Não raro, os adeptos também utilizavam lenços e ou panos brancos para cobrir a cabeça.

Particularidades

A cabula, além de ter sido um movimento religioso também foi um movimento de resistência e por muito tempo contribuiu para luta pela liberdade efetiva das pessoas negras, estruturando quilombos e subsidiando de alguma forma as revoltas negras e por isso, foi duramente perseguida pelas autoridades da época representando uma verdadeira ameaça às auoridades. A sobrevivência da cabula só foi possível graças ao seu caráter reservado, de sociedade secreta. Em um outro momento, após a abolição, a cabula também foi utilizada como arma oculta dos negros contra os brancos, através da realização de magias e feitiços, com o objetvo de prejudicar àqueles que eram considerados inimigos.

Extinção e legado

Como já mencionado, a cabula foi amplamente perseguida pela polícia e as autoridades da época, mesmo após a abolição da escravidão; e isso fez com o que a religião sofresse adaptações ao longo do tempo e consequentemente a extinção do culto original, ou melhor dizendo, a transformação em outras práticas. O fato dessa manifestação religiosa ter ocorrido em um passado relativamente recente proporcinou um bom trabalho de pesquisa com acesso a registros e narrativas detalhadas sobre o culto, o que nos permite concluir que a Cabula se desdobrou em outras práticas religiosas que estão ativas até hoje.

Alguns antropólogos afirmam que a Cabula, através do sincretismo com outras culturas, formou a macumba carioca, o Omoloko, Almas e Angola, o Batuque, a kimbanda e a própria umbanda. O chamado mito de criação da umbanda foi engendrado nesse cenário que já era palco de todas essas práticas afrorreligiosas. É possível perceber divesas semelhanças e até mesmo a reprodução de alguns atos liturgicos da cabula na umbanda e em outras religões contemporâneas. Conceitos e definições aplicados no passado, ainda permanecem vivos em nossa religiosidade. Palavras como enba (pemba), engira (gira), tatá, bacuros, embanda, cafioto; ainda estão presentes em nosso vocabulário liturgico. Heranças como o ponto riscado, o uso de roupas brancas, panos de cabeça e cantigas fazem parte de nossa realidade hoje.

O fato é que a cabula, assim como outras práticas religiosas, como a santidade, o calundu colonial e a macumba, possuem algo em comum e estão interligadas nesse processo de contrução das religiões de matrizes africanas no Brasil, especialmente a umbanda e a kimbanda. Não há duvidas de que essas manifestações religiosas são as práticas formadoras da umbanda.

Texto e pesquisa: André Luiz
Sacerdote de Umbanda

REFERÊNCIAS:

BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas no Brasil: Contribuição a uma Sociologia da
Interpenetração de Civilizações. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1971.

COSTA, Valdeli Carvalho. Cabula e Macumba. In: Síntese: Revista de Filosofia. Belo
Horizonte: FAJE, 1987, v. 14, n. 41.

LOPES, Nei. Religiosidade na Diáspora: continuidade e permanência. In: SOUZA, R.
Seminário Internacional Diversas Diversidades. Rio de Janeiro: Cead/UFF, 2015.

RODRIGUES, Raimundo Nina. Os Africanos no Brasil. Rio de Janeiro: Centro
Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010. Re-edição de texto de 1933.

@todos , informação de relevância! Ao compartilhar, dê os devidos créditos.
Lei 9610.

Religião Respeito Humildade"
Link - https://www.facebook.com/photo/?fbid=578036504350931&set=a.466401592181090

sábado, 18 de fevereiro de 2023

ÈṢÙ BARA NÃO É O "REI DO CORPO"

Baba Marco

08/02/2023

 Èṣù Bara NÃO É o "Rei do Corpo"

"O Òrìṣà Èṣù tem sido relacionado nas religiões afro-brasileiras como o “Rei do Corpo”. Estas vertentes acreditam que Bara seria uma “corruptela” de Ọbara, onde, traduzindo do yoruba, temos: Ọba = rei + ara = corpo.

