quarta-feira, 2 de março de 2022

ANGOLA O ESQUECIDO DRAMA DE CABINDA POR ORLANDO CASTRO

Por Orlando Castro



Os cabindas continuam a reivindicar, e desde 1975 fazem-no com armas na mão, a independência do seu território. No intervalo dos tiros, e antes disso de uma forma pacífica, nomeadamente quando Portugal anunciou, em 1974, o direito à independência dos territórios que ocupava, a população de Cabinda reafirma que o seu caso nada tem a ver com Angola.


Em termos históricos, que Portugal parece teimar em esquecer, Cabinda estava sob a «protecção colonial», à luz do Tratado de Simulambuco, pelo que o Direito Público Internacional lhe reconhece o direito à independência e, nunca, como aconteceu, a integração em Angola.


Relembre-se que Cabinda e Angola passaram para a esfera colonial portuguesa em circunstâncias muito diferentes, para além de serem mais as características (étnicas, culturais etc.) que afastam cabindas e angolanos do que as que os unem.


Acresce a separação física dos territórios e o facto de só em 1956, Portugal ter optado, por economia de meios, pela junção administrativa dos dois territórios.


Com perto de dez mil quilómetros quadrados, Cabinda é maior que S. Tomé e quase do tamanho da Gâmbia. Possui recursos naturais que lhe garantam, se independente, ser um dos países mais ricos do Continente. A nível agrícola, das pescas, pecuária e florestas tem grandes potencialidades mas, de facto, a sua maior riqueza está no subsolo: Petróleo, diamantes fosfatos e manganês.


A procura da independência data, no entanto, de 1956. Quatro anos depois da união administrativa com Angola, forma-se o Movimento de Libertação do Enclave de Cabinda (MLEC) e em 1963, dois anos depois do início da guerra em Angola, são criados o CAUNC - Comité de Acção da União Nacional dos Cabindas e o ALLIAMA - Aliança Maiombe.


A FLEC - Frente de Libertação do Enclave de Cabinda é fundada nesse mesmo ano, como resultado da fusão dos movimentos existentes e de forma a unir esforços que sensibilizassem Portugal para o desejo de independência. Era seu líder Luís Ranque Franque.


Alguns observadores referem, a este propósito, que o programa de acção da FLEC (elaborado na altura da junção de todos os movimentos cabindas) era nos aspectos político, económico, social e cultural muito superior aos dos seus congéneres angolanos, MPLA e UPA.


Cabinda, ao contrário do que se passou com Angola, foi «adquirida» por Portugal no fim do Século XIX, em função de três tratados: o de Chinfuma, a 29 de Setembro de 1883, o de Chicamba, a 20 de Dezembro de 1884 e o de Simulambuco, a 1 de Fevereiro de 1885, tendo este anulado e substituído os anteriores.


Recorde-se que estes tratados foram assinados numa altura em que, nem sempre de forma ortodoxa, as potências europeias tentavam consolidar as suas conquistas coloniais. A Acta de Berlim, assinada em 26 de Fevereiro de 1885, consagrou e reconheceu a validade do Tratado de Simulambuco.


No caso de Angola, a ocupação portuguesa remonta a 1482, altura em que Diogo Cão chega ao território. E, ao contrário do que se passou em Cabinda, a colonização portuguesa em Angola sempre teve sérias dificuldades e constantes confrontos com as populações, de que são exemplos marcantes, nos séculos XVII e XVIII, a resistência dos Bantos e sobretudo da tribo N´ Gola.


É ainda histórico o facto de a instalação dos portugueses em Angola ter sido feita pela força, sem enquadramento jurídico participado pelos indígenas, enquanto a de Cabinda se deu, de facto e de jure, com a celebração dos referidos tratados, subscritos pelas autoridades vigentes na potência colonial e no território a colonizar.


Segundo a letra e o espírito do Tratado de Simulambuco, assinado por príncipes, governadores e notáveis de Cabinda (e pacificamente aceite pelas populações), o território ficou «sob a protecção da Bandeira Portuguesa».


Vinte cruzes e duas assinaturas de cabindas e a do comandante da corveta «Rainha de Portugal», Augusto Guilherme Capelo, selaram o acordo.


