Por Educa Yoruba
Postado em 11/11/2021, acessado em 30/05/2023
Vamos saudar aquele que conhece os segredos das folhas, que conhece o poder do sangue das ervas, aquele que traz as ervas e o seu sangue cinza poderoso, ẹrù ẹ̀jẹ̀!
Por Educa Yoruba
Postado em 11/11/2021, acessado em 30/05/2023
Vamos saudar aquele que conhece os segredos das folhas, que conhece o poder do sangue das ervas, aquele que traz as ervas e o seu sangue cinza poderoso, ẹrù ẹ̀jẹ̀!
O Kasun ou conhecida como Balança para Xangô é um ritual que procede sempre houver toque decorrente de cortar um quatro pés no templo.
A Balança será formada por indivíduos que já tenham obrigações de quatro pés.
Quando confirmada segue o Batuque e os orixás chegam dançam e a comunidade segue feliz até o final do Batuque.
Alguns sacerdotes entendem que a balança é um termômetro, que qualifica o estado da obrigação, pois é um momento que provoca a manifestação das divindades, desta forma é possível observar como as divindades manifestam, para que possam tomar providencias para amenizar ou seguir alguma orientação daquela obrigação.
Já outros sacerdotes entendem que seja um julgamento de toda a obrigação, falha ou necessidade de fazer algo para aquela obrigação.
É comum ouvir comentários onde termina a responsabilidade do sacerdote e onde começa a do tamboreiro, em qual seria função de cada um, onde alguns sacerdotes entendem que cabe a eles o dever de cuidar dos procedimentos caso a balança se rompa, diferente de outros sacerdotes que entendem que quem assume o ritual é o tamboreiro.
"Ẹ kú ojúmọ́ gbogbo ilé o.Bom dia ! Você já *rezou hoje?Por que eu bato tanto nessa tecla?Eu noto que a finalidade de uma religião e o modo de cultuar se perdem.Você costuma rezar para o seu Òrìsà, agradecer pelas conquistas pela saúde, pela vida, pela família e pelos amigos que tem? Ou você lembra do Òrìsà somente quando é para te favorecer?Hoje dia de ọ̀sé̩ Ọ̀ṣun Sàngó àti Ẹ̀gbẹ́ Que possam nos abençoar e nos proteger.Hoje em especial eu rezo, invoco e agradeço a Orí que me deu maturidade de tentar entender e aceitar as pessoas como são. Aceitar as pessoas com suas qualidades e defeitos et respeitar o espaço de todos para que o meu espaço também seja respeitado.Já procurou te melhorar hoje? Caso não tenha feito isso. Então, o que serve a religião?Graças a Eledumare e a Ọ̀ṣun tenho pessoas abençoadas nos meus caminhos com os mesmos propósitos. Que Ẹ̀gbé̩ me apresente e faça permanecer pessoas leves que agreguem palavras boas de Ire.Ótima quinta feira aos meus amigos.Que Ọ̀ṣun nos abençoe.Ọ̀ṣun á gbé wa oooORE YÈYÉ OOO "
Erick WolffMuito importante invocar orixá e ori para agradecer e não somente pedir…Julie Osunronké AbebíErick Wolff Aqui entra o assunto daquela tecla que já batias a dez anos atrás sobre Orí e a importância do culto. 😘
Posta por Bàbá King
Em 05/05/2023
Coletamos a postagem por conter informações sobre a personalidade e conduta das divindades, vejamos a seguir:
"Conta-se que Oxum concede filhos para todas as mulheres que assim o desejarem sem discriminar ninguém, desde que estejam em condições de engravidar e levar suas gestações até o fim. Os orixás possuem uma ética profunda, muito superior à nossa compreensão: cada um atende aqueles que o procuram e os abençoa com aquilo que possui de melhor, desde que existam condições básicas para tanto. O devoto dos orixás também poderia agir com ética, de modo imparcial, sempre fazendo o que é certo com a mesma boa vontade, independente de quem está diante dele."
https://www.facebook.com/photo?fbid=797195211775659&set=a.332589848236200
Por Erick Wolff de Oxalá
Postado em 24/05/2023
Alguns anos atrás discutia-se muito sobre os feiticeiros e feitiçaria, com um certo orgulho, e, aos poucos fomos apresentando a filosofia orixaísta que abomina o feitiço e os feiticeiros, felizmente hoje em dia existe uma clara definição entre sacerdotes e feiticeiros.
