Nesta postagem publicada no perfil do professor Hendrix, nos fornece exemplos sobre costumes antigos e costumes novos, que envolvem tabus gastronômicos. Vejamos:
"𝐏𝐎𝐑 𝐐𝐔𝐄 𝐁𝐀𝐓𝐔𝐐𝐔𝐄𝐈𝐑𝐎𝐒 𝐍Ã𝐎 𝐂𝐎𝐌𝐄𝐌 𝐀𝐑𝐑𝐎𝐙 𝐂𝐎𝐌 𝐆𝐀𝐋𝐈𝐍𝐇𝐀?Por 𝐏𝐫𝐨𝐟. 𝐃𝐫. 𝐁à𝐛á 𝐇𝐞𝐧𝐝𝐫𝐢𝐱 𝐒𝐢𝐥𝐯𝐞𝐢𝐫𝐚
Postado em 21/06/2024Uma das coisas menos entendidas no Batuque são os Èèwọ̀, as interdições, “uma forma de manter o equilíbrio entre o mundo material e o mundo espiritual, por meio de determinadas regras de conduta”. (BENISTE) Neste sentido, existem muitas interdições que precisam ser respeitadas pelos iniciados. Temos interdições quanto a certas práticas, interdições de certos horários e interdições alimentares.A restrição mais importante é a do arroz com galinha ou galinhada. É por pertencer ao culto aos antepassados que este prato feito com arroz cozido na panela com a galinha com osso não pode ser consumido fora dos rituais. Este culto é muito fechado e tudo o que pode ser feito nele não se pode reproduzir fora dele, pois estaríamos invocando forças relacionadas à morte. Embora o culto aos ancestrais seja de regozijo, de celebração em memória aos que partiram antes de nós, o Batuque separa fortemente a relação que temos com nossos mortos da que temos com nossas divindades, por isso a proibição do consumo da galinhada se dá em nosso cotidiano.
Algumas pessoas que não entendem o propósito espiritual do Èèwọ̀, acabam defendendo heresias, mas o fato é simples: não importa se a galinha foi comprada no açougue, se deu em árvore, ou se foi materializado pelo sintetizador da Enterprise... arroz com galinha é comida de Égún, por isso𝐬ó 𝐩𝐨𝐝𝐞𝐦𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐦𝐞𝐫 𝐧𝐨𝐬 𝐫𝐢𝐭𝐮𝐚𝐢𝐬 𝐚𝐨𝐬 𝐦𝐞𝐬𝐦𝐨𝐬.Por favor, não inventem desculpas para burlar regras tão claras como a água.Àṣẹ o𝐏𝐫𝐨𝐟. 𝐃𝐫. 𝐁à𝐛á 𝐇𝐞𝐧𝐝𝐫𝐢𝐱 𝐒𝐢𝐥𝐯𝐞𝐢𝐫𝐚Bàbálórìṣà da Comunidade Tradicional de Terreiro Ilé Àṣẹ Òrìṣà Wúre. Professor, Afroteólogo, escritor, conferencista, palestrante e comunicador.— em Ilé Àṣẹ Òrìṣà Wúre"
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A questão é esta: arroz com galinha, no batuque, é comida de eguns. Conheci batuqueiros ortodoxos que não comiam risoto por conta disto. Na visão de mundo batuqueira, eguns e orixás ocupam espaços opostos no Cosmos. Tal oposição se observa principalmente no aressum, onde o ritual é extrema e infinitamente detalhado em oposições ao dos orixás. É o caso de a roda ser de sapatos e ora andar no sentido do relógio ora contra. Este sentido de vai e vem, para mim, representa a figura do egum, que é expulso do templo no próprio ritual para eles, mas volta tempos depois, ciclicamente. A quantidade de detalhes em oposição ao ritual dos orixás são marcos simbólicos que servem para delimitar as fronteiras entre tais entidades. No caso das festas para orixás, por exemplo, se o tamboreiro está tocando para um orixá e depois volta ao anterior a ele, na sequência, o que consiste num vai e vem, a reação dos sacerdotes pode ser violenta, pois está sendo aberta uma brecha na fronteira que permite que os eguns invadam o mundo dos orixás, produzindo um caos. Lembrar que o vai e vem também acontece nos despachos do aressum, erus ou caixões de defunto, fazendo um passo para trás e dois para a frente até sair do templo. O arroz com galinha é um destes marcos, daí sua proibição. Por estas e outras é que, como antropólogo, sou fascinadíssimo pelo batuque.
Oi, Professor Hêndrix. Tenho de agradecer a ti, também, pelas informações que passas. Sou um estudioso que vê as coisas "de fora", como se diz em Antropologia, porque não tenho a vivência de um filiado à religião, e tu, com teus estudos de Teologia e formação acadêmica tens os dois lados, a visão que te foi dada por tal formação e a vivência. Por isto tens posições muito interessantes e abalizadas sobre o assunto. E por isto - data venia - costumo pegar carona no que dizes, procurando incrementar o assunto. Para quem não sabe. Teologia vem do grego, Theós (que virou "deus" e Logos, que quer dizer estudos, conhecimento. Conheço vários sacerdotes doutores, mas nunca vi ninguém se focar numa teologia dos orixás, como tu, que é um grande aporte para um maior conhecimento da religião. É por isto que te agradeço.
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