terça-feira, 20 de agosto de 2024

A BATUQUEIRA BRASILEIRA JULIE, RESTAURA DO TEMPLO DE ÒSUN EM ÒYÓ NA NIGÉRIA

Por Erick Wolff

A brasileira Julie Viana, sacerdotisa do Batuque do Rio Grande do Sul, e iniciada para Òsun em Òyóna Nigéria, recebeu o nome Osunronké Abebi.

Julie tem acompanhando os festivais e eventos em Òyó, desde a sua iniciação, e, ao mesmo tempo, começando a restauração e preservação do templo de sua família Òsun

A preservação dos templos e a tradição dos povos iorubá, é muito importante para a sociedade afro religiosa do mundo todo, sendo que a reinauguração do templo de Òsun em Òyóna Nigéria, se torna um grande trabalho de preservação de bens imateriais e materiais para o mundo todo.

A restauração dos templos em Òyóna Nigéria, é o esforço e trabalho da Paula Gomes, Ministra o Alaafin de Òyó, que a alguns anos tem feito um trabalho de preservação e resgate dos costumes antigos, preservando o culto a òrìsà.





Link https://www.facebook.com/groups/1444295859135612/permalink/3826311987600642


PAULO DAMATA PERGUNTA SOBRE BEBIDAS PARA O BARA LODE E OGUN AVAGÃ

Nesta postagem do Paulo Damata, postado no grupo Nação Cabinda do RS do Facebook, com intuito de coletar informações sobre o costume de oferecer bebidas aos orixás.
Precisamos esclarecer que a maioria das famílias do Batuque tradicionalmente não oferecem bebidas a orixás.
Vejamos a postagem:



"Bom dia irmãos!!!!!
Alguém sabe ou já ouviu ( no passado Bará Lodê bebia Cachaça) ?
Sei que é estranho para Orixá mas é coisa antiga.
Obrigado"


Coletamos alguns dos comentários durante o debate:

"Erick Wolff

Bom dia, temos registros de sacerdotes que faziam serviços para o avaga com uma garrafa de cachaça, diretamente na encruzilhada.


Rafael Tealdi

[Erick Wolff] Bàbá, era a bebida "cachaça" mesmo ou algum tipo de aguardente, como o Gin, por exemplo, muito usado em África ou Candomblé?


Diego da Rosa

[Erick Wolff] Eu sirvo cachaça e ou gin para lode, cerveja para ogun avagã espumante para oyá! Gin eu esborrifo nos barás (okutas)


Diego da Rosa

Não dou bebida alcoolica para axeres! nem orixá em terra


Babalorixá João Òsún Olobomi

[Erick Wolff] se faz ou se fazia dar mimiã amargo (farinha de mandioca com epô e um pouco de cachaça) no trilho de estrada de ferro para Ogun Avagã....e tudo se abria na vida... claro quêm detém o conhecimento de axé...

E o interessante é que era uma noite antes de se cortar um bode ou até boi para Exu (entidade)....


Erick Wolff

Assim, como temos registros de uma família que era de Ijesa e depois passou para a Kambina, que nos dias dos Batuques, os axero, terminavam o Batuque bebendo:

Ogun - cerveja, há relatos de separarem engradados de cerveja e o axero bebia a madrugada.

Oya - sidra de maça

Osun - sidra de pessego

Yemanja - sidra normal

E os axeros ficavam com a garrafa na mão e uma taça, porem, não vi Bara, Sango, Xapana, Oxala nem Ossanhe bebendo.

Preservaremos os nomes, respeitando o tabu da ocupação e a família, porem, há possibilidade de serem fornecidos, para estudos ou pesquisas acadêmicas.


Bàbá Ifaburè Dirojaye

[Erick Wolff] Lo he visto en mis comienzos Bàbá. Todos los axere tomaban cerveza excepto los de Óòṣànlà


Erick Wolff

Este evento eu vi algumas vezes quando entrei para a religião por volta de 1980


Iago Ramos

Bom dia ... No passado e até nos dias atuais os orixás Bara Ogum ossanha e xapanã existe preceitos que vão cachaça sim, até pq na África e servido pra quase todos os orixás ....

Hoje muitos não se faz mais pois muita coisa se perdeu no tempo, claro que eh em certos rituais. Mas sim lodê assim como avagã tomam cachaça.... Isso falando da minha goa, mas sei que em muitas vão dizer que eh errado.... Mas orixás são natureza....

Antigamente se dava sim, a grande maioria das pessoas iniciadas a esses orixás os serviam cachaça..