Primeiramente, ressaltamos que, conforme a gênese mitológica yorùbá, o “criador do corpo humano” é Ọbàtálá:

 

( ... ) “E assim Obatalá criou todos os seres vivos e criou o homem e criou a mulher. Obatalá modelou em barro os seres humanos e o sopro de Olodumare os animou. O mundo agora se completara. E todos louvaram Obatalá.” Reginaldo Prandi, Mitologia dos Orixás, pg. 286

 

( ...) “Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos, aos quais ele, Olodumaré, insuflaria a vida” Pierre Verger, Os Orixás,

Como vemos acima, se algum Orixá deveria ter o título de “Rei do Corpo”, este seria Ọbàtálá.

Uma das influências para Bara estar relacionado com o corpo, deve-se à Juana Elbein dos Santos, pois em seu livro “Os Nago e a Morte”, ela faz esta relação várias vezes, como por exemplo, na pg. 181:

“Em segundo lugar que todos os seres, sem exceção, todos os Irúnmàlè, todos os seres do òrun ou do àiyé, todas as porções de existência diferenciada, só podem existir e expressar-se por possuir seu Èsù, seu princípio de vida individual, seu elemento dinâmico, o rei do corpo: bara = oba + ara. ”

“Se cada coisa e cada ser não tivesse seu próprio Èsù em seu corpo, não poderiam existir, não saberiam que estão vivos. ”

Entre os yorùbá, a relação com o corpo é bem diferente da nossa. Os termos usados para as partes do corpo são, muitas vezes, usados para falar de outras coisas além das partes do corpo. A explicação para isso é tão comum quanto intuitiva: ela tem a ver com a primazia da experiência do corpo.

Orí, por exemplo, significa cabeça mas também é usado como algo que está acima, como cume, topo, pico. Ojú, significa olho mas também pode ser usado como algo que está à frente, como por exemplo, ojúgun (canela), derivado dos termos ojú (olho, face, frente) e eegun (osso).

Esta primazia da experiência do corpo faz com que as palavras compostas por “ara” sejam automaticamente ligadas de alguma forma ao corpo, conforme abaixo:

Bààrà = adj. largo, amplo
Báara = v. alguém encontrar-se com a própria pessoa ou a própria pessoa se encontrar em algum lugar
Fáárà = v. estar próximo, estar perto, estar para fazer algo

A relação da palavra Báara com a própria pessoa, bem como a similaridade fonética, também pode ter influenciado erroneamente na associação de Bara com o corpo.

Por último, temos o odu Òbàrà: 6º odu de entrada do sistema divinatório de Ifá e também utilizado no Candomblé, cuja caída são 6 búzios abertos e 10 fechados. Este odu está relacionado diretamente com a prosperidade, a riqueza, ao caráter e ao comportamento. Por ser um odu que “abre portas”, e pela semelhança da escrita e da fonética, provavelmente foi diretamente relacionado a Èṣù.

Ser o Rei do Corpo, não é título e nem é uma das propriedades de Èṣù. Seguem alguns títulos e nomes, entre muitos, os quais Èṣù, o Divino Mensageiro de Olódùmarè é conhecido:
  • Ẹlẹ́gbára = O Poderoso
  • Ọlọ́na = O Senhor dos Caminhos
  • Òlóde = O Dono da Rua
  • Bara = Refere-se à força de Èṣù
  • Ẹlẹ́gbà = Refere-se ao bom caráter de Èṣù (Não é Légba, que é um Vodun)
  • Ìjẹ̀lù ou Àjẹ̀lù = Localidade do Estado de Ekíti, Nigéria
  • Alàáròyé = O Grande comunicador
  • Adákẹ́ = O silencioso
  • Òjíṣẹ́ = O Divino Mensageiro
  • Agóngó ọ̀gọ = Aquele que carrega o ọ̀gọ
  • Ọlọ́pàá = O inspetor, fiscalizador
  • Oríta = O Dono das Encruzilhadas
  • Ọ̀dára = Aquele que faz maravilhas"


FONTE: Página de Baba Marco no Facebook: aqui 




quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

IORUBÁ ARCAICO X IORUBÁ MODERNO

Por Hérick Lechinski

Publicado em 15/02/2023





IORUBÁ ARCAICO X IORUBÁ MODERNO

Trazendo para a minha timeline um tema que vi em um grupo e achei bastante interessante comentar sobre. Então resolvi trazer ele para cá.

