segunda-feira, 13 de novembro de 2017

MITOS AFRO-BRASILEIROS SOBRE ORIXÁ LGBT


Luiz L. Marins
Novembro de 2017

Tem ganhado destaque nas mídias sociais afro-religiosas alguns mitos sobre possíveis relações homossexuais, especialmente os mitos de Oxum e Iansã, Oxossi e Logunede. Entretanto, estes mitos não possuem nenhum crédito, ainda que sejam encontrados em livros de autores famosos.

Mostraremos aqui porque estes mitos devem ser desconsiderados, não por causa do suposta homossexualidade entre as divindades, mas por falta de seriedade da pesquisa dos autores que os publicaram pela primeira vez.


O SUPOSTO MITO LÉSBICO DE OXUM E IANSÃ

Este mito ganhou destaque através do livro “Mitologia dos Orixás”, 2001, Cia. Das Letras, do professor Reginaldo Prandi, tendo como título “Oxum seduz Iansã”, publicado na pg. 325.

Prandi informa como fonte, o livro "Santos e Daimones", de Rita Laura Segato, p. 403, publicado pela Universidade de Brasília, 1995.

Rita Segato informa ter trabalhado na cidade de Recife, no bairro da Linha do Tiro, na região de Beberibe, numa casa de santo, sem citar o nome, na qual morou por seis meses, e depois, mais seis meses nos arredores de Água Fria, Encruzilhada e Beberibe.

Rita Segato não declara o(s) informante(s), nem a casa pesquisada, limitando-se a dizer que se trata de pesquisa de campo. A própria autora, na página 20, declara na introdução que omitiu os informantes.

Usando a possibilidade da tecnologia moderna, e para maior credibilidade, ao invés de transcrever o texto de autora, vamos inserir as imagens do livro, já que é possível. O texto em questão está na terceira imagem, no segundo mito da página:


Esta é a página de rosto. 
O texto “Xangô de Recife” foi por nós inserido para melhor clareza.




A autora Rita Segato informa que decidiu omitir os nomes dos informantes, como se isso não tivesse nenhuma importância, e apenas a palavra dela seria suficiente para dar credibilidade a um tema tão polêmico.


O décimo nono episódio relata o suposto mito lésbico entre Oxum e Inhansã.
 




Como vimos, nenhuma fonte é informada, de forma que o povo de santo afro-brasileiro deve refutar este mito como falso, não pela relação homossexual, mas pela falta de credibilidade no trabalho de recolha do mito, pela falta da citação de informantes, por não informar, ao menos, a casa pesquisada.




LOGUNEDÉ É POSSUÍDO POR OXÓSSI

Este mito que mostra uma suposta relação homossexual entre Oxossi e Logunede, ganhou notoriedade nas mídias sociais também através do livro “Mitologia dos Orixás”.

Prandi informa como fonte uma “pesquisa de campo” de Luis Fernando Rios, professor da Universidade Federal de Pernambuco. Curiosamente, o autor citado não consta na bibliografia do livro de Prandi, de forma que precisamos procurar na internet pelos textos do autor, o que conseguimos, após algumas horas de busca.

O mito em questão trata-se de uma pesquisa de campo realizada também em Recife publicado no artigo “Loce Loce Metá Rê-Lê”, Polis e Psique, vol. 1, n. 3, 2011, pg. 212, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Importante frisar que mito não é do batuque Rio Grande do Sul, mas sim, do Xangô de Recife. Ele apenas foi publicado em uma revista acadêmica gaúcha.

Novamente vamos recorrer ao recurso da tecnologia e publicar as imagens, que darão mais credibilidade. Preste atenção na segunda linha da segunda imagem, que há uma nota 2, que também publicamos aqui:


 Inicial do artigo Loce Loce... publicado na revista Polis e Psique




Prezado leitor, observe nesta imagem a nota 2, na segunda linha, pois ela é crucial para o fechamento do assunto que faremos mais a seguir:
 

Prezado leitor, observe nesta imagem a nota 2, na segunda linha, pois ela é crucial para o fechamento do assunto que faremos mais a seguir:





Nesta passagem o texto mostra Logunede como travesti.




A NOTA 2


O mito em si, não importa. O que realmente interessa é esta nota 2. Nela, Rios declara que recontou os mitos “de forma livre, sem mencionar os informantes, quem contou o que”.