Bàbá Ifaburè Dirojaye

Iago Ramos o gin, cachaça, ron, etc, são para ativar o àṣẹ e até o ofo mesmo. É muito legal e em nossa família também se usa.


Iago Ramos

[Bàbá Ifaburè Dirojaye] isso mesmo, mesmo Exu adora ser assoprado com gin e epô...


Paulo Dexango

[Iago Ramos] sim mano e verdade até eco se fãs mais isto é fundamento


Erick Wolff

Sim, concordando com o Iago Ramos, que no Bori, é comum algumas famílias fazerem o axé dos copos, com algumas bebidas, que após o Bori, os que estão no serão, podem beber um gole destes copos.


Elaine Azevedo

Já ouvi falar


Erick Wolff

[Rafael Tealdi] era pinga mesmo, qualquer um, inclusive, o serviço passa a garrafa no corpo da pessoa.


Diego Correa

Alguns lados são servidos cachaça a orixá lode e Avaga.


Erick Wolff

[Diego da Rosa] o irmão serve bebida para orixá, um fundamento da antiga família ou atual?


Diego da Rosa

[Erick Wolff] da família do pai Cláudio, onde eu comecei pai Erick e me encontro novamente, raiz da Keta


Angelo Marcos E Silva

Boa tarde Irmão.

Sim, meu primeiro babá, já falecido, servia 1 martelinho de cachaça e deixava na frente do lodê.

Mas isso somente quando se arriava 4 pé pra ele.

Onde somente homens participavam da obrigação.

Servia 1 martelinho que se derrubava umas gotas no chão da casinha e passava de mão em mão esse martelinho até último terminá-lo.

Então servia outro que ficava na frente da obrigação do lodê.


Francisco Machado

Sim se costuma colocar atrás do acertamento dentro da casa de lode e avaga , um copo com cachaça para lode e avaga, que é trocado toda segunda-feira no cruzeiro de lode .


Elisabeth Rodrigues

Eu não tenho conhecimento disso


Glaci Maria Bogiel

Si desdo meu pai de santo ivo do Ogum (em memória) no corte de 4 pés sim 1 cálice de cachaça depois que terminava só os homens cada um toma 1 gole é a garrafa é guardada novamente na casinha é do lado da nação nunca vi servir outra bebidas alcoólicas a Santo nem um é conheci muitos pais antigos não não faziam isto pelo lado de nação.


Lucas Freitas

[Glaci Maria Bogiel]

Exatamente Mãe Glaci, Cachaça ou Gin ou até mesmo Whisky pro Exú Lodê juntamente do Ògún Avagã. Após o término do serão de 4 pés dele, os homens (somente homens) tomam um gole do copo da bebida deles.

Se tem Dirã, serve champanhe a ela, e no final a mesma coisa, porém as mulheres já podem fazer parte e após a imolação dos bichos tomam um gole do cálice dela.


Ederson Faleiro Babalorixa

Sim já soube de fundamento antigo do oyo que ficava um.copo com cachaça. Para lode sim. Pois na África orixa. De rua servia cachaca em alguns rituais. Sim.


Glaci Maria Bogiel

Mas na UMBANDA sim cachaça para Exu champanhe para as giras cervejas OGUM vinho tinto no para Oxóssi malzibier para Xango

Frisante para IEMANJÁ é vinho SABIA para OXALÁ aliás nunca mais vi este vinho

Mas só na UMBANDA e não no terreiro só nos ritual de mata é cachoeira


Paulo Damata

[Glaci Maria Bogiel] pelo que sei não existe mais o vinho sabiá.


Glaci Maria Bogiel

[Paulo Damata] acredito a minha primeira mãe de Santo usava muito


Claudio Tì Ossãim Santos

Eu 1 vez por mês sirvo "oti alagbara" ao meu Lodê, e responde muito bem.

Até mesmo uns dos ebós que faço na mata ao meu orixá sirvo também oti, e a resposta é rápida.

Mas já salientando: Eu faço, não quer dizer que todos tem que fazer.

E graças estou bem 🙏🏽🍃🗝


Paulo Roberto Lopes Martins

Eu tive um filho que servia ele no cruzeiro, e tem lados que ainda usam a caipira no dia do corte.


Erick Wolff

Querido amigo Babalorixá João Òsún Olobomi, interessante a sua informação de alimentar Ogun com comida de Exu, antes de um ritual de entidades da umbanda ou quimbanda."