Duvida-se que a terminologia jurídica de então, e constante do tratado, tenha sido percebida pelos subscritores cabindas. No entanto, crê-se que a síntese do texto tenha sido entendida, já que se referia apenas à «manutenção da autoridade, integridade territorial e protecção».


No contexto histórico da época, o Tratado de Simulambuco reflecte tanto à luz do Direito Internacional como do interno português, algo semelhante ao dos protectorados franceses da Tunísia e de Marrocos.


Apesar da anexação administrativa, Cabinda sempre foi entendida por Portugal como um assunto e um território distintos de Angola. A própria Constituição Portuguesa, de 1933, cita no nº 2 do Artigo 1 (Garantias Fundamentais), Cabinda de forma específica e distinta de Angola.


Partindo desta realidade constitucional, a ligação administrativa registada em 1956 nunca foi entendida como uma fusão com Angola.


Repressão religiosa


Ao longo dos tempos, sobretudo a partir da independência de Angola (11 de Novembro de 1975), a Igreja Católica em Cabinda denuncia um constante clima de repressão sobre os seus fiéis imposto pelo Governo de Luanda.


Recentemente, Março de 2006, o padre João de Brito Luemba, afirmou publicamente que católicos que frequentam a a Igreja da Imaculada Conceição são constantemente perseguidos pela polícia.


Este clima demonstra, segundo o sacerdote, uma autêntica intromissão do poder político, nomeadamente dos agentes de segurança, na suposta liberdade religiosa propalada pelo Governo de Luanda.


É cada vez mais vulgar ver nas paróquias de Cabinda militares armados e, como se isso não bastasse, exercerem vigilância apertada e intimidatória as residências dos sacerdotes.


Acresce que, a título da luta contra a criminalidade, Luanda continua a prender todos aqueles, sobretudo jovens, que encontram na Igreja Católica o apoio social para continuarem a sobreviver.


Um dos casos mais recentes reporta-se à prisão do secretário-geral do Conselho da Juventude da Paróquia da Imaculada Conceição, Xavier Tati, acusado de ter cometido injúrias contra alguns superiores da igreja.


Tese do Governo de Luanda


Apesar do Governo angolano ter proposto uma resolução de paz para o conflito de Cabinda, os seus homólogos no enclave ainda não foram convidados. O Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, general Agostinho Nelumba "Sanjar", afirma que “o Governo abriu um diálogo e, num futuro próximo, o problema será resolvido”, mas parece esquecer que não é pela via militar que a situação será resolvida.


De acordo com Raul Danda, representante da Organização Não Governamental (ONG) Mpalabanda – Associação Cívica de Cabinda (MACC) e membro do Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), “Sanjar afirma que haverá muito em breve uma solução de paz para Cabinda, mas esquece-se de envolver as partes locais e de ouvir a população sobre o assunto”.


Danda afirma que o FCD recebeu no dia 2 de Fevereiro um documento oficial do Governo angolano “sobre o estatuto especial para Cabinda”, que estipulava essencialmente os princípios de discussão que conduzem à autonomia.


O FCD, que inclui representantes da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), da MACC, da Igreja de Cabinda e de outros grupos da sociedade civil e dos direitos humanos, é reconhecido como o corpo representante dos movimentos separatistas do enclave. “Concordamos com três princípios: o princípio da negociação directa com o Governo angolano, o princípio do cessar-fogo e o princípio de conceder um estatuto especial a Cabinda,” observou Danda.


Diferentes teses sobre Simulambuco


Eugénio Costa Almeida, um especialista em questões da Lusofonia, considera que Simulambuco não é um Tratado mas, antes, um Acordo.


Acordo e não Tratado porque, diz Eugénio Costa Almeida, o que foi celebrado em 1885, segundo a jurisprudência internacional foi um Acordo de suserania (apesar de no referido documentos estar “protectorado de Portugal, tornando-nos, de facto, súbditos da coroa portuguesa”) e não um Tratado.


«Este é o primeiro erro que alguns analistas continuam a manter. O segundo, que não deixa de ser grave porque são os dirigentes locais que o sustentam, prende-se com a data da celebração do Acordo: este foi celebrado entre alguns príncipes e chefes locais cabindas e o capitão-tenente Brito Capelo, comandante da corveta “Rainha de Portugal” em nome da coroa portuguesa, não a 1 de Fevereiro, mas a 22 de Janeiro de 1885», diz Eugénio Costa Almeida.


