Atualmente vem crescendo o tema afroteologia baseado em teísmo, porém, é um equívoco estudarmos a Esìn Òrìsà Ìbìlècomo uma religião teísta. Vejamos:
[...] os conceitos teológicos europeus aplicados sobre Olódùmarè, como onisciência e onipresença, são estrangeiros, e não tradicionais da RTY.
O conceito de teísmo não é apenas a existência de um deus criador auto criado, criador de algumas divindades, mas principalmente da interação e do cuidado deste deus diretamente para com a humanidade, tal como fez a Moises, no monte Sinai.
De acordo com os ìtàn (mitos sagrados dos iorubas), isto não ocorre na religião tradicional ioruba; assim, a religião ioruba não pode ser monoteísta, no sentido teológico cristão.
Os orixás vêm ao mundo para fazerem a vontade deles, orixás, e NÃO de Olódùmarè, pois este não interage diretamente com a humanidade, não tem conhecimento de tudo que ocorre no mundo, pois para isto criou um mensageiro chamado Èsù [...]
Concluímos que Olódùmarè, não possui os mesmo atributos do Deus estrangeiro; assim, não é possível estudar a RTY através do teísmo, um conceito cristão.
O sangue, que contém o àṣẹ (força vital) do ser, quando ofertado ao Òrìṣà, devemos apurar se será ofertado gbóná (quente) ou òtútù (frio), as duas formas são especificas. Tem Òrìṣà que nem perguntamos, alguns é regra oferecer quente, outros é regra frio.
Também é sempre necessário perguntar qual ẹ̀jẹ̀ animal aquele Òrìṣà quer receber, por exemplo não é porque Ṣàngó come carneiro que sempre pedirá um carneiro, não é porque muitos Òrìṣà aceitam boi que irão aceitar sempre.
Além disso, nas duas culturas, Yorùbá e candomblé, uso do obì e/ou orógbó como a utilização do Orí do que foi ofertado e outras partes é fundamental para o culto.
Agora, uma situação é consenso, há um procedimento litúrgico para isso.
Ir em uma casa de Òrìṣà e pegar ẹ̀jẹ̀ diluído em bebida na garrafa e levar para a sua casa para colocar em seu Igbá, é algo inexistente na Religião tradicional Yorùbá e no próprio candomblé.
Seja de maneira gratuita, ou paga, propiciar um Òrìṣà e seu assentamento requer respeito, seriedade e consciência.
Estamos cientes que não somos aqueles que podem ditar regras, mas estamos certos que ẹ̀jẹ̀ animal envasado, não pode ser chamado de tradicional, e não deveria ser prática de qualquer lugar que queira se nomear como tradicional e principalmente vive a ensinar o que algumas vezes foi auto rotulado como a tradição mais antiga da “África”.
Autores: @zarcel_elesire e @yemoja_arike
Respeitamos os nossos seguidores e leitores, após recebermos uma denúncia sobre isso, nós dois (os autores) optamos em duas mãos produzir esse texto com a finalidade de ajudar a você que nos acompanha a anos, ou que é novo aqui, a compreender sobre esse assunto de maneira clara."
No livro de Samuel Jonhson encontramos um importante registro dos costumes Yoruba para a sociedade afro religiosa diaspórica.
Alguns anos atrás discutia-se muito sobre os feiticeiros e feitiçaria, com um certo orgulho, e, aos poucos fomos apresentando a filosofia orixaísta que abomina o feitiço e os feiticeiros, felizmente hoje em dia existe uma clara definição entre sacerdotes e feiticeiros.