Link https://www.facebook.com/groups/1444295859135612/ 

Imagens comprobatórias:







MULHERES DANÇANDO DURANTE O FESTIVAL YEMỌJA, ABEOKUTA (1961)

Postagem publicada no perfil Yoruba Blog, do FaceBook, 19/12/2023, acessada em 20/08/2024.

O interesse de registrarmos esta postagem, é mostrar que os nativos mesmo convertidos para outras religiões, continuam a reverenciar os Deuses da sua terra.
Vejamos a fala de Yemoja Agbaka Godwin:




"Mulheres dançando durante o Festival Yemọja, Abeokuta, c.1961
No Brasil ela é chamada de Yemanjá, ou Mãe da Água e em Cuba - Yemayá ou Madre del Agua.
Yemọja é um dos mais de 400 Orixás que se acredita ser a padroeira da maternidade, do parto, do útero ou da fertilidade, doadora da vida e de todas as coisas relacionadas à feminilidade.
Foto: Manu Herbstein (autor sul-africano vencedor do prêmio)"

Comentário: 



Eu sou um cristão nascido de novo, no entanto, não abandono e nunca abandonarei minha herança cultural tradicional africana por alguma ideologia cultural ocidental, tudo em nome do cristianismo.
O que a maioria das pessoas não sabe é que YEMOJA simboliza.... Fecundidade, luz, paz, crescimento. Yemaya não é apenas uma deusa marinha ou ser / orixá que ela transcende acima e além.
Como cristão, adoro e reverencio YEMOJA de mente aberta.
Eu bato na fonte da maternidade." (tradutor online)

 


segunda-feira, 19 de agosto de 2024

BATUQUE EM PAUTA

Nesta postagem coletamos um vlog, que foi publicado no perfil de Erick Wolff, para registrar os costumes antigos, pai Pedro da Oxum Docô, comenta como eram feitos os tambores antigos. Vejamos:

BATUQUE EM PAUTA 

Conceitos e equívocos que se formaram.

Por Erick Wolff, 16/08/2024



"Rafael Rorigues Pedr

E o tambor era assim


Rafael Rorigues Pedr

Tambor só com coro dos bichos sacralizados da obrigação..Aí chegou o coro de boi


Alex ubirajara Ribeiro

90 % dos tais alabês hj nunca tocou ou não sabe montar um tambor de couro de cabrito hj vejo os alabês passarem cruzeiro com tambor apertado aí eu te pergunto cadê o fundamento deste alabês hj tem"

O LEGBA, A ZINA E OS ANJOS CULTUADOS NA KAMBINA

O LEGBA, A ZINA E OS ANJOS CULTUADOS NA KAMBINA

Quem são, qual origem e qual a finalidade de cultuá-los.
Por Erick Wolff, 18/08/2024.

Neste vlog postamos os conceitos e reflexões das divindades Legba e Zina, incluímos os anjos para abrir um debate sobre o que seriam eles.

Postado na plataforma TikTok, selecionamos alguns comentários que acrescentam nos estudos e pesquisas dos costumes e tradições da Kambina. Vejamos:


"Médium Maicon Mendonça

kambina? não é cabinda?


Erick Wolff8 · Criador

[@Médium Maicon Mendonça] Kambina ou Kambini é o nome original, Cabinda é como chamam atualmente.


Erick Wolff8 · Criador

[@Médium Maicon Mendonça] já debatemos muito sobre o tema, inclusive já publicado no livro A Kambina Nagô e o Kamuka na Nigéria.


Erick Wolff8 · Criador

Kambina (atualmente conhecida por Cabinda) fundada por pai Waldemar


PaiJuliodeOxum · Amigo

Os descendentes da Mãe Ondina tem Legba e Zina? Conheço uma pessoa que conviveu com ela e nunca ouvi falar nessa feitura.


Erick Wolff8 · Criador

[@salakoifatundeawo] é descendente


Erick Wolff8 · Criador

Apenas completando, que se trata de assentamento e não feitura destas divindades que são relatados.


Erick Wolff8 · Criador

[@zezocosta1] o legba no Batuque tradicional não tem ligação com entidades exus ou pomba giras.


Erick Wolff8 · Criador

[@zezocosta1] quando existem muito caminhos para estudo e ou divergência entre informações, o correto é olharmos para a matriz africana.


Erick Wolff8 · Criador

Estudando o leba vodun ou o legba (elegbaa) orixá, ao observarmos a forma de culto preservado no Batuque encontraremos a origem


Erick Wolff8 · Criador

O jejê do Batuque é um culto a orixá, pelas ritualísticas, iniciações e divindades cultuadas, pois, o culto vodun é diferente dos ritos do Batuque.