Enquanto este especialista diz que, “como angolano não se vê separado de Cabinda”, eu como angolano só me vejo angolano de pleno direito quando os cabindas tiverem dito livremente como querem ser e estar no contexto das nações.


Apesar da tese que defende, Eugénio Costa Almeida reconhece que “as especificidades do território lhe dão garantias para gozarem do direito a um estatuto especial: uma autonomia incorporada: por outras palavras, uma autonomia política, social e económica, sob a tutela governativa (defesa e relações externas) de Luanda”.


À luz do direito internacional a potência administrante de Cabinda ainda é Portugal e Lisboa terá, por muitas que sejam as pressões de Luanda, de perceber que Cabinda não é, nunca foi, nunca será uma província de Angola.


Aceito que, por manifesta ignorância histórica e política, os governantes portugueses pensem que Cabinda sempre foi parte integrante de Angola. Mas se estudarem alguma coisa sobre o assunto, verão que nunca foi assim, mau grado o branqueamento dado à situação pelos subscritores portugueses dos Acordos do Alvor.


Quanto aos outros subscritores, desde sempre Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi souberam que Cabinda era algo diferente. Basta ver as posições mais recentes tanto da FNLA como da UNITA que defendem uma solução negociada para Cabinda.


Impor a paz pela força não leva à paz


Atrocidades cometidas pelas Forças Armadas angolanas em Cabinda e susceptíveis de fundamentar a actuação do Tribunal Penal Internacional são constantemente denunciadas, pelo que, como diz o padre Raul Tati, "se há país em que os Estados Unidos da América deveriam intervir, esse país é Angola, devido ao que se passa em Cabinda".


"Não basta fazer denúncias. É preciso realizar acções que visem uma responsabilização penal dos autores morais e materiais das violações" que estão a ser perpetradas em Cabinda, salienta o padre Tati.


No mesmo sentido se pronuncia o jornalista angolano Rafael Marques, que sustenta a necessidade de sentar no "banco dos réus" (o presidente de Angola) José Eduardo dos Santos e os seus "cabos de guerra".


Partidário de uma declaração de independência do enclave, Raul Tati considera que "a negação de uma independência separada em relação a Angola deve ser assumida efectivamente como a primeira grande violação que o regime do MPLA impôs impunemente ao povo de Cabinda desde 1975, altura em que, com a cumplicidade activa de Portugal, invadiu e ocupou" aquele território.


Tati apela às opiniões públicas portuguesa e internacional para que "façam tudo, mas absolutamente tudo, para se acabar com a chacina em Cabinda e para se devolver a dignidade ao seu povo".


Imputando ao presidente José Eduardo dos Santos o "pleno conhecimento" do que se passa em Cabinda, "por acção dos seus subordinados", Rafael Marques é de opinião que o chefe de Estado angolano "assume, por mandato ou consequência, a responsabilidade criminal por esses actos".


Martinho da Cruz Nombo, que exerceu entre 1995 e 1999 as funções de vice-governador provincial de Cabinda, salienta que se assiste "hoje a cenas deploráveis e incompreensíveis à luz de um Estado que se diz de Direito e democrático".


Entre essas cenas, Martinho da Cruz Nombo evoca detenções arbitrárias, intimidação psicológica, ameaças e ofensas corporais permanentes, execuções sumárias, buscas em residências particulares sem mandado judicial, violação de menores, destruição de aldeias e de campos agrícolas e saque de bens.


Face ao conflito em curso, o ex-vice-governador provincial sustenta que a sociedade civil e as duas alas militares da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) "podem constituir o verdadeiro interlocutor para discutir o futuro" do território.


Nesse sentido, desafia as instituições internacionais a promoverem "com urgência" uma investigação internacional independente sobre as denúncias de "limpeza étnica" realizadas pelo regime de Luanda e que "indiciam crimes de guerra e crimes contra a humanidade".


Partidário, a médio prazo, da obtenção de autonomia, mas "sem fechar as portas a outras soluções", manifesta-se Justino Pinto de Andrade, militante do MPLA.