Como vemos, este mito sobre uma suposta relação homossexual entre Oxossi e Logunedé não tem nenhuma base científica, não há informantes, nenhuma casa é citada como base para a coleta do mito. O argumento de tratar-se memória coletiva não é embasamento para tal procedimento. Em algum local este mito foi ouvido, e este local deveria ser citado, para que o trabalho pudesse ter o mínimo de legitimidade.

Rios informa que os detalhes da pesquisa estariam na dissertação de mestrado, que tem o mesmo nome do artigo, mas não conseguimos localizar até o momento.

Portanto, este mito também deve ser refutado pelo povo de santo afro-brasileiro, também, repetimos, não pela suposta relação homossexual, mas pela falta de credibilidade do trabalho de pesquisas.




CONSIDERAÇÃO FINAIS




Diante do exposto entendemos que estes mitos devem ser desconsiderados por não apresentarem por parte dos autores um informante ou local confiável para credibilizar a pesquisa de um tema polêmico como esse.  Um artigo acadêmico que informa apenas ser uma “pesquisa de campo em tal cidade”, é, no mínimo, uma afronta à inteligência.

Neste momento lembramos a fala do professor Roberto Motta, antropólogo, professor doutor da Universidade Federal de Pernambuco, que escreve na apresentação do livro de Anilson Lins, Xangô de Pernambuco, Editora Pallas, a seguinte crítica aos próprios acadêmicos, embora seja um. Vejamos:


 […] O primeiro destes méritos é a fidelidade ao vivido. Ao vivido, quero dizer, àquilo que as pessoas fazem, à sua realidade material e cotidiana, em contraposição ao que vem infelizmente sendo tão comum na produção antropológica, isto é, a atitude diametralmente oposta que consiste em confinar-se o antropólogo a uma espécie de gueto, em que os pesquisadores – se ainda pesquisadores – tratam seus próprios modelos ou daquilo que querem impor à realidade.

Deixam de ser cientistas e abandonam-se a elucubrações, não a respeito do que as coisas são, mas sobre como deveriam ser para corresponderem às utopias de que se fazem muitas vezes representantes. Utopias que envolvem uma tentativa de domínio, uma reivindicação de poder. (O grifo é nosso)

Em nome do relativismo cultural e da igualdade entre os povos, antropólogos, sociólogos e assemelhados, estão é ferozmente tratando de impor à realidade o único modelo de história que consideram válido, com origens no ideário do período que tenho chamado período intramural […]. [1]
 





[1] “Intramural” refere ao que acontece internamente, termo geralmente empregado na área médica para designar tumores internos. 

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

A PRATICA DA FEITIÇARIA COMO ELEMENTO FOMENTADOR DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

REVISTA OLORUN, n. 56, novembro de 2017
ISSN 2358-3320 – www.olorun.com.br
                                 
Luiz L. Marins  
Outubro de 2017



RESUMO


Baseado em dados do IBGE 2010, o texto contesta a alegação de tese de “racismo religioso” contra os afro-brasileiros, demonstrando que a maioria evangélica é negra, contra uma minoria afro-brasileira embranquecida. No tema da intolerância religiosa, o texto busca procurar o contraponto dos ataques evangélicos às religiões afro-brasileiras mostrando, com dados, que tal intolerância não é “racismo religioso”, mas sim, um movimento fundamentalista para combater “a obra do mal”. O texto mostra que é a prática da feitiçaria praticada por alguns segmentos das religiões afro-brasileiras, que fomenta a intolerância contra as religiões afro-brasileiras.

Leia o texto completo aqui:

OGAN , EKEDI E O ATO DE RASPAR: BABA ZARCEL FALA SOBRE OS COSTUMES DA RTY


Luiz L. Marins


Outubro de 2017





RESUMO


Este texto transcreve extratos do vídeo publicado por Awo Ilésire Sòwunmí na página de seu templo no Facebook Ìjọ Ifá Òtúrá Orí’re àti Ilé Àṣẹ Ọbàtálá Ọ̀ṣẹ̀rẹ̀màgbò Ilédì Awodélé, no qual fala sobre os cargos de ogan, ekedi e o ato de raspar durante as iniciações, na visão a religião tradicional ioruba.

Leia o texto completo aqui: 



TIKTOK ERICK WOLFF

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