Erick Wolff8 · Criador

Caro amigo [@o caminho do adepto], eu estou apresentando justamente o orixá Exu com nome legbaa ou legba do povo iorubá neste artigo


Erick Wolff8 · Criador

Abrindo uma possibilidade para esta divindade do batuque ser um orixá e não ser o vodun, mesmo considerando a forma de culto ou peculiaridades


Erick Wolff8 · Criador

Conforme já mencionado, caso deseja contribuir, também serão aceitas as informações e registradas, mencionando a devida fontes


sinha_oyá

Benção irmão, sou sua fã e neta do Pai Cleon, o próprio falava q Legba era uma entidade ❤️Mil bjos e orgulhosa de vc


zezocosta1

ou seja!! cada um criou da sua forma, cada uma cultuou dentro do seu entendimento, não se sabe a realidade...eu fico com a tese que houve uma aglutinação de culto e de divindades...


Erick Wolff8 · Criador

[@zezocosta1] sim, de certa forma está correto, pois cada religião se estruturou a sua forma, porém, as nações do Batuque possuem os mesmos elementos mudando pouco de uma para outra.


Erick Wolff8 · Criador

Sim, esta divergência demonstra a diversidade cultural


zezocosta1

sim!! só pro senhor saber, algum tempo atrás, eu ja ouvi que."leba" era o chefe dos exus...kkk

conheço pessoas que cultua ele como "exu entidade" e outros como Orixá...

abraços!!!


BrunoHilariodeOxala

ondina era jeje e Manoelzinho ijexá


Erick Wolff8 · Criador

[@BrunoHilariodeOxala] segundo a sua informação sobre o legba ser um Bará, coincide com as referências dele ser um Bará na, Nigéria.


Erick Wolff8 · Criador

[@BrunoHilariodeOxala] grato pela contribuição, mas segundo o site xangô Sol, ondina era filha do pai manezinho do XAPANA, desta forma, pertence a mesma vertente.


Erick Wolff8 · Criador

Ambos do ijexa


renanmoreira240

e nem todos de Cabinda permitem mulheres dançar pro leba, exemplo na casa de pai Raul do xangô onde pro leba se dança só homens


Erick Wolff8 · Criador

[@Babalorixa Diego Oxalá Obokun] e [@renanmoreira240] na casa de vcs as mulheres podem ficar templo quando vão cortar para o legba ?


Babalorixa Diego Oxalá Obokun

eu não tenho legba sento, mas na casa de pai Cláudio as mulheres permanecem no templo, ele também só coloca homens para dançar pro Legba


Babalorixa Diego Oxalá Obokun

sim descendentes da palmira normalmente não dançam para o Legba, sou bisneto do Henrique da Oxum (Keta)


renanmoreira240

sim sim igual comentei ali na nossa raiz, pai Raul de xangô somente homens dançam pro Legba, mas há outros lugares que vimos de outra forma


Babalorixa Diego Oxalá Obokun

aqui em casa apenas homens dançam para o Legba

 

Criis de Oxalá 🕊️

E eu aprendi tbm, que nem todo Cabindeiro pode "ter" Zina.... Que ela escolhe, e alguns fatores são levados em consideração 😉


claytonjhon429

Oi Muito bom o seu esclerecimento. fala um pouco da pandilha. obrigado.


Erick Wolff8 · Criador

A pandilha era a pomba gira do pai Henrique


Erick Wolff8 · Criador

Não temos como citar algo que não é público, se ler atentamente, irá notar que agradeci a nova informação, sendo que esta não invalida os relatos dos filhos do Henrique.


Devlyn de Maria Padilha

Como o senhor fez não citando o pai Adão? 😅


Erick Wolff8 · Criador

Respeitosamente [@Devlyn de Maria Padilha], vc pode falar pela sua família, mas não pode impor ou apagar a história de outras famílias.


Devlyn de Maria Padilha

O que não corresponde com a verdade. Procure descendentes vivos do pai Adão. Procure sua irmã carnal que ainda é viva e pergunte sobre a Pandilha…


Erick Wolff8 · Criador

Grato por contribuir, com mais uma informação, porém, os descendentes do pai Henrique, informam que ele cortava para a Pandilha no igbale, e incorporava c ela.


Criis de Oxalá 🕊️

No caso do Pai Adão.... Porém o Pai Henrique cultuava Pandilha.... Como dito acima


Criis de Oxalá 🕊️

Pandilha era somente do Pai Henrique...