Este fragmento do livro História dos Yorubas, é uma rica leitura que expressa os costumes e tradições deste povo. Vejamos a seguir:
[...] A feitiçaria era punida com a morte, as pessoas acusadas disso eram levadas a Orisa Oko para julgamento. Ele costumava levar o acusado para uma caverna supostamente habitada por um demônio chamado Polo. Nesta caverna Orisa Oko praticava sua magia. Nos casos em que o acusado era inocente, voltava com ele; caso contrário, sua cabeça era lançada para aqueles que aguardavam uma decisão. "Polo, o demônio, executou os culpados." A fama de Orisa Oko se espalhou e muitos recorreram a ele para fazer juramentos. Seu oráculo era considerado infalível e os apelos a ele eram definitivos. [...] (A HISTORIA DOS YORUBA'S, Samuel Jonhson, p. 37)
Conforme as leis e costumes dos Yoruba é crime a pratica da feitiçaria. Vejamos este recorte:
Outro artigo sobre o tema:
A PRATICA DA FEITIÇARIA COMO ELEMENTO FOMENTADOR DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
Este texto foi publicado na mídia social Facebook, no grupo CONHECENDO KETU, em 25/04/2023
Por Baba Obalufe
ERINDILOGUN - IFA OLOKUN
Oraculo onde o orixa nos direciona a solucionar nossos problemas espirituais.
Orunmila é a primeira pessoa que trouxe conhecimento profundo à raça iorubá sobre sabedoria de consulta espiritual. Ele foi o primeiro orisa que usou o Erindinlogun para simplificar a consulta espiritual.
Mas ele não era o Orisa que trouxe Erindinlogun para a comunidade dos Orisas. Segundo a pesquisa, revelou que Obatala é o pai de Erindinlogun enquanto Orunmila e seus seguidores dominam sabedorias de Ikin e Opele.
Mas está sujeito a discussão se Baba Orunmila ou Obatala foi o primeiro a dar um ensinamento em Erindinlogun. Algumas pessoas acreditam que Obatala coletou um Erindilogun completo de Olokun ou diretamente de Eledumare e entregou e ensinou conhecimento para outras orisas exceto orunmila.
Mas eu tomarei a história de Erindinlogun da perspectiva do ensino de Orunmila que eu gostaria de concordar aqui que isto não é uma verdade completa.
Segundo a narração, a história de Erindinlogun começou com consistentes consulados que Oluweri fez com Orunmila.
Em todas essas consultas, orunmila teve que ir ao fundo do mar para se encontrar com Oluweri. (Oluweri em alguma outra crença iorubá é conhecida como Olokun ou Yemaja. Mas também está em dúvida se isso é verdade, já que alguns outros relatos dizem que Oluweri é o espírito mais poderoso que domina o oceano e, de alguma forma, Rio e oceano. Oluweri, para alguns pesquisadores iorubás, pertence à sociedade Alujonu, (Alujonu são os poderosos espíritos que dominam terrestre e o mundo aquático). Mas o fato é que Oluweri tanto quanto Olokun e Yemaja pertencem ao mar.
O relato oral afirmava que o dependente de Oluweri em Orunmila consumia tanto tempo e energia, porque precisava fazer uma longa jornada até o mar profundo para encontrar-se com Oluweri. Um dia, por curiosidade, Oluweri pediu a Orunmila que lhe ensinasse o sabedoria do IFA.
Mas Orunmila disse que ele não poderia ensinar-lhe o uso de Opele ou o uso de Ikin para que ele encontrasse um meio simples de ajudá-la a ter o conhecimento da consulta espiritual.
Eventualmente, ele planejou um meio ensinando Oluweri sobre como fazer uma consulta espiritual por conta própria, pedindo-lhe para trazer 16 búzios (OWO EYO) com os quais Orunmila começou a ensiná-la sobre a arte da consulta. A razão pela qual Orunmila não podia ensinar Oluweri a sabedoria dos opele e ikin era que as duas artes eram demoradas e seria necessário que Oluweri fosse iniciada na IFA antes que ela pudesse lidar com essas artes. É então imperativo para Orunmila para inventa para ela uma novo jeito de fazer consulta espiritual.