Este fragmento do livro História dos Yorubas, é uma rica leitura que expressa os costumes e tradições deste povo. Vejamos a seguir:
[...] A feitiçaria era punida com a morte, as pessoas acusadas disso eram levadas a Orisa Oko para julgamento. Ele costumava levar o acusado para uma caverna supostamente habitada por um demônio chamado Polo. Nesta caverna Orisa Oko praticava sua magia. Nos casos em que o acusado era inocente, voltava com ele; caso contrário, sua cabeça era lançada para aqueles que aguardavam uma decisão. "Polo, o demônio, executou os culpados." A fama de Orisa Oko se espalhou e muitos recorreram a ele para fazer juramentos. Seu oráculo era considerado infalível e os apelos a ele eram definitivos. [...] (A HISTORIA DOS YORUBA'S, Samuel Jonhson, p. 37)
Conforme as leis e costumes dos Yoruba é crime a pratica da feitiçaria. Vejamos este recorte:
Coletamos este vídeo da página do Popoola Owomide Ifagbenusola, com um Oriki de Obaluaye.
Publicado em 13/11/2021 acessado em 24/05/2023.
Neste oriki Obaluaye domina Oso e Iyami.
Publicamos primeiro em português para o nosso público, a seguir o ioruba e a versão inglês.
Sango está comendo porco, fotos coletadas no perfil do sacerdote nativo.
Postado por Ààre Sàngódélé Sàngókáyòdé
Em 23/05/2023
Feliz jakuta sango hoje
Por Erick Wolff de Oxalá
Em 22/05/2023
Este ensaio tem por finalidade levantar um estudo sobre o idioma Yorùbá na Matriz e na diáspora.
Lembrando que os mais velhos e os iniciantes na sua humilde dedicação da religião, fazem o melhor para preservar o dialeto, entretanto, muito se perdeu do idioma na diáspora batuqueira, por isso convidamos professores e estudiosos para uma reflexão sobre o tema.
O artigo "Koine – a língua geral Iorubá" publicado por Ayo Bamgbose (1996), foi traduzido pelo Luiz L. Marins para a revista Olórun, julho, 2020. Vejamos a seguir o trecho que fala sobre o idioma:
[...] A língua iorubá é um “dialeto contínuo” falado por volta de vinte milhões de pessoas, na Africa Ocidental, numa área que cobre a Nigéria Ocidental, Dahomé, Togo e Ghana [...]
Fonte - https://revistaolorun.files.wordpress.com/2020/08/revista-olorun-80.pdf
"E tem varias familias assim que eu conheço pessoalmente - não preciso especificar estes últimos exemplos. Mas existem, e estão recebendo outros òrìṣà aos poucos.
Estou falando de Iorubalândia, tanto na maior parte que fica dentro da Nigéria como também na República de Benin." (Nathan, 2022)
Fonte - https://iledeobokum.blogspot.com/2022/02/curiosidades-sobre-orisa-em-terra-yoruba.html
Em vídeo o Onilu Antonio Carlos, explica que:
[...] A língua que nós falamos, é uma língua afro-brasileira.... entendeu?... porque um exemplo que eu vou dar... (cantando)... antigamente era diferente.... (cantando)... então as pessoas de hoje teria uma dificuldade para desenvolver na língua... entendeu?.... então o qui que aconteceu nesse.... facilitaram mais... entendeu?... não tão afro puro [...]
Incluindo-se algumas palavras que já divulgamos, para analise e estudos.