Justino Pinto de Andrade prefere situar a génese do "Caso Cabinda" no que classifica "triste herança colonial", defendendo que a "violência que tem lugar (no enclave) deve cessar imediatamente, antes mesmo que se ajustem formas adequadas para o relacionamento futuro".


Além de Cabinda, persistem situações de "miséria, de autêntico abandono" noutras partes de Angola, e Justino Pinto de Andrade receia que depois do enclave "amanhã, outras ondas de choque se propaguem para o resto do país".


Crítico do "formato centralizador" que o regime angolano tem adoptado no relacionamento com as diferentes regiões do país, e que "será sempre um verdadeiro barril de pólvora, pronto a explodir", aquele militante do MPLA é de opinião que essa situação pode ser prevenida.


"Basta exorcizarmos todos os fantasmas, quer os do passado, quer os resultantes de algumas deformadas ideologias, ou até os decorrentes de meras ambições pessoais", defende.


Cabinda, segundo N’Zita Henriques Tiago


«É com o sangue no corpo e as lágrimas nos olhos que nos dirigimos a vós, o nobre povo Luso. Nós Cabindas aprendemos a admirar o Infante Dom Henrique, Diogo Cão, Vasco da Gama. Ouvimos falar de El-Rei D. Carlos, do 5 de Outubro e do 25 de Abril. Foi-nos prometido o diálogo, mas ele nunca se consubstanciou. O roubo por parte dos angolanos das nossas riquezas (o petróleo, madeiras, diamantes, ouro, etc.) mantém o povo de Cabinda na miséria, e quem as rouba é o MPLA, com a ajuda da multinacional Chevron Texaco. Eles vivem acima da lei e são impunes às leis internacionais», afirma N’Zita Henriques Tiago.


«Angola, que nos invade, é o país mais corrupto do mundo, é sem surpresa um dos mais pobres, apesar das riquezas que possui e das que rouba à nação de Cabinda. Em Angola uma em cada quatro crianças morre antes de chegar ao primeiro aniversário.


Assim está o país que as autoridades portuguesas nos deixaram entregues. Angola recebe em receitas de petróleo 5 biliões de dólares por ano, 4 biliões são provenientes do petróleo roubado à nação de Cabinda. Mas o dinheiro do petróleo só tem enriquecido aos Luandenses. O presidente criminoso Eduardo dos Santos e’ o angolano mais rico do país.


Nós somos um espinho cravado na alma lusitana, que não encontrará sossego enquanto não se redimir do esquecimento a que nos tem votado.


Há novas Aljubarrotas a travar, para que se cumpra o desígnio que vos trouxe até estas paragens.


A História não acabou com a descolonização. A descolonização ainda não acabou.


Há aqui uma diocese escravizada, onde os padres são os melhores amigos do povo. Há ainda a esperança num milagre.


A Independência de Cabinda é uma inevitabilidade histórica, que mais cedo ou mais tarde terá que suceder. Nós sabemos que vós sois o povo de Santo António, da Rainha Santa. Rezai por nós.


Quem tão bem soube aplaudir D. Ximenes Belo, bispo de Dili, também saberá com certeza ouvir D. Paulino Fernandes Madeca, o nosso bispo, quando a todos chama a atenção para aquilo que sofremos. Temos um vigário-geral e temos sacerdotes que são os nossos autênticos anjos da guarda, benzendo-nos e curando-nos as feridas quando caímos por terra, vítimas da violência. Temos, acima de tudo, o desejo de preservar a nossa identidade, que não é a mesma dos congoleses ou dos angolanos. É apenas a de um povo de 600 ou 700 mil almas que tem uma cultura própria, alicerçada há mais de 120 anos.


Nós vos pedimos que no vosso Parlamento, nas vossas escolas, nas vossas rádios, falai de nós, os Cabindas, aqueles que sofrem mas não desistem, os que preferem ser mártires a claudicar, a ceder.


Em Lisboa, no Porto, no Funchal, em Angra do Heroísmo, falai de nós, ajudai-nos!

Ajudai-nos a lutar pelo que é justo e é devido ao povo de Cabinda!»




