O òrìsà Èsù é sem sombra de dúvidas o òrìsà mais conhecido no Candomblé. Repleto de lendas a seu respeito, algumas criadas por quem nem queria vê-lo da melhor forma, este deus nigeriano traz consigo muitas contradições, famas ruins e outras boas. Mas será que Èsù é um òrìsà bem compreendido?
Há muitos escritos a seu respeito e essa postagem de longe tenta ser um compêndio sobre este lindo Òrìsà. Então por favor críticos que acham minhas postagens supérfluas, essa é uma postagem básica trazendo alguns esclarecimentos e não uma pesquisa acadêmica de teologia nigeriana.
No meio de todas essas lendas, Èsù ganha algumas famas que não lhe pertencem e algumas até mesmo ocorrem por simples erros na tradução de idioma Yorùbá, um mal que ainda está grudado em muitos candomblecistas. Esta carga que este òrìsà possui, por exemplo, como sendo um òrìsà ruim, que maltrata e pune, costuma se deturpada e até mesmo usada deliberadamente por quem vê vantagem nisso!
5 Mentiras Sobre Èsù
1 – Èsù representa o Diabo, pois Òsálá representa Jesus!
O sincretismo, algo que muitos religiosos hoje estão lutando contra, acabou criando essa imagem de que cada Òrìsà tem um correspondente aos santos católicos. Cada santo foi sendo associado a um òrìsà, mas quando chegaram em Èsù…
Por causa das lendas populares e outras até que realmente existem no corpo de poemas de Ifá; por causa de seu temperamento e peripécias, esse Òrìsà acabou sendo associado ao Diabo. Piorando a situação, nas giras de Exú (note como mudei a escrita), o nome do òrìsà passou a ser associado ao chamado povo de rua e suas cantigas sempre exaltando o diabo, satanás e demais demônios cristãos.
O próprio candomblecista costuma colocar a cargo de èsù tudo que costuma ser de ruim, como as queimações e aterrorizar alguém. Isso é desconhecer o quanto este òrìsà possui de bondade e humanidade.
As insígnias usadas aqui no Brasil também o colocam com certa relação com o Diabo, por mais que o tridente não seja exatamente um símbolo do mal e sim de poder!
Verdade: Èsù não é Diabo. Diabo, Satanás e outros demônios são pertencente a outra cultura. Na cultura nigeriana e no Candomblé não há a figura de um Òrìsà do mal, pois na verdade os òrìsà ajudam os humanos em terra. (Simplificando)
2 – Èsù Inimigo dos Òrìsà
Um trecho de um antigo Oríkì diz que Èsù Oota Òrìsà. No afã de traduzir a palavra, muitos logo acharam: “Èsù inimigo dos òrìsà” e logo, também, associaram inúmeras lendas para ratificar tal frase.
Ledo engano meu caros. Apesar de èsù aprontar muito, a tradução foi longe no significado. Vejamos:
Ota = pedra sagrada dos Òrìsà
Òtá = Inimigo, adversário, antagonista
Olópàá = policia.
Bom, aqui sei que irá começar um murmúrio, um certo “chororo” por parte de alguns. Compreendo e respeito. Não estou sendo aqui o dono da verdade, apenas alguém que busca e pesquisa e compartilha.
Há uma corrente que diz que a palavra foi corrompida (não moralmente gente, com o passar dos anos ela mudou) e a tradução correta seria Èsù olópàá Òrìsà – èsù polícia dos òrìsà, no sentido de ser aquele que vigia os atos, está sempre acompanhando tudo que acontece.
Não é a toa que todos temos o nosso èsù e que ele acompanha tudo que é feito em um barracão, de feitura a obrigações. Que cada òrìsà possui seu èsù correspondente e assim por diante. Temos èsù como aquele que nunca dorme e está sempre vigiando, policiando as coisas…. e tentando também, procurando ver se a pessoa incorrerá em erro.
Outra vertente refuta èsù como sendo inimigo dos Òrìsà, não haveria cabimento em tal afirmação e que ao certo o termo seria pedra sagrada. Afirmação se baseia que èsù nasce de uma rocha, a laterita.
Verdade: aqui há vertente e vertentes, mas não vejo èsù como inimigo de òrìsà… sendo ele mesmo um!
3 – Errado iniciar alguém a Èsù. Não se raspa pessoas de Èsù!
Ainda hoje essa uma questão que gera debates e até mesmo brigas. Há inclusive zeladores e zeladoras que se quer vestem uma pessoa, visitante mesmo, que vire neste lindo òrìsà.
Há muito que se diz não se possível a iniciação a este òrìsà. Uns dizem que por èsù carregar uma navalha sobre o seu orí isso impossibilita a raspagem (Ok, confesso que é um argumento fraco). Outros dizem que não há folhas para a iniciação a teste òrìsà (E será que todos os outros são iniciados com suas verdadeiras folhas?) e por fim, há os que dizem ser impossível “doutrinar essa energia”. Essa última posição diz que a iniciação a este òrìsà, feita da maneira incorreta, pode derrubar um zelador e levar à ruína um terreiro.
Não estou querendo aqui esgotar os argumentos que costumam defender por ai, apenas mostrar como alguns pensam.
Acontece que é patente que muitos zeladores e zeladoras não sabem proceder ao ato iniciatórios desse òrìsà e isso, somado ao ego, acaba fazendo com que seja mais fácil dizer que não é correto ou que não se inicia ninguém a este poderoso òrìsà. Mesmo havendo nomes vultuosos iniciados a ele.