Nascido no Rio Grande do Sul, o batuque, religião afro-brasileira de culto aos Orixás, encontrou no solo gaúcho um território receptivo, apesar do racismo e das importância social e política das religiões cristãs, especialmente da Igreja Católica. Sinal disso é que os deuses do batuque recebem polenta ou churrasco como oferendas, além de caldos com erva-mate, e vestem até bombacha.
Mas, para o Prof. Dr. Norton Figueiredo Corrêa, existe por trás disso uma enorme assimetria de poder social e cultural, especialmente entre as religiões cristãs e as afro-brasileiras. Em termos de cosmovisão, por exemplo, ele afirma que, "enquanto a sexualidade é condenada no catolicismo (e no céu também não existe sexo), os deuses afro-brasileiros namoram as deusas". E se o céu católico-cristão parece algo eternamente inerte, as representações referentes aos orixás "mostram-nos em movimento, guerreando, amando".
Nesta entrevista concedida à IHU On-Line, por e-mail, Corrêa defende que justamente os brancos que ocupam as posições de maior poder na sociedade gaúcha é que vão buscar o poder simbólico que creditam aos sacerdotes da comunidade religiosa afro-brasileira. Segundo ele, Borges de Medeiros (1863-1961), presidente do Estado do Rio Grande do Sul por mais de 25 anos, era cliente de um famoso e rico sacerdote africano. Por outro lado, Dom Vicente Scherer (1903-1996), cardeal e ex-arcebispo de Porto Alegre, manteve, por muitos anos, um ataque frontal às religiões afro, hoje manifestado pela Igreja Universal do Reino de Deus.
Norton Figueiredo Corrêa é sociólogo, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em antropologia social pela mesma universidade e doutor em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Atualmente, é professor adjunto da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e do mestrado interdisciplinar Cultura e Sociedade da mesma universidade. É autor de "O Batuque do Rio Grande do Sul: Antropologia de uma religião afro-rio-grandense" (Ed. Cultura & Arte, 2006), já na sua segunda edição.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais são as origens do batuque? Poderia situá-las?
Norton Figueiredo Corrêa – O batuque provavelmente surgiu em Rio Grande, na segunda metade do século XIX. Um trabalho muito interessante de mestrado, de Jovani Scherer, detectou uma considerável colônia de nagôs na cidade. É possível que uma parte dos negros de origem jêje-nagô tivessem vindo da África, diretamente, e uma parte de outros Estados brasileiros. São extraordinariamente grandes as semelhanças entre o batuque e o xangô pernambucano. Do Rio Grande do Sul, o batuque migrou para o Prata, hoje há muitas casas "de religião", para usar um termo usado por seus integrantes, na Argentina, Uruguai, Paraguai e outros países vizinhos.
IHU On-Line – Quais são as suas peculiaridades e diferenças em relação a outras religiões afro-brasileiras?
Norton Figueiredo Corrêa – Uma das peculiaridades do batuque – mas comum a qualquer religião – é a adaptação ao contexto regional. No caso do batuque, Oxum, a deusa das águas doces, tem como oferenda a polenta, influência da colônia italiana. O Bará, divindade das encruzilhadas e caminhos, recebe batatas inglesas assadas, sendo que a batata, embora americana, foi popularizada pela colônia alemã. A veste ritual masculina é a bombacha e o churrasco é o alimento preferido de Ogum, o deus da guerra e das artes manuais. E os eguns, os espíritos dos mortos, recebem uma espécie de caldo, o mieró de egum, ao qual alguns templos adicionam erva-mate. Mas há diferenças variadas entre o batuque e outras religiões, especialmente as de influência banto, como a umbanda e o candomblé de caboclo baiano.
IHU On-Line – Qual a importância do batuque na construção da sociabilidade e da religiosidade do gaúcho?