É importante (necessário) um adepto da Umbanda aprender o idioma iorubá?
Então, embora acreditando que conhecimento não toma espaço, acho desnecessário um Umbandista aprender um idioma que pouco é utilizado em sua religião, pois, poucas são as palavras em iorubá utilizadas dentro da Umbanda, dentro das diversas tradições Umbandistas existem muito mais palavras de origem bantu e indígenas do que em iorubá.
Agora se você me perguntar, é importante um adepto do Ẹ̀sìn Òrìṣà Ìbílẹ̀ (Culto Tradicional Iorubá aos Orixás), do Candomblé Kétu, Ẹ̀fọ̀n ou Ìjẹ̀ṣà e do Batuque aprender o idioma iorubá?
Eu responderei, COM CERTEZA, porque é o idioma utilizado dentro destas tradições religiosas para evocar os Deuses, rezar, cantar, encantar e etc.
Aí vão dizer assim:
- Ahhhh mas o iorubá utilizado em cantigas do Candomblé e do Batuque é o iorubá arcaico e não este que aprendemos nos cursos de iorubá de hoje.
Então eu vou responder:
- NÃO EXISTE IORUBÁ ARCAICO. O máximo que existe são algumas expressões que podem ser mais antigas e não mais utilizadas, isso é normal em qualquer idioma. Mas está história de iorubá arcaico. Isso foi criado para justificar as pessoas cantarem coisas em iorubá errado e principalmente que não sabem o significado. Então, não caiam nessa. Principalmente você que é sacerdote (isa) e lidera uma comunidade.
O iorubá é um idioma tonal bastante complexo, e se as pessoas ficarem rezando e cantando de qualquer jeito, aquilo vai sendo passado de forma "errada", e no final, não estamos falando nada com nada.
Já pensou se o padre rezasse latim de qualquer jeito, rsrsrsrs.
Então, ou rezamos em português ou em iorubá mais perfeito que conseguirmos.
Querem indicação de um ótimo professor e uma idônea escola de iorubá, aí vai: Roger Buono e Projeto Olú.
Beijo no coração de todos.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

KELE É O FIO DE CONTAS DE SANGO

Postado por Yemojagbemi Arike


Foto: Fazendo kele na cidade de Òyó

Kele é o nome do fio de contas do Orisa Sango.
Registro Yemojagbemi Arike 2018 - Òyó Nigéria
Beijos
Yemojagbemi Arike

REALINHAMENTO OU QUEBRA DE FUNDAMENTO

REALINHAMENTO OU QUEBRA DE FUNDAMENTO

Baba Marco

15/02/2021

Publicado no Facebook


"Batuque: denominação de uma das religiões afro-brasileiras, a qual cultua os Orixás, nascida no Rio Grande do Sul.

Dentro deste conceito, o Batuque possui dogmas, tradições, crenças e fundamentos próprios, os quais fazem do Batuque uma religião única.

Fundamento é o alicerce, a base, o conjunto de regras básicas de organização e funcionamento de uma instituição. Se um destes fundamentos é retirado ou mudado, ao ponto de diferenciar-se do original, cria-se algo novo.