Outro relato oral afirmou que, foi Obatala que e mais velho de todas as orisas foi primeiro usou Erindinlogun e ele realmente foi o quem trouxe o sabedoria de Erindinlogun para o mundo. Ele também disse ter dado o conhecimento de Erindinlogun a todas as orisas, exceto Orunmila.
No entanto, pode-se concluir, com lógica, que ambos os relatos de como o Errindinlogun chegou ao mundo podem estar corretos. A semelhança desta correção é o fato de que os búzios vieram do mar. Assim, quando se afirma que Orunmila ensinou a arte do Erindinlogun a oluweri no mar com buzios, podemos argumentar isso mais adiante. Como uma ensinamento no mundo Oceania chegou ao nosso mundo real?
Novamente, o fato de que Orunmila tem mais sabedoria entre os orixás, não pode ser duvidado. Ele é o mestre filosofa, o reparador de cabeça ruim, profeta e curador. Com sua IFA , Orunmila vê e conhece o mundo e todos os espíritos dentro dele. Ele sabe além. Ele tem a voz e as palavras certas (Ifa cantos e versos) que poderiam conquistar o coração de Eledumare.
Mas o ponto de partida é que, Erindinlogun não é usado na consulta Ifa e Babalawos ou Iyanifas que são iniciados Ifa não usam Erindinlogun. Então, como Orunmila ensinou a Oluweri o que não pertence a ele ou a seus discípulos por identidade?
Nós iríamos mais longe para estabelecer o relato de Obatala de Erindinlogun, que é mais popular entre os devotos de Orisas em todo o mundo. Obatala foi dito ter trazido o Erindinlogun do céu. Eledumare deu-lhe ao lado do Ase para colocar o mundo em ordem e também que incluiu suficientemente o uso de Erindinlogun para ajudar o ser humano. Mas um ponto de partida é se os búzios de Erindinlogun vieram do céu como relacionados a Obatala ou do mar como relacionados a Orunmila e Oluweri.
Porque pode ser evidentemente provado que os buzios são retirados do mar. Os buzios também foram os primeiros materiais a serem usados como dinheiro na sociedade iorubá. Buzios também representa riqueza no simbolismo espiritual e no sociedade do povo yoruba.
Poderíamos no entanto estabelecer que o sistema ou o conhecimento de Erindinlogun foi trazido ao mundo por Obatala, mas ao entrar no mundo, ele usou os buzios para ensinar este conhecimento a outras orisas. (Osun foi dito ter sido o primeiro orisa a obter esse conhecimento de Obatala). Finalmente, também é possível que Obatala tenha vindo com seus 16 buzios exclusivos do céu, através dos quais o conhecimento de Erindinlogun foi espalhado entre as orisas e seus devotos. O fato é que o Obatala é o mais velho entre os orisas e Orunmila é o mais experiente entre todos eles.
"O inhame é a cultura alimentar básica na terra yoruba inhame faz parte da base da alimentação na África Central, especialmente na Nigéria, maior produtor mundial, com cerca de três milhões de hectares.
Na Nigéria existem inúmeros festivais em comemoração a colheita do inhame, dentre eles um dos mais famosos é o Yam Festival (em português Festival do Inhame) é uma festa popular no Gana e Nigéria, geralmente realizada no início de agosto, no final da estação das chuvas. Seu nome é relativo ao inhame, o alimento mais comum em muitos países da África. É também conhecido como "Ikeji" na Nigéria.
Inhame é a primeira colheita do ano
a ser colhida por isso ao colher realizam o festival em agradecimento, Segundo a tradição, é inaceitável que o membro da comunidade coma novo inhame antes da celebração. Este festival também serve como um período de agradecimento aos deuses pela farta colheita e também para pedir chuvas abundantes para o próximo plantio.
O inhame é mais do que comida. Antigamente, os celeiros de inhame mostravam a riqueza de uma pessoa e, até hoje, é o único alimento indispensável aceito pelo preço da noiva quando um homem procura uma esposa. Alguém com uma grande quantidade de inhames era tratado com prestígio.