Norton Figueiredo Corrêa – Podemos falar na sociabilidade interna à religião e externa a ela. Internamente, entendo que o batuque foi um espaço simbólico criado pelos negros urbanos com a função de praticarem a sociabilidade, de se auto-protegerem contra a repressão da sociedade branca e construírem uma identidade própria, grupal. Com o tempo, os brancos, especialmente das classes baixas, começam a ingressar na religião, e muitos deles, mesmo no passado, assumiram a condição de pais e mães-de-santo e se tornaram muito famosos e respeitados dentro e fora da comunidade. Atualmente, o número de brancos aumentou, inclusive descendentes de italianos e alemães. O que ocorre com eles é que a conversão às religiões afro, mas mais especialmente ao batuque, implica na aquisição de uma visão de mundo muito específica, que se opõe diametralmente à cristã. São brancos na pele, mas negros na cabeça.
"A conversão às religiões afro implica na aquisição de uma visão de mundo muito específica, que se opõe à cristã"
A expressão "sociedade gaúcha" é complicada, porque os religiosos afro-brasileiros pertencem a ela. Se falarmos dos não filiados às religiões afro, a grande influência delas se traduz pelo fato de que os não filiados acreditam firmemente no poder simbólico que elas possuem. Quando falei em espaço criado, trata-se, na verdade, de um espaço negociado entre a comunidade religiosa e a sociedade envolvente. Há dois pontos a considerar. Os brancos ocupam as posições de maior poder na sociedade gaúcha, e esta, em caráter oficial, apenas tolera as religiões afro. Mas são justamente essas pessoas, individualmente, que vão buscar o poder simbólico que creditam aos sacerdotes da comunidade religiosa afro-brasileira.
A classe alta gaúcha e o batuque
Observei tal fenômeno, que é muito recorrente, durante os 20 anos de pesquisa sobre o batuque. Ouvi, de pais e mães-de-santo, descrições muito precisas e detalhadas de escritórios, consultórios, indústrias, lojas e empresas de grande porte, para onde foram levados por seus proprietários para fazerem serviços religiosos. Assinale-se que o detalhamento excedia os locais frequentados pela clientela ou público, estendendo-se, por exemplo, a almoxarifados, salas reservadas etc.
Além disso, muitos dos nomes dos respectivos proprietários eram de pessoas de grande visibilidade na sociedade gaúcha. Diz-se que Borges de Medeiros [(1863-1961), presidente do Estado do Rio Grande do Sul por mais de 25 anos], nos anos 1930, era cliente do Príncipe, um famoso e rico sacerdote africano que veio morar em Porto Alegre. Testemunhas afirmam que ele o atendia – assim como a outros políticos – a portas fechadas, em seu templo. E que teria "sentado" (isto é, entronizado) um Bará, no Palácio Piratini.
O segundo ponto a ser considerado é que é muito difícil que uma família pobre, no Rio Grande do Sul, mesmo branca, que não tenha vários membros iniciados ou frequentadores de religiões afro. Uma grande quantidade de pessoas, além disso, já jogou búzios e sabe quem são seus orixás ou entidades, porque, na visão de mundo batuqueira, cada indivíduo, não importa se iniciado ou não, mesmo os de outros locais do mundo, são filhos espirituais de dois orixás, um que comanda a cabeça, e outro, o corpo.
Repressão católico-cristã
É um fenômeno semelhante ao que ocorre na Bahia, mas com a diferença de que no Rio Grande do Sul não existe, como lá, a enorme badalação (muito para fins turísticos, esclareça-se) que é feita sobre o candomblé e seus orixás. O número de templos afro-gaúchos, estimado em cerca de 30 mil, supera os do Rio de Janeiro e os da Bahia. Outro indicador – a abundância de despachos em rios, cachoeiras, ruas, praias, cemitérios, matas (o que, inclusive, ensejou tentativas de regulamentação através de leis) – é uma característica local, não observável nos outros estados referidos. A presença e pujança das religiões afro-gaúchas é algo extraordinário em se tratando de Brasil. Mas, pode-se perguntar, qual o motivo de tanta vitalidade justamente num Estado considerado o mais branco da Federação? A resposta, na minha opinião, remete para a questão do racismo no Rio Grande do Sul, que é muito forte, além da grande presença e influência política, social e simbólica da Igreja Católica, que até bem recentemente foi a grande responsável pela repressão a estas religiões.