Bom, há muitos iniciados a este òrìsà, felizes e sorridentes e prósperos e etc. Como todos os outros òrìsà, este também possui suas peculiaridades que quem não sabe e tendo em suas mãos um futuro filho dele, deve buscar com os mais velhos. Conhecimento este que impede de raspar PombaGira com direito a gargalha e tudo… sim, isso acontece!
Há em terras africanas a figura do Olupona, sumo sacerdote deste Òrìsà e lá há iniciações a Èsù. Há uma entrevista com um deles – Leia Clicando Aqui!
No Brasil tivemos a figura de um grande zelador: Djalma de Èsù Laalu!
Outro costume corriqueiro e que confesso não concordar é o famoso: dar a cabeça para Ògún e alimentar Èsù (Não entrarei no mérito da questão!).
Verdade: Sim, é possível iniciar uma pessoa a Èsù, basta buscar o conhecimento necessário para tal. E há diversas pessoas iniciadas e felizes.
4 – Iniciados a Èsù ou quem a ele deveria ser iniciado são mentirosos, briguentos, preguiçosos e um monte de coisa ruim!
Uma coisa que não concordo e nunca concordei dentro do Candomblé são os famosos arquétipos de filhos de òrìsà. Não acredito que toda a bagagem cultural e intelectual de uma pessoa seja resumida em 12 tipos de arquétipos, ou um pouco mais, e quando se fala de Èsù… assim como alguns falam dos filhos de Oyá, parece que a coisa é bem feia.
“Filhos de èsù atraem confusão”, ” filhos de èsù arrumam briga por qualquer coisa” e ainda pioram, “filhos de èsù costumam ter morte feia!”
Pensamentos como estes mostram que a pessoa tem um parco conhecimento de mitologia Yorùbá e ainda por cima, baseiam seus conhecimentos religiosos em informações sem fundamentos e baseados muitas vezes em revistas sobre Candomblé, alguns sites também propagam este tipo de conteúdo.
Uma série de fatores forma a personalidade de uma pessoa, não seria esta baseada em ser iniciado a um òrìsà ou a outro. Claro que a presença de determinadas energias atraem situações, por isso mesmo não podemos pensar que tudo se baseia nos òrìsà, quando há por exemplo: odù e seus caminhos!
Verdade: Não acredite em esterótipos ou arquétipos de Òrìsà, há muitas outras energias na vida de uma pessoa que podem influenciar. Traços de personalidades são adquiridos em vivência, genética e educação!!
5 – Quem é de Èsù e o próprio Èsù não possui ewò, quizila.
Eis uma coisa comum de se ouvir nas rodas de candomblé as pessoas debatendo. Dizem que èsù é a boca que tudo come, logo não teria ewò com nenhum elemento. Ewò ou quizila, é uma proibição de ter algo, tocar em algo ou consumir algo. Basicamente é uma proibição, um tabu.
Outro pensamento é que os filhos desse òrìsà, subtendendo que já pacificamos este assunto de iniciação, também não teriam nenhum tipo de problemas com ewò de nenhum tipo.
O primeiro erro nestas afirmações se encontra em pouca pesquisa, desconhecimento dos òrìsà. Este òrìsà realmente aceita diversos tipos de oferendas, mas cuidado, pois o adin, óleo do caroço de dendê, é seu verdadeiro inferno. Inclusive há magias que atiçam èsù como este óleo e depois apaziguam com mel ou azeite de dendê (Não entrarei no mérito, mas conhecedores de magia de Ifá sabem do que se trata).
O adin é muito conhecido, mas há quem diga que assobio, limão e até chuva são quizilas deste òrìsà. O principal mesmo é o adin! Ele é um óleo originário do caroço do dendê, não confundir com o azeite de dendê.
Quanto aos filhos? Bem, um mero e também comum erro de confundir iniciado com o òrìsà. As quizilas, aversões, interditos são pessoais e tem a ver com a energia que você porta.
Nenhuma pessoa é como outra, cada qual tem seu odù, cada qual tem seu caminho e suas lições a serem aprendidas. As quizilas são energias incompatíveis com a energias da pessoa em si; são energias que acabam minando as energias boas da pessoa e sujando sua espiritualidade, atrasando o que de bom poderia vir!
Verdade: Èsù possui seu ewó, que é o adin e outras casas associam outros elementos. Os iniciados têm suas quizilas pessoais e também devem respeitar a principal do òrìsà.
Conclusão:
espero que você meu caro leitor tenha chegado até esta conclusão, pois sei que é um assunto espinhoso e que mexe com diversas áreas da vida religiosa de quem lê. Primeiro devemos saber que neste texto não se encerra tudo e nem foi exposto tudo sobre o assunto. Caso ache uma postagem supérflua, sinto não ter atendido o intento de lhe informar coisas novas. Mas caso tenha gostado agradeço!
A principal conclusão é que devemos pesquisar bastante quando o assunto é candomblé. Não aceite nada como pronto, cuidado com o que leva a diante, com o que tem como verdade absoluta. Lembre como as bruxas foram queimadas na Inquisição Espanhola, Inglesa e Francesa.
Minhas postagem nunca são o fim, mas a forma de levantar debate. Muita coisa aqui se quer falei pois sei escandalizaria os leitores mais… ortodoxo. Mas caso queira expressar sua opinião, com respeito é claro, use o espaço abaixo.
Mo dúpé àti o dábò!!
Fonte https://educayoruba.com/5-mentiras-sobre-orisa-esu-algumas-ate-candomblecistas-acreditam/?fbclid=IwAR3q9oAAhWDAd2yKHqpi91GN3_o3qcKN0MhwWVMxDTwBerXC4pfLpGNpXoY