Dentro de um culto religioso, mesmo que baseado em outra religião, ainda que matriz, cria-se um novo conceito. O melhor exemplo a ser dado, refere-se às religiões Judaica e Cristã, onde o Cristianismo, originário do Judaísmo, acabou tornando-se outra religião. Obviamente, isso acaba gerando discrepâncias. No Cristianismo, o Deus do velho testamento é completamente diferente do cultuado no Novo Testamento. No Judaísmo, Jesus é apenas um profeta, onde o “salvador” ainda não se manifestou, visto não ter aparecido alguém que preencha os requisitos para ser “o messias”. No Cristianismo, os cristãos acreditam que este messias seja Jesus. No Judaísmo, não há intermediários para se chegar até Deus. No Cristianismo, Jesus diz que “ninguém vai ao pai, senão por mim”. Como a religião é dinâmica e sofre influências externas e internas, alguns seguidores do Judaísmo mesclaram as duas religiões e criaram o “Judaísmo Messiânico”, onde seus membros, que são judeus, acreditam no messianismo de Jesus.

Nos dias de hoje, temos a alegria e a facilidade da internet pois podemos fazer consultas, pesquisas, entrar em contato com várias pessoas de várias localidades do mundo, etc. Particularmente, sou a favor de pesquisas na religião yorùbá para que consigamos algumas explicações necessárias a alguns entendimentos e questionamentos sem ultrapassar o limite do fundamento, evitando descaracterização.

Voltando ao Batuque, o mesmo possui dogmas e fundamentos os quais o diferencia completamente das outras religiões afro-brasileiras e até da religião matriz. Como exemplo, só no Batuque existe o “dogma da ocupação”, onde não se fala sobre a manifestação do Orixá para a pessoa a qual o Orixá se manifesta. Só no Batuque, o culto a Orí é mesclado com o culto a Orixá. Só no Batuque, a leitura do jogo de búzios é realizada por configuração. Esses dois últimos casos são tidos como “fundamento”, visto ser realizado desta maneira somente no Batuque e, se retirados ou alterados, desconfigurariam totalmente o mesmo, criando-se algo novo.

No Batuque, o Borí é considerado iniciático e é realizado com as características do Orixá da pessoa: o número de búzios a ser usado é a conta do Orixá, algumas das aves usadas são da cor do Orixá e canta-se a reza do Orixá da pessoa. Algumas famílias cantam para Orí antes da reza do Orixá. No meu entendimento, seria algum tipo de bênção do Orí da pessoa para o recebimento daquele Orixá e do seu axé na sua vida.

Na Religião Tradicional Yorùbá e, com algumas diferenciações, no Candomblé, o culto a Orí é totalmente desligado do culto ao Orixá, visto que Orí é considerado um Orixá pessoal. O Borí não é iniciático, não há obrigatoriedade da existência de um “igbá orí ou ilê orí” (no Batuque, mantegueira/cremeira) e, quando existente, é realizado de maneira totalmente diferente. Pode-se realizar um Borí em qualquer pessoa, mesmo ela não fazendo parte do culto, não tendo qualquer tipo de vínculo religioso antes e após sua realização.

Basicamente, o jogo é realizado através da consulta dos 16 odus principais, onde são jogados 16 búzios e a quantidade de búzios abertos revela um determinado odu, o qual possui algumas determinações e ebós específicos.

Nos dias atuais, estamos convivendo com discussões pelas redes sociais onde alguns seguidores do Batuque propõem e já fazem, por iniciativa própria, visto que suas famílias originalmente não fazem, um “realinhamento” com a Religião Tradicional Yorùbá, onde Orí seria cultuado separadamente do Orixá. Na carona deste “realinhamento” vem a leitura do jogo de búzios por Odu, visto que é impossível Orí se manifestar totalmente dentro do jogo de búzios por configuração do Batuque. Obviamente que se consegue realizar algumas perguntas com relação ao Orí da pessoa mas, fundamentalmente, quem responde nos búzios do Batuque é Orixá.

Por que impossível a manifestação total de Orí no jogo do Batuque? Simples: Orí responde diante da leitura dos búzios por Odu, a qual é baseada SOMENTE nos 16 odus principais, conforme vimos anteriormente. Ora, se o Batuque realiza a leitura por configuração, de onde viriam os textos dos Odu para a consulta? Dos Odu Ifá, utilizados na Religião Tradicional Yorùbá? Dos Odu utilizados no Candomblé? De qual família?