"Borges de Medeiros era cliente de um famoso e rico sacerdote africano. Ele teria "sentado" (entronizado) um Bará no Palácio Piratini"
Uma figura de muita projeção, como Dom Vicente Scherer [(1903-1996), arcebispo de Porto Alegre entre 1946 e 1981. Em 1969, foi designado cardeal], manteve, por muitos anos, uma coluna jornalística, além de um programa de rádio, nos quais atacava violentamente tais religiões. Atualmente, os ataques partem da [Igreja] Universal do Reino de Deus (IURD), também uma instituição cristã. Aí voltamos à questão do espaço de sociabilidade que os negros criaram, uma resposta a um ambiente hostil.
Não é demais acrescentar que, de certo modo, a arma simbólica potencial representada pela feitiçaria – ou seja, a possibilidade de manobrar com forças sobrenaturais perigosas, conhecidas apenas pelos integrantes da comunidade religiosa – ocupa um ponto importante nas relações sociais no Rio Grande do Sul: brancos e negros acreditam em tais poderes, mas ambos concordam que são os negros que detêm tais poderes. Ou seja, o feitiço, como possibilidade, atua também como um moderador do poder branco. A questão também se projeta no caso de Exu. Divindade africana dos caminhos e encruzilhadas, foi demonizado pelo cristianismo. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro: ao associar os religiosos negros ao "mal", deu-lhes, de bandeja, a condição de serem proprietários deste e, por conseguinte, o poder de manejar com ele. Os muito humanos desejos de vingança, os sentimentos como raiva e ódio impotentes encontram aí um canal de expressão e liberação. Alguém, pergunta-se, pediria a uma divindade cristã que aniquilasse com a amante do marido, por exemplo?
IHU On-Line – E quais são as influências do batuque na culinária, também ritual?
Norton Figueiredo Corrêa – Muito pequenas, porque é algo que permanece no intra-muros dos templos. Um dos poucos alimentos rituais de divindades do batuque, o acarajé, era antigamente vendido nas ruas. Mas é um costume que desapareceu no Rio Grande do Sul. A culinária rio-grandense de origem africana veio dos povos banto, da região de Angola, de Moçambique e do antigo Congo, como o quibebe, um pirão de abóbora.
"Dom Vicente Scherer manteve uma coluna jornalística e um programa de rádio nos quais atacava o batuque. Hoje, os ataques partem da Igreja Universal"
O alimento, por ser algo indispensável à vida humana, ocupa um lugar importantíssimo nos rituais de boa parte das religiões. No catolicismo, a consagração do pão-hóstia, que representa o corpo de Cristo, e o vinho, o sangue, se constitui no ápice da missa. A expressão "o pão nosso de cada dia..." compõe uma das orações de maior destaque. Nas religiões afro-brasileiras, a principal oferenda são alimentos: de origem animal, como a carne e certos órgãos, ou vegetais, como a polenta e o acarajé, além de bolos, doces.
IHU On-Line – Como se dá o diálogo inter-religioso entre o batuque e as demais religiões em nosso Estado?
Norton Figueiredo Corrêa – Quanto à [Igreja] Universal do Reino de Deus, como disse, é de franco ataque por parte. No meu entender, a incrível tolerância do poder público brasileiro face aos ataques, discriminação e desmoralização que a IURD promove em relação às religiões afro é um exemplo muito ilustrativo, primeiro, do status que elas ocupam na sociedade brasileira, que acompanha o de seus integrantes, os negros, cidadãos de segunda classe. E segundo, do racismo. Se os ataques fossem à religião católica, a questão seria muito diferente, como caso da imagem da santa, chutada pelo pastor.
IHU On-Line – Como ex-aluno de uma instituição jesuíta, como você percebe o diálogo entre as religiões afro-brasileiras e o catolicismo?