As pessoas oferecem o inhame para divindades e antepassados antes de distribuí-los aos aldeões que agradecem aos espíritos acima dele.
você pode fritar, ferver, bater, assar, misturar com legumes, fazer mingau, na verdade, se não houver nada, inhame e óleo sozinhos
O inhame sem dúvidas é símbolo de fartura e e prosperidade
Corre um texto pela Internet, falando que Ẹbọra foram homens e mulheres iorubás que após sua morte se tornaram Deuses, ou seja, ANCESTRAIS DIVINIZADOS, e exemplificam isso com "Ṣàngó", um rei de Ọ̀yọ́ poderoso e que após sua morte passou a ser divinizado e cultuado pelo povo.
ERRADOOOOOOOO.
Ẹbọra é uma denominação de espíritos poderosos que existem dentro da cultura tradicional iorubá, espíritos que vivem em florestas ou em meio a natureza. Algumas famílias acreditam que um ser humano pode virar um Ẹbọra após a sua morte, dada a utilização de magias poderosas e outras coisas.
Como são espíritos meio caóticos e poderosos. O termo Ẹbọra passou a ser utilizado também para denominar algumas Divindades PODEROSAS, vide alguns Oríkì de Èṣù, Ògún, Ṣàngó, Yemọja e Ọ̀ṣun.
Mas isso não significa dizer que um ancestral que se diviniza é um Ẹbọra. Um ancestral divinizado é um Egúngún (Eégún).
No caso de Ṣàngó, exemplo dado no texto, Ṣàngó (Ayílẹ́gbẹ́ Ọ̀run) é uma Divindade primordial criada diretamente por Elédùmarè, um Imọlẹ̀/Òrìṣà, que teve uma encarnação terrestre através de Tẹ̀là Òkò (rei de Ọ̀yọ́), filho de Ọ̀rànmíyàn. Ou seja, Ṣàngó já é Òrìṣà antes de Tẹ̀là Òkò e não depois.
Hérick Lechinski
Ẹlẹ́gùn Ṣàngó em Òṣogbo, photo by My Black Festivals
Esta postagem foi compartilhada na comunidade Ase Omi Odo, Facebook pela Denise, contendo informações sobre a diáspora Afro Brasileira e a matriz Ioruba, veremos a seguir:
"AGEN AFRO CURIOSIDADES
*Voce sabia que na África:*
Crianças que nascem com o cordão umbilical enrolado no pescoço devem se iniciar ao Orisa da criatividade e da paz, ao qual chamamos de Obatala (rei do pano branco). Este tipo de criança passou por sérios apuros durante a gestação, e normalmente houve aborto no ciclo familiar. Está criança também foi predestinada a ser um (a) sacerdote (Isa) de Ifá ou Orisa e inicia a criança para Obatalá, podendo ser Osogiyan ou Osolufon. No candomblé do Brasil,crianças que nascem com problemas com o cordão umbilical,deve-se arrumar Xangô e apresentar o cordão umbilical,pois o mesmo é o Kelê da vida !
Texto de Suami D'Osun"
Entretanto a Dra. Paula Gomes, contesta a informação de que na matriz a criança deva ser iniciada para determinado Orixá ou para Ifá, a seguir:
"Com todo o respeito, mas na Terra yorùbá toda a criança que nasce com o cordão umbilical a volta do pescoço se chama Ojo se for menino e Aina se for menina. O fato de nascer com o cordão umbilical não significa k seja de Obatala ou de outro Orisa. Este nome será dado devido a forma como nasceu e por norma são crianças k choram muito enquanto bebés.
Uma criança que pertença a Obatala de nascença se chama Oke. Não existe nenhuma forma de nascença k aponte k a criança seja de Ifá."