Orlando Castro

Texto inserido em:7/02/2006
Fonte - 
https://old.eusou.com/premium/cronicas.asp?id=396&det=1634

O BATUQUE PRESERVOU MUITO MAIS DA MATRIZ DO QUE PENSAVÁMOS XXXVII

Por Erick Wolff de Oxalá

Postado em 02/03/2022

Na comunidade - https://www.facebook.com/groups/1444295859135612

OXALÁ DAKÙN

Imagem 01 - Fonte agrolink


Estudando um pouco sobre o culto do Batuque, e as suas divindades, muitas não são encontradas em outras religiões da diáspora, possivelmente isso ocorra, pela localidade e origem do culto destas divindades estarem ligadas a origem do Batuque. 

É comum vermos um ou outro igba de Oxalá, com o okuta (pedra do orixá) em cima do algodão, sendo que Dakùn traduz o fiador de algodão, o mesmo nome dado a uma divindade aglutinada entre os Oxalá, cultuados na tradição do batuque do RS.

Porem a feitura e forma de tratar esta divindade preservaremos o fundamento. 


Dakùn - fiar algodão e prepara-lo para vender. (pg. 183)
BENISTE, José, Dicionário Yorubá Português, Bestrand Brasil, 2011.

Fonte imagem - https://www.agrolink.com.br/noticias/algodao-ogm-melhora-seguranca-alimentar_462827.html

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O BATUQUE PRESERVOU MUITO MAIS DA MATRIZ DO QUE PENSAVÁMOS XXXVI

Por Erick Wolff de Oxalá

Postado em 20/02/2022
na comunidade - https://www.facebook.com/groups/1444295859135612 



Neste momento, estamos diante de alguns fundamentos do enterro do sacerdote de Xangô, na Nigéria, onde encontraremos similaridade com o nosso culto. 

Notem, que o Elegun de Xangô morreu, e foi feito um cortejo, de onde ele saiu de um local sagrado, fez algumas paradas depois indo para a própria casa, ao qual foi enterrado no quarto ao qual dormia. 

Assim como, o seu Xangô (que ele foi feito), fica dentro de um local sagrado na própria casa (quarto para orixá), onde após o sepultamento, o Xangô foi levado até a sepultura, para comer um Oka (amalá), junto com o Egun (morto), e depois o Xangô retorna para o local que ele é cultuado (quarto para o orixá).

O ritual de morto possui origem na cultura Iorubá, assim como constantemente apresentamos pontos da nossa origem, que nós batuqueiros não somos descendentes sem origem.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

RESPOSTA À NOTA DE REPUDIO DA CIPOT/RS

Em resposta à nota de repúdio da CITOP/RS publicada recentemente (ver imagens abaixo) queremos esclarecer vários pontos. 



Diz a citada nota que: 


1) "Nossa Ancestralidade está sendo atacada por nossos iguais"

A nossa ancestralidade não está sendo atacada, como quer fazer parecer tal nota, equivocadamente, ao contrário, está sendo preservada com a verdade dos estudos e pesquisas que apresentamos. 

Sabemos que o fundador da Kanbina, pai Waldemar fundou uma religião de culto a orixá, de cultura e religião Iorubá, como é público e notório pelos irmãos. 

A Kambina nunca cultuou nKisses para que seja declarada como uma nação banto, e a única semelhança com a província de Cabinda, é o nome, nada mais.

Convido os irmãos a estudarem o "Conceito de Nação" antes de se autodeclararem bantos.


2) "Entre tantos atos de intolerância que sofremos diariamente"

Diferenças de pensamento e resultados de pesquisa em direção oposta não são atos de intolerância, ao contrário, alicerçam a liberdade democrática. Sempre apresentamos o resultado de nossos estudos respeitando a todos.

 

3) "um conjunto de ações coordenadas que visam distorcer e deturpar a Ancestralidade, Memória, Cultura, Tradição e Identidade do povo de batuque, mais especificamente o povo da Nação Cabinda."

As nossas pesquisas e estudos não visam deturpar, ao contrário, visam esclarecer e apresentar conteúdo para a nossa religião, com embasamento, referencias e fontes. 