Norton Figueiredo Corrêa – Pouco expressivo, especialmente porque são duas visões de mundo opostas e inconciliáveis. Tal constatação me surgiu com base no conhecimento da cosmovisão cristã-católica, que aprendi em família (mas principalmente nas leituras da Bíblia e do catecismo, nas aulas de religião, no velho Colégio Anchieta) e das longas observações que fiz sobre o batuque. A visão católica, desenvolvida por Santo Agostinho através dos escritos de Platão, prega que o destino da alma está relacionado ao que o indivíduo faz em vida. É o que batizei de "efeito-gangorra": se conceder tudo o que o corpo quer (em última análise, o prazer), a alma vai para inferno. Ao contrário, se se reprimem os desejos do corpo, vai para o céu. Em última análise, a dor redime (a maioria dos santos foram para o céu porque sofreram), e o prazer condena.
Na visão de mundo religiosa afro-brasileira, o destino da alma independe das atitudes do indivíduo em vida: fica vagando, vai para os cemitérios ou se instala numa pequena casinha, o balé, existente nos templos. Como não existe o efeito-gangorra, o prazer não é condenado; pelo contrário, a vida é para ser bem vivida, em todos os sentidos. Os respectivos panteões ilustram tais realidades: por exemplo, enquanto a sexualidade é condenada no catolicismo (e no céu também não existe sexo), os deuses afro-brasileiros namoram as deusas. As representações sobre o céu remetem à imobilidade (como a missa), mas as referentes aos orixás mostram-nos em movimento: cumprindo certas atividades, guerreando, amando, movimentando-se por certos lugares que lhes são consagrados. Mas o que mais gostam verdadeiramente é de dançar. Para isso, tomam conta dos corpos e mentes de seus filhos espirituais humanos, dançando através deles nas solenidades religiosas realizadas em sua homenagem. Por isso, afirmo que são cosmovisões muito diversas, opostas.
"Exu foi demonizado pelo cristianismo. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro: ao associar os religiosos negros ao "mal", deu-lhes o poder manejar com ele"
Graças a tudo isso é que, no meu entender, não tem sentido o que as igrejas cristãs chamam de evangelização, pois não passa pela cabeça de um religioso afro-brasileiro a ideia de que se deve, como Cristo, optar pela dor e pelo sacrifício para salvar a própria alma. Tais questões, igualmente, é que impedem, também em minha opinião, a efetivação de um verdadeiro ecumenismo, na mais ampla acepção do termo. A não ser que, antes de tudo, seja reconhecido que há uma enorme assimetria de poder, social e culturalmente falando, entre as religiões cristãs – e, no caso, a católica – e as afro-brasileiras. E, segundo, que o termo se traduza pelo mais amplo, total e irrestrito respeito às diferenças e à visão de mundo de cada um.
IHU On-Line – Quais são os conflitos intra e extrarreligiosos do batuque? Poderia exemplificar?
Norton Figueiredo Corrêa – Os conflitos internos, entre integrantes do mesmo templo e entre os templos, devem-se, em boa parte, à estrutura de sua organização: os templos são unidades hierarquizadas e que permitem a ascensão do fiel aos cargos e posições de prestígio e mando, que têm como ápice o sacerdócio e a abertura de um templo para si. A situação é semelhante entre os templos, pois há uma certa hierarquia e possibilidade de ascensão em matéria de prestígio, na comunidade, trazida também pela visibilidade interna, mas que podem ser potenciadas pela externa, junto à sociedade envolvente.
IHU On-Line – Quais são os principais desafios para o negro hoje, dentro do tipo de sociedade em que vivemos?
Norton Figueiredo Corrêa – O principal desafio para o negro, hoje, é batalhar, individual e coletivamente, para superar os obstáculos, especialmente o racismo e a discriminação racial que lhe são postos pela sociedade.
(Reportagem de Moisés Sbardelotto e Márcia Junges)