Ainda na mesma postagem encontra-se a informação sobre a placenta, veremos a seguir:
Dayron Rodrigues
"Muito interessante, mas entendo que as crianças relacionadas a Ọbàtálá são aquelas que nascem embrulhadas em uma bolsa, que são chamadas de Tàlábí (nascido em pano branco) ou Sàlàkó (estende o manto branco e o exibe), pois se supõe que o membrana que os cobriu ao nascer é como um pano branco "àlà" -Os nomes com "àlà" são geralmente de devotos de Ọbàtálá, dos quais o pano branco liso é um ícone- Embora existam fontes que também refletem que esses nomes (Tàlábí e Sàlàkó), são dados a crianças que nascem com o cordão no ombro e se estende até a cintura, lembrando uma bandeira branca. As crianças nascidas com o cordão umbilical no pescoço são conhecidas como Àìná, em Cuba também são associadas a Şàngó, talvez devido à semelhança entre as palavras Àìná e Iná (fogo) devido a este erro hoje, Àìná também é erroneamente cultuado aqui como um orisa de fogo e associado a Şàngó e Ibeji, mas Àìná não é um orisa e é o nome dado a crianças nascidas com condições especiais, como Ìgè, Àlàbá, Dàda, Ìdòwú, Ọ̀kẹ́, ect. "
Dra. Paula Gomes responde
"Dayron Dominguez as crianças de Obatala, não nascem embrulhadas em bolsa, mas sim as Ato de Egungun. Os Oke ou Talabi k é a mesma coisa tem um véu a cobrir o rosto, mas não é a bolsa."
Postado por Olùkó Vander Em https://educayoruba.com/iyawo-a-origem-da-palavra-e-seu-real-significado/ acessado em 10/10/2022 às 08:10h
Ìyáwó é o segundo grande centro das atenções do Candomblé, só perdendo para o òrìṣà. Mas a grande roda do Candomblé gira em torno dessa figura tão importante para a religião, sua iniciação e as chamadas obrigações de ano. Antes do ìyáwó, há o abíyàn, e todos um dia foram um abíyàn.
Toda ìyálórìṣà ou bàbálórìṣà, palavra que designa a pessoa que possui conhecimento para manipular as energias do òrìṣà, são em algum estágio de sua vida religiosa um ìyáwó, pois é neste período que ele adquire os conhecimentos mais básicos do culto. Até mesmo, pode-se dizer que uma pessoa sempre será ìyáwó diante de uma pessoa mais velha. Bem, são as guerras de Ego dentro da religião.
A palavra significa esposa, essa é uma verdade já bem comum, mas há duas origens para o uso dela: Uma está atrelada à formação do candomblé no Brasil; outra se dá pelo corpus literário de Ọ̀rúnmìlà-Ifá, um culto à parte e com suas raízes bem fincadas na Nigéria e Benin.
Ìyáwó no Candomblé
A palavra foi usada pela origem da religião ter se dado inicialmente por mulheres, era um culto matriarcal. Esta origem podemos ver claramente em muitos pontos, como vestimentas (Gèlè – pano de cabeça, Aṣọ oke – pano da costa) e acessórios litúrgicos (Ààjà – sineta).
Ìyáwó – A Origem da Palavra e Seu Real Significado
Ìyáwó é o segundo grande centro das atenções do Candomblé, só perdendo para o òrìṣà. Mas a grande roda do Candomblé gira em torno dessa figura tão importante para a religião, sua iniciação e as chamadas obrigações de ano. Antes do ìyáwó, há o abíyàn, e todos um dia foram um abíyàn.
A palavra significa esposa, essa é uma verdade já bem comum, mas há duas origens para o uso dela: Uma está atrelada à formação do candomblé no Brasil; outra se dá pelo corpus literário de Ọ̀rúnmìlà-Ifá, um culto à parte e com suas raízes bem fincadas na Nigéria e Benin.
Ìyáwó no Candomblé
A palavra foi usada pela origem da religião ter se dado inicialmente por mulheres, era um culto matriarcal. Esta origem podemos ver claramente em muitos pontos, como vestimentas (Gèlè – pano de cabeça, Aṣọ oke – pano da costa) e acessórios litúrgicos (Ààjà – sineta).