4) "há um movimento em curso, liderado por um grupo minoritário"

O único movimento que há é o do estudo e pesquisa séria, embasada, fundamentada, com apresentação das devidas referências abertas a qualquer pessoa que queira estudar o tema. 

Para afirmar que trata-se de um movimento minoritário, é preciso que tenha havido um senso que conseguisse registrar a quantidade de pessoas que tem o mesmo pensamento, ou não. Sem isso, é apenas suposição do editor da citada nota. 


5) "A Fundamentação dos irmãos é pautada no argumento que a data de fundação da cidade de Cabinda na Angola, datada de 28 de maio de 1956, invalidaria a Nação Cabinda de ser formada e batizada pelo seu fundador, citado anteriormente neste texto, visto que seu retorno para a massa de origem foi em 1935."

Não, a fundamentação não é pautada pelo argumento da prefeitura de Cabinda, este é apenas mais um dado. 

A fundamentação está no conceito de nação, na prática, nos usos e costumes, nos dialetos, nas divindades, e principalmente, na oralidade dos mais velhos que sempre falaram kambina, e não Cabinda, que só surgiu nos anos 80 com o livro do escritor Paulo Tadeu, e que assim resolveu chamar, sem apresentar nenhuma fundamentação. 


6) "ignora diversos fatos e registros históricos além do próprio conhecimento tácito, que ao não ser explicito, documental, se transforma em cada conto para cada ouvinte, bem como a oralidade, forma a qual os conhecimentos e fatos são repassados dos mais velhos para os adeptos desde que o Batuque/RS foi estruturado aqui no Rio Grande do Sul.

Na mesma medida, proporção e peso, usamos o mesmo argumento para aqueles que, ao invés de Kambina como falavam os mais velhos, defendem o nome Cabinda, baseados apenas no livro do escritor Paulo Tadeu, que nada fundamenta exceto a semelhança gráfica da palavra

Segundo a própria prefeitura local, a região que hoje é chamada Cabinda possuía outros nomes, e mais tarde foi apelidada pelos portugueses de Cabinda, por que tinham dificuldade de falar "Mafuka M`binda", e somente mais tarde que os nativos adotaram o nome Cabinda, por influência estrangeira.

 

7) "É possível citar diversos dados e registros, que são contrários a tal iniciativa dos irmãos que tentam fomentar o uso do termo Kanbina em substituição ao termo Cabinda, o qual é a identidade dos adeptos desta Nação."

Em momento algum ignoramos os documentos, no entanto, eles não vinculam a Cabinda ao Batuque, separado por conceitos filosóficos e até mesmo religiosos. 

Não queremos substituir, mas preservar Kanbina, como era costume se ouvir e falar antes do livro do Paulo Tadeu.

Portanto, foi este autor, que sem ter nenhum conhecimento do que é "Conceito de Nação" substituiu Kambina por Cabinda, na busca desesperada de encontrar uma identidade no território africano.

Os mais novos assim aprenderam, e pensam que somos nós que queremos substituir o nome, quando na verdade, e os ancestrais sabem disso, queremos preservar o nome original: kambina.


8) "Entre eles estão os documentos oficiais do Governo do Estado do RS que comprovam de forma explicita a existência de trabalhadores escravizados, identificados como "Cabindas" oriundos de terras Africanas. Estes registros estão documentados nas Cartas de Alforria no Estado do Rio Grande do Sul, documento público e disponível no site da APERGS [http://antigo.apers.rs.gov.br/.../1169142561.Cat_Sel...]"

Temos conhecimento dos documentos, porem, neste ponto não podemos ignorar a transtemporalidade (ver link) da palavra Cabinda em livros contemporâneos, quando relatam fatos de séculos anteriores. Temos conhecimento e acesso a estes registros.


9) "Podemos citar também que a da localidade de Cabinda foi elevada à categoria de Cidade em 1956, porém sua fundação é datada de 1490, de acordo com os registros disponíveis [https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabinda_(munic%C3%ADpio)]."

Anterior a data de 1956, a Cabinda possuía outros nomes, informados pelos nativos e pela própria prefeitura: (veja documento) novamente encontraremos a transtemporalidade no texto, para  a internet atual. Os nativos que explicam, que não era Cabinda.