Devlyn de Maria Padilha

Errado. Pandilha nunca foi pombagira e chegava somente no meu bisavô de santo PAI ADÃO DE ESÙ BIOMÍ


Erick Wolff8 · Criador

[@Devlyn de Maria Padilha] sempre citamos fontes e informantes, desta forma, não há mentiras; o que há são informações conflituosas.


o caminho do adepto

então por que só os jeje tinham ele inicialmente?


Erick Wolff8 · Criador

Qual seria fonte que inicialmente seria uma divindade do jejê do Batuque e quais famílias que o cultuavam


o caminho do adepto

a fonte é que existe um Legba no culto aos voduns e o povo que faz é jeje ! se o povo jeje do batuque não tem Legba não é jeje! e acaba só levando o nome de um culto que não faz! tem que tirar o nome


Erick Wolff8 · Criador

Caro amigo [@o caminho do adepto], não há registros de nenhum povo, cidade ou licalifade jejê, desta forma, os nomes das nações afro brasileiras, existem no Brasil sem compromisso de representar


Aline Cartas Ciganas

A História de anjo na Nação e na Quimbanda me pega demais, devido não encontrar sua origem, assim como Zina, ótima reflexão


Erick Wolff8 · Criador

Segundo algumas fontes, os anjos tiveram origem através do pai Nascimento do Ogun, antes dele não temos registros."


Criis de Oxalá 🕊️

E eu aprendi tbm, que nem todo Cabindeiro pode "ter" Zina.... Que ela escolhe, e alguns fatores são levados em consideração 😉


Erick Wolff8 · Criador

[@Criis de Oxalá 🕊️] era a forma antiga, no entanto, não consideravam ela fundamento para uma casa de kambina, sendo assim nem todas casas tinham ela


Erick Wolff8 · Criador

[@Criis de Oxalá 🕊️] sobre a pandila do pai Henrique, chegou a ve-la?


Criis de Oxalá 🕊️

Não... Sou bisneta dele... Mas não o conheci... Conheço apenas histórias que meu avô Pai Paulo do Bocum conta 😊

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

POR QUE RIO GRANDE DO SUL TEM MAIOR PERCENTUAL DE ADEPTOS DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA NO BRASIL

Editorial coletado do canal virtual BBC, publicado em 09/08/2024.  



"Por que Rio Grande do Sul tem maior percentual de adeptos de religiões de matriz africana no Brasil

Author, Luiz Antonio Araújo

De Porto Alegre para a BBC News Brasil

Com auxílio de escada e furadeira, quatro homens afixam um painel de quase dois metros de comprimento na parede lateral do prédio nº 2200 da movimentada Avenida Nilo Peçanha, em Porto Alegre.


Na placa, lê-se: “Território Quilombola Kédi. Associação do Quilombo Kédi. Em processo de regularização fundiária pelo Incra nº 54000.104791/2021-16”.


A instalação do marco, em 20 de abril, foi testemunhada por dezenas de moradores e pela reportagem da BBC News Brasil.


Estabelecidas há cerca de um século no local, as cerca de 120 famílias da chamada Vila Kédi ingressaram há três anos com processo de reconhecimento da área como remanescente de quilombo.


Para a comunidade, a placa é duplamente significativa: o edifício, que hoje abriga a sede da associação de moradores, está situado no local exato de um antigo terreiro.

“O terreiro da mãe Eva era um dos pontos de convivência da comunidade”, explica Tânia Rosangela de Jesus Dutra, primeira-secretária da associação.


Descendente dos primeiros ocupantes, a líder comunitária não conheceu a matriarca.


A existência do terreiro, porém, foi atestada em laudo antropológico emitido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


O prédio hoje ocupado pela associação fica ao lado de uma imponente figueira, árvore associada a poderes cósmicos em inúmeros ritos, incluindo os de matriz africana.


A relação entre movimento quilombola e as religiões de matriz africana não é uma exclusividade da Vila Kédi.

O advogado Onir Araújo, que presta assessoria à associação, afirma que, na capital gaúcha, praticamente todas as comunidades quilombolas organizaram-se em torno de terreiros ou abrigam alguma espécie de local de culto afrorreligioso em seu interior.


Segundo Araújo, Porto Alegre tem 11 quilombos urbanos, incluindo o primeiro desse tipo a ser reconhecido no Brasil, o da família Silva, vizinho ao Kédi.


“Nenhuma outra cidade brasileira tem esse número de comunidades”, afirma o advogado.


De acordo com o Censo de 2022, existem 203 localidades quilombolas no Rio Grande do Sul, 16 delas em Porto Alegre.