No início, não havia manifestação pública masculina de òrìṣà, somente as mulheres que incorporavam esta energia divinizada da natureza. Aos homens cabiam a parte mais bruta dos terreiros, o ilé òrìṣà, a Pequena África, como também era conhecido. E sempre havia, como há, muito trabalho para todos em uma casa de òrìṣà!
Nisso, a mulher ao se iniciar, firmava um compromisso com as divindades, um casamento, com elas figurando como as esposas (Àwọn ìyáwó – àwọn é o formador de plural no idioma Yorùbá). E um tempo antigo, a dedicação era bem maior do que hoje, a abnegação da vida profana era enorme, com algumas simplesmente morando nos terreiros e se quer casando.
Mas, com o passar dos tempos, os homens passaram também a serem iniciados da mesma forma que as mulheres e suas saídas serem públicas, mas o termo continuou:Ìyáwó.Porém, agora com o sentido de iniciado ao òrìṣà, conotativamente. Tornou-se uma palavra sem gênero definido, podendo tanto ser usado para a pessoa do sexo masculino, quanto para a pessoa do sexo feminino.
A palavra foi usada por causa deste sentido de compromisso que as mulheres tinham com o òrìṣà. No entanto, há muitas outras palavras em Yorùbá que podem ser usadas para definir um iniciado, alguns cultos possuem palavras próprias:
Ọmọòrìṣà = filho de òrìṣà;
Ẹlẹ́gùn = aquele que é possuído por energias (Não é aquele que é montado por espírito!!);
Ẹlẹ́sìn = devoto, religioso (Oní + èsin/ Aquele que possui + religião, culto);
Abòrìṣà = cultuador de òrìṣà, aquele que cultua òrìṣà.
E muitos outros, mas usando qualquer um desses, torna-se facilmente compreendido que estamos falando de uma pessoa iniciada ao culto de òrìṣà.
Ìyáwó – Segundo o Corpus Literário de Ifá
Qualquer dicionário decente de idioma Yorùbá irá traduzir a palavra ìyáwó como esposa, disso não tenho sombra de dúvidas. Mas qual a origem desta palavra? Todos sabem que sou fã de etimologia das palavras, elas nos guiam para caminhos mais seguros quanto às traduções. Nunca engoli ìyáwó sendo – mãe do segredo.
Segredo em Yorùbá é awo, sem acentuação indicando tom alto ao final. Só isso já denuncia, assim quando falam que òrìṣà significa guardião da cabeça (Orí é cabeça e não òrì!!).
No corpus literário de Ifá, encontramos as explicações de tudo que nos rodeia, a origem de muitas coisas. Ele é a enciclopédia do povo Yorùbá e seu registro se deu todo de forma oral. Cada odù, ou filhos, omo odù, conta uma história, um ìtàn em seu ẹ̀sẹ̀, poemas divinatórios de Ọ̀rúnmìlà. Lá encontramos a origem da palavra ìyáwó, no odù Ogbè – Sùúrù!
Conta o mito que: Uma bela princesa, filha do Ọba de Ìwó, estava disponível para o casamento. Ela era imensamente bela. Nenhum homem comum poderia desposá-la, apenas um homem com enorme qualificação e que ela mesma escolhesse. Mas a princesa também não estava tão disposta a casar, iria fazer de tudo para afugentar seus pretendentes.
Ògún, Ọ̀sányìn e Ọ̀rúnmìlà souberam da fama e da beleza da princesa, logo se colocaram prontos para a missão. Ògún foi o primeiro a se arriscar na tarefa e após constatar a exuberante beleza da mulher, usou toda sua determinação para conquistá-la.