 

10) "Outro registro importante, está documentado no Livro Cabindas Histórias - Crenças - Usos e Costumes, Joaquim Martins, 1972, onde é registrado um mapa de Angola informando que a região já era chamada de Cabinda em 1784."

Novamente a possível transtemporalidade pode ter ocorrido por Padre Joaquim, por ser estrangeiro e católico, ele escreveu livro publicado em 1972, desconsiderando as nomeações anteriores.


11) "É possível também, através de registros em obras de pesquisadores como Prof. Norton Correa e Prof. Krebs (1957) identificar o uso dos termos Cabinda e Cambinda entre os adeptos do Batuque/RS. Em relação ao registro do Prof. Norton Correa, em seu livro, é destacado um parágrafo, onde o próprio, entre parênteses, cita a correção de Cambini ou Cambina para Cabinda (Norton Correa, O Batuque do Rio Grande do Sul, Antropologia de uma Religião Afro-Rio-Grandense, página 50, 5. Os “lados” e a história oral). Estamos falando de registros de conhecimentos tácito, com os métodos de pesquisa, mas sem registros formais documentados."

Norton Correa não citou Cambina apenas porque quis fazer, por conta e risco. Se citou, é porque assim ouviu. Se também citou Cabinda, é porque assim também ouviu, lembrando que seu livro foi lançado após o livro do Paulo Tadeu... (veja aqui)

No entanto, não há nenhuma referencia de como ele chegou a esta conclusão. Que fundamento antropológico de Conceito de Nação está baseada tal conclusão? 

Não poderemos esquecer que faltam mais dados sobre a imagem a qual não se tem acesso para checar se é verídica, que circula no internet sobre a suposta afirmação da Mãe Apolinária seria Cabinda, já refutado pelo própria família da mãe Apolinária.  

Vale ressaltar que até o momento não possuímos nenhum outro registro do Krebs sobre a Cabinda. Será que o Krebs faria um único registro informal sem apresentar mais nada sobre o tema?

Existe ainda (caso seja verdadeira tal imagem)  a possibilidade de Krebs ter ouvido Cambina, e ter escrito Cambinda, por conta própria. 

Podemos perguntar: de quem teria ouvido?


12) "Como já informado anteriormente neste texto, podemos afirmar também, através do Documento da APERGS, público: [http://antigo.apers.rs.gov.br/.../1169142561.Cat_Sel...],  que sim, existiam trabalhadores escravizados oriundos da região e/ou povos denominados “Cabinda” no Estado do Rio Grande do Sul em 1854, ou seja, 102 anos antes da fundação da Província Política da Cidade de Cabinda na Angola em 1956."

Já esclarecemos em nota que não se trata na negação de um povo Cabinda no Brasil, pois sabemos que há registros, mas que a denominação da Kanbina é de influencia Ioruba e não banto, como também os povos Kamuka, que ficavam ao lado do antigo Oyo. Sobre os kamuka no Congo trata-se de uma migração recente.


13) "Posto os argumentos acima descritos, podemos também informar que historicamente, o Batuque/RS, em suas nações, foi criado em nosso estado e há sim similaridades com a matriz e outras diásporas, mas no tocante as divindades, a estruturação do batuque, tem na sua formação a predominância nas divindades Yorubas e alguns Voduns assimilados e agrupados, oriundos do panteão FON. " (o grifo é nosso)

Queremos destacar esta pinça: "O Batuque/RS em suas nações tem na sua formação a predominância nas divindades Yorubas e alguns Voduns Fons"

"Em suas nações" inclui a Kambina. 

Estamos de pleno acordo com a afirmação de quem a origem do culto é Ioruba, e, isso vai de encontro com os nossos estudos e pesquisas.  

 

14) "Outro ponto a ser ressaltado, é que a denominação Cabinda que batiza a Nação de mesmo nome no Batuque/RS, não está ligada, ao menos não encontramos registros nos últimos 70 anos, ao culto de divindades do Panteão Banto (Inkices), de forma que, o culto das divindades e sua estruturação é predominantemente Yoruba." ( o grifo é nosso)

Novamente concordamos com os estudos, pois seguem os mesmos pensamentos aos quais pontuamos, sem divergência quanto ao culto e divindades cultuadas

A Kambina, para que fosse Cabinda e banto, precisaria cultuar Nkissi e falar uma língua banto.