Em termos quantitativos, porém, os terreiros são muito mais numerosos do que os quilombos na capital.


Um levantamento da Prefeitura feito entre 2006 e 2008 indicou a existência de 1.290 terreiros na primeira década do século em Porto Alegre — número praticamente idêntico ao encontrado em Salvador na mesma época, segundo Ari Pedro Oro, professor de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em artigo intitulado "O atual campo afro-religioso gaúcho", publicado em 2012.


No Estado, haveria cerca de 30 mil terreiros, conforme cálculo de Norton Correa, professor de Antropologia da Universidade Federal do Maranhão.


As marcas das religiões afrobrasileiras no RS

Para muita gente, quando o assunto são as religiões de matriz africana, o Rio Grande do Sul pode não ser o primeiro Estado brasileiro a vir à mente.


Afinal, trata-se da segunda unidade da federação com menor população autodeclarada preta ou parda, com 20%, segundo o Censo de 2022, atrás apenas de Santa Catarina.


Mas uma consulta aos dados dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, pode desfazer essa impressão.


No levantamento de 2010, o Rio Grande do Sul figurou como o Estado com maior percentual de adeptos da umbanda e do candomblé, as duas principais religiões afrobrasileiras, embora não sejam as únicas.


O Estado também foi campeão em números absolutos, de acordo com o Censo de 2010.


Os adeptos destas religiões representavam 1,47% dos gaúchos em 2010 — os dados sobre religião do Censo de 2022 ainda não foram divulgados pelo IBGE.


Isso representava um percentual bem acima do nacional, de 0,3%.


Mas pesquisadores acreditam que, em ambos os casos, os números podem ser ainda mais elevados, porque muitos adeptos tenderiam a se definir como católicos por razões familiares e culturais.


Evidências da afrorreligiosidade (ou, na expressão de Ari Oro, religiosidade afrorriograndense) estão por toda parte.


A maior festa em louvor a um orixá nas Américas não ocorre no Nordeste brasileiro ou no Caribe, mas ao longo dos mais de 200 quilômetros da praia gaúcha do Cassino, a mais extensa do mundo, no município de Rio Grande.


É a celebração de Iemanjá, no dia 2 de fevereiro, que atrai um público calculado em 300 mil pessoas, segundo os organizadores.


O peso das religiões de matriz africana transparece na própria linguagem.


Para boa parte dos gaúchos, a expressão “ser de religião” indica adesão a cultos afro.


“Quem é de axé diz que é”, resume um refrão corrente na comunidade afrorreligiosa local.


A compreensão do fenômeno, diz Vitor Queiroz, professor de Antropologia da UFRGS, exige em primeiro lugar um ajuste de contas com a ideia corrente de que o Rio Grande do Sul é um Estado branco.


“Acho curioso quando as pessoas falam que não veem negros em Porto Alegre. Digo: ‘Refaça sua operação ocular. Vá ao centro da cidade e simplesmente olhe”, afirma Queiroz.


Até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em maio, em visita a atingidos pela enchente que assolou o Estado: “Não sabia que tinha tanta gente negra aqui”.


Lula acrescentou que teria ouvido da primeira-dama, Janja Lula da Silva, que os negros “são os mais pobres e moram nos lugares mais arriscados”.


Segundo Queiroz, o mito do Rio Grande branco está relacionado à reprodução do preconceito e ódio racial e religioso, segundo Queiroz.


Em 5 de maio, no auge da enchente, a influenciadora Michele Dias Abreu atribuiu o desastre climático ao fato de o Estado estar entre os que abrigam “maior número de terreiros de macumba (sic)”.


“Deus está descendo com sua ira total”, apregoou a influenciadora no vídeo.


A repercussão negativa da injúria, que teve milhões de visualizações, levou o Ministério Público de Minas Gerais a denunciar Michele por prática e incitação à intolerância religiosa nas redes sociais.


Depois das medidas cautelares, a influenciadora desculpou-se, afirmando que o comentário havia sido “infeliz e desnecessário”.


A desinformação, segundo Queiroz, é produto de estratégias sociais e políticas de branqueamento da população gaúcha adotadas pelas elites gaúchas desde o século 19.


“Os símbolos do Estado são todos afroindígenas. O próprio gaúcho do século 19 é um peão (trabalhador de estância) de pele escura”, ressalta o professor da UFRGS.


O papel dos africanos na história do RS

A pesquisa historiográfica revela que a participação de africanos no povoamento do Rio Grande do Sul até o início do século 19 não se distinguiu do resto do país.