Obviamente, existem muitas coisas a serem perguntadas nas entrelinhas da minha explanação. Entre estas, a maior delas é: trazer estes rituais que não são do Batuque para dentro do Batuque seria um realinhamento ou quebra de fundamento? Fica a reflexão."

FONTE: publicado no Facebook aqui





ADENDO DA REDAÇÃO DO BLOG

Há uma divergência de fundamentos no Bori do Batuque.

Diferente do que informa o Baba Marcos, o Babalawo Coutinho, dirigente espiritual do Egbe Awo Ase Imoye Oyo Aworeni, descendente da família da mãe Emília Ladja, publicou na sua pagina pessoalinformações sobre a existência do Bori separado do orixá nessa família, como veremos a seguir:
Em 24/11/2022 


[...] As casas de Oyó que ainda funcionam conforme as Tradições da Princesa Emilia de Oyá Ladja possuem os seguintes ritos:[...] 
Nosso Bori não é feito junto com o Orixá! E sim separado! Com rezas e feituras próprias! [...]


Sugerimos que esta diferença ritual no bori do batuque seja objeto de um estudo mais profundo, localizando as famílias que praticam um, ou outro ritual de bori. 

Acesso: 

https://iledeobokum.blogspot.com/2022/12/costumes-e-ritos-do-batuqueo-do-rs.html  

sábado, 11 de fevereiro de 2023

QUEM SÃO OS JEJE!

Este artigo registra uma postagem do autor João Luiz Félix Pereira, que foi compartilhado no Facebook do Babalorixá João.

O texto informa que a palavra Jeje é denominação de quem veio de longe. 

Postado por João Gunga Do Babá

Em 17/01/2023 acessado em 11/02/2023

 

"Em Dahomé, a Nação denominada Jêje, recebeu influência direta do povo que ali vivia, o povo chamado de Fon ou Ewê Fon, que em dialeto local significava "o que veio de outro lugar, ou de longe. Ewê, ou Jêje mais precisamente , instalou-se no leste desse País na localidade de Mahin, litoral do Dahomé onde existiam as minas de pedras preciosas e de extração de ouro, de domínio da Coroa de Portugal, sendo no século XVII, dominada pelos ingleses.

Foi ali nesta localidade litorânea, construído o Forte de São Jorge da Mina, para defender a tão cobiçada cidade e suas riquezas naturais até então, pertencente ao já antigo povo Mahin.

Agora, os preceitos Religiosos da Nação do Povo Jêje, atravessaram o mar vindo para o Brasil, pelas mãos do ilustre Príncipe Custódio de Sakpatá da real família que governava Benin.

No ano de 1864 a Nação Jêje chega ao Brasil e posteriormente no ano de 1883 chega ao Rio Grande do Sul, antes estando em outros estados brasileiros. Posteriormente formou novos Babalorixás e Yalorixás por todo estado gaúcho. E nesse estado brasileiro recebe o nome de Batuque pelas pessoas leigas que ouviam os tambores desta Religião em dias de festa e rituais. É um rito proveniente da Matriz Africana, assim como a Macumba do Rio de Janeiro, o Candomblé da Bahia, o culto chamado tambor de Mina, ou Mina Jêje no Maranhão e o ritual de Xangô no estado de Pernambuco, Batuque é tão somente mais uma variante oriunda do grande continente Africano. Jêje não é portanto uma Nação política ou geograficamente reconhecida, por não existir nenhum lugar na África com esse nome, correto seria então dizer Nação Mahin, cujo apelido ou nome popular , acabará ficando Jêje, que é um Rito do Povo Nagô, dos Yorubás: Todo Jêje é Nagô!
(João Luiz Félix Pereira)"


Fonte https://www.facebook.com/photo/?fbid=2323990747776793&set=a.248804551962100&comment_id=705844741146294&notif_id=1674045995129282&notif_t=feedback_reaction_generic&ref=notif
 



TIKTOK ERICK WOLFF

https://www.tiktok.com/@erickwolff8?is_from_webapp=1&sender_device=pc