Publicado pelo Dário de notícias
Em 23/04/1955 acessado em 28/02/2022 às 17:18hrs
Para fim de pesquisa e estudo, neste trabalho transcrevemos apenas os trechos que se referem ao Batuque da mãe Apolinária, ignorando o que não possuía teor afro religioso.
Carlos Galvão KrebsNo "terreiro" de Apolinária, durante a grande festa pública, surge na sala de danças rituais a imagem de ogum, deus da guerra e do ferro. Na realidade é de São Jorge, santo católico ao qual ogum está assimilado no Rio Grande do Sul. Na festa de 23 do corrente a casa de Apolinária estava tão cheia que dificilmente se conseguia um lugar.
"A Passagem por esta Capital do músico e folclorista alemão Fritz Joede - Revigorou as canções e corais alemães no Estado e precipitou o contato da cultura germânica com a cultura negra no Rio Grande do Sul - Pela primeira vez descendentes de alemães visitam em grupo um "terreiro" de batuque, em atividade oficialmente programada pelo Estado. " (Carlos Galvão Krebs)
[...] Como nota espetacular assistimos ao sacrifício de um touro, dentro da casa de culto. O sangue tingia o assoalho, a cabeça e as mãos dos crentes em catadupas. Principalmente quando foi abatido o touro, cuja cabeça decepada dançou sobre o crânio de Apolinária, como um lanuto capacete de Guarda Real do palácio de Buckingham. Com a vantagem das aspas, ao sabor dos velhos guerreiros das "bandas" germânicas.
NA "CÔTE D'AZUR"
A uma quadra do "terreiro" de Apolinária está localizada uma "boite", a "Côte D'Azur". Em meio à matança o senhor Cônsul Hagermann teve a gentileza de convidar-nos para descansar e matar a sede na "boite". Lá fomos. Fizeram-nos uma grande exceção: deixaram entrar apenas homens, sem as damas de acompanhamento. [...]
[...] Depois disto, voltamos à sala de sacrifícios, na casa de Apolinária. O professor Joede, o Cônsul Hagemann e o professor Marcheler tiveram de desertam em função de seus compromissos da manhã seguinte. Os outros ficaram até mais tarde e nós até o fim.
A FESTA PÚBLICA DO "TERREIRO" DE APOLINÁRIA
Foi esplêndida, concorrida, vibrante, Lamentavelmente Apolinária havia determinado o "uniforme" do dia: cor branca. Não pode, por isto, apreciar o belo espetáculo do colorido variado, segundo as cores dos diversos orixás. No entanto, estavam de chefes-de-culto das religiões afro-gaúchas. Foi uma festa brilhante, com assistência acima do normal. A gente se apertava como sardinha em lata , para poder estar na sala de dança. Em atenção ao professor Joede, o Instituto de Tradições e Folclore havia programado uma visita oficial à festa, aberta a todos os interessados, e com a aquiescência de "mãe" Apolinária. Lá compareceu a fina flor da colônia Alemã na Capital [...]
[...] A "GAFE" DE UM VISITANTE
Uma pessoa da cultura alemã foi junto com todos até a cozinha, sem saber para quê. Na entrada nós nos encontrávamos ao lado de uma das mais diretas auxiliares de Apolinária, a Sidoninha. Essa pessoa de cultura alemã perguntou sobre o que se iria fazer. Respondemos que iriamos saborear as "comidas de santo", ao que obtivemos a resposta: (o grifo é nosso)
- Hum! Isso eu não como!
Nós tentamos amenizar a situação, insinuando que poderia comer com absoluta confiança aquelas que cozinhavam as "comidas de santo" eram as mesmas cozinheiras das nossas casas de famílias.
Mas a situação não ficou bem resolvida, com a intransigência do protagonista. Isto, para nosso desgosto e de Sindoninha, sempre gentil e prestativa. Na realidade, era como tivesse sido recusado um chimarrão gaúcho, na roda de mate. Mas, dentro da cozinha, a situação modificou completamente. Todos os visitantes comiam com gosto. Uma grande mesa com as comidas rituais, mais refrigerantes e cerveja. Dentro de pouco tempo vimos o protagonista agarrado a uma perna de galo, provavelmente sacrificado a bara. E terminou no amalá, com um entusiasmados digno de nota. Ao fim acercou-se de nós, perguntando angustiado: [...]
Disponibilizamos o link do acervo do jornal, para que possam acessar o artigo na integra afim de checar informações adicionais.
Fonte - http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=093726_03&Pesq=1959&pagfis=3943
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