Em trabalho do início dos anos 2000, a historiadora Helen Osório sustentou que, entre 1780 e 1807, o percentual de escravizados de origem africana entre a população local oscilava entre 28% e 36%, patamar similar ao da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro.


A economia do charque (carne de sol), que impulsionou o crescimento da metade sul do Estado até o final do século 19, foi movida a braços e sangue africano, afirma Queiroz.


No Uruguai e na Argentina, onde o charque teve peso igualmente significativo, a presença massiva de escravizados nos saladeros (equivalentes platinos das charqueadas) e estâncias, tão ou mais relevante que a do Rio Grande do Sul, somente nas últimas décadas mereceu maior atenção dos pesquisadores.


Com importância econômica secundária em relação aos centros charqueadores de Pelotas e Rio Grande, os núcleos urbanos mais ao norte concentraram desde o início grandes contingentes de africanos e descendentes.


“Porto Alegre foi fundada no final do século 18 por colonos açorianos e seus escravos. A gente esquece que pelo menos um terço da população da cidade nos primeiros anos era de africanos ou afrodescendentes”, diz Queiroz.


Se o peso demográfico dos negros no Rio Grande do Sul equivale até o início do século 19 ao de outros Estados, o que explica a adesão mais pronunciada de religiões de matriz africana em solo gaúcho?


Por razões de colonização e defesa do território, a Coroa portuguesa e, em seguida, o Império brasileiro promoveram a instalação de colonos — inicialmente alemães, mas também franceses, suíços e italianos — no Rio Grande do Sul.


A procedência dos migrantes obedecia à intenção de, nas palavras da pesquisadora Vania Herédia, “branquear a raça”, ou seja, fortalecer o elemento branco na população brasileira.


Pesquisadores sustentam que a chegada de colonos de fé luterana, sobretudo alemães, contribuiu para estender a liberdade de culto — inclusive das religiões de matriz africana — ao enfraquecer o controle da Igreja católica no âmbito espiritual.


Para Queiroz, mais do que uma relação estanque entre as confissões, existe no Estado um “mercado mágico subterrâneo”, comum também em outros lugares do país.


“Às vezes, a pessoa não é afrorreligiosa e está, por exemplo, com a mãe doente. Tenta isso, tenta aquilo, e alguém diz: ‘Olha, a mãe tal no terreiro tal pode ajudar’. E a pessoa vai lá e encomenda um ebó (oferenda). Essa pessoa é o quê? Ela vai ao terreiro, às vezes escondida”, exemplifica.


Nem sempre as transações ocorrem nas sombras. O exemplo mais notório é o da relação entre o presidente (cargo equivalente a governador na República Velha) Antonio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961) e o príncipe beninense Custódio Joaquim de Almeida, que chegou ao Rio Grande do Sul no final do século 19.


A tradição oral atribui a Custódio o assentamento de ocutás (objetos sagrados associados a orixás) em distintos pontos de Porto Alegre.


O mais famoso é o chamado Bará do Mercado Público, simbolizado por um círculo de pedras no piso do prédio — o local exato do assentamento nunca foi revelado.


Outros estariam sob o próprio Palácio Piratini, sede do governo estadual, a pedido de Borges, na Igreja das Dores, no antigo pelourinho da Rua dos Andradas e até mesmo, segundo Queiroz, em um ponto do leito do Lago Guaíba.


A religião de Custódio, como a dos primeiros africanos em solo gaúcho, conforme Queiroz, era chamada de “nação” e hoje adota a denominação de batuque.


Originária do Golfo da Guiné, tem possível influência de mitos centro-africanos.


Como o candomblé — em relação ao qual é, nas palavras do professor da UFRGS, “um culto diferente de mesma raiz” —, o batuque venera orixás e utiliza o iorubá como língua litúrgica.


Embora seja visto pelos próprios adeptos como tradicional e ancestral, o batuque implantou-se há pouco mais de um século, no final do século 19.


Nos anos 1930, de acordo com Queiroz, surgiram no Rio Grande do Sul os primeiros terreiros de umbanda, poucas décadas depois de seu aparecimento no Rio de Janeiro.


Com elementos mitológicos centro-africanos, a umbanda é comumente definida como a mais brasileira das afrorreligiões.


Finalmente, mais recentemente figura a quimbanda ou linha cruzada, que acrescenta as divindades de Exu e Pombagira ao universo sagrado do batuque e da umbanda.


Na prática cotidiana, os três ramos (chamados localmente de “lados”) são entrelaçados.