A princesa, ardilosa, exigiu como acordo para o casamento, que ele ficasse na casa do pai dela e lhe contasse seus àwọn èèwọ̀ (interditos, tabus). Embebecido com a beleza da mulher, Ògún contou que era àdín e ver sangue menstrual – àṣẹ́. Passado um tempo, a princesa preparou um prato com àdín para Ògún e sentou-se ao seu lado sem conter seu sangue menstrual.
Ògún ao saborear a comida, sentiu o gosto do àdín, assustou-se. A princesa se levantou e ele viu o ẹ̀jẹ̀ no assento. Ele enfureceu-se e atacou a princesa que correu para os aposentos do pai. Este, com seu poder, transformou Ògún em um malho para ferreiros. E assim Ògún fracassou. Ele havia deixado de fazer os sacrifícios indicados pelo bàbaláwo.
Ọ̀sányìn caiu na mesma armadilha e quando tudo ocorreu conforme havia ocorrido com Ògún, o rei o transformou em um pote de água, quando a princesa correu para seus aposentos pedindo socorro.
Ọ̀rúnmìlà foi instruído a fazer sacrifício antes de ir: um Òbúkọ para Èṣù e a ter muita paciência (Sùúrù), de nada reclamar ou se exaltar. Assim ele fez e seguiu em busca dos irmãos e para desposar a princesa.
Ele disse à princesa que seus interditos eram:èkútè,ẹjá,ewurẹ́,adìẹ, bucho de cabra eàṣẹ́(sangue menstrual), quando havia perguntado. Somente oàṣẹ́é seu interdito, todos os outros são comidas favoritas de
Ọ̀rúnmìlà. E assim, começou a princesa de Ìwó maquinar contraỌ̀rúnmìlà.
Usando as desculpas de que não havia comida em casa, dia pós dia, ela foi oferecendo todas as comidas que ela pensava serem àwọn èèwọ̀ deỌ̀rúnmìlà e ele, mostrando-se calmo e compreensivo, dizia que por amor ele iria comer aquilo que ela oferecia. Ela nada entendia, pois o candidato não perdia a cabeça. Então, ela usou sua última arma: o sangue menstrual.
Mas, apesar de por dentro enfurecido, Ọ̀rúnmìlà recordou-se do conselho de Ifá e surpreendeu a princesa indo lavar as roupas dela sujas de sangue, assim como a almofada onde ela se encontrava. Ela ficou confusa e recorreu a algo ainda mais provocador, pois não conseguira tirar Ọ̀rúnmìlà de seu centro: arrumou um amante para se deitar perante a presença dele!
Havia chegado a hora, é dito que a Testemunha do Destino leva até 3 anos para se enfurecer e quando isso ocorre, faz uso das forças mais poderosas para se vingar e era agora. Ọ̀rúnmìlà foi buscar água para que o amante da da noiva se banhar pois já ia embora; invocou Èṣù fora da cidade quando o homem já ia embora e Èṣù deu uma cabeçada forte nele, nisso, Ọ̀rúnmìlà apontou seu ìrúkẹ̀rẹ̀ para o azarado que o transformou em ìgbín. O paciente noivo quebrou o ìgbín e com seu líquido, ẹ̀jẹ̀ funfun, lavou a mulher, purificando seu corpo dos atos tido com o amante.
Atônita, a princesa contou ao pai os atos de bravura, paciência e sabedoria de Ọ̀rúnmìlà, escolhendo-o como seu marido para sempre. O Oba de Iwó concedeu a mão da filha e após ela ficar grávida, ele retornou para casa com a esposa. Após toda a aflição passada na casa de Iwó, Ọ̀rúnmìlà conseguiu sua bela esposa e daí o nome: Ìyáwó = ìyà = aflição, ní = em, no, na, ilé = casa, habitação, Ìwó = cidade onde a princesa morava, fica em Ìbàdàn.
Ìyà + ní + ilé + Ìwó = ìyáwó (Note como ìyà perde a acentuação indicativa de entonação baixa para ní e ilé, com o “a” de ìyáwó ganhando entonação e acentuação alta).