A afirmação que vemos em vários sites na internet que "a Nação Cabinda adotou o panteão Ioruba" é completamente falsa e sem nenhuma fundamentação, porém copiada pelos papagaios e replicada nos sites como se verdade fosse.


15) "Cabe lembrar também que o Batuque/RS foi estruturado com repasse de conhecimento baseado no conhecimento tácito, conhecimento ancestral, temporal e na oralidade, o que pode gerar variações nas interpretações das expressões usadas. Um exemplo disto é Cabinda x Cambinda, outro exemplo Jexa x Ijexa, ou ainda Jejo x Jeijo. "

Seguindo o exemplo por eles citados, o inverso também pode ser verdadeiro. Kanbina pode ter sido transliterada para Cabinda, até mesmo por letrados na boa fé.


16) "Diante do exposto, a CIPOT/RS repudia o uso do termo Kanbina como denominação identitária para a Nação Cabinda, que atualmente é a Nação com maior número de adeptos e casas abertas (conhecimento tácito), no estado do Rio Grande do Sul, com raízes fortes e consistentes, com grandes baluartes que já regressaram a massa de origem, bem como Baluartes vivos, que viveram e vivem nossa cultura e tradição zelando pela memória ancestral e pelos fundamentos de nossa Nação. "

Perante todas as evidencias que apresentamos nestes 10 anos de estudos e pesquisas, incluindo depoimentos dos antigos falando Kanbina, em nome destes mais velhos, repudiamos o uso da palavra Cabinda, palavra de origem banto, para nomear uma nação de culto de Orixás Iorubas.

 

17) "A CIPOT/RS, através de seus integrantes, apresentou os registros e documentos necessários para o grupo em questão, com o intuito de gerar a discussão e também de demove-los de tal objetivo, porém fomos ignorados e o grupo em questão insiste em não os considerar os documentos e fatos apresentados, bem como não apresenta dados que fundamente o uso da expressão KANBINA, de forma que não reconhecemos que este nome represente esta Nação. "

Os documentos apresentados por nos também foram ignorados, mesmo com depoimentos e registros devidamente apresentados, fontes ainda vivas, que afirmam que Kanbina era como antigamente falavam, e que após a morte dos mais velhos que sabiam o idioma, os mais novos, sem nenhuma fundamentação foram mudando as palavras e até cantigas, mudando Kanbina, para Cabinda.

Assinado por:
Erick Wolff
Alexandre Custódio
Luiz Cláudio
Chico neto


Publicação original 

CIPOT/RS 

Coletivo Independente dos Povos Tradicionais, postado em 26/02/2022- Batuque RS, acesso
https://www.facebook.com/groups/695348501636175/permalink/698097158027976

Imagens comprobatórios 








sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

O BATUQUE PRESERVOU MUITO MAIS DA MATRIZ DO QUE PENSAVÁMOS XXXV

Por Erick Wolff de Oxalá

Postado em 20/02/2022 em https://www.facebook.com/groups/1444295859135612



Egun e Orixá, os mitos e conceitos falados por um Oje (sacerdote de egun).

Veja o vídeo:


No caso do Batuque, quem deve fazer o arisun é um sacerdote do Batuque.  


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

O BATUQUE PRESERVOU MUITO MAIS DA MATRIZ DO QUE PENSAVÁMOS XXXIV

Por Erick Wolff de Oxalá
Postado em 24/02/2022 no grupo:
https://www.facebook.com/groups/1444295859135612

COMPREENDENDO O EGÚNGÚN (VENERÁVEIS ANTEPASSADOS)

Ainda no tema Egun, veremos como o nativo pensa, e, claro que assim como o culto de orixá, existem preceitos e conceitos que envolvem este culto, vejamos.

Este é um dos posts mais interessantes que coletamos na internet, pois ele esclarece o conceito de mundo espiritual do nativo, sem influencia cristã. 

Determina que pessoas que praticam o mau não devem ser venerados, e que somente pessoas boas são veneradas, pois assim ajudarão os seus descendentes. 

Outro fator importante que esclarece que o egun esta vivo em nós.


TIKTOK ERICK WOLFF

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