“Batuque, umbanda e quimbanda podem coexistir no mesmo espaço. Trocam-se a decoração, o dia da semana, os frequentadores, mas existe convivência”, garante o professor.


Conflitos religiosos

Se as relações entre os “lados” são pacíficas, o convívio com outras confissões registra momentos de aberta hostilidade.


Por duas vezes, em 2003 e 2015, deputados ligados a igrejas evangélicas neopentecostais tentaram sem sucesso aprovar na Assembleia Legislativa projetos que proibiam o sacrifício de animais, prática corrente no batuque e na quimbanda.


No primeiro episódio, o Ministério Público do Estado ingressou com ação direta de inconstitucionalidade contra a decisão dos deputados no Tribunal de Justiça do Estado.


Diante de decisão desfavorável, interpôs recurso extraordinário junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).


Finalmente, em 2019, por unanimidade, a corte suprema decidiu pela constitucionalidade do sacrifício de animais em cerimônias religiosas.


A polêmica estimulou a criação, em 2014, do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul, vinculado à Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos.


A finalidade do órgão, segundo o decreto assinado pelo então governador Tarso Genro (PT), é “desenvolver ações, estudos, propor medidas e políticas públicas voltadas para o conjunto das comunidades do povo de terreiro do Estado, caracterizando-se como um instrumento de reparação civilizatória, na busca da equidade econômica, política e cultural e da eliminação das discriminações”.


Em um episódio mais recente de tensão, o padre Sérgio Belmonte, da paróquia de São Jorge, no bairro Partenon, provocou reação nas redes sociais ao anunciar, em 23 de abril, uma celebração interreligiosa no templo.


A data, consagrada ao santo guerreiro no calendário católico, é festejada também nos cultos afro em louvor a Ogum, orixá da guerra.


Diante da controvérsia provocada pelo anúncio, a paróquia anunciou que o ato interreligioso não se realizaria no interior da igreja.


Ainda assim, depois da missa, quatro homens tentaram impedir a lavagem das escadarias do templo por adeptos de religiões de matriz africana e tiveram de ser contidos pela polícia.


O arcebispo metropolitano de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, lamentou o episódio em entrevista à BBC News Brasil.


“Faz parte da missão própria da Igreja Católica promover, com outros fiéis, de maneira fraterna, respeitosa e convivial, o caminho da busca de Deus ou do divino, como quisermos”, disse o arcebispo.


O caso fornece, na opinião de dom Jaime, “sinais de um radicalismo, de um fundamentalismo que não caracteriza, que não faz parte da sã tradição católica nem faz parte daquilo que a Igreja, sobretudo depois do Concílio Vaticano 2º, tem defendido”.

O arcebispo tinha prometido ao padre Belmonte que estaria presente à missa de 23 de abril, mas foi impedido por uma forte gripe, sendo representado pelo bispo auxiliar, dom Juarez Destro.


Se tivesse comparecido, porém, disse que perguntaria, em primeiro lugar, se as pessoas que se manifestaram participam da vida ordinária da comunidade.


“Se sim, certamente merecem sim nossa orientação, nossa proximidade e, por que não dizer, o respeito. Até porque a Igreja não é feita de pessoas que pensam da mesma forma. Existem diferenças.”


Em polêmicas como a da paróquia São Jorge, observou, encontram-se “não raramente influenciadores digitais que promovem situações delicadas, que não estão participando da vida concreta de uma igreja particular e disseminam suas opiniões através das redes sociais, sem um compromisso de vida comunitária”.


No Quilombo Kédi, a busca dos moradores do reconhecimento de seu direito a ocupar o território se chocou com as pretensões da Igreja.


Erguido no ponto ocupado pelo terreiro de mãe Eva, o prédio da associação ainda ostentava, em abril, acima da placa do quilombo, um letreiro onde se lia “Igreja Santa Edvige, filiada à Paróquia Nossa Senhora Mont’Serrat”. Ao lado, um aviso: “Missas aos sábados às 15:30”.


O espaço foi utilizado por dez anos por catequistas católicos em missão de conversão junto aos moradores — sem sucesso, informa o advogado Onir Araújo.


Fluminense de Niterói e ativista social há 40 anos, o assessor do Quilombo Kédi radicou-se na capital gaúcha há mais de duas décadas, mas não consegue evitar a emoção ao falar da terra adotiva.


“Porto Alegre dorme todas as noites ao som de tambores de matriz africana”, comenta Araújo. “Em todos os bairros, se você apurar bem o ouvido.”


Fonte -  https://www.bbc.com/portuguese/articles/c06kd